A lenda de Selene Adams. (PAR...

De DeniseBorges2033

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Como em todo bom conto ou quem dirá em uma lenda, pode haver o típico início: "Era uma vez"; mas, talvez, aqu... Mai multe

Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18

Capítulo 1

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De DeniseBorges2033

"Ou me arrepia até o osso ou não me toca..."


Seu nome era Angel Hope Adams. Ela era completamente diferente de todas as outras garotas da escola. Seu cabelo negro estava sempre preso a duas tranças que escorriam de cada lado de sua face inexpressiva. Ela quase nunca sorria, e quando o fazia era apenas com os lábios. Era uma espécie de sorriso diferente, sarcástico, maldoso, cruel, irônico, como se ela se encaixasse num padrão melhor do que o do resto dos alunos. Seus cílios eram longos e ela usava delineador, o que tornava impossível não olhar em seus grandes olhos negros e desafiadores. Ela era extremamente pálida. Sempre usava o mesmo batom preto, o que dava a ela um ar ainda mais assustador. Logo que chegou ganhou o apelido de 'Senhorita Adams', já que todos os alunos da escola viam uma grande semelhança entre ela e a filha mais velha do casal do filme A Família Adams. E para piorar a situação, o seu sobrenome era o mesmo. Havia quem dissesse que ela era mesmo da família Adams, ela nunca teve nenhum amigo, não era de falar muito e na hora da chamada apenas levantava a mão. Sua voz era um murmúrio e raramente era ouvida.

Os colegas de classe caçoavam dela, pareciam monstros. Não tinham pena da pobre garota. Ninguém sabia ao certo sua idade, mas se encaixava no padrão dos doze ou treze anos, ninguém sabia ao certo onde morava, porém alguns até tinham a audácia de dizer que ela havia vindo do INFERNO.

Mas foi no dia do baile que se arrependeram cruelmente de tê-la chamado de qualquer nome que fosse.

Naquele dia, eles haviam se reunido mais cedo na escola para planejar o que fariam com Angel, eles planejavam dar um belo susto nela. Lícia, a líder do grupo, propôs que a trouxessem até o lago atrás da escola, não teria problema em dar um banho e tentar limpar aquela maquiagem horrível que ela usava. Alan, para chamar a atenção de Lícia, concordou com a ideia, mas também quis que antes deixasse ele se divertir um pouco com a cara da garota. E esse foi o plano traçado. Angel não tinha a mais remota ideia do que ocorreria naquela noite, e quando foi convidada pela melhor amiga de Lícia para uma festinha particular atrás da escola, quase não acreditou. A inocente garota aceitou imediatamente. E junto de outro amigo de Lícia e Alan, abandonou a festa e foi para a parte de trás da escola.

Apesar de surpresa por ser convidada para ficar com o grupo 'alfa' da escola, Angel não expressou nada, apenas assentiu com a cabeça e seguiu com eles para o local. Porém, mal atravessou o muro que separava a quadra da escola, sentiu mãos fortes e agressivas puxarem suas tranças tão bem arrumadas. E logo as risadas começarem. Alan conseguiu desmanchar as graciosas tranças de Angel e havia torado os dois pequenos e sensíveis elásticos usados para prender o rabo das tranças. Pela primeira vez, para a surpresa do grupo, Angel falou alto. Na verdade ela gritou.

— O que está fazendo, seu estúpido? 

Porém Alan e os outros só se divertiram mais ainda com a cena.

— Então você fala? — ouviu a voz de Lícia. — Fala, da onde você saiu... Monstrengo.

Mas nada foi dito pela pobre garota que já se encontrava, menos pálida do que o habitual. Angel sentiu um puxão forte em seus cabelos.

— Fala de onde você veio! — Lícia agora gritou. — Você é ridícula, garota. Dá nojo tocar em você.

Angel ouviu as risadas dos outros, sentiu o gosto salgado de uma lágrima no canto da boca.

Gritou.

— Cale a boca — ouviu a voz de Alan. — Vão descobrir a gente desse jeito. Voltou a gritar.

— Faça-a se calar, Lícia! — um dos garotos ordenou.

Lícia chutou com o joelho o rosto de Angel e a jogou no chão.

— Olha só, agora seu rosto não está mais tão pálido assim.

— Ih, ela tá chorando, pessoal. - uma voz feminina gritou.

E logo começaram a rir novamente.

— Você é um lixo, Adams. Quem é a idiota da sua mãe? Deve de ser muito burra pra te chamar de Angel. Angel de que mesmo..? Ah, Hope... Esperança? Será que você não tem nada que preste, garota? - Lícia chutou sua costela.

Então se virou para trás, para procurar Alan.

— Hey, você não disse que queria se divertir um pouquinho com ela. Venha aqui.

Esse foi o tempo necessário para que Angel se levantasse e corresse ladeira a baixo. Porém alguém a segurou a tempo e Alan se aproximou.

— Pra onde você vai, garotinha? Nós ainda não acabamos.

— Me largue, por favor - a garota suplicou.

Mas Alan apenas riu.

— Vamos ver quantas peças de roupa você usa. Porque não importa como o tempo esteja, você sempre está usando esse casaco de lã fedido. - ele puxou bruscamente o casaco preto da garota, rasgando uma das mangas.

— Não! Pare! - suplicou novamente Angel.

Os outros haviam formado uma pequena rodinha envolta deles dois e se mantinham rindo e caçoando da garota. Alan jogou o casaco de lã no chão, enquanto com a outra mão desabotoava a camiseta branca, então, já na metade, com a blusa cinza embaixo desta a mostra, ele parou.

— Ah, é. Você sempre usa essa coleira, não é? - Ele mencionou o colar, que realmente parecia uma coleira negra no pescoço de Angel.

Então tentou arrancá-lo, mas foi tão rude nesta ação que quase a estrangulou. A roda envolta deles se apertou mais e as risadas aumentaram. Por fim Alan conseguiu arrancar o colar.

— Agora sim, podemos continuar - ele disse, arrancado o resto da camiseta de Angel.

— Alan, pare! - ela gritou, tentando apanhar sua camiseta do chão. Mas então algo acertou suas costas. Alguém puxou seu cabelo.

— Alan! Pare. - alguém que não era Angel gritou. - Isso é demais.

— Tudo bem se você quer tomar banho de roupa, então. - ele ignorou e saiu arrastando-a pelos cabelos ladeira a baixo, rumando para o lago, não muito longe dali.

Angel gritava loucamente de dor, enquanto os outros iam atrás, chutando-a e empurrando-a. Ao chegarem à beira do lago, Alan largou-a e tirou seus sapatos. Angel tentou se levantar, mas sentiu mãos firmes de outro garoto prendendo-a no chão.

— Sua maquiagem é a prova d'água? - ouviu a voz de Lícia perguntar.

— Aposto que deve de ser mais um daqueles materiais baratos - outra garota respondeu.

— Ela deve de ter comprado no circo. - agora era um garoto que falava.

E isso atraiu a risada de todos, inclusive de Alan, que arrastava a garota pelas pernas até o lago. Ela sacudia as pernas, seu corpo ricocheteava, suas unhas se cravaram na areia e puxaram a grama que estava acabando e dando lugar a água escura do lago.

— Olha! Parece um peixe fora d'água, leve-a para dentro depressa, Alan.

Angel gritou e tentou se levantar, tirando o equilíbrio de Alan, que soltou suas pernas por meros cincos segundos. Então braços firmes a seguraram de volta e ela foi esmagada contra o chão. Levantou a cabeça, e pelo pouco que conseguiu, captou o rosto do seu agressor.

Estava escuro, mas a luz clara e um pouco forte que vinha do ginásio iluminou um pouco o rosto pálido e os cabelos castanhos escuro do garoto. Uma coisa Angel reparou: outros olhos estranhamente azuis, de um tom parecido com os de Alan, porém mais escuro. E então voltou a ser arrastada. A água penetrou no seu nariz e logo ele começou a arder, Angel tentou levantar a cabeça, mas Alan ia cada vez mais para o fundo e logo tornou impossível respirar naquela profundidade. A água era fria e escura. Sentiu suas pernas serem libertadas e seu corpo foi empurrado para longe, com a ajuda da correnteza. Angel tentou colocar a cabeça inclinada a superfície, e quando o fez, viu apenas a sombra de Alan se afastar em direção a margem. Tentou colocar os pés na área, porém percebeu que não estava mais no raso, a correnteza arrastava-a cada vez mais para o fundo e logo se tornou impossível ficar de pé dentro do lago. Angel começou a engolir água sem parar, o ar começava a lhe faltar nos pulmões e o desespero a dominava completamente.

— Soc-socor... - tentou falar, porém ao abrir a boca ingeriu mais água.

— AAH! - conseguiu gritar — Socorro! - conseguiu falar concretamente, por fim.

— Eu não sei... Não sei... - mais água foi engolida.

— Alan! - alguém gritou — Volte até lá, já chega!

Alan não deu ouvidos, continuou parado, olhando a cena.

— ALAN! - o garoto voltou a gritar. - Ela vai se afogar.

Angel continua engolindo água, quase perdendo ar, e juntamente os sentidos. Então o garoto empurrou Alan e entrou no lago, estava na hora de pôr um fim na brincadeira. Ele tentou ir contra a correnteza, tentou enfiar os pés na areia para que não se afogasse também. Porém quando se aproximou da garota tudo que percebeu foi uma forte pancada, um chute na barriga e logo ela estava se agarrando a ele. Angel empurrou a cabeça do garoto para baixo da água e se apoiou nele para respirar.

— NÃO! - Alan pareceu sair do transe. - Largue ele, monstro!

O garoto tentava se soltar, tentava voltar a superfície, porém ela empurrava-o cada vez mais para baixo. Até que sentiu-o ceder e seu corpo relaxou, escorregando para a areia. Angel caiu novamente e mergulhou. Agora ela estava perdendo o ar. Viu a silhueta do garoto abaixo de si, ele havia desmaiado. Tentou subir a superfície diversas vezes, viu em uma delas que Alan havia voltado e estava retirando o garoto de lá. Tentou alcançá-lo também, mas ele foi mais rápido e com a ajuda de outro garoto, tiraram o menino que havia tentado salvá-la da água. Angel voltou a perder o ar e voltou a gritar. Mas dessa vez ninguém fez nada, estavam ocupados demais tentando trazer o garoto desmaiado de volta, o sacudiam sem parar e gritavam para que ele acordasse. Angel tentou gritar mais forte, porém eles estavam voltados para o menino desmaiado. Aos poucos Angel foi perdendo os sentidos, e então... Tudo ficou escuro para a pobre garota. Ela não havia feito mal a ninguém, não em sua vida.


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