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- Você percebeu que um dos opositores desapareceu? – Perguntou Samael.
- Não Samael, eu não percebi.
- Será que ele foi levar informações?
- Como eu poderia saber, eu acho que você é mais poderoso que eu, se você não sabe, quem dirá eu.
- Você está estranho, te fiz alguma coisa?
- Não, mas lembre-se que perdi meus poderes, não sou muito útil. – As palavras do príncipe eram desanimadoras.
- Não pense assim, você está andando lado a lado com Jesus, e com certeza é o que tenho de melhor para protege-lo.
- Se você confia tanto assim em mim, porque não me diz onde esteve nesses dias que sumiu. – Erick tentava desmascarar o anjo amigo.
- Eu não estava fazendo nada de mais, apenas sondando o mundo lá fora sobre nossos inimigos.
- Difícil acreditar.
- Judas, confie em mim, o cerco está se fechando, não podemos brigar entre a gente, temos que proteger Jesus.
- Não me chame assim!
- O que foi com você? Está nervoso?
- Estou, não consegui me livrar da maldição, e parece que nem vou conseguir.
- Calma, tudo no seu devido momento. – Samael tentava consolar o príncipe.
Os dias pareciam passar mais rápido desde os últimos acontecimentos, a tensão tomava conta de todos, era uma constante vigília. A medida que as notícias se espalhavam e Jesus ficava cada vez mais conhecido, ele era considerado o rei dos judeus. E assim como todo rei, Jesus estava rodeado de inimigos em todas as partes. Apenas ele parecia não se preocupar com isso, em todos os momentos parecia estar com um sorriso sereno no rosto e com uma paciência infinita que sempre marcava sua face e seu comportamento.
Olhando assim de perto, ninguém imaginária que aquele homem acalmava tempestades, curava leprosos, ressuscitava os mortos, expulsava demônios, andava sobre as águas, enfim, essa é apenas uma pequena lista das coisas milagrosas que ele fazia enquanto caminhava entre os homens. Essas eram coisas que se espalharam pelo mundo, porém havia muito mais coisas que ninguém conhecia e que jamais conheceriam, coisas que só ficaram para aqueles que conviveram com ele lado a lado.
E foi em mais uma noite, onde todos estavam sentados juntos em uma mesa, que mais uma vez ele demonstrou o quanto era grande o seu amor pelo mundo.
- Meus queridos, aproveitando hoje que estamos todos reunidos aqui nessa mesa, eu tenho algo importante a dizer para todos, a minha hora é chegada, em breve não estarei mais entre vocês.
Era possível ver a surpresa na face de todos, mesmo em meio a tantos protestos. Questionavam sobre o que ele estava falando, ele era Deus, jamais iria abandona-los.
- Eu não vou abandonar vocês jamais, em prova disso deixarei algo bem reservado entre vocês. Primeiramente peguem cada um de vocês um pedaço de pão. Coloquem em suas bocas e o comam, não como um alimento comum, porque de hoje em diante vocês celebrarão isto em meu nome. Este pão é minha carne, o meu corpo, comam em memória a mim, e saberão que sempre estarei com todos vocês.
Após comerem, alguns dos discípulos voltaram a fazer novas indagações, apenas Judas permanecia calado, olhando para Jesus fixamente.
- Acalmem-se todos, tomem cada um uma sua taça de vinho. Bebam, este é meu sangue e eu o deixo a todos vocês, façam isso sempre em minha memória e saberão que eu estou com vocês.
Mesmo após esse santo momento, os discípulos de Jesus continuaram a discussão, ele não deveria deixá-los. Este por sua vez, aproveitando que todos estavam distraídos, sem entender o que estava acontecendo, aproximou-se de Judas.
- Eu não vejo nenhuma expressão em sua face. – Questionou o mestre.
- Você sabe que não estou surpreso, mas acho que deveríamos lutar. O senhor é Deus, pode vencer qualquer inimigo.
- De que adiantaria eu fazer isso? Qual seria o propósito? A escolha de seguir Deus, tem que partir do coração de cada um e não ser imposta pela força. De que adiantaria eu derrotar meus inimigos e impor as regras de Deus sobre eles?
- Você salvou a vida de muitos, mudou a vida de tantos outros, inclusive a minha. Não percebe que ainda tem muita gente para ser ajudada, e que somente você pode fazer isso.
- Nisso você está enganado. Não sou o único que pode fazer isso, vocês também podem. Se eu cheguei a mudar a vida de algumas pessoas, foi porque no coração delas, elas aceitaram a bênção de Deus. Assim como eu fiz, vocês também podem fazer, basta a pessoa estar preparada para receber o espírito santo do senhor em sua vida.
- Eu discordo, você é Deus, você pode fazer tudo. – Erick realmente estava descrente.
- Não é bem assim, se eu fiz foi porque permitiram, eu jamais entraria no coração de uma pessoa que não permitisse. Jamais curaria alguém que não estivesse com o coração aberto para me receber, e assim será com todos vocês.
- Não concordo, jamais poderemos fazer o que Deus fez.
- Por que não se toma como exemplo? Lembra que você foi subjugado por forças desconhecidas de todos, você foi amaldiçoado. Mesmo assim, eu não encontrei um espaço em seu coração e você não está aqui comigo?
- Ah senhor! Me perdoa. Estou amaldiçoado, e nem sei o que tenho que fazer, na verdade eu nem deveria estar aqui te seguindo.
- Calma, acabei de te dizer, se está aqui é porque eu consegui entrar em seu coração, e nesse momento eu pude ver o que você realmente era, eu não o escolhi por acaso.
- Você não sabe, eu não fui enviado aqui para o bem. – Os olhos do príncipe lacrimejaram.
- Eu sei sim, repito, se você está aqui é porque eu o escolhi, não me importa o que fizeram com você, nem sob qual domínio esteja, o que importa, é que agora você pertence a Deus.
- Eu não quero mais cometer o mal.
- Você não vai, Deus já escolheu seu destino, basta você cumprir com ele.
- Mas e se Deus estiver apenas brincando conosco, em uma dessas suas brigas com seus anjos?
- Você realmente acredita nisso? Eu vim para salvar e trazer a redenção para toda humanidade, não há nada que os anjos possam fazer ou interferir. Eles sempre serão submissos a vontade do senhor, veja, esses dias mesmo fui tentado pelo inimigo, o anjo estrela da manhã, ele quem causou a divisão nos céus, era o anjo preferido de Deus. Nem mesmo ele pode interferir no que eu vim fazer nesse mundo.
- Como assim ele veio até você?
- Sim, mas nada pôde fazer. Sempre estive consciente de todas as provações que eu passaria nesse mundo, meu pai sempre deixou bem claro isso para mim. Apenas digo a você, seja sábio, o nome estrela da manhã é o apelido dado a ele pelas atribuições divinas, seu verdadeiro nome angelical é Samael.
- Eu sei disso. Mas ele parece querer o bem, embora esse bem, tenha que chegar a um confronto com Deus.
- Isso depende do ponto de vista e do interesse de cada um, o dele por exemplo, é que eu permaneça nesse mundo, a ponto de impor a vontade de Deus sobre os homens. Quebrando assim, o livre arbítrio que foi dado a vocês e não aos anjos.
- Sem nenhuma dúvida, você é a pessoa mais sábia que já passou por esse mundo. Faz muito sentido, e eu fui usado esse tempo todo, mas ele irá se surpreender.
- Não haja por impulso, lembre-se, você está aqui comigo e eu não me importo com ele. Apenas cumpra nossas promessas divinas, você tem um papel importante, apenas cumpra-o.
- Sim senhor.
O príncipe saiu do local totalmente irado para encontrar-se com Samael, enquanto Jesus caminhava de volta para a mesa. Sem poder controlar sua raiva, tirou todas as satisfações possíveis.
- Como você pôde me usar desse jeito? - O príncipe questionou nervoso.
- Mais eu não fiz nada com você. – Samael parecia surpreso e espantado com essa atitude repentina.
- Me usando para seguir os passos de Jesus, porque você quer que ele imponha a vontade de Deus sobre o mundo, quebrando assim, o livre arbítrio.
- Para e pensa um pouco, isso não seria o melhor para todos. Sem mortes, sem dor, sem guerras, seria de volta ao paraíso.
- Não seria. Deus não nos quer sobre domínio de força, ele quer nossos corações livres.
- Pensa um pouco...
- Chega! Vá embora, não quero mais você e seus espiões caminhando entre nós, estou cheio de vocês.
- Você vai se arrepender príncipe. Não fui o único a te usar nessa história.
Samael virou as costas e saiu, simples assim, como um passe de mágica. Estava fácil demais. Foi nesse instante que todas as coisas mudaram, pois quando ele virou para poder voltar a convivência com Jesus, deu de cara com Metatron, e a cara dele não era das melhores.
- Você realmente consegue tirar a minha paciência. – Sua voz soava furiosa.
- Acho melhor você sair também.
O anjo simplesmente ergueu uma de suas mãos na direção do príncipe. Ele caiu no chão se contorcendo de dor, tendo mais um de seus espasmos de fome, a dor dessa vez foi a maior de todas que o príncipe sentira desde que havia sido amaldiçoado.
- Acho que você não entendeu bem a coisa. Não está aqui para fazer o que bem entender, não está aqui para mudar o mundo. Está aqui para fazer o que eu quero.
- Mas o que você quer? – A voz de Erick saiu melancólica em função da dor lançada pelo anjo.
- Você vai agora entregar Jesus aos fariseus.
- Não posso fazer isso.
- Você pode e vai fazer, caso contrário, meu irmão acabara ganhando a guerra. – O tom de fúria da sua voz mudara para preocupação.
- Não vou fazer isso. Não estou preocupado com vocês dois. Nem com essa guerra idiota.
- Você vai, ou você irá sentir tanta fome, mais tanta fome, como nunca sentiu na sua vida. Essas dores não são nada, perto da infinidade de sofrimento que farei você sentir.
- Por favor não.
- Adivinha! Será tanta dor que somente o sangue do próprio Deus poderá saciar sua sede.
- Por favor não me obrigue a isso.
- A fome que você está sentindo agora só irá aumentando e aumentando, você escolhe, fazer o que estou mandando ou ficar ao lado de Jesus e ver quanto tempo você aguenta sem pular em seu pescoço. Eu particularmente não dou cinco minutos, adeus.
Essas foram as últimas palavras de Metatron antes de partir. Deixando o príncipe a se contorcer de dor e fome pelo chão. Ele até que tentou voltar na direção em que se encontrava Jesus e seus discípulos. Queria pedir perdão, pedir para que Deus o curasse.
Porém, cada passo que ele dava na direção dos discípulos, era uma tortura sem fim. Cada passo adiante era um tropeço de dor em meio a seus espasmos de fome. Ele desejava apenas sentir o gosto de sangue novamente em sua boca, alimentando seu corpo, aliviando sua dor.
Foi um passo, e outro, e outro, até que o príncipe caiu no chão sem poder resistir. Ele não conseguia, por mais que seu coração quisesse e ele tentasse, não conseguia. Seu corpo não seguia ordens, era um passo, e uma pontada maior em seu corpo. O gosto de sangue em sua boca, o provocou até que não resistisse mais, recuou e foi falar com os fariseus.