Shout, Run, Survive [CONCLUÍD...

By LuckVianna

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"É como um jogo de xadrez. A diferença é que, a cada peça que você mexe, alguém pode morrer. Ou ser salvo. Es... More

Temporada 1 - Capítulo 2| "O dia mais macabro"
Temporada 1 - Capítulo 3| "Vamos brincar?"
Temporada 1 - Capítulo 4| "Peguei, está com você!"
Temporada 1 - Capítulo 5| "Meus pêsames"
Temporada 1 - Capítulo 6| "A peça que falta"
Temporada 1 - Capítulo 7| "Caminho sem volta"
Temporada 1 - Capítulo 8| "Não procure respostas"
Temporada 1 - Capítulo 9| "Histórias ao anoitecer"
Temporada 1 - Capítulo 10| "Quem é você?"
Temporada 1 - Capítulo 11| "Na cena do crime"
Temporada 1 - Capítulo 12| "Noite de Halloween"
Temporada 1 - Capítulo 13| "Xeque-mate" • Final
EXTRA: SOBRE A HISTÓRIA
Temporada 2 - Capítulo 1| "Mais uma vez"
Temporada 2 - Capítulo 2| "Eles sempre voltam"
Temporada 2 - Capítulo 3| "No meio do tornado"
Temporada 2 - Capítulo 4| "O rastro das chamas"
Temporada 2 - Capítulo 5| "Cidade da chuva"
Temporada 2 - Capítulo 6| "Caixa de surpresas"
Temporada 2 - Capítulo 7| "A casa de bonecas"
Temporada 2 - Capítulo 8| "O cerco se fechou"
Temporada 2 - Capítulo 9| "O baile da morte" • Parte 1
Temporada 2 - Capítulo 10| "O baile da morte" • Parte 2
AVISOS + NOVOS PERSONAGENS
Temporada 3 - Capítulo 1| "A história não acabou"
Temporada 3 - Capítulo 2| "Nada seguro retorna do escuro"
Temporada 3 - Capítulo 3| "Não há vagas"
Temporada 3 - Capítulo 4| "Jogadas no tabuleiro"
Temporada 3 - Capítulo 5| "Festejando na escuridão"
Temporada 3 - Capítulo 6| "Noite da caçada"
Temporada 3 - Capítulo 7| "Se o telefone tocar"
Temporada 3 - Capítulo 8| "Fantasmas da noite"
Temporada 3 - Capítulo 9| "Rainwood: o berço do caos"
Temporada 3 - Capítulo 10| "Feliz natal, Jesse!" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 11| "Feliz natal, Jesse!" • Parte 2
Temporada 3 - Capítulo 12| "Os mortos também se escondem"
BÔNUS: FAÇAM SUAS APOSTAS!
Temporada 3 - Capítulo 13| "Suspeitos até que se prove o contrário"
Temporada 3 - Capítulo 14| "Abismo do medo"
Temporada 3 - Capítulo 15| "Olhos famintos"
Temporada 3 - Capítulo 16| "Quando um estranho chama"
Temporada 3 - Capítulo 17| "Jovens, festas e assassinatos"
Temporada 3 - Capítulo 18| "A porta de ferro"
Temporada 3 - Capítulo 19| "O mensageiro, a assassina e o náufrago"
Temporada 3 - Capítulo 20| "O azul encontra o mar"
Temporada 3 - Capítulo 21| "A tempestade" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 22| "A tempestade" • Parte 2
Temporada 3 - Capítulo 23| "Até o fim"
Temporada 3 - Capítulo 24| "A última noite" • Parte 1
Temporada 3 - Capítulo 25| "A última noite" • Final
AGRADECIMENTOS + CURIOSIDADES

Temporada 1 - Capítulo 1| "O diário de Maryan Hastings"

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By LuckVianna

"A morte é estranha, é imprevisível. Mas de uma forma ou de outra, todos nós sentimos a perda. Todos sentimos quando ela se aproxima."

- Joshua "Josh" Evans

Bem-vindo ao meu diário. Não é de fato um diário, mas funciona como um. Só é necessário esquecer as páginas em branco, com decorações cor de rosa e linhas ainda não preenchidas, e focar naquelas em que já há alguma coisa escrita. Estas são as páginas da minha vida.

Meu nome é Maryan Hastings, eu tenho dezesseis anos. E não, essa não é uma história com final feliz. Bem... talvez ela se torne uma se você ignorar os corpos a serem arrastados, as gargantas cortadas e os corações partidos. Vá em frente se quiser fazer isso!

Eu e minha família vivemos na pacata e tranquila cidade de Rainwood, que faz divisa com Gravewood, a cidade vizinha. Nem pense em me perguntar o porquê de tudo aqui terminar ou começar com "Wood". Foi assim desde que nasci.

Rainwood é conhecida como a cidade ensolarada dos sonhos de qualquer pessoa — se essa pessoa não tiver uma boa memória, é claro. É só parar um pouquinho de olhar para as grandes vitrines ou cartazes das grandes marcas e prestar atenção. Vai ver que o que essa cidade esconde não tem nada de bonito ou ensolarado. Mas é hora de seguir. Temos uma história a contar.

Rua Groove, manhã de 25 de outubro de 2018.

Eram sete horas da manhã quando o despertador tocou. A neblina era visível do lado de fora da janela. Uma manhã fria de quarta e eu adorava esse clima, mas isso não a tornava menos entediante do que qualquer outra. Levantei da cama, calcei rapidamente meus sapatos, uma calça jeans qualquer e vesti meu casaco azul, meu preferido.

Faltavam apenas trinta minutos para o início da primeira aula. Ah, como eu odeio aquela escola. Principalmente a srta. Meyers, aquela desgraçada! Mas... eu não posso perder o foco. Arrumei levemente meu cabelo, peguei a mochila e saí do quarto, descendo as escadas. Deixei um vulto quase que inexistente pela cozinha, ao passar correndo até a porta da frente.

— Tchau mãe! Até logo, pai! — gritei, batendo a porta com força.

— Até mais, querida! — ouvi a voz da minha mãe. — Não esqueça que quando voltar, já teremos ido em... — "embora", ela pretendia dizer. Lembro de ter me avisado sobre isso na noite anterior mas eu não fazia ideia sobre o que se tratava essa viagem. Meus pais raramente paravam em casa, na verdade.

— Também te amo, mamãe! — respondi de imediato, antes que ela terminasse.

Hora de ir. A neblina cobria a cidade parcialmente, propagando um ar um tanto misterioso naquela rua. E eu gostava disso pra caramba. Peguei minha bicicleta e iniciei o trajeto até a escola, passando pelas poças de água na rua. Podia ter certeza de que choveu na noite anterior por conta delas. Seguir aquele caminho todas as manhãs de bicicleta me fazia sentir como uma personagem dos filmes vintage da década passada.

Cheguei no fascinante inferno mais rápido do que esperava. Prendi a bicicleta no corrimão, com a ajuda de uma corrente um tanto envelhecida, andei até a porta e a ultrapassei. Os corredores estavam vazios. A aula havia começado. Entrando na sala, senti um nada receptivo olhar me atingindo de forma rápida. Ou melhor, mais de vinte olhares. Andei pé por pé até minha carteira, colocando a bolsa no chão, em silêncio. Não seria um dos melhores dias e eu já sabia disso.

— Maryan Hastings! — a voz irritante voltou a me incomodar. — É melhor que tenha uma ótima explicação para estar atrasada. — a srta. Meyers gritou, com raiva preenchendo os olhos.

— Eu só... acabei tendo um imprevisto no caminho para cá. — mentira. — Juro que não acontecerá novamente... — mentira de novo. — Me desculpe, professora.

Inclinei a cabeça e mais uma vez senti o julgamento precipitado daquelas pessoas. Nenhum deles gostava de mim, era fácil perceber o repúdio costumeiro cada vez que passavam por mim no corredor. E, de verdade, nunca vou entender esse apego involuntário por odiar alguém que você nem conhece no ensino médio. Bem, quase todos eles eram assim, com exceção do Seth, o meu irmão. Ele nasceu só um ano antes que eu, mas cumpria à risca o conceito de "irmão mais velho". Ele era a minha família. Sempre foi somente ele.

Passaram-se algumas horas. Longas e cansativas horas. O sinal que indicava o início do intervalo se fez. Eu saí da sala com meu livro em mãos, era um mistério qualquer, provavelmente envolvendo uma pequena cidade do interior. Nunca gostei dos romances. Fui até o refeitório, me servi e então me sentei em uma mesa deslocada das outras, para continuar o livro em paz.

Pouco longe dali, enxerguei o Joshua — ele não gosta desse nome, então se um dia esbarrar com ele, o chame de "Josh". Ou melhor, não fale com ele. Ele era um dos meus únicos amigos na escola. Josh era legal, apesar de não gostar muito de falar com as pessoas. Precisa saber algo sobre histórias sobre assassinos em série? Pergunte a ele. Eu gostava dele e ele de mim. Abanei, sorrindo, e ele retribuiu, mas não veio até mim por estar muito ocupado com seus fones de ouvido. Às vezes Josh precisava ser deixado em paz, e isso não significava que ele não quisesse mais minha companhia. Eu entendia. Mas naquele dia, justamente naquele dia, eu sentia algo estranho. Não queria ficar sozinha, era como se... se algo estivesse se aproximando. Eu encarei a janela esquerda do refeitório. Apesar da neblina ainda cobrir boa parte da rua, eu conseguia enxergar uma coisa do outro lado. Uma coisa estranha.

— Ei, babaca! — ouvi uma voz feminina tirar minha atenção. — Tire suas patas do caminho, por favor. — Zoe resmungou, depois de quase derrubar toda a sua comida em cima dos meus pés.

As pessoas daquela escola eram medíocres. Mas em uma escala de zero a dez da ignorância humana, Zoe ocupava um lugar na casa onze.

O intervalo havia acabado. Esqueci daquela sensação estranha no momento em que adentrei a sala novamente. A srta. Meyers prosseguiu com a aula e eu voltei a escrever em meu caderno. Gostava de desenhar no tempo livre — e quando estava ocupada também. Até aquele momento eu acreditava na possibilidade de expressar meus sentimentos nas pequenas coisas. Mas até as pequenas coisas se tornaram sombrias depois do que aconteceu.

O restante do dia foi cansativo. As aulas pareciam não ter fim e a voz daquela professora me deixava com raiva. Ninguém merece aguentar cinco períodos com ela.

Normalmente, Seth costumava ir comigo para casa, mas naquele dia ele tinha treino do time, e eu tive de ir sozinha. Peguei minha bicicleta e comecei a pedalar. A noite se preocupava em alcançar as ruas de Rainwood, e o silêncio do caminho trazia de volta aquela sensação. O restinho de entardecer sumiu. Teria a singular companhia do céu escuro e as fracas luzes dos postes até chegar em casa. Na metade do caminho, um barulho me causou um leve arrepio. Meu celular tocou, indicando uma nova mensagem. Abri o torpedo depressa, parando a bicicleta no meio da rua.

"— Olá, Maryan! Sei que não é a maneira mais formal de se dizer isso, mas sou um amigo antigo da família Hastings. Provavelmente não se lembra de mim. Preciso de ajuda com uma coisa e seus pais me informaram que poderia oferecer auxílio. Vou esperá-la no parque Woodsdale, próximo à sua casa. O que acha?"

- Um velho amigo

Merda. Quem diabos poderia ser? Velho amigo? Meus pais viajariam hoje à tarde. Não faria o menor sentido deixarem uma visita marcada. Por outro lado, ele disse estar precisando de ajuda e faria sentido se meus pais me encarregassem de fazer isso. Não é a primeira vez. Mas por que não me avisaram sobre nada?

Pensei um pouco. Isso era loucura. Voltei a andar pela rua. Falando sério, eu não gostava de fazer o papel da garota que cai em uma armadilha por conta de um encontro noturno desconhecido. Ainda assim algo me fazia querer descobrir quem era. Não, Maryan! Continua sendo loucura. Bem, o parque Woodsdale ficava a uma curta distância dali. Não custava nada ir até lá, parar a bicicleta e seguir caminho depois. Certo, é isso. Eu teria que passar por aquela rua de qualquer forma.

A neblina esbranquiçada ainda me perseguia. Chegando lá, só consegui ver a praça totalmente vazia. Esperei alguns segundos e nada. Aquela sensação voltou. O silêncio parecia me rodear de forma assustadora, e eu podia jurar que havia alguém entre as árvores do outro lado do parque. O barulho do vento, o frio que fazia... aquele cenário era perturbador. Já chega! Eu prometi que viria só até aqui. Ir além disso era cavar a minha própria cova.

— Hora de ir. — suspirei, voltando a pedalar. Aquilo só podia ser uma pegadinha idiota e agora eu me perguntava o porquê de ter aceitado o convite, mesmo que só por um momento. — Vá se ferrar! — não resisti à vontade de erguer o dedo do meio em direção àquelas árvores. Depois voltei a prestar atenção na entrada.

Entrei em uma rua mais escura ainda. Não era o caminho de casa, mas era o mais próximo a se pegar depois de ter circundado o parque. Só podia ouvir o barulho de alguns cachorros que latiam ali por perto, nada além disso. Comecei a andar um pouco mais rápido, e justamente por esse motivo, acabei passando com a roda em cima de um buraco repleto de água, o que me fez cair no chão.

— Droga! — gritei, com raiva. Meu casaco havia se tornado um ensopado de lama e meus óculos foram parar longe.

Olhei para os lados e tentei me levantar. Olhei mais uma vez, para ter certeza de que ninguém presenciou aquele momento constrangedor. Em um relance, tentando juntar a bicicleta, enxerguei algo no canto do olho, podendo perceber que do outro lado da rua havia uma pessoa parada. Ele vestia um capuz escondendo o rosto, ao que parecia. A luz do poste ao lado dele, em contraste com o embaçado dos meus óculos, me fazia não conseguir enxergar nada mais do que uma sombra. Se eu tivesse que adivinhar, diria que aquilo era um fantasma. Mas Rainwood não tinha tantas histórias sobre fantasmas quanto tinha sobre assassinatos. Isso era o que me preocupava.

— Quem é você? — resmunguei, com uma voz trêmula, ao subir na bicicleta. — É o convidado do parque? Porque eu não posso ajudá-lo.

Parei de falar quando percebi que ele começara a se aproximar. A velocidade de seus passos aumentava gradativamente. Eu fiquei parada. Droga! Por que eu fiquei parada? Meus olhos continuavam fixados naquela figura. Ele estava chegando! E em sua mão, carregava uma faca. Pude perceber isso quando a luz refletiu a presença do metal.

— Não, não, não... — comecei a me desesperar.

Virei a rua pedalando rápido. Meu coração já batia de forma acelerada. Ao chegar na metade do caminho, olhei para trás. Ele havia sumido. Não tinha ninguém lá. Não sei o que diabos tinha acabado de acontecer mas eu não continuaria lá pra ver o final da história. Rapidamente, peguei meu celular e tentei ligar para o Seth.

— Vai, Seth. Atende, atende... — meus dedos tremiam enquanto eu olhava para trás de segundo em segundo.

Só não me dei conta de tomar cuidado com algo que não era tão óbvio. Afinal, se ele simplesmente desapareceu das minhas costas, precisava estar em algum lugar. Quando virei o rosto, tirando a luz do celular de perto da minha cara, percebi alguém parado em minha frente. Não consegui identificar quem era a pessoa, tinha uma máscara em seu rosto, mas sabia que era o mesmo sujeito que havia me visto no parque. Aquilo era algum tipo de piada? Não era engraçado. Gritei muito alto, na esperança de que alguém me ouvisse, mas ninguém ouviu. Tudo naquela noite aconteceu tão rápido, que eu penso que se estivesse um pouco mais calma poderia tê-lo evitado.

— EU PRECISO DE AJUDA! POR FAVOR, ALGUÉM! — não entendi o porquê, mas misteriosamente todas as portas e janelas aparentavam estar trancadas e nenhum morador ousou colocar o nariz para fora.

Em instantes apressados, eu o percebi tirando a faca de trás de suas costas e a levando até perto do meu corpo. Eu já havia começado a correr mas era como se nunca saísse do lugar. Então tive a certeza do que aquela noite seria em breve: a noite em que mais uma estudante se tornaria vítima de um maníaco local. Eu morreria ali mesmo, naquela rua fria e úmida, se não fizesse alguma coisa imediatamente.

Sem outra saída, larguei a bicicleta e me preocupei apenas comigo mesma. Mas não me culpe. Eu não estava preparada para isso, ninguém nunca está. Talvez se eu tivesse tirado a faca da mão dele, eu... eu não sei. É só um talvez, que agora não servia mais de nada. Finalmente avistei a luz da varanda. Nem percebi que havia encontrado a rua Groove. Corri até a porta em passos errôneos, me agarrando no corrimão. A chave, Maryan. A chave! Onde ela estava? Agarrei qualquer coisa que estivesse em meu bolso e trouxe até perto do meu rosto. Nenhuma delas era a porra da chave.

— DROGA! DROGA! — eu gritei. Podia ouvir os passos dele se aproximando. Me alcançaria em poucos segundos.

Finalmente. Lá estava ela. Aquele pedaço brilhante de metal se escondia no fundo da minha bolsa. Eu não seria a garota que morre por conta da chave. Não dessa vez.

Adentrei a casa e rapidamente fechei a porta atrás de mim. Porém, antes que a porta se chocasse totalmente, ele a segurou, empurrando-a para dentro e fazendo com que ela se abrisse. Eu não era uma garota com braços tão fortes, então não consegui resistir ao convidado inesperado. O empurrão na porta fez com que eu caísse no chão.

Me arrastei rápido para trás, alcançando a escada atrás de mim em menos de dois segundos. A forma como todas aquelas cenas se sobrepunham em meus olhos fazia-me pensar na hipótese de que aquilo já tivesse acontecido antes. Eu não era a primeira.

— SOCORRO! POR FAVOR, ALGUÉM ME AJUDA! — eu estava desesperada. Não sei por que continuava gritando por ajuda mesmo dentro de casa, uma vez que as pessoas na rua não deram a mínima da última vez.

Ao chegar no andar de cima, corri até meu quarto e tranquei a porta. Meu coração parecia querer pular para fora. Eu sei que ele iria. Me afastei da porta enquanto esperava o momento em que ele chegaria até o andar de cima e começaria a forçar a maçaneta. Era como se eu soubesse a merda de um roteiro, mas algum idiota rasgou a parte que explica como eu saio daquela casa com vida.

Seth já não chegaria mais a tempo, então disquei outro número. Na verdade, não acreditava que alguém fosse chegar a tempo, mas ainda assim aquilo era uma chance.

9-1-1. Qual é a sua emergência? — ouvi a voz simpática do outro lado.

— HÁ UM LOUCO NA MINHA CASA! VOCÊ PRECISA ENVIAR ALGUÉM ATÉ AQUI AGORA MESMO! — comecei a caminhar até a porta de vidro que levava à varanda.

Senhora, fique calma. Você está sozinha em casa? a mulher questionou novamente.

— SIM! SIM, EU ESTOU! — minha garganta tentava se fechar. Eu não conseguia respirar.

Fechei o vidro atrás de mim, debruçando-me sobre o parapeito. Era muito alto. Nunca conseguiria pular daquela altura. Ouvi um barulho em seguida, e olhei para a porta. Ele estava forçando a fechadura com alguma ferramenta e eu sabia que ele conseguiria entrar. Eu seria a sua presa em menos de um minuto.

Eu entendo que esteja com medo. Mas tem certeza de que há alguém na sua casa?  Se isso for um trote, saiba que... ela continuava insistindo. Por que pensaria que eu estava mentindo sabendo do histórico daquela porcaria de cidadezinha?

— DROGA! EU JÁ DISSE QUE SIM! — gritei, sem saber para onde olhar. A porta do quarto parecia ter sido aberta. — SE SABE QUE ESTOU COM MEDO, POR QUE NÃO VEM LOGO? EU PRECISO DE AJUDA! AGORA!

O barulho havia parado. Ele não estava mais na porta. Naquele momento, meu corpo inteiro foi tomado pelo medo. Virei-me devagar, e antes que pudesse olhar diretamente para trás, os pedaços do vidro alcançaram meu rosto. Ele havia jogado o corpo contra a vidraça. Me afastei involuntariamente e larguei o celular no chão.

Senhora? Senhora, ainda está aí? e aquela mulher nunca mais ouviu a minha voz.

Com os olhos encharcados pelas lágrimas salgadas, eu me apoiava agora na estrutura atrás de mim. Ele inclinou a máscara negra sobre meu rosto como se tentasse me fitar. E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, qualquer coisa, senti aquela faca rasgar minha pele. Ele perfurou o centro do meu abdômen sem esperar sequer um segundo. Era doloroso, mas eu não conseguia gritar. Minha garganta se prendeu em uma mistura de choro e ardência inacabável.

— Por favor, n... nã... — nunca terminei aquela frase, afinal.

Ouvi sua respiração perto do meu pescoço, quando senti ele repetir o processo com a faca mais duas vezes. O sangue começara a escorrer pelos meus lábios sem que eu pudesse segurá-lo. Tentei me agarrar ao corpo dele, mas a dor era tamanha que não sentia mais equilíbrio em meus braços. E assim, o destino tomou proporção inesperada na metade daquela noite fria em Rainwood. Minha história chega ao fim um pouco depois daquele corte apressado. Acho que eu sempre estive destinada a deixar o jogo antes deles.

Meus olhos arquitetaram memórias das quais eu nem me recordava e as jogaram contra mim, como uma fita de vídeo sendo reproduzida em velocidade acelerada. Aquela era a droga da minha vida e ela acabou de acontecer novamente. Eu admito, se pudesse voltar ao início, o faria.

Ele ergueu a máscara depois daquilo, revelando sua verdadeira identidade. A própria face do diabo tomava conta de meus olhos, então. O mascarado virou meu corpo contra o parapeito, passando a faca de uma vez por todas pelo meu pescoço. O sangue escorria como uma cachoeira e eu já não conseguia mais contê-lo. Em um último golpe ele me agarrou e empurrou meu corpo lá de cima.

Esse é o fim. A última página rabiscada em um diário que ninguém nunca encontraria. Meus olhos se fecharam durante a queda. Eu pude ver as lindas estrelas pela última vez, ao menos aquelas que apareciam no meio da neblina. Quando caí no chão, já não sentia mais nada. Meu coração parou de bater e as folhas em branco seriam preenchidas por outra pessoa a partir dali. Eu sei que não fui a primeira. E em hipótese alguma seria a última.

Nota: Caso você queira conhecer o elenco de 'Shout, Run, Survive', para ter uma melhor visão dos personagens antes de prosseguir com a história, dê uma olhada no capítulo 14 - "EXTRA: SOBRE A HISTÓRIA".

Boa leitura!

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