O Cristalizar da Água - O Flo...

By millarbastos

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{CAPÍTULO INÉDITO! Mais detalhes em breve} Qual é o preço de se lutar por algo que você sempre acreditou ser... More

Antes de ler!
Sinopse
Capítulo 1 - Brianna
Capítulo 2 - Brianna
Capítulo 3 - Brianna
Capítulo 4 - Brianna
Capítulo 5 - Brianna
Capítulo 6 - Brianna
Capítulo 7 - Brianna
Capítulo 8 - Chad
Capítulo 9 - Brianna
Capítulo 10 - Chad
Capítulo 11 - Brianna
Capítulo 12 - Brianna
Capítulo 13 - Chad
Por onde eu ando...
CAPÍTULO 15 - BRIANNA
Eu estou de volta (e nem é click bait)

Capítulo 14 - Tirzah

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By millarbastos


LEIAM! 

Para todos vocês que estavam esperando o próximo capítulo:

Aqui está ele, juntamente com Mil pedidos de perdão.

Fevereiro virou Março, que virou Abril. A verdade é que estou em um período nebuloso que não consigo escrever nem uma lista de supermercado direito. Eu faço faculdade de Tradução e, semanalmente, preciso traduzir longos textos acadêmicos e isso tem consumido todo o meu tempo (e criatividade). 

Portanto, aqui está o capítulo! Infelizmente, não sei quando conseguirei postar outro. O problema maior é que o livro tem 3 pontos de vistas diferentes, e isso inclui escrever cada parte separadamente. Então o livro está meio que sendo escrito em partes.

Mas vocês podem me acompanhar mais de perto através do Instagram (abookandatea), (apesar de fazer tempo que eu não posto lá...) Mas a correria de Março já passou, e agora acho que as coisas vão ficar mais tranquilas (espero!)!!

Ainda amo vocês, ok?

Beijinhos, Camilla.

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EU SENTI ALGO QUENTE E ÚMIDO escorrer do meu nariz onde meu irmão me atingiu, mas eu apenas ignorei. O que eu via em minha frente causava-me muito mais repulsa do que algumas meras gotinhas de sangue em minha roupa.

A ponta dourada da espada de Chad continuava apontada em minha direção, à poucos centímetros da minha garganta, mas a expressão em seus olhos se transformaram de raiva para confusão ao me ver. Não era isso o que eu esperava dele.

A garota cabelo de fogo continuou atrás dele, recuperando-se e contorcendo seu nariz para mim, como se sentisse um cheiro ruim. Eu fixei meus olhos nela por um longo período até que Chad abaixou sua espada, chamando minha atenção para si.

– O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou com uma voz meio embargada, fazendo cara de dor.

Eu apertei meus olhos, tentando vê-lo melhor através da neblina do amanhecer, enquanto ele se aproximava um pouco mais de mim. Algo em seu ombro me chamou atenção e foi quando eu notei seu braço envolto em um pano branco ensanguentado.

– O que você está fazendo aqui? – Chad perguntou novamente.

– Imaginei uma recepção um pouco mais calorosa, mas pelo jeito, é o que vai ter por hoje. – Cruzei meus braços e encarei meu irmão. – Trabalhando.

– Trabalhando?

– É o que eu faço. – Lancei um olhar para a ratinha atrás dele, que estava com seus olhos extremamente arregalados. – Protejo as fronteiras de Torphin de... pessoas não bem-vindas.

A garota girou os olhos, finalmente mostrando a cara de aversão que sentia por mim, mas não saiu de trás de Chad.

– Se você puder nos dar licença, – eu disse para ela, – temos algo em família aqui para resolver.

Ela fechou a cara e abriu a boca para falar algo, mas Chad a interrompeu.

– Ela não vai a lugar nenhum!

– Está tudo bem. – A garota disse e começou a andar em direção a trilha, sem olhar para mim.

Chad voltou-se para ela, mudando completamente a expressão em seu rosto. Eu respirei fundo e me segurei, corroendo-me por dentro em repulsa.

– Tem certeza? – Eu consegui ouvi-lo, apesar de não ter passado de um sussurro. Ela engoliu a seco e balançou a cabeça afirmativamente. – Estarei lá em um minuto.

Brianna lançou um último olhar para mim e desapareceu entre as árvores.

Quando Chad voltou seu rosto para mim, seu olhar estava desafiante, com as sobrancelhas unidas e os lábios comprimidos. Chad apertou firmemente o cabo de sua espada, apesar de esta estar apontada para baixo. Ele continuou me encarando, cerrando os dentes, deixando notável sua mandíbula agora bem definida.

– E então? – Ele perguntou.

– Estou aqui para te levar para casa comigo. – Eu respondi, tentando me aproximar um pouco mais dele.

– Você ainda não foi para casa, certo? – Ele suavizou um pouco mais o olhar, para meu alívio. – Desde que... você sabe, foi capturada.

Eu soltei um riso irônico.

– Aqueles idiotas do rei não conseguiram me prender por muito mais que um dia. – Eu engoli a seco, lembrando-me do que eu ouvira sobre seus planos estranhos. – Aquela gente está espalhada por todo o reino agora. Eu sabia que você estava à solta com essa garota aí e venho atrás de você há semanas.

O peito de Chad se inflou.

– Essa garota aí tem um nome. E o nome dela é Brianna.

Eu apertei os punhos com força.

– É exatamente por isso que eu preciso levar você de volta para casa. – Chad me lançou um olhar confuso, como se não entendesse uma palavra do que eu estava dizendo. Furiosa, eu me aproximei dele e apontei um dedo em sua direção. – Olhe o que ela fez com você!

Chad olhou para o seu ombro esquerdo e olhou para mim logo em seguida, lançando-me uma expressão de incredulidade.

– Ela salvou minha vida!

– Eu não estou falando do seu machucadinho. – Chad suprimiu os lábios e deu meia volta. Eu o puxei pelo braço, soltando-o logo em seguida ao ver seu rosto se contorcer de dor quando ele se voltou para mim. – Algo muito perigoso está acontecendo aqui fora, Chad. Há guardas do rei para todos os lados e eu te garanto que eles não tem boas intenções.

Chad continuou em silêncio. A dor ainda estava em seu rosto, mas eu tinha certeza que não se limitava a dor que sentiu em seu braço. Por que ele estava protestando tanto? Ele sempre havia me escutado, por que estava fazendo diferente agora? Mordi meus lábios e mirei minhas botas no chão.

– Eu preciso ter certeza de que você está à salvo, em segurança. Você pode estar maior do que eu, mas ainda assim é meu irmãozinho. – Uma sombra de um sorriso surgiu em seu rosto e eu soltei o ar em alívio. – Eu não suportaria perdê-lo por estar sendo imprudente quando poderia estar a salvo em casa.

Passou-se um tempo em silêncio. Fixei meus olhos nos do meu irmão, que se suavizavam cada vez mais, e eu me senti mais leve. Ele colocou a espada delicadamente no chão e ergueu seu braço bom, puxando-me para um abraço. Eu o apertei com força, estranhando o tanto que ele havia crescido e encorpado nos últimos meses.

– Eu amo você, irmão.

– Eu também amo você, irmã.

Eu me afastei e sorri, aliviada.

– Prontos, então?

Chad estampou um sorriso pequeno em seu rosto.

– Eu não disse que iria, Tirzy. – Ele disse, balançando a cabeça levemente.

Minha boca se abriu.

– M-mas, eu pensei que... Depois do q-que eu disse...

– Eu acabei de sair de Torphin – ele disse interrompendo-me e segurando meu braço com a mão –, e não posso retornar para lá. Tenho outro caminho a seguir.

Eu inspirei o ar lentamente, tentando crer que eu não tinha ouvido o que Chad acabara de dizer. Ele estava agindo como um insolente, chantageado por uma menina mal vivida que o estava levando para o mau caminho. Como, depois de tudo o que ele aprendeu em Torphin, de tudo o que ele viveu em nossa família, ele tinha a coragem de jogar para o alto suas responsabilidades para com o nosso povo?

– Tirzy, eu...

Mas eu ergui minha mão, impedindo-o de continuar. Não aguentaria ouvir mais uma palavra do que ele tinha a dizer. Soltei meu braço dele e apontei novamente para o seu rosto.

– Se você está rejeitando seu povo, sua família e suas responsabilidades, tudo bem por mim. – Chad ergueu suas sobrancelhas, em espanto. – Mas não pense que você vai se livrar de mim.

Eu cruzei meu braço e inclinei a cabeça para o lado, estudando seu rosto confuso.

– Se você não vai comigo, então eu vou com você.

Eu já estava esperando pelo seu protesto. Esperando que Chad erguesse a voz e começasse a discussão. Já estava até mentalizando minhas palavras, construindo meus argumentos. Porém, a reação dele foi contrária. Ele apenas ergueu as sobrancelhas e deu de ombros.

– Ah, tudo bem.

Deu meia volta e subiu pela trilha antes que eu pudesse dizer alguma coisa.

Chad encontrava-se abaixado em frente à garota, que o encarava de braços cruzados e cara fechada como sempre. Ele segurava seu rosto e sussurrava algo para ela, como se a tentasse convencer de alguma coisa. Deu-lhe um beijo rápido e os dois voltaram suas atenções para um pedaço de pergaminho que ele tinha em mãos.

Eu me sentei o mais distante possível, franzindo meu nariz de nojo só de assistir aquela cena. Chad não deveria estar se envolvendo com essa gente. Deveria estar em Torphin, cumprindo o papel que lhe fora dado desde muito jovem. Qual seria a dificuldade nisso? Ele teria uma casa, um lar, um povo para...

Ouvi um estalo à distância, voltando-me à realidade. Sentei ereta onde eu estava. Tirei o arco do meu ombro e deixei três flechas ao meu alcance no chão enquanto eu mirava longe na floresta.

Chad pareceu perceber e, tirando os olhos do pergaminho, voltou sua atenção para mim. Eu me segurei para não olhar em sua direção, como se estivesse distraída com o que quer que estivesse ali por perto.

– É só um coelho.

Eu apertei meus olhos para ver na baixa claridade e, um minuto depois, um coelho cinzento e grande apareceu entre os arbustos, me encarou por um segundo, e saiu correndo pela trilha.

– Como você sabia? – Eu murmurei silenciosamente.

Chad atravessara a clareira e se encontrava bem em minha frente. Eu virei meu rosto para encará-lo.

– Algumas coisas mudaram desde a última vez nos vimos. – Ele sussurrou.

Cerrei meus olhos e me inclinei ligeiramente para o lado, desviando de Chad para ver a garota do outro lado da clareira empacotando suas coisas.

– É. Eu notei.

Ele riu, torcendo um pouco o nariz ao sentir dor novamente.

– Isso também.

– Aliás, você deveria vestir algo, ou ela vai continuar te encarando com cara de boba.

Chad olhou para si, como se tivesse notado apenas agora que não vestia camisa alguma. Ele soltou um riso mais bobo ainda e alcançou algo como um casaco para vestir.

Eu mantive meu rosto sério para ele, como uma forma de que ele entendesse que eu não via graça nisso tudo. Eu o observei sentar em minha frente com dificuldade enquanto tentava vestir o casaco, fazendo tudo com apenas uma mão. Chad começou a cavoucar a terra com os dedos, como sempre fez quando era menino.

– A última vez que nos vimos, estávamos à procura de algo que nos disseram que pertenceriam a nós agora. – Ele começou a sussurrar. – Bem, eu não sabia muito bem o quê estávamos a procura, só sabia que era necessário.

Tentei manter o foco no rosto dele, procurando em sua expressão algo que o denunciasse, algo que pudesse dizer que ele estava mentindo, escondendo alguma coisa de mim, mas nada aparecia. Então, olhei para baixo, para a mão de Chad. Ele puxava algo vindo do fundo da terra, como um ramo, que floresceu diante dos meus olhos, formando um botão de flor. Chad passou os dedos delicadamente pelo botão, que se abriu de forma preguiçosa, esticando suas pétalas azuis até que a flor estivesse completamente aberta. Passou novamente os dedos, e cada uma das pétalas caiu no solo, e a flor se contorceu e se fechou, como se estivesse morrendo. Ela foi perdendo sua cor e se tornando seca. Caiu completamente na terra e se desintegrou, sumindo diante dos meus olhos.

Eu assistia isso tudo com espanto. Por um segundo, não sabia o que fazer nem o que dizer. Eu sabia muito bem o que aquilo era, mas não parecia se encaixar com aquele contexto.

– Chad, – eu sussurrei, – i-isso não é... magia, é?

Ele apenas balançou a cabeça, afirmativamente, deixando um sorriso se espalhar pelo rosto.

– C-como isso é p-possível? Eu pensei que... pensei que... havia sido extinta por completo!

Eu não conseguia juntar palavras em frases coerentes para expressar o assombro que rondava minha mente. Diferente de muitas outras pessoas em Torphin, que ouviam as histórias e pensavam que eram apenas lendas, eu sempre havia crido que tudo aquilo era verdade. Todas as histórias que o Ancião contava sobre Wuok e o Antigo Reino, a magia que ele havia trazido para cá, tudo isso sempre foi algo que eu tive em minha mente como real.

– Está de volta agora, – Chad disse, como se lesse meus pensamentos. – Tudo aquilo que ouvimos em Torphin é real.

– Chad, isso significa que você está correndo muito perigo. Não pode ficar...

– E é exatamente por isso que não posso ficar em Torphin. – Ele me interrompeu, dizendo firmemente.

Eu mordi o canto dos meus lábios, tentando me segurar.

– Eu tenho algo importante para fazer e já dei minha palavra de que eu vou cumprir. Não posso te contar muitos outros detalhes sobre isso, mas preciso que você confie em mim.

Respirei fundo e soltei o ar lentamente, tentando me conter. Apertei os lábios e apenas balancei a cabeça, incapaz de dizer uma só palavra. Meu corpo inteiro se contraía, forçando-me a pegá-lo pelo braço e arrastá-lo de volta para casa, colocá-lo de castigo por ter sido tão descuidado e o proibir de sair de lá enquanto as coisas aqui fora não se acalmavam, mas algo em mim me disse que o caminho não era esse. Eu não podia mais controlá-lo. Chad não estava mais em minha dependência e isso me corroía. Pelo contrário, estava tão independente que se achava no direito de largar tudo o que tinha para correr atrás de uma garota insolente, aprender sabe-se lá como a usar magia, e se envolver em uma missão que ele não podia me falar qual era.

Certo. Eu não podia mais dizê-lo o que fazer. Tudo bem, sem problemas. Já que agora ele tomava as decisões por si, eu faria com que ele mudasse de ideia. Ele iria escolher voltar para Torphin.

– Você confia em mim? – Ele perguntou novamente.

Eu tentei suavizar meu rosto e sorri.

– Com toda a certeza.

O acampamento foi desfeito em um piscar de olhos e, antes que o sol raiasse por completo, os dois cavalos já estavam prontos para partir. Encaixei meu arco no meu ombro, juntamente com a aljava. Eu guardava minha faca de caça na bota quando vi Chad se aproximando atrás de mim. Eu me ergui e peguei as rédeas de cavalo que ele me entregava.

– Fique com o cavalo, – ele disse indiferente. – Bri e eu vamos com o outro. Não precisa se preocupar com o caminho, já traçamos a rota e...

Eu parei de ouvir o que ele dizia logo depois do Bri, tentando conter meu impulso em apertar meu punho contra aquele nariz empinado e sardento.

– Combinado?

Eu voltei minha atenção para Chad. Eu não fazia ideia do que ele havia falado, mas acenei mesmo assim. Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo um pouco desconfiado. Eu dei de ombros e virei de costas para ele, puxando o cavalo para perto de mim e montando nele.

Parecia que havia séculos que eu não montava em um. Todas as minhas viagens ao redor das fronteiras de Torphin haviam sido à pé. Andar a cavalo era coisa de gente fraca que não aguentava o peso do próprio corpo sob os pés.

Demorou cerca de cinco minutos para Chad conseguir montar no cavalo com a ajuda da garota, que estendia os braços moles e branquelos para ele. Chad arfava de dor no braço – o que eu ainda deveria investigar para saber o que aconteceu. Depois de várias tentativas frustradas, conseguiu subir no cavalo ao se apoiar em algo como degraus feitos de raízes de árvores que haviam brotado do solo. Ele sentou-se logo atrás da garota, enquanto os dois riam da situação como dois idiotas. As raízes se encolheram e voltaram para a terra.

Eu não sabia o que era pior.

Ver o semblante de dor toda vez que o cavalo de Chad dava um solavanco, ou ter que assisti-lo tão perto daquela garota, conversando baixinho, rindo sobre sabe-se lá o que sem ao menos se lembrar do que ele havia deixado para trás. Aquilo me corroía por dentro. Dava-me ânsia. Como Chad pode simplesmente se esquecer de seus juramentos e responsabilidades? Será que ele se sentia no direito de jogar tudo para o alto agora que tinha um conhecimento misterioso de magia, e magia antiga?

Isso era outra coisa que também não entrava muito bem em minha cabeça.

A magia em todo o Reino Antigo havia sido exaurida, extinta por completa, por uma força obscura que atingia tudo e a todos. Além do mais, segundo as histórias, não era todo mundo que tinha do dom da magia nos tempos antigos. Eram apenas pessoas destinadas a servir a Wuok, a proteger o reino inteiro. Mas, eles não haviam sido extintos durante a Grande Destruição? Não se ouviam falar de herdeiros destes, como poderia Chad ter acesso a tal magia?

Eu apertava meus olhos, encarando a nuca de Chad, na tentativa de extrair de sua mente qualquer coisa que pudesse me dar um indício de o que ele não estava me contando.

Até aquele ponto, eu sabia que havia muitas outras coisas que Chad estava escondendo.

Pela primeira vez em muito tempo, eu estava distraída em meus pensamentos, tentando analisar todas as possibilidades, que eu estava completamente alheia ao caminho que seguíamos. Quando notei minha distração, apurei meus sentidos e prestei atenção aos sons ao nosso redor. O único barulho ao nosso redor vinha dos cavalos, que pisoteavam os galhos caídos na trilha ao chão, e do vento gelado que vinha contra nós, fazendo com que as folhas das árvores se balançassem de um lado para o outro.

O sol da primavera não conseguia aquecer o suficiente diante do vento que nos rodeava, o que me fazia pensar que estávamos indo em direção às montanhas do oeste. Fazer o que lá? Eu não tinha ideia. E isso me deixava muito, mas muito irritada.

Quando finalmente Chad decidiu parar para comermos alguma coisa ao encontrarmos um lugar bom para parar, eu estava mais do que faminta. Já deveria ter passado muito mais do meio-dia, uma vez que o sol já estava do outro lado do céu. Desci do cavalo, pronta para, finalmente, fazer algo que eu sabia fazer.

Enquanto Chad entrava em outro dilema para conseguir descer do cavalo, eu rapidamente juntei algumas pedras lisas e algumas folhas secas para montar a fogueira. Chad foi se sentar ao pé de uma árvore, vasculhando o conteúdo de uma bolsa, e eu senti o olhar da garota sobre mim assim que ela desceu do cavalo e andou em minha direção. Eu riscava uma pedra na outra sem sucesso, estava muito úmida por alguma razão.

– Deixe que eu te ajudo.

O sussurro da garota era quase inaudível e eu consegui perceber que ela estava se segurando para não falar nada, nem levantar sua voz contra mim, como ela sempre fazia. Ela se ajoelhou à minha frente, esticando a mão para pegar as pedras.

– Eu cuido disso. – Eu disse secamente.

Ela respirou fundo e apertou os lábios, mas seus olhos ardiam em ódio.

– Ele está te chamando. – Ela sussurrou novamente, olhando-me decididamente nos olhos e mantendo a mão estendida. – Vá falar com ele e não teste a minha paciência.

Eu agarrei o pulso magrelo da garota e apertei com toda a minha força, contorcendo-o e a forçando a se aproximar de mim.

– E você, – Eu sussurrei, cerrando os dentes, – tome cuidado com o que diz! Se afaste do meu irmão ou eu vou fazer você correr.

O olhar dela se enfureceu. Eu sorri em prazer ao ver que ela estava perdendo completamente a pose de calma e controlada, que muito provavelmente havia sido instrução de Chad. Em uma fração de segundos, seu rosto ficou vermelho e ela respirou fundo, pronta para falar alguma coisa. Eu a encarei com expectativa, mas tudo o que ela fez foi apertar os lábios e desviar o olhar.

Um fino braço de fumaça alcançou meu nariz e eu olhei para baixo, vendo uma pequena chama começando a desintegrar as folhas na fogueira. Espantada, desviei o olhar para a garota, cujo rosto estava vermelho novamente, e larguei seu braço. Eu me levantei, ainda sem entender como o fogo havia aparecido na fogueira, encarando as duas pedras úmidas em minha mão.

Caminhei até Chad, que me encarava com uma expressão que eu não conseguia reconhecer no rosto.

– O que você quer? – Eu disse, olhando-o de cima.

Ele tirou um pedaço de pano limpo do colo e ergueu em minha direção. Eu encarei o pedaço de pano de braços cruzados.

– O que quer que eu faça com isso?

– Trocar o curativo.

Meu rosto se esquentou e eu cuspi as palavras.

– Por que não pede a ela?

Chad lançou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada.

– Porque eu estou pedindo para a minha irmã fazer isso, como nos velhos tempos. – Ele respondeu depois de recuperar o fôlego. – Além do mais, ela precisa descansar um pouco.

Eu apertei meus lábios e cruzei os braços ainda mais, enquanto Chad ainda me oferecia o pano. Ele me lançou o olhar que sempre fizera quando queria alguma coisa minha, franzindo a sobrancelha e abrindo um sorriso amarelo. Virei os olhos e tomei o pano da mão dele.

– Você é impossível. – Eu o ajudei a tirar a camisa que vestia e passei a desenrolar a bandagem que estava enrolada em seu ombro. – Vai me explicar o que você fez aqui?

Chad respirou fundo para começar a contar sua história quando um cheiro estranho preencheu o ar e algo escuro pousou levemente em minha mão. Eu passei o dedo na palma da minha mão, deixando um borrão preto por onde meu dedo havia tocado.

– Isso é...?

– Fuligem. – Chad completou meu pensamento, levantando-se imediatamente.

Eu enchi o peito de ar, enfurecida, levantando-me para segui-lo e já erguendo minha voz.

– Mas, essa garota não faz nada cert...

Nem Chad nem a garota estavam à vista.

Adiantei meus passos, seguindo a trilha logo em frente e me deparando com uma fumaça escura que começava a se aproximar à distância, para onde as duas figuras haviam se direcionado. Corri até alcançá-los, beirando a orla da floresta onde estávamos.

Chad parecia ter petrificado. A garota ajoelhava-se lentamente, colocando a mão na boca e tampando um grito inaudível. Apertei meus olhos e tentei seguir seu olhar através da parede cinzenta.

Um vento soprou de leve a fumaça e foi quando eu consegui ver, na linha do horizonte, as primeiras casas de um vilarejo coberto de chamas. 

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