Além da amizade (COMPLETO)

By ClaraAlves

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Aquele poderia ser um dia como outro qualquer - mas, tão inusitado quanto uma frente fria no verão carioca, a... More

Sinopse
FAQ
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Escolhas
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Epílogo COMPLETO

Capítulo 21

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By ClaraAlves


Olhei ao redor por desencargo de consciência, mas não havia ninguém.

Continuei seguindo ao lado de Jullie, atravessando a ponte que nos levava até a saída. Tentava escutar alguma coisa, mas o barulho da festa ainda era muito alto mesmo ali fora. Parei em frente ao segurança, que se recostava no batente da entrada e nos olhou ao perceber a aproximação.

– Com licença. O senhor pode nos dizer se viu algum garoto parecido comigo passar por aqui? Cabelo preto, um pouco mais alto do que eu...? – Tentei.

– Não é um daqueles ali? – Perguntou sem nem pensar, com uma expressão de censura, apontando para algo à esquerda além da minha vista.

Caminhei mais para frente, tendo uma ampla visão da rua, então pude ver uma rodinha de garotos, alguns recostados à parede, outros no carro à frente, a vários metros do salão. Distingui claramente Douglas entre eles.

– É, obrigada. – Sorri rapidamente para o segurança e olhei Jullie de esguelha. Ela parecia aliviada por ele não estar fazendo nada demais.

O problema era que Douglas estava fazendo algo demais. Ele e seus amigos tinham consigo várias garrafas de energético, vodka e cerveja. Eles riam descontroladamente enquanto conversavam. É claro que estavam bêbados. E era aí que estava o perigo. Jullie não tinha muita experiência, mas eu conhecia meu irmão bem demais. Eu já havia presenciado suas bebedeiras com os amigos e principalmente sua mudança de personalidade quando o álcool estava no controle do seu organismo.

Douglas era do tipo que ficava com raiva quando bebia. E a descontava em todo mundo. Não com agressão física, é claro – nem ele mesmo se perdoaria –, mas as coisas que ele falava talvez fossem até piores do que uma bofetada.

Jullie caminhou até a rodinha, e eu corri atrás dela, segurando-a.

– Jullie, por que você não volta para a festa e me deixa cuidar do Douglas?

Ela puxou o braço em que eu tinha colocado minha mão e revirou os olhos.

– Não precisa. Obrigada por ter vindo comigo, mas eu consigo me virar. – E continuou a andar até ele.

Corri atrás dela, pensando em algo a dizer para que me ouvisse. Mas eu sabia que nada adiantaria.

– Douglas! – chamou do meio da rua, provavelmente não querendo conversar em frente aos amigos dele.

Douglas virou o rosto, só então nos percebendo ali. Ele caminhou decentemente até a namorada. Isso era uma das coisas que eu admirava em meu irmão. Ele era uma das poucas pessoas que conseguia parecer sóbrio mesmo quando ingeria litros de álcool. Já sua boca, nem tanto.

– O que você tá fazendo? Eu tô te procurando há horas e você aqui bebendo com seus amiguinhos! – Explodiu Jullie.

Se Douglas ainda pretendia ser decoroso com Jullie, ele mudou de ideia naquele instante.

– Que foi? Agora não posso mais ficar com meus amigos? Desculpa se você largou os seus por minha causa, mas é bom ficar longe de você de vez em quando!

Minha amiga ficou sem fala por alguns instantes.

– Douglas... – repreendi, fazendo menção de me aproximar.

Meu irmão estendeu a mão, sinalizando que eu não deveria continuar.

– Não, Anna! Deixa a gente conversar. Isso é entre a Jullie e eu! – Ele nem mesmo me olhou enquanto falava. Seu rosto estava focado na namorada.

– Bem, você nunca tinha reclamado disso antes, mas talvez seja apenas mais uma coisa pra colocar na sua lista – falou Jullie, ignorando minha tentativa de fazê-los parar.

– Há! Agora o reclamão sou eu? Claro, Juliana. Porque eu não ouço calado enquanto você implica com cada uma das minhas amizades, meus atrasos, minhas falas, até minhas tentativas de te agradar!

– Você é um grosso, estúpido!

– E você é uma possessiva chata! Não aguento mais! Não aguento mais isso tudo. Não aguento seu grude, suas reclamações! No dia que você voltar a ser a garota por quem eu me apaixonei, me dá uma ligada, beleza?

E dando as costas a ela, Douglas foi embora, pisando forte e soltando bufadas irritadas. Antes de desaparecer na rua à esquina, ele espatifou a garrafa de cerveja que segurava, atirando-a no chão com força.

Após a discussão, a rua ficou em silêncio, exceto pelos barulhos da festa. Todos os amigos de Douglas observavam a briga, calados, percebendo que dessa vez era sério mesmo.

Jullie ficou paralisada no meio da rua, mas quando me aproximei para abraçá-la, ela se distanciou.

– Me deixa em paz, Anna.

Então correu para longe, desaparecendo da minha vista em apenas alguns segundos.

– O que foi isso tudo? – Ouvi uma voz atrás de mim e me virei automaticamente, encontrando o olhar surpreso de Natan.

– Você tava aí o tempo todo? – Franzi o cenho. Nem havia me dado conta de sua presença.

– Não, eu acabei de chegar. Vim procurar vocês. O que aconteceu? Douglas?

Suspirei, caminhando até onde ele estava parado ao mesmo tempo em que ouvi os amigos de Douglas voltarem a farrear, sem nem mesmo se preocuparem com o colega. Nós caminhamos lado a lado, voltando ao salão. Expliquei para ele resumidamente, até chegarmos à ponte de madeira.

Natan pretendia continuar e entrar no salão. Eu, no entanto, parei.

– Não vai entrar? – perguntou ao perceber que eu tinha ficado para trás.

Fiz uma careta. Não me sentia bem depois de presenciar aquela briga. Para mim, a festa tinha acabado.

– Acho que vou ficar por aqui um pouco. Perdi o ânimo. – Dei de ombros. – Pode ir. Daqui a pouco eu entro.

Natan me olhou como se eu fosse pirada.

– E desde quando eu te deixo sozinha quando você tá mal?

Eu sorri, reconfortada. Era tão bom que, mesmo afastados, Natan não esquecesse nossa amizade e ainda me fizesse bem com suas frases de apoio.

Meu amigo andou até mim, passando o braço ao redor do meu pescoço em um abraço de lado, e nos guiou até o banco de madeira que havia no jardim do salão, bem ao canto. Nós nos sentamos em silêncio e eu tirei minha máscara, agora me sentindo sufocada com ela. Natan fez o mesmo com a sua.

Não falamos nada por vários minutos. De repente, toda aquela situação parecia me asfixiar: Douglas, Jullie, Gustavo, Letícia, Natan. Eu queria me livrar de tudo, toda aquela sensação de impotência diante da minha própria vida, do meu próprio destino. Era como se eu fosse uma espectadora e não pudesse mover um dedo para fazer com que o eixo mudasse, com o que o mundo girasse de modo diferente.

– Nina?

Virei a cabeça, que estava encostada no banco de madeira, para olhá-lo.

– Desculpa por ter deixado que a gente se afastasse. – Ele olhou para o chão enquanto eu avaliava sua expressão. Natan largou a máscara ao seu lado e entrecruzou as próprias mãos.

– Não é sua culpa, Nael.

– É. É sim – contrariou-me.

– Não é. Só foi mais fácil...

Natan ergueu a cabeça, encarando-me com confusão. Eu mordi o lábio, preocupada se deveria continuar ou não. Então, me decidi: se ficar calada não havia dado muito certo, talvez eu devesse simplesmente dizer a verdade.

Enchi-me de súbita coragem e completei:

– ...pra te esquecer.

Meu amigo piscou. Sua boca se abriu e eu percebi que ele falaria alguma coisa. Fui mais rápida. Agora que havia começado, eu precisava terminar.

– Não diz nada, só me deixar falar, por favor – pedi, me ajeitando no banco para que ficasse totalmente de frente para ele. – Eu sei que você não esperava isso. E talvez nem seja o melhor momento. Mas eu tô entalada há muito tempo e nada do que eu faço ou decido parece me ajudar a tirar de mim esses sentimentos.

"Nael... Eu te amo. E não é amor de amigo, é muito mais do que isso. – Respirei fundo, sentindo as palavras simplesmente saírem. – É uma coisa que eu não sei explicar como aconteceu. Eu acho que eu já sabia disso desde sempre, mas me enganava, dizendo que era só amizade. Nossa amizade é a mais incomum de todas que eu já vi e o que eu sinto por você não é normal, entende? Mas nós crescemos juntos e tinha pra mim que você era como um irmão. E quando eu finalmente entendi tudo, foi um choque. Porque eu não sabia como lidar com esse sentimento. Eu não sabia o que fazer com ele e é por isso que, desde então, tudo tem desandado."

Sentia como se um peso fosse tirado das minhas costas. Eu estava aliviada e até surpresa com tudo o que tinha dito. Havia coisas ali que eu nem mesmo havia reparado antes – ou talvez não me tocara. Mas tudo saiu com tamanha facilidade que eu me assustei. E enquanto Natan assimilava o que eu tinha acabado de revelar, parei para pensar no assunto.

Num momento de carência, eu comecei a perceber o que sempre esteve bem na minha frente e eu, cega, não notei. Mas eu estava passando por tanta coisa, com a separação dos meus pais, meu término com Davi, que não foi a melhor hora para descobrir aquilo. E é por isso que, depois da descoberta, tudo simplesmente desabou. Porque o que me ligava a Natan não era esse amor romântico que nutria quase inconscientemente. Era nossa amizade. E quando o amor romântico entra no meio de um relacionamento como o nosso, é difícil fazer tudo voltar a ser como era antes.

Então, Natan reagiu. Ele se ergueu do banco, dando a volta e indo parar atrás dele, de costas para mim. Ele suspirou, pousando a mão em sua testa e escorregando-a por seus cabelos castanhos de uma maneira frustrada... E riu. Uma risada seca, sem humor. Do tipo que se dá quando, na verdade, queremos chorar.

Levantei, andando devagar até ele. Encarei suas costas com apreensão. Falar poderia ter sido um alívio, mas será que ouvir sua resposta também seria?

– Não acredito que você tá fazendo isso comigo, Anna. Não agora. – Mas foi um sussurro tão baixo que suspeitei que ele estivesse falando consigo mesmo.

Eu recuei, me sentindo uma idiota. Toda a tranquilidade se esvaiu e eu fiquei nervosa de novo.

– Desculpa. Eu... Eu não devia ter falado isso... – Engoli em seco. Meu coração batia a mil. – Droga.

Respirei desesperada e girei para ir embora. Natan me impediu, apressando-se para se aproximar e segurar minha mão.

– Não! Nina... Eu... Eu também te amo. – Eu virei, arfando. – Caramba! Acho que você foi a única que nunca percebeu. Desde que eu te vi pela primeira vez, sentada naquele banco do colégio, parecendo um anjo de tão linda. Mas eu tinha sete anos! Eu não sabia diferenciar amor de amizade, não sabia nem mesmo o que era aquilo que eu sentia sempre que te encontrava. A gente cresceu e, por vezes, eu achava que você sentia o mesmo. Mas você nunca disse ou tentou demonstrar nada. Então, veio o Davi, depois o Gustavo... E o que eu poderia fazer? Eu sempre tive medo de te contar.

Achei que meu coração fosse pular para fora tamanha força com que batia. Então... Jullie estava certa? Natan realmente me amava?

Encarei aqueles olhos tão intensos, quase me perdendo diante de tanto azul.

– Por quê? Se você tivesse me dito...

– O que teria acontecido, Nina? Você corresponderia? Corresponderia como naquele dia da Floresta da Tijuca?

Eu abri a boca, mas não proferi nenhuma palavra.

Natan deu mais um passo, segurando minhas duas mãos, sem quebrar nosso contato visual.

– Naquele dia... Eu prometi pra mim mesmo que te daria uma chance de descobrir o que eu sentia. Eu tinha tudo planejado, mas amarelei. Não tive coragem de te contar, mas o beijo foi inevitável. Eu sei que fiz tudo errado. Só que eu tive medo de te perder – admitiu. Parecia muito difícil para ele falar, porém seus olhos demonstravam uma determinação que eu vira poucas vezes na vida. – Se eu tivesse dito e você não correspondesse, só Deus sabe o que teria acontecido. Nós poderíamos, hoje, nem ser tão próximos quanto somos, Nina. E isso eu não conseguiria suportar. Eu não aguentaria ver nossa amizade desaparecer por conta de um sentimento idiota. Eu achei que, se deixasse de lado, ele sumiria. – E, então, sussurrou envergonhado: – Mas eu tava errado.

– Parece que nós dois fomos belos idiotas. – Brinquei, apesar de não sentir a menor vontade de rir.

– Você jura que tá fazendo piada agora? – perguntou, rindo sem acreditar.

Dei de ombros.

– Você me conhece, né?

Natan abaixou a cabeça.

– Conheço – confirmou, balançando-a afirmativamente. – É por isso que não consegui evitar me apaixonar por você.

Meu estômago deu uma reviravolta brusca com a declaração. Será que era possível morrer de felicidade?

Nós nos encaramos por algum tempo após sua revelação, enquanto eu tentava engolir o que acabava de escutar. Seus olhos me transmitiam paz. Ficamos assim por vários segundos até eu não conseguir mais me segurar e puxá-lo pela nuca para mais próximo de mim. Nossos lábios ficaram a milímetros um do outro, praticamente se tocando, ao mesmo tempo em que respirávamos forte, nenhum dos dois querendo fazer nenhum esforço para impedir o que estava pra acontecer.

Eu sabia que era errado. Sabia que aquilo poderia acabar mal. Queria conseguir lembrar que estava prestes a cometer um erro terrível, que a qualquer minuto Gustavo ou Letícia – ou até mesmo os dois – poderiam aparecer e ver aquela cena, mas ainda assim não consegui me frear. Não quando eu tinha passado os últimos três meses me torturando com aqueles sentimentos. Agora que todas as cartas estavam jogadas à mesa, eu queria continuar e provar para mim mesma que me declarar fora o certo.

Contra toda a minha racionalidade, deixei meus instintos falarem mais alto e acabei com qualquer espaço ainda existente entre Natan e eu. Encostei meus lábios nos dele, sentindo no exato instante uma corrente elétrica percorrer meu corpo inteiro. Até então, tudo o que eu fiz fora com lentidão, apreensão. No entanto, no momento em que nossos lábios se chocaram, toda a consciência que eu ainda tinha fugiu e, ao sentir a boca dele se abrir em resposta, correspondendo às minhas ações, aprofundei o beijo com urgência.

Lembrava-me vagamente do primeiro beijo, no dia de nosso passeio, e minha ansiedade era tamanha para senti-lo novamente que tudo ficou acelerado. Minhas mãos não conseguiam se decidir onde queriam tocar Natan primeiro e ficava ainda mais difícil pensar quando sentia sua mão deslizar pela minha cintura e sua boca se movimentar tão habilidosamente sobre a minha.

Eu sentia arrepios sucessivos a cada toque e meu coração crepitava como brasa. Por mais intenso e maravilhoso que fosse o beijo de Gustavo, ele jamais chegaria aos pés do beijo de Natan. Não era apenas um cru entrelaçar de línguas, era uma mistura de paixão, carinho, amizade, amor. Perto de Natan, tudo dentro de mim se embaralhava, perdia o sentido. Era como se eu não fosse eu mesma. Ou talvez eu só o fosse quando estávamos juntos.

Quase inconscientemente, começamos a caminhar para a lateral do salão, onde fui prensada na parede. Ainda nos beijávamos como se o mundo fosse acabar no dia seguinte e, por mais que precisasse de oxigênio para respirar, não tinha forças – ou coragem – para desgrudar de Natan. Se eu pudesse ficar ali para sempre, certamente o faria.

Porém, cedo demais, Natan se afastou, obrigando-me a ofegar e respirar fundo em busca de ar. Abri os olhos, encontrando seu rosto ainda perto. Levei minha mão até seu rosto, para acariciá-lo. Sentia todo o meu corpo formigar e, por dentro, me perguntava o que diabos estava acontecendo. Era tão estranho, depois de todo nosso histórico de amizade, estar beijando meu melhor amigo, mas ainda assim parecia... Certo. Como se fosse para ser e só eu ainda não tivesse enxergado.

Natan fechou os olhos, aproveitando o carinho. Ele ofegava assim como eu.

– Nina... – Não gostei de seu tom e sabia que ele traria de volta toda a racionalidade que eu permiti ir embora. – Você tem namorado.

Eu grunhi, odiando-o naquele momento.

– Eu sei, eu sei! Deus! Por que eu sempre tenho que ser tão idiota?

Observei seus olhos se abrirem e vi sua dor estampada.

– Você preferiu a ele do que a mim.

– Não! – Segurei seu rosto, desesperada por essa ideia ter sequer passado por sua cabeça. – Não! Eu gosto do Gustavo, mas... Ele não é você! Eu tava com medo pela nossa amizade, pela amizade da minha prima... Por isso aceitei namorá-lo. Achei que se ficasse com Gustavo, esqueceria tudo o que sentia, mas... Não foi bem assim. Eu não consegui ficar um segundo sem pensar em você.

Podia ver a batalha interna que Natan travava dentro de si. Ele queria simplesmente aceitar o que eu dizia, mas sabia que precisava ser sensato.

– Mas você tá com ele – falou com calma, suspirando.

– E quero estar com você – completei, sentindo-me confusa.

Por que tudo tinha que ser tão complicado?

Nós nos encaramos com tristeza, confusos e sem saber o que fazer. Uma das mãos de Natan ainda segurava minha cintura enquanto a outra contornava os traços do meu rosto. Ele os desenhava como se gravasse cada detalhe meu. Parecia nem me ver realmente, só movia os dedos de um jeito carinhoso.

Fechei os olhos, ainda não acreditando na situação em que nos encontrávamos. Ia começar a pensar sobre isso quando os lábios de Natan se encostaram aos meus novamente, pegando-me desprevenida. Correspondi ao seu beijo, já voltando a sentir os arrepios se espalharem.

Nunca antes eu tinha sentido uma felicidade como aquela. Era como se o mundo de repente se encaixasse, se consertasse. Dizem que quando você se apaixona, passa a ver tudo mais colorido. Naquele momento, eu podia afirmar que quem quer que tivesse dito esta frase estava tão apaixonado quanto eu.

Estar com Natan era como se meus sentimentos estivessem passeando em uma montanha-russa. Eu me desesperava, então com seu toque ficava bem novamente. Ia de cima a baixo com tamanha facilidade que era até engraçado. Naquele momento, eu estava no pico mais alto da pista e, por mais que soubesse que em alguns segundos seria sugada pela descida, não consegui deixar de aproveitar quando as mãos de Natan alcançaram meu cabelo, segurando-o com leveza, e ele mordeu meu lábio inferior.

E aí, eu caí em mim.

– Aí! Você tá com minha prima. – Lembrei, de repente, após me separar bruscamente de seus lábios.

Bati minha cabeça em seu tórax, percebendo o quanto nossa situação era realmente complicada.

– Nina, a Letícia é incrível, mas... Ela não é você – citou minha própria frase. – Se eu tiver que terminar com ela, eu termino. A questão é: você terminaria com Gustavo? Porque eu acho que você tem uma decisão a tomar.

E, me pegando totalmente de surpresa, outra pessoa falou detrás de Natan:

– Acho que ela já decidiu.

Apenas quando meu melhor amigo se afastou, pude ver quem era. Mas aquela voz, eu a conhecia bem.

Encarei Gustavo enquanto tudo dentro de mim girava. Estava triste por aqueles minutos tão perfeitos terem acabado, por terem acabado dessa maneira, por ele ter nos encontrado e, principalmente, por ver a decepção estampada em seus olhos.

Independente do que sentia por Natan, Gustavo ainda era importante para mim. Ele me ajudou a enfrentar todas as minhas brigas com meu melhor amigo, alegrou meus dias mais tristes e me encantou com seu jeitinho. Não dava para negar que eu realmente gostava dele. E saber que toda aquela desilusão que via em seu rosto fora causada por mim era muito doloroso.

A sensação de culpa me atingiu em cheio. Eu precisava dizer alguma coisa. Qualquer coisa. Mas quando abri a boca, nenhum som saiu.

– Me poupa, Anna. – A voz de Gustavo era tão seca que eu quase não a reconheci. Ele parecia estar precisando de muito autocontrole para não explodir e eu não podia culpá-lo. – Nada do que tu disser vai mudar isso.

– Gustavo... – Desencostei da parede, caminhando para mais perto dele. Assim que o fiz, ele deu um passo para trás. Parei. – Me... Me desculpa – gaguejei. Patético, eu sei.

Bah! Eu não disse para me poupar? Cada coisa que tu diz parece aumentar essa tua hipocrisia. Me lembro de ti toda triste porque tinha sido traída. Que legal, Anna. Tanto drama pra agora fazer a mesma coisa?

A cada palavra que ele proferia, meu coração se apertava mais.

Ele se virou para ir embora e eu tentei pará-lo. Não sabia o que dizer. Só que... Como eu poderia vê-lo sumir por aquela porta, sabendo que tinha causado seu sofrimento?

– Espera, Gustavo! – Segurei em seu braço, forçando-o a parar.

– Não! Me esquece, Anna! – Ele pegou minha mão e a tirou de si quase como se tivesse nojo. – Fica aí com teu Batman porque o Príncipe Encantado aqui percebeu que tá no conto errado.

Então ele se foi, me deixando para trás com o choro entalado na garganta. Senti as mãos de Natan envolverem as minhas, me puxando de volta ao canto do jardim. Ele me virou de frente, segurando meu rosto com carinho.

– Eu tenho a incrível habilidade de estragar tudo, não tenho? – perguntei, cabisbaixa.

– Claro que não, Nina. Seu erro foi não ter admitido o que sentia antes. Agora, pelo menos, ele sabe a verdade.

Natan me olhou, triste por me ver chateada, e me abraçou em consolo. Ele me apertou contra sua roupa de Batman quando retribuí o abraço. Ficamos naquela posição por quase cinco minutos; ele acariciava meus cabelos e me acalmava com seu toque. Quando relaxei o suficiente para falar porém, outra voz invadiu meus ouvidos.

– Anna? Natan? – Era Letícia.

Eu congelei. Reconhecia sua voz, apesar de não poder vê-la de onde estávamos.

Afastei-me de Natan automaticamente com o olhar arregalado. Ele simulou uma respiração funda, como se me pedisse calma.

– Aqui! – o ouvi gritar em resposta.

Em apenas alguns segundos, Letícia apareceu em nosso campo de visão.

– Eu tava ficando preocupada, já! Vocês demoraram. Aconteceu alguma coisa? – Ela franziu o cenho. – E cadê o Gustavo? Ele veio procurar vocês...

Respirei fundo, tonta diante de tantas perguntas.

– A gente brigou e ele foi embora. Você sabe como ele é com o Natan.

Fiz uma careta.

Eu não estava mentindo exatamente, mas me sentia mal de qualquer maneira. Eu a tinha traído e ainda estava omitindo isso!

Letícia pareceu surpresa.

– Ave Maria! Que besteira! – Ela fez uma pausa. – Mas tá tudo bem?

Concordei mecanicamente.

– Tá, sim. – Só então reparei que ela tinha duas bolsas à mão. – Essa bolsa é a minha?

Ela olhou para baixo, lembrando que a trouxera.

– Sim. Já são quase duas horas, achei que pudesse precisar do telefone. Tia Tereza não falou que vinha esse horário?

Concordei com a cabeça, aceitando a bolsa que ela estendia.

– Podem descer, vou ficar aqui mais um pouco. Te chamo quando ela estiver chegando.

Letícia deu de ombros e puxou Natan pela mão, voltando para festa. Ele me lançou um último olhar antes de acompanhá-la e eu sabia que não tinha gostado de eu tê-lo dispensado naquele momento. Mas o que eu podia fazer? Se o pedisse para ficar, minha prima também ficaria, e a última coisa que eu queria naquela hora era ter que colocar minha máscara de volta.

Esperei eles sumirem porta adentro e, em vez de sentar e pensar, simplesmente atravessei a ponte para a saída enquanto pegava meu telefone. Não queria voltar para casa, nem muito menos continuar ali.

E só havia um lugar para me acalmar em momentos como aquele.

Não vou nem falar nada depois desse capítulo hehe espero que tenham gostado <3

E, sim, eu sei que vocês são incríveis e bateram as 20 estrelas <3 não deu pra postar domingo porque eu tava no meu namorado, mas vai ter att dupla agora (não sei porque o 21 e o 22 sempre acabam sendo postado juntos hahaha), então até já, amores

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