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- Por favor Sam, vamos comigo. Você sempre gosta de ir, por que agora não quer?
Leah estava a insistir por algumas horas para que Sam fosse passar o feriado na casa de seus avós junto com ela. Mas o garoto não queria mesmo encontrar Charlie e muito menos passar quatro dias convivendo com ele dentro da mesma casa.
- Eu tenho outras coisas para fazer.- ele respondeu.
A melhor amiga revirou os olhos.
- Esse feriado vai ter o festival do vinho, lembra que a gente sempre quis ir? Por favor. Vamos.
Sam passou a mão no rosto nervoso quando soube que seria impossível ele não acabar indo naquela viagem. Estava torcendo internamente para que o irmão mais velho de Leah não fosse, aí seria tudo perfeito.
Na quinta-feira de manhã, estava com sua mochila em frente a casa dos Jones-Miller e descobriu que seus desejos não foram atendidos. Ele tinha medo do nível de violência que se encontrava o humor e personalidade do garoto depois de seu próprio ato de violência. Ainda nem conseguia acreditar que havia dado um soco na cara de Charlie.
O seu olhar cruzou com o do garoto sentado que estava meio fio com uma xícara de café em suas mãos. Ben havia acabado de entrar novamente na casa. Leah parecia agitada e muito feliz.
- Oi nenê. - Leah abraçou seu amigo quando o viu chegar- Me dá sua mochila.- Ele retirou seu celular e seus fones de ouvido e entregou para que ela guardasse no porta malas.
- Por que estamos indo no carro da sua mãe?
- Porque meus pais não vão hoje, só irão no sábado. Meu pai tem que resolver alguns preparativos para o festival das flores que acontece daqui a poucos dias. E a minha mãe quer ajudar ele a relaxar. Então eles vão ficar sozinhos e...
- Okay, sem mais detalhes. Entendi.
Não demorou muito, Ben retorna para o lado de fora.
- Bom dia Sam. - ele cumprimentou o garoto com um sorriso. E este retribuiu. A beleza daquele homem era tão intensa que se espalhava pelos ares, Leah mal conseguia respirar. Mas estava tentando se controlar para não dar close errado.
- Vamos? - Leah perguntou animada.
- Sim, tudo preparado. - Ben respondeu- Vamos Charlie. - gritou para o garoto sentado na calçada. Ele veio até o carro e sentou-se no carona.
Leah e Sam se acomodaram nos bancos de trás. Aos poucos ele tentava relaxar, esquecer da presença de Charlie mas tudo era extremamente estranho. Sentia que não podia falar nada que de alguma forma acordaria a fera, esta que parecia ser bem mais mal humorada às sete horas da manhã.
Ben dirigia calmamente pelas ruas de Holmes, passou no posto de gasolina para abastecer e logo estava de volta a rodovia. Colocou uma música suave de alguma banda indie que curtia e logo Leah e ele já estavam cantarolando. Foi assim durante quase toda a viagem. Sam não desgrudou do celular e Charlie acabou dormindo até ser sacudido por sua avó que o recebeu com um abraço.
A mesa de café da manhã estava repleta de comida e todos serviram-se rapidamente. Anne e George amavam quando seus filhos e netos vinham os visitar, sentiam falta de quando a casa era uma enorme bagunça com gritos de brigas entre Victoria e Harry , a música alta dos quartos dos dois ou quando Ben jogava bola dentro de casa no alto de seus cinco e poucos anos e sempre quebrava alguma coisa.
- Comam mais! - Anne seguiu empurrando mais comida para todos.
- Desse jeito nem teremos espaço para almoçar - Ben riu mas não pensou duas vezes em comer mais um pedaço de bolo.
Após a deliciosa refeição, Sam e Leah foram ajeitar suas bagagens no quarto.
- Sam, você pode ficar no outro quarto? - Anne perguntou ao garoto.
- Por que vovó? Deixa o Sam aqui comigo, não tem nada demais. - Leah disse e abraçou seu amigo.
Mas já sabia da resposta. Era quase sempre assim. Por lembranças de jovens perto demais um do outro que não conseguiram segurar seus hormônios, vulgo Harry e Victoria, os avós preferiam separar as meninas dos meninos. Leah achava isso um saco e sempre tinha esperança de que um dia fosse mudar.
- Sinto muito Sam- fez biquinho.
- Já sabia. - falou mal humorado.
Porque ele já sabia mesmo. Já sabia que a ideia de ir passar aquele feriado ali seria terrível. E agora dividir um quarto com Charlie só triplicaria todo aquele inferno. Em meio a raiva, só depois de alguns minutos sentiu medo, era até perigoso dormir ao lado de alguém tão instável com Charlie Miller.
Sam levou sua mochila até o quarto que ficaria hospedado por mais três dias. Viu a mochila de Charlie em uma das camas e colocou a sua em outra. Tirou sua bermuda de banho de dentro da bagagem, além disso seus óculos e protetor solar. Foi ao banheiro e trocou-se. Bateu na porta da sua amiga.
- Entra, me ajuda aqui- ela disse dentro do quarto e ele entrou.
Leah segurava a parte de cima de seu biquini. Rapidamente seu amigo ajudou-a.
- Valeu, vamos logo para o lago. - disse animada.
- Não vai esperar seu tio?
- Você acha mesmo que quero esperar para ver ele sem camisa? No way, vamos logo só nós dois. Vai ser melhor assim.
O dia estava ensolarado,então ambos passaram protetor solar. Andaram alguns metros e logo estavam pulando na água gelada.
Nadaram até se cansar e depois ficaram apenas boiando, relaxando seus corpos e suas mentes.
- Sorte sua que seu irmão não chamou o Caleb para vir, não é? - Sam brincou com sua amiga enquanto sentia a água sob seu corpo. - Seria estranho.
- Na verdade não. Estamos super tranquilos em relação ao que aconteceu no telhado. - ela afirmou mexendo um pouco os braços.
- Hum, sei. Você está tranquila. Mas o Caleb... - Leah olhou para seu amigo quando ele disse isso, não parecia estar brincando.
- O Caleb está apaixonado pela Olivia, até parece que você não se lembra dele enchendo o saco por semanas sobre isso.
- Claro que lembro, mas desde quando adolescente sabe direito o que quer? Ele pode simplesmente mudar de ideia.- sorriu.
- Não vem com essas ideias malignas, sai the monio!- ela jogou água em seu amigo que riu.
- Só dizendo. - ele chacoalhou seus ombros- Mas cara, sério que não ficou nem uma torta de climão entre vocês dois depois do beijo? - ele tomou impulso e subiu em cima do deck de madeira para descansar um pouco.
- Acho que não. Sei lá, nos falamos normal, não nos pegamos de novo e...
- Ele e Olivia... - Sam completou e a garota afirmou.
- É. Eles estão juntos.
- E isso não é estranho? Gente...Não entendo a humanidade.
- Isso é um julgamento?- Leah cerrou os olhos. - Achei que por você não tivesse sido nada demais eu ter ficado com ele.
- Não disse que foi. Mas não é a coisa mais comum. E agora ele está praticamente namorando a nossa melhor amiga.
- Acha que devo contar do beijo para a Oli? - Essa ideia já tinha ocorrido na mente de Jones algumas vezes mas até então nunca tinha pensado seriamente em concretizar isso.
- Sei lá...
- Mas não significou nada. Só iria atrapalhar os dois. Para nada.
- Não sentiu nada?
- Ah nada é uma palavra muito forte - Os dois trocaram olhares maliciosos- Ele é gostoso. Você sabe.
''Quem é gostoso?'' - A voz aveludada de Ben surgiu no meio da conversa.
Leah quase teve um infarto. Aquele abdômen definido exposto aos seus olhos. Era dificil concentrar-se e pensar em seguir em frente.
- Que? - Leah engasgou.
- Vocês dois... - ele sorriu balançando a cabeça e se jogou no lago jogando uma grande quantidade de água para todos os lados.
Os três ficaram brincando na água. Ben era divertido e conseguia falar sobre todos os assuntos, era alguém desprovido de preconceitos bobos, alguém inteligente e bem humorado, todas essas características faziam tudo ser pior para Leah.
- Cadê seu irmão? Não vejo ele desde que acordei. - o mais velho perguntou molhando seus cabelos e jogando-os para trás. Leah deu mais um gritinho interior ao ver essa cena.
- Ele deve ter ido pescar na barragem. - ela respondeu. - Qual a graça de ficar horas parado esperando para alguma coisa beliscar sua isca?
- Algumas pessoas dizem que ajuda a relaxar. - Ben falou sentando-se no deck. Leah fez o mesmo.
Sam conhecia onde era a barragem e sentia que devia falar com Charlie. Colocar todos seus pensamentos na mesa, saber o que ele pensava. E já que ele supostamente estava relaxando, talvez fosse um bom momento para isso, pensou.
- Vou ajudar a Anne com alguma coisa, já volto- disse e foi em direção a casa.
Ben e Leah ficaram apenas apreciando a vista das montanhas e árvores verdinhas por um bom tempo.
- Amanhã começa a festa do vinho, está animado? - ela pergunta quebrando o silêncio.
- Claro. É uma tradição dessa região, vamos nos divertir muito- Vamos nadar mais um pouco- Ben chamou e os dois pularam novamente no lago.
Nadaram por vários metros até cansarem. Estavam bem distantes do deck, sozinhos. Ben aproximou-se de Leah, olhou para seu rosto, seus olhos expressivos.
Ela por sua vez ria internamente de uma folha presa aos fios de cabelo dele.
- Ben, tem uma... - ela aproximou sua mão e pegou a folha, seus dedos tocaram a pele úmida de Ben e ele fechou seus olhos com o toque. Leah percebeu e ficou nervosa instantaneamente.
Ficaram olhando um para o outro. Presos em algo que nem poderiam explicar. Como aquilo foi acontecer?
Seus corpos se uniram em um abraço silencioso. Nada era dito. As mãos de Ben agarravam a cintura da garota. Os lábios dela passeavam pelo pescoço e ombro dele, era uma carícia suave, apenas encostava, mas o que queria era deixar marcas por toda a pele, queria chegar a outros lugares, queria explorar tudo o que fosse possível, com Ben, ali naquele lago ou em qualquer outro lugar do planeta.
A mão de Leah desceu pelas costas dele e após passou pelo tórax descendo até o abdômen que ela tinha tanto almejado a minutos antes. Ben estava parado, silencioso, tentando acalmar a explosão de sensações que seu corpo sentia com aquelas carícias escondidas pela água. Mas quando viu que sua sobrinha queria mais que brincadeiras, afundou-se na água.
Assustou-a.
- Vamos ver quem chega primeiro no deck- disse após voltar a superfície.
Leah seguiu nadando com ele. Seu coração batia tão rápido. Ainda bem que estava na água, porque pelo menos podia esfriar a cabeça ali mesmo. A cabeça e outras partes de seu corpo.
~***~
Sam havia colocado uma camisa e seu boné e seguiu para as barragens. O caminho era tortuoso e cheio de árvores e plantas pelo caminho. Viu uma trilha e sabia que era o caminho. Fazia uns dois anos ou mais que não passava por ali.
Há uns três metros de chegar até o lugar, avistou Charlie, ele brincava com um dos cachorros da família. Acariciava as costas do animal e depois o distraía com uma bolinha. Era impressionante como aquele garoto gentil e alegre não parecia em nada com o capitão babaca do time de futebol americano.
Quando pisou mais uma vez no chão, quebrou um pequeno galho, fazendo um barulho.
Charlie que estava com um sorriso no rosto, retirou-o de seu rosto assim que viu a imagem de Sam ali. O cachorro ao ver correu em direção ao garoto e rondou seu corpo, lambendo sua mão.
Ele brincou um pouco, assobiando fazendo o animal mover-se em volta dele.
Miller nada disse. Não perguntou o que ele fazia ali, não mandou ele ir embora. Só estava esperando ele sair por conta própria. Mas não era o objetivo do outro. Sentou-se a uma distância que julgava segura.
Charlie virou suas costas segurou sua vara de pescar e ficou olhando para a água.
- Charlie, quero te pedir desculpa pelo outro dia. Eu não sei o que me deu. Eu só fiz aquilo e nossa, foi algo ridículo da minha parte...
- Shh, será que pode ir tagarelar em outro lugar? - Charlie interrompeu grosseiramente.
Sam andou mais alguns passos e chegou ao lado de garoto.
- Será que podemos ter paz entre nós dois? - Ele pediu com humildade- Porque eu já não aguento mais isso.
Charlie olhou para Sam por alguns segundos sem muita expressão. Como se estivesse entediado. Mas algo sobre Sam é que ele não se intimidava, continuou com a cabeça erguida esperando ele dizer algo. Mas quando pensou que estava no controle, foi ele quem se pegou olhando para cada detalhe do rosto do mais velho. Seus olhos azuis esverdeados, sua boca rosada, seu cabelo...
Miller cerrou seus olhos.
- Não precisa ficar com peso na consciência Williams. Nada na vida sai de graça e você vai me pagar por ter me batido. Só aguardar. Agora pode ir.
-Não.
Charlie olhou-o confuso.
- Como assim ''não''? Sai! Quer que eu te chute daqui?- largou a vara e cruzou seus braços. Seus músculos pareciam muito maiores naquela posição.
- Não tenho medo de você. - Sam cruzou seus braços. Estava sério. Verdadeiramente ele poderia ter alguns medos em relação a Charlie, mas ao mesmo tempo que lhe dava medo, era algo que o acendia por completo.
- Deveria ter, Williams.- sorriu de modo sarcástico.
Samwell não saiu dali. Ficou olhando Charlie com a quantidade de seus zero peixes pescados. Até que ele desistiu, pegou sua vara, o balde com as iscas e saiu caminhando.
Sam tirou algumas fotos do local e logo também foi embora. Quando chegou na casa, Anne já estava chamando todos para o almoço.
Impressionante como ninguém sentia fome mas só de sentir o cheiro da comida, o apetite subia rapidamente. Quando terminaram de comer, eles mal conseguiam andar.
Leah ainda estava anestesiada pelos momentos debaixo d'água com Ben. Ela sabia que algo tinha acontecido. Só não podia descrever direito se aquilo ia para algum lugar, mas quem sabe depois de uns bons vinhos, tudo possa ficar mais leve.
A tarde passou voando. Após sorvete, biscoitos caseiros e mais um banquete de jantar, todos caíram em suas camas e dormiram. Ben ficou no quarto de casal de hóspedes. Leah estava ciente disso e como ela queria ter ousadia e loucura o bastante para ir até lá de madrugada e dormir com ele. Ia ser expulsa... Talvez.
Sam estava colocando sua camisa de dormir quando Charlie entrou no quarto. Ele olhou rapidamente para o corpo descoberto do rapaz e assoprou pesadamente.
Após vestir-se, Sam deitou-se e se cobriu. Não esperava para o show que viria a seguir. Nem estava preparado para ele.
Charlie retirou sua camisa revelando as costas largas, logo depois retirou seu short, ficando apenas de cueca boxer. A boca de Sam estava entreaberta, não teve como não olhar, ele olhou disfarçadamente. Ou não.
- Se quiser um babador, só pegar no armário da vovó. - ele disse irônico.
- Você se acha, não é? Coitado. Fique sabendo que você não faz meu tipo. - Sam respondeu sério e encarou seu celular.
Charlie ficou olhando para ele. Só depois de algum tempo respondeu.
- Graças a Deus. - deitou-se em sua cama.
E ficou olhando para o nada, até pegar seu celular. Inicialmente ficou olhando seu facebook, viu algumas mensagens de garotas que ele já não se interessava mais. Olhou algumas páginas esportistas. E então entrou no instagram. Olhou para seu lado e viu que Sam já dormia.
Percebeu que não estava com o juízo perfeito quando assistiu pela décima vez um pequeno vídeo de treze segundos que Sam havia postado em seu perfil do instagram em que ele cantava All my loving dos Beatles.
Seriam mais três dias ao lado dele.
Fechou os olhos e adormeceu ouvindo as incansáveis repetições daquele pequeno trecho de música.
Continua...
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Bjoooos
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