Samuka
Eu quero férias! Não aguento mais estudar, semana que vem vamos pro acampamento, espero que o tempo passe rápido e que não seja chato.
— Oi, minha gatinha! — dei um selinho em Kath.
— Oi, iludido — sorriu de lado.
— Iludido por quê? — cruzei os braços.
— Porque eu não sou sua!
— Se não é minha, é de quem então? — arquei uma sombrancelha.
— Não sou de ninguém, depois a gente conversa — beijou minha bochecha.
Kath adora me provocar e eu gosto disso. Coloquei minha mochila na mesa e saí dando de cara com o namorado da Isabella.
— E aí? — fez um maneio de cabeça e entrou na sala.
— Cheguei para a sua alegria — Karina me abraçou.
— Que animação é essa, lorinha? — beijei sua bochecha.
— Vai ter um luau na praia sexta-feira e nós vamos — me entregou um convite.
— Você comprou? — assentiu.
— Ontem à tarde, comprei oito. Para mim, Kath, Agatha, Isabella... — sua fala foi interrompida.
— Para onde você quer levar a minha princesa? — Leonardo questionou.
— Olha, cara, eu sei que você é namorado da Isabella mas nós somos amigos dela e gostamos de sair juntos — respondeu em uma voz calma.
— Vou pensar no caso de vocês — saiu da sala.
— Esse garoto me dá calafrios, mas eu quero que a Isabella vá com a gente.
— Para onde você está indo? — Alan passou o braço dele pelo ombro dela.
— Nós vamos! — lhe entregou um convite.
— Depois você me fala quanto pagou — ergui o convite.
Guardei no meu bolso e fui encontrar o time, Erick estava sentado no encosto do banco olhando pro nada.
— O que houve, mano? — me sentei ao seu lado.
— Nada, só estou pensando.
— Então você sabe pensar? — zombei.
— Vai se fuder! — revirou os olhos.
— Vai ter treino hoje? — Danilo chegou perto de nós com o Júlio.
— Sim, hoje é terça ainda e eu já estou morto — Erick respondeu com tédio.
— O treinador deveria dar uma folga para nós, sei que os nossos jogos começam em agosto, mas esse ano estamos treinando bem mais — Danilo argumentou.
— Esse ano nós temos que ficar em primeiro lugar na semi-final e ganhar o jogo na final, por isso os treinos estão mais vezes — falei.
— Sim, esse ano estamos mais preparados e tenho certeza que vamos ganhar — Erick nos incentivou.
— Isso aí, capitão! — Júlio sorriu.
— Só espero que nas férias não tenha treino — Danilo murmurou.
— Vai viajar?
— Vou para Blumenau visitar minha namorada.
— Desde quando tem namorada? — Júlio perguntou surpreso.
— Faz quase um ano que eu namoro. Belo amigo você! — ironizou.
— Outro dia eu estava lembrando que você comentou que tinha namorada, esses daí nem prestaram atenção — Erick riu.
— Namorar não é comigo. Que graça tem isso? — Júlio se sentou.
— Quando você encontar a garota certa vai ver a graça — Erick disse e nós olhamos para ele.
— Não vai me dizer que está gostando da Vivian — ergui as sombrancelhas.
— Claro que não! Falando nela... — bufou ao vê-la se aproximando.
— Oi, meninos! — Cecília estava com ela.
— Oi! — Júlio e Danilo responderam entediados.
— Eu preciso falar com você, Vivian! — Erick saiu com ela.
— Oi, gato! — Cecília se sentou na minha perna.
— O que você quer, Cecília?
— Você! — sorriu.
— Sinto muito, mas eu não estou disponível — coloquei ela sentada no banco e me levantei.
— O que você viu naquela sonsa? — me olhou brava.
— Eu não ti entendo, Cecília. Quando eu corria atrás de você, tu nem ligava e agora me quer? Vai procurar outro! E a única sonsa que eu conheço é você! — saí andando.
Quando eu começei a estudar na parte da manhã aqui na escola, no primeiro ano, de cara eu já me interessei por Cecília. Corri por dois anos atrás dela, quando eu fui pro segundo, o treinador me convidou para o Time, Erick já havia me convidado várias vezes, mas eu não queria, decidi aceitar e com isso veio a popularidade, fiquei com Cecília e percebi que era só atração que sentia por ela. O que sinto pela Kath é diferente, é algo mais profundo e não é só diversão.
O sinal bateu, entrei na sala e Isabella estava no mesmo lugar de ontem e me sentei no meu lugar.
— Gatinha, quer assistir um filme comigo lá em casa? — olhei para ela.
— Eu não gosto de romance.
— Nem eu! Quais você gosta?
— Os meus preferidos são de acão, comédia brasileira e terror.
— Eu vou ti buscar as duas, esteja pronta — assentiu.
Depois que bateu o sinal do final das aulas, fui pra casa e comi um lanche, minha mãe não gosta de empregada, mas tem a faxineira que vem duas vezes por semana para arrumar as coisas e tals. Era uma hora e decidi fazer brigadeiro porque eu sei que Kath adora, mas quem não gosta? Coloquei no prato e depois no congelador. Entrei no meu quarto tomei um banho rápido e vesti uma boxer, bermuda e camiseta, calcei meu chinelo e passei perfume, meu cabelo é só bagunçar que já fica bom. Cheguei no prédio da Kath, avisei o porteiro e ele me deixou subir, apertei a campainha e ela atendeu me olhando de cima a baixo.
— Que gatinho você está — sorriu de lado.
— Você também está uma gatinha, só não gostei do short curto — franzi a testa.
— Eu acho as minhas pernas bonitas, então eu tenho que mostra-las. Deixa eu pegar minha mochila! — entrou no apartamento e voltou.
— Para que mochila? Vai dormir comigo hoje? — sorri malicioso.
— Claro que não! Eu levo a minha mochila para todo lado, ela tem tudo que eu preciso — trancou a porta.
Entramos no elevador e descemos até o térrio, saímos do prédio, passamos no mercadinho para comprar bala e chocolate. Coloquei as sacolas em cima da mesa da cozinha, peguei dois potes para colocar a pipoca.
— Você fez brigadeiro? — se sentou no balcão.
— Sim, já deve estar gelado — coloquei um saco de pipoca no micro-ondas.
Fui até Kath e lhe dei um selinho demorado que se transformou em beijo, segurei na curva de seu joelho e a puxei mas para perto de mim, deslizei minha mão na sua perna a fazendo se arrepiar, nos separamos para respirar.
— Vai passar um filme daqui à pouco que se chama “Loucas para casar” e parece ser bem divertido só pelo trailer — passou os braços braço no meu pescoço.
— A gente assisti um de terror depois dele — assentiu — Eu ti achei bem quieta desde de ontem — passei o dedo por seu rosto, tirando uns fios de cabelo solto.
— Só me decepcionei com uma coisa! Sabe quando você acha que uma pessoa é algo, mas depois descobre que ela é totalmente o oposto? Aconteceu isso, mas eu não quero estragar a nossa tarde juntos — beijou a ponta do meu nariz.
Se ela não queria falar sobre o assunto, eu não iria insistir, mas achei bem estranho o que ela disse. A pipoca ficou pronta e despejei nos potes, peguei o brigadeiro na geladeira e coloquei em cima da mesa com duas colheres. Kath me ajudou a levar as coisas para a sala, ela se sentou e eu fiquei ao seu lado
— Nossa, esse brigadeiro está muito bom! Faz eu me lembrar do meu pai — colocou um pouco na boca e fechou os olhos.
— Por que lembrar? — perguntei confuso.
— Eu perdi meus pais em um acidente de carro ano passado e o brigadeiro do meu pai era o melhor — sorriu.
— Desculpa, eu não sabia — cocei a nuca envergonhado.
— Não tem problema, eu gosto de falar deles — pegou o pote de pipoca.
Não deve ser fácil perder os pais, Kath é muito forte, eu mesmo não sei o que faria se acontecesse algo com os meus. O filme começou e realmente era muito divertido, mudei para o de terror quando acabou, Kath se deitou e eu deitei do seu lado, seu braço ficou embaixo da minha cabeça fazendo carinho no meu cabelo.
— Teu cafuné é muito bom — sussurrei com olhos fechados.
— Seu cabelo é macio — sussurrou de volta.
Ficamos o resto da tarde assistindo filme, e resolvi levar Kath para casa, não é bom ela ficar andando sozinha pelas ruas.
— Está entregue, gatinha — passei o braço na sua cintura.
— Eu gostei de passar esse tempo com você, não é tão chato quanto pensei.
— Devo levar isso como um elogio? — beijei seus lábios.
— Opa, foi mal atrapalhar, crianças — uma mulher falou quando abriu a porta do apartamento da Kath.
— Falou a adulta! Vai para a faculdade sexta? — Kath olhou para ela.
— Oi, garoto! Eu sou a Lívia, irmã da Kath, ela é muito mal-educada. Eu vou sim para a faculdade, por quê? Vai sair? — estendeu a mão.
— Sou o Samuel — apertamos as mãos.
— Nós vamos! Sexta vai ter um luau e você vai comigo.
— Eu não sei, tenho que ver se não vai ter nada de importante na faculdade.
— Você está precisando se distrair um pouco. Vai que conhece um boy gostoso por lá?
— Não estou com cabeça para relacionamento, Kath!
— Quem falou em relacionamento, vovó? Os jovens de hoje em dia ficam!
— Estou indo para a faculdade. Tchau, Billy! — fez carinho no cachorrinho que estava sentado perto da porta — Tchau para vocês dois! — acenou e as portas do elevador se fecharam.
— Tchau, Samuel! — beijou minha bochecha.
— Tchau, gatinha! — lhe dei um beijo rápido.
Voltei para a casa e subi direto para o meu quarto. Antes de levar a Kath ela me ajudou a arrumar as coisas, mesmo não precisando, ela que ensistiu muito, deitei na cama e adormeci rápido.