Abro os olhos e pisco diversas vezes por causa da claridade que me incomoda.
A última coisa que me lembro é de Hardy ajoelhado ao meu lado me dizendo que eu ficaria bem.
Meus olhos se acostumam com a luz e eu olho ao redor. Estou em um quarto de hospital e estou sozinha.
Meus pensamentos rapidamente se dirigem para Cam. Eu preciso saber se ele está bem.
Faço uma tentativa de me levantar e sinto um incomodo em minha barriga. Levanto-me do mesmo jeito e deixo que meus pés descalços encontrem com o chão gelado.
Vejo a bolsa de minha mãe na cadeira juntamente com um casaquinho de lã, o visto por cima da roupa de hospital e saio do quarto.
— Nina! — Ouço a voz de Hardy e olho para minha esquerda, ele caminha em minha direção.
— O que você está fazendo em pé? Deveria estar descansando.
— Preciso ver Cameron. — Digo.
— Você precisa descansar, pode vê-lo mais tarde. Ele está bem, Nina, mas também precisa de repouso.
— Minha cabeça está doendo. — Digo, passando os dedos por minha testa.
— É claro que está, você levou uma bela pancada. Além do tiro, mas por sorte foi apenas de raspão.
— Por favor, Hardy, preciso vê-lo.
— Ele está dormindo agora, ele apanhou muito, Nina.
— Mas ele vai ficar bem?
— Fizeram vários tipos de exame, parece que ele estava bem desidratado e bem machucado. Duas costelas quebradas, nariz quebrado e uma leve concussão, além de vários hematomas. Aquele maldito o espancou bem feio.
— Oh não! — Sinto as lágrimas nublando meus olhos.
— Mas disseram que ele vai ficar bem, ele só precisa descansar por algumas semanas.
— E o que aconteceu com Albert?
— Ele está ali. — Hardy diz obviamente com raiva, ele aponta para o final do corredor e só então percebo um homem de uniforme em pé ao lado de uma porta.
— Ele está no quarto em frente ao do homem que ele quase matou. E ainda dizem que existe justiça!
— Ele vai ser preso, a justiça será feita. — Digo.
— Sim, ele vai ser preso, mas não há garantias que ele permanecerá vivo muito tempo. — Hardy diz de forma sombria.
— O que você quer dizer?
— Acho que você sabe exatamente o que quero dizer.
— Hardy, não, por favor, não quero que você o mate. — Sussurro para que ninguém nos ouça.
— Nina, vá e veja o estado do Cameron e então me diga se aquele porco não merece morrer.
— Eu sei que pra você isso não deve ser nada, mas pra mim é, não estou acostumada com pessoas que fazem justiça com as próprias mãos.
— Não pense mais nisso, deixe que eu cuido daquele porco que machucou uma pessoa importante para nós dois. Quero aproveitar para te pedir desculpas.
— Desculpa pelo que?
— Eu disse que não deixaria nada de ruim te acontecer e olha só para você agora.
— Hardy...por favor, você salvou o Cam e eu, nós te devemos a nossa vida. Eu nunca vou me esquecer do que você fez.
— Fico feliz que vocês dois estejam bem.
— Eu também, mas... eu realmente preciso ver ele, será que você me dá licença?
— Claro, ele está no último quarto, mas cuidado. Ele está bem machucado, não se assuste.
— Tudo bem, obrigada.
— Vou estar na sala de espera se precisar de mim.
Hardy se afasta e eu caminho, meio lentamente já que ainda estou dolorida, em direção ao quarto de Cam.
Paro na porta e olho para o outro quarto, onde Albert está nesse exato momento.
Não quero nem pensar no que Hardy irá fazer com ele, mas tenho certeza que será horrível.
Sinto-me culpada por querer que ele sofra, mas ele machucou e quase matou o homem que eu amo e isso eu não posso perdoar.
Entro no quarto e vejo Cam deitado em sua cama, dormindo.
— Oh, Cam! — Levo a mão até a boca e tento conter as lágrimas.
Seu rosto está tão machucado e ele parece tão cansado.
Aproximo-me e seguro sua mão.
— Meu amor, eu fiquei com tanto medo de te perder. — Digo, mesmo que ele não esteja me escutando. Sinto lágrimas escorrendo por meu rosto.
— Eu te amo, Cam, vou te amar para sempre.
— Nina! — Ouço a voz de mamãe quando ela entra no quarto junto com Garrett.
— Só fomos tomar um café e você tinha sumido. — Ela vem e me abraça.
— Sinto muito, eu precisava ver se ele estava bem.
Garrett me abraça assim que mamãe me solta.
— Como você está, querida?
— Estou bem, mamãe.
— Você ficou louca? Ir atrás do Cam sozinha...
— Eu não estava sozinha. — Digo.
— Ah sim, aquele homem assustador que está esperando lá fora. Ele é seu namorado, filha? Porque se for, eu tenho que dizer que ele parece ser bem...
— Não, mãe, Hardy é apenas um amigo.
— Ufa, que bom! — Ela diz aliviada.
Sei que chegou a hora, não posso mais esconder. Preciso contar para eles sobre Cam e eu, não posso guardar esse segredo, não depois de tudo que aconteceu.
— Mãe, Garrett, preciso contar uma coisa.
— O que foi?
— Cameron e eu estamos juntos.
— Juntos como? Do que você está falando? — Garrett pergunta.
— Ele e eu estamos apaixonados. — Digo e os dois me encaram sem reação.
Espero por vários segundos e nenhum dos dois diz algo.
— Nós nos apaixonamos muito tempo atrás, quando nós mudamos para a casa do Garrett. É uma longa história, mas eu vou contar tudo...
E foi o que eu fiz. Bem, contei tudo menos a parte em que Cameron dormiu com Alyson.
O tempo todo mamãe e Garrett se olhavam e gaguejavam perguntas e diziam surpresos o quanto foram bobos por não terem desconfiado de algo.
Foi difícil saber qual seria a reação deles, se eles iriam nos apoiar ou não.
— Por favor, eu espero que vocês entendam e nos apoiem. Nós nos amamos muito.
— Meu Deus, Nina, isso é tão...
— Inapropriado. — Garrett diz.
— Mas eu o amo, Garrett.
— E eu amo ela. — Cam diz, acordando.
— Cam! — Exclamo e o abraço, fazendo-o gemer de dor.
— Oh sinto muito, me perdoe.
— Tudo bem, amor, vale a pena sentir dor se for para te abraçar. Venha cá.
Abraço-o, mas dessa vez com mais cuidado. Beijo seu rosto machucado várias vezes e não consigo evitar, choro de alivio por tê-lo em meus braços novamente.
— Eu te amo. — Sussurro para ele.
— Eu também te amo.
— Meu Deus, vocês realmente se gostam, não é? — Garrett pergunta, olhando o modo como estou agarrada a Cameron.
— É mais do que isso, pai, ela é a mulher da minha vida. Por favor, não fique contra nós.
— Bem, eu...eu acho que...já que vocês se amam, bem...isso é o que importa, não é? Quero que vocês dois sejam felizes.
— Sério? Obrigada, Garrett!
— Bem, eu também só quero a sua felicidade, querida, e se vocês se amam então...acho que me resta dizer que estou feliz por vocês dois.
— Muito obrigada, mamãe.
— Mas, por favor, nunca mais vá enfrentar sequestradores armados, mocinha. — Mamãe diz tentando parecer zangada e eu rio.
— Será que posso falar com a Nina a sós, por favor? — Cam pergunta.
— É claro.
Mamãe e Garrett saem do quarto, nos deixando sozinhos.
Dou um beijo gentil nos lábios inchados de Cam e acaricio seus cabelos.
— Você me salvou. — Ele diz.
— Na verdade foi Hardy quem o salvou.
— Que pena, porque eu estou tão agradecido que quero beijar loucamente a pessoa que me resgatou e seria bem estranho beijar Hardy. — Cam diz e eu rio.
— Nesse caso, fui eu quem te salvou sim. — Digo e o beijo mais uma vez. Cam geme e eu me afasto.
— Sinto muito, você está com muita dor? Posso chamar uma enfermeira e...
— Não, quero ficar só com você agora.
— Tudo bem.
— Me diga... — Ele diz, entrelaçando nossos dedos. — Como você achou Hardy?
— É uma longa história, mas Brian, Mia e eu fomos à Las Vegas e...
— Brian? — Cam pergunta e eu reviro os olhos.
— Não comece com seu ciúmes.
— Mas eu sempre estou com ciúmes de você, principalmente quando você está perto daquele cara. Odeio saber que ele esteve ao seu lado quando eu não estava.
— Isso é passado, Cam, eu te amo e quero ficar com você para sempre.
— Tudo bem, sinto muito, continue.
— Bem, nós fomos ao Paraíso e falamos com Hardy e ele aceitou nos ajudar a encontra-lo. Não poderia esperar a policia te achar, eles estavam demorando demais, eu tive que recorrer a ele.
— Então você conheceu a Laura?
— Sim, ela é encantadora.
— Não mais que você.
— Não deixe Hardy te ouvir falando isso. — Brinco e Cam tenta rir.
— Ele é louco por ela. Nunca vi um homem tão ciumento, e olha que sou eu falando.
— Eu percebi que eles se amam muito, assim como nós. — Sorrio e o beijo delicadamente. Não consigo tirar minhas mãos dele.
— Você se machucou muito? Está parecendo meio cansada.
— Eu estou bem, amor.
— Eu fiquei com tanto medo de te perder. Quando estava lá deitado no chão, e aquele maldito te ameaçando...queria tanto te proteger, mas doía demais.
— Eu sei, amor, sei que você teria pulado nele e me salvado se você pudesse.
— Eu teria matado ele. — Cam diz de forma sombria, o que me lembra de Hardy.
— Hardy disse que vai cuidar dele.
— Ótimo, ele é um bom amigo.
— Eu só quero esquecer tudo o que aconteceu e seguir em frente.
— Eu também, amor.
— Eu já disse que te amo muito?
— Já, mas nunca me canso de ouvir.
— Te amo, Cam.
— Eu também te amo, Nina, é por isso que assim que eu me recuperar irei te pedir em casamento.
— O que?
— Quero me casar com você, meu amor.
— Cam, isso são os remédios falando.
— Não, estou falando sério, você é a mulher da minha vida e eu quero ficar ao seu lado pra sempre, então quando chegar a hora, vou pedir sua mão.
— Oh Cam!
— Qual será a sua resposta, quando eu te pedir em casamento?
— Acho que você vai ter que esperar para saber.
— Tudo bem, eu faço uma boa ideia de qual vai ser. — Ele diz e nós rimos, então me inclino e o beijo mais uma vez.