Capítulo 11 - Brianna

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AS VOZES ECOANDO EM MINHA MENTE passaram para apenas um sussurro incômodo, não melhor do que estavam antes. Elas sussurravam coisas terríveis para mim, como se suscitassem todos os meus pensamentos mais obscuros e me deixassem nua diante da verdade. Imagens confusas de coisas que já haviam passado e de coisas que eu nunca havia visto rondavam minha visão, forçando-me a correr para longe delas.

E eu corria. Corria como se minha vida dependesse disso. Porém, ao invés de me distanciar das vozes, elas apenas permaneceram mais constantes, mais claras, mais crepitantes.

Eu havia imaginado que encontrar-me com Guyok novamente, depois de um tempo sem vê-lo, fosse melhorar as coisas como havia acontecido da última vez no momento em que eu encontrei a minha Flor em Chamas. Apesar da dor que eu senti quando aceitei seu chamado, o alívio que me veio em seguida, depois de descarregar meus medos, compensou tudo. Eu sabia que haveria mais coisas que eu teria que abrir mão. Eu sabia que teria sacrifícios, e estava pronta para enfrentar o que viesse.

Eu só não imaginava que o preço seria tão alto.

Quando eu me rendi e aceitei o que havia sido destinado para mim, os gritos se cessaram. O vazio do silêncio foi logo preenchido por um calor que aqueceu meu coração frio. Consegui finalmente respirar, sentindo apenas um suave cheiro de terra molhada antes do meu mundo ficar escuro novamente.

Eu inspirei o ar com força, engasgando-me como alguém que se afogou. Levantei-me de onde estava no momento em que, em meu sonho, o rosto de minha mãe desaparecia na névoa do penhasco como acontecia todas as vezes que eu fechava os olhos desde aquele dia. Senti algo quente e úmido deslizando pelo meu rosto e ouvi passos apressados ecoando na madeira rangente. Minha visão clareou quando alguém tirou o pano que havia caído em meus olhos e eu tossi, conseguindo finalmente respirar.

Três rostos assustados apareceram em minha frente e meus olhos focaram no que estava mais próximo de mim. Os olhos cor de mel de Chad estavam muito próximos dos meus, e ele segurava meu rosto, como se me ajudasse a me sustentar.

– Ela acordou! – Eu consegui ouvir o sussurro de Abbey à minha direita, enquanto seu rostinho vermelho se aproximava.

– Você está bem? – Chad sussurrou e eu voltei meu olhar para o dele. – Como está se sentindo?

Eu engoli a seco.

– Como se eu pudesse ganhar uma luta contra você. – Eu disse, tentando me sentar melhor e arfando de dor quando todos os meus músculos se contraíram.

Chad deu uma risada, parecendo aliviado. Sentou-se ao meu lado e passou um braço ao meu redor, servindo-me de apoio para minhas costas.

– É, estou vendo.

Pisquei algumas vezes e o quarto onde eu estava hospedada entrou em foco. A Senhora Ruffenghonn estava em pé em minha frente, contorcendo os dedos com movimentos nervosos apesar de seu rosto mostrar alívio. Ela se aproximou de mim e tocou em meus braços.

– Você ainda está muito fria. – Ela disse suavemente. – Vou buscar um chá quente.

Eu sorri em agradecimento enquanto ela saia dela porta. Apoiei minha cabeça no ombro de Chad e fechei os olhos, tentando controlar minha respiração. Senti Abbey engatinhar em minha cama e se enroscar ao meu redor, deitando a cabeça em minha coxa. Eu alcancei sua cabeça com a mão e massageei seu cabelo encaracolado.

– O que aconteceu com você? – Chad sussurrou atrás de mim, apoiando o rosto no topo da minha cabeça. – Você ficou horas na floresta sozinha.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora