Tratado dos Párias- O rei reb...

By IsabelaAllmeida

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Tiago sempre abominou o tratamento as mulheres no reinado de seu pai. Viu sua mãe virar escrava e suas irmãs... More

À primeira vista
Dívida de rua
Novo lar
Reencontro
Preconceito
Convite inesperado
Conselho que não dá conselho
Desconforto
Guia Daniel
Abordagem
Trégua
Uma despedida
Conserto destrutivo
Uma visita
Confraria Anarquista
O espião...
Cascas Vazias
Nada como esperado
Vila dos orfãos
Confissão inesperada
Menina Esperta
Sentimento maduro
Sem tato com o coração
Atitude Ousada
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Um encontro nada amistoso

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By IsabelaAllmeida

Por mais receio que seu sentisse de andar sozinha, agora que não tinha Daniel para me guiar, eu tomei o carro e pedi para que me levasse a vila Nova. Nem sabia que era chamado assim, mas um dos soldados que tinha visto nós duas conversando me contou que tinha visto Jaci seguir rumo a essa vila.

Demorou um pouco e quanto mais eu me distanciava do bairro dos Forasteiros, mais curiosa sobre essa nova vila eu ficava, afinal, ela tinha o mesmo nome do bairro dos Procriadores, só era chamado de bairro novo para diferenciar do antigo.

Pensei que encontraria a mesma sujeira, a mesma promiscuidade, mas ao contrário do que pensei, as casas novas e o pouco movimento nas vielas dava a sensação que o lugar era abandonado. No entanto, para fazer contraste com essa falta de movimentação entre as casas, a estrada na qual eu seguia começava a ficar movimentada.

Uma infinidade de crianças circulava por todo lugar, umas carregando pacotes outras bilhetes, senhores magros e sujos conversavam sentados no chão sem se importar com o sol quente lhes cozinhando o cérebro.

Apesar das casas mais novas, o povo era mais simples e mais tranquilo, pelo menos não vi gritaria e nem discussão nas ruas. Ainda assim vi um esgoto em céu aberto e ainda um monte de lixo em uma parte distante das casas já prontas e dos prédios ainda em construção mais ao longe.

Peguei a cesta e desci com a ajuda do cocheiro. Tinha colocado um chapéu para me proteger do sol e segui para a estalagem, pois o soldado havia me dito que para conseguir informação, ali era o melhor lugar para perguntar.

Não demorei encontrar, era o único estabelecimento que tinha espaço na frente com algumas mesas dispostas. Entrei e fiquei aliviada quando vi que tinha acertado. Encontrei os conhecidos olhos azuis escuros me observando de cenho franzido e fui pega de surpresa.

— O que faz aqui, pai?

Os olhos dele foram diretos para a cesta que eu carregava.

— Eu é que pergunto, o que faz aqui menina? E porque está carregando esse chamariz para ataques?

Sentei na cadeira na mesma mesa onde ele estava, retirei calmamente o chapéu que me protegia do sol, estava tentando ganhar tempo, afinal essa era a primeira vez que eu saía para tão longe de casa, mesmo tendo os soldados lá fora me escoltando como sempre, ainda assim eu sabia que não devia ter arriscado tanto. Analisei o lugar varrendo tudo com olhos atentos, mesmo tão simples, não era um local que aquela moça pudesse pagar.

— Fiquei sabendo que aqui estava a garota que estou procurando, me disseram os guardas que viram uma moça da maneira que descrevi seguindo em direção a esse bairro e como essa é a única estalagem, imaginei que a encontraria por aqui. — Apontei com o queixo para a cesta que meu pai não parava de olhar. — Trouxe para ela, pois está grávida. Havia lhe dito que viesse me procurar, mas ela não apareceu e isso já faz quatro dias.

Ele assentiu e cruzou os braços esperando eu continuar, mas não falei mais nada, pois era justamente essa a minha história, mas ele, no entanto, parecia estar a todo custo evitando me dizer por que estava ali. Por fim ele olhou ansioso para a porta e falou preocupado.

— Não deveria ter vindo aqui.

— Prometi ajudar a moça.

— Mas se ela não voltou como você pediu, é porque não queria ser ajudada.

Ele até podia ter razão, mas devia estar no sangue a teimosia, afinal, ele também vivia tentando ajudar o filho de Uzias. Acabei sorrindo e pisquei de modo inocente.

— Faz dias que vejo você vindo nessa direção, sempre sem a farda, você mesmo me contou de sua luta para tirar desse bairro o filho de Uzias e pelos dias corridos e estando você aqui, imagino que não está sendo muito fácil para convencê-lo a sair daqui. Então porque insiste? Creio que é o mesmo dilema que o meu, não é?

Ele apertou os lábios tentando disfarçar a irritação. Continuei a esperar uma resposta sobre isso. Logo ele recostou parecendo cansado.

— Ponto para você menina. Realmente está sendo difícil convencer o rapaz, mas eu vou conseguir.

Estranhei os modos dele, tentava agir normal, falar calmo como sempre, ainda assim percebi que seus olhos não paravam quietos, ele parecia apreensivo vigiando a entrada a todo o momento. Logo ele levantou dando mais olhada de soslaio a porta e me estendeu a mão.

— Venha Amélia, vou escoltar você até seu carro, acredito que não veio andando, pois não?

Neguei. — Paguei um carro, mas não posso voltar pai, a moça...

Ele segurou meu braço me incentivando delicadamente a levantar. Falou um pouco mais apressado do que o normal.

— Como é o nome dela?

— Ela me disse se chamar Jaci.

— Certo... Então vá Amélia, encontrarei essa garota e a levarei até você.

Sem querer discutir com ele, levantei a cesta abrindo a boca para explicar que era para dar a ela quando a encontrasse, mas não tive tempo. Uma voz estranha e nada amistosa se fez ouvir.

— André, quem é essa?

— Esse aí é o Marcos? — Perguntei olhando curiosa para o rapaz sujo na porta.

— Vem Amélia, depois te conto tudo.

Meu pai me puxou pela mão, mas o tal Marcos entrou na frente dele, e seus olhos foram direto para a cesta que eu ainda estava segurando. Ele trincou os dentes mostrando uma raiva absurda sem motivo aparente.

— Agora anda trazendo burguesas das castas altas com esmolas? Acha que comprará nossa lealdade com... — Ele abriu a cesta e soltou a tampa em seguida com raiva. — pães, geleias e embutidos?

Os modos dele de tratar meu pai me deixou irritada. Eu tinha curiosidade de saber quem era o filho de Uzias, mas a decepção me veio rápida. E como ele falou de mim, então automaticamente me incluiu na conversa. Coloquei a cesta na mesa e me virei para ele com os olhos apertados.

— O que disse?

Ele me encarou os olhos faiscando de ódio. — Isso mesmo que ouviu! Veio aqui toda engomadinha trazendo essas... Essas porcarias! — Ele se aproximou e me olhou em desafio. — Me responda em quê isso irá nos ajudar? Quantas bocas acha que vai conseguir alimentar com essas merdas?

Como ele ousava falar assim comigo? Quem ele pensava que era para tratar as pessoas desse jeito? Era tão soberbo em achar que as coisas na cesta eram para ele? Ia ensinar a ele que o mundo não girava somente em torno dele. Meu pai ele respondia com socos no olho, e comigo com julgamentos?

Completamente tomada pela raiva empurrei aquele peito sujo.

— É assim que agradece? É assim que trata as pessoas que querem te ajudar?

Ele segurou meus pulsos com força. — Não ouse tentar me agredir, não sou um escravo, não mais!

Sem ligar para a ameaça o empurrei de novo, ele deu dois passos para trás, novamente o empurrei e ele trincou os dentes.

— É assim que tratavam os escravos antes? — Empurrei novamente seu peito. — Ou os idiotas? Agora que eu saiba não empurro um escravo, mas sim um idiota mal agradecido que destratou meu pai todas as vezes que ele veio tentar te ajudar. Você está liberto é verdade, mas age feito um escravo.

Ele nem parecia ligar mais aos empurrões, parecia agora distraído, até um pouco perplexo.

— O que disse?

— Isso mesmo, um idiota que continua agindo feito um escravo com esse orgulho sem sentido.

Ele balançou a mão sem paciência como se espantasse uma mosca. — Essa parte eu ouvi, seu pai? Você disse que André é seu pai?

Estaquei o movimento. Oh céus! Na hora da raiva me esqueci das recomendações de meu pai para tratá-lo como estranho quando o lugar oferecesse perigo, e esse bairro me parecia perigoso o suficiente para que eu não desse uma gafe dessas. Mas agora o mal já estava feito, cruzei os braços na defensiva.

— E dai?

Ele balançou a cabeça. — Não pode ser, meu pai disse que você e sua mãe...

— Mortas?

Ele assentiu sem dizer nada, ponderei o que dizer, todavia não tinha porque essa preocupação toda. Esse cuidado era necessário antes quando meu pai era escravo e o Tratado ainda estava arraigado na corrupção. Agora...

— Não. Eu e minha mãe vivemos no reino sombrio todo esse tempo, saí do reino humano ainda criança e não tenho por hábito aceitar os costumes daqui. Então não me chame de burguesa, muito menos engomadinha, me ofendeu e me senti fútil. E não me trate como inimiga ou ao meu pai porque a mim você não conhece e ele só quer te ajudar.

Ele cruzou os braços e me encarou fixamente, me lembrando com o olhar os tantos empurrões que dei nele. Acabei olhando para os lados e me dando conta de que não estávamos mais dentro da estalagem. Sem perceber acabei o empurrando para fora do estabelecimento. Virei-me para ele, sorri e falei com a minha famosa cara inocente.

— Acho melhor entrarmos.

Ele quase cuspiu as palavras ao passar por mim. — Você acha?

Meu pai me encontrou na porta e segurou meu braço, estava tenso, mas não disse palavra até chegarmos à mesa. Sentou e esperou que eu fizesse o mesmo, antes de sentar olhei feio para Marcos que já acomodado e ele retribuiu a altura me encarando de cara amarrada. André suspirou parecendo cansado, típico dele quando estava tentando manter a calma e buscando paciência. Por fim ele olhou para o rapaz um tempo e então falou.

— Marcos essa é minha filha, Amélia. — Olhou para mim e continuou. — Esse é Marcos, filho de Uzias.

Desnecessário ele fazer as apresentações formais tentando apaziguar o clima, eu e Marcos não nos demos ao trabalho de trocar cordialidades. André acabou se resignando a torcer a boca em desagrado e logo olhou sério para Marcos.

— Muito bem, primeiro que sim, estou tentando te tirar daqui por um pedido de seu pai. Quando voltei ao reino com o rei, havia uma carta dele que estava com um dos guardas domésticos, endereçada a mim e nela ele me pedia para cuidar de você caso ele não pudesse fazê-lo, ele sabia que era perigoso, talvez até já imaginasse que não voltaria vivo da batalha, por isso me sinto em dívida com ele.

Marcos soltou o ar ruidosamente. — Por isso você insiste em me tirar de lá? E porque não me falou antes?

Meu pai assentiu em resposta. — Porque eu queria que viesse por você mesmo.

Marcos assentiu sem mais nada a dizer, mas eu não entendi muito bem e perguntei.

— De lá onde?

Marcos me olhou de viés, abriu a boca para responder, mas antes disso meu pai jogou uma moeda para uma mulher robusta que se aproximava e empurrou a cesta para ele.

— Pode não ser o que precisam, mas Amélia trouxe para uma moça grávida chamada Jaci e acredito que você poderá ser humilde aceitando a cesta e também honrado entregando ao destinatário.

Marcos ficou um pouco corado com aquelas palavras, por fim assentiu sério e pegou a cesta. Nesse momento vi que ele era um poço de revolta, mas não de maldade, de alguma forma, ele não me pareceu tão horrível quanto pensei no inicio.

Sem dizer palavra André me escoltou até o coche e fechou a porta, logo vi seu rosto pela janelinha do carro, ele estava montado.

— Vamos.

Deu a ordem ao cocheiro e eu afundei no banco, fiquei chateada por não poder receber uma resposta.

Ele estava possesso comigo. Ou não era para eu ter perguntado nada, ou não era para eu estar ali nesse dia. O que eu me considerava completamente inocente já que não sou adivinha e não podia imaginar que ele estivesse ali.

Nem adiantava ele ficar bravo comigo, afinal eu não fui xeretar os assuntos deles e sim procurar uma moça grávida, então como eu podia imaginar que ia acabar o encontrando?

Uma coisa era certa, quando ele estava muito bravo somente o silêncio vinha dele e nem adiantava eu tentar perguntar nada. Mas que eu queria saber onde era esse eu queria. E não ia ficar sem resposta, não mesmo.

Meu pai não permitiu que Marcos respondesse, então se eu não ia conseguir respostas dele, ia buscá-las eu mesma.



*****

Gente aqui vai ter mais caps hein! Acho que mais dois. ( Espero eu)


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