The Rest Of Us // H.S.

WhoisTasha

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A guerra. A guerra nunca muda. E foi assim que começou. Num futuro distante, bem vindo a Enrir, capital da s... Еще

Nota da autora e Avisos
War never changes
Begin
The wise boy

The happy pill

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WhoisTasha

   Abri os olhos e já não estava no pequeno apartamento destruído e manchado pelo sangue dos que amo. Não fazia ideia de quanto tempo havia se passado desde aquele acontecimento macabro e também não fazia ideia de onde estava. Parecia uma daquelas sonecas da tarde quando acordamos sem saber se quer nossos nomes, mas não que eu as tirasse com frequência.

Olhei a minha volta e tentei levantar-me, não demorou para que impedissem minha ação. Olhei assustada para a pessoa que segurava meus ombros e me fazia deitar novamente e dei de cara com uma senhora que conhecia muito bem. Senhora Constâncio e seu filho, Connor, estavam bem ali. Eram nossos vizinhos e, por fim, concluí que haviam me tirado de casa depois que perdi os sentidos e me trouxeram para o lar deles. Os dois conheciam a minha família a muito tempo. Minha mãe constumava conversar bastante com a idosa, dividiam experiências, se ajudavam na fome e no frio, duas mães amáveis que faziam de tudo por seus filhos. Já Connor e eu eramos amigos de infância. Costuvamos brincar juntos, viver aventuras pelas vielas da cidade enquanto eramos desbravadores do novo mundo e faziamos varias cicatrizes cujas tenho as marcas até hoje. Quando crescemos fomos ficando mais distantes já que com empregos a manter, comida para providenciar, impostos a pagar e fugas para realizar era difícil arrumar tempo para socializar com as pessoas.

— Como se sente, querida? — Constâncio perguntou-me e eu só consegui emitir um apelo com minha garganta completamente seca e uma voz extremamente rouca que soava como um sussurro.

— Água... — Connor, ao ouvir-me, se apressou ao pegar um pouco de água com uma tigela de alumínio e a aproximar de meus lábios. Logo tratei de beber todo o líquido dali.

— Eles te machucaram, Mack? — o garoto, que nem tinha porte para ser chamado assim, começou com as perguntas.

Eu estava confusa demais. Tentava assimilar suas palavras, sem sucesso.

— Mackenzie, responda-me! — Ele disse mais alto — eles te machucaram?

— Não... Eu estava no trabalho e quando eu voltei... Eu... Eu não vi mais ninguém — Minhas palavras soavam como súplicas de socorro, eram sussurros dolororos para quem os ouvia — Eu... Meu deus Connor... Eles estão todos mortos.

Connor e sua mãe me olhavam e seus olhares transmitiam uma única coisa, e era nítido: Pena.

— Eles estão mortos... Todos eles. — Repetia a frase sem controle. Acredito que dizia mais para mim do que para Connor e Sra. Constâncio. Eu, Mackenzie Daren, não queria acreditar. Era a negação.

Pude ouvir a suplica por silêncio de Connor e em seguida senti seus braços me envolvendo enquanto me sentava no chão gelido do cômodo escuro. Seus "vai ficar tudo bem" e "shh... Não está sozinha" não me faziam sentir melhora alguma.

A partir daquele momento eu já sentia falta de algo. Algo que eu achava ser minha mãe, meu irmão. Não era mentira, mas o que me faltava de verdade naquele instante e eu só fui dar-me conta tempos depois era um propósito. Eu o havia perdido quando balas foram disparadas dentro do lugar que chamava de lar, e elas ceifaram a vida dos que mais prezava. O que eu faria agora? Pra onde iria? Eu não tinha mais nada; nem uma casa, nem uma família, nem uma identidade. O que aconteceria comigo se uma Blitz me achasse e me identificassem? Eu morreria, talvez de uma forma bem dolorosa. Me sentia tão covarde, tão diferente do que era  na maior parte do tempo. Era como se aqueles malditos disparos tivessem levado minha confiança e coragem junto com a vida da minha família.

— Mack querida — Constâncio me chamou — Você precisa sumir daqui, não pode deixar que te peguem.

— O que? Ela não pode ir assim, olha o estado dela! — Connor protestou — Está de madrugada! Ela não vai durar muitoai fora.

— Ela precisa ir Connor Não vai durar muito aqui também! Basta que um dos outros moradores descubram que ela está aqui para que entreguem a cabeça dela por uma recompensa medíocre! Ela precisa de um lugar seguro pra dormir hoje, e amanhã ela precisa dar um jeito de sumir.

— A senhora está certa — disse finalmente saindo do meu silêncio — Eu sei pra onde eu vou hoje.

[...]

Eu não tinha confiança nenhuma no que estava fazendo, antes que você me veja como uma heroína. Eu so andava pelas ruas escuras sem fazer barulho e agradecia a qualquer força divina que pudesse me ouvir só pelo fato de que Connor eatava comigo me levando até a casa dos Styles; mas é claro que eu nunca admitiria isso pra ele.

— Você não está sob o efeito da Joy — Sussurrei enquanto andava — Por que?

— Porque essa porra é cara — Connor respondeu simplesmente e segurou minha mão me impedindo de prosseguir entre os becos. Era um fato, joy era uma necessidade considerada básica muito cara pra nós. Nós estavamos no mesmo barco. Ouvimos o barulho de botas e ficamos ali.

O sistema era cruel em Enrir e Connor, assim como eu,  vivia aquilo todos os dias. O fato de querer seguir as regras e viver como um cidadão comum, mas não ter dinheiro para suprir os custos e por isso viver como um fugitivo era a realidade que muitas famílias ali.
A maior parte da Joy era fabricada na siderúrgica dos Styles, eu sei que isso não faz muito sentido, mas não é como se drogar uma população inteira fizesse. A Joy nada mais era que uma pílula feita de varios compostos químicos, vários deles sendo entorpecentes e alucinógenos, o que fazia com que quem tomasse a pílula tivesse uma visão diferente do mundo real. Transformava quem os tomava em zumbis felizes em trabalhar para a classe burguesa, e existiam até aqueles que enlouqueciam graças ao vício na substância. No início, meu pai me dizia que a Joy não era feita para venda, eles simplesmente distribuíam gratuitamente mas então eles perceberam o quanto lucrariam com a venda da pílula e pensaram "por que não?". De fato, era genial vender uma substância, viciar pessoas, matar quem não pudesse bancar os custos dela, por que não?
Alguns burgueses também faziam uso da pílula da felicidade graças a suas propriedades alucinógenas que causavam a sensação de prazer. Não os culpo, quem vive em Enrir e tem consciência do inferno que é isso aqui com toda certeza prefere viver em outra realidade.

Na nossa constituição (sim, acredite ou não, temos uma) o uso da Joy é terminantemente obrigatório aos trabalhadores, e cidadãos de baixa renda, o que me incluía. Por não usar a Joy era necessário que eu tomasse certas precaução: Ser uma boa atriz a ponto de os fazer acreditar que eu estava sempre sob o efeito da substância e evitar a todo custo as blitz que eram organizadas pela cidade, porque se me pegassem seria o meu fim.

E então você pensa "é tudo, não é possível que possa piorar", e então eu te digo: mas você nem viu os batedores e os corredores!

Connor segurou minha mão e se esgueirou entre os becos me levando junto. Quando dei por mim estavamos na ponta de uma escada de um edifício não muito alto, quase no centro.

— Suba! Eles estão vindo! — ele me advertiu enquanto olhava para trás
— eu vou logo depois de você.

Não pensei duas vezes e comecei a subir degrau por degrau, sentindo o meu estomago pesando, o que era irônico visto que ele estava vazio. Eu suava tanto que sob a luz da lua era possível ver a palma da minha mão  brilhando enquanto subia a escada e sentia calafrios. A noite em Enrir era silenciosa, de forma a quase me deixar desesperada graças ao toque de recolher que tinhamos, e esse existia por uma razão. Eles eram os batedores. Eram o que mais se aproximavam de criminosos reconhecidos em Enrir, os que o esquadrão fingia que lutava contra e nós fingiamos que acreditavamos. Percebe como todos vivem um faz de conta nessa cidade? Aqueles imundos saiam a noite e simplesmente viravam os donos da cidade; saqueavam, matavam, abusavam, queimavam, isso claro, se você não tivesse um modo de se defender que podia ser uma arma ou só um sobrenome de poder com muito dinheiro de brinde. Se não divesse nenhum dos dois, você pode se considerar morto ao bater de frente com um batedor nas ruas e a noite. Pro meu azar, aquela era exatamente a situação em que eu e Connor nos encaixavamos.

Andavamos literalmente sobre terraços e telhados ouvindo as risadas altas de homens e sons violentos de coisas quebrando. Eu tremia enquanto Connor me guiava, mas fazia o possível para não deixar aquilo explícito. Eu não queria morrer. Eu sabia que não precisava fingir nada para o homem que vi crescer ao meu lado, mas eu não conseguia demonstrar minhas franquezas. Em Enrir aquilo podia significar a morte.

Quando finalmente atravessamos o centro da cidade — que estava bem diferente de como era pela manhã — chegamos a área nobre da utópica cidade em meio ao deserto. Mansões para todos os lados que se olhava e uma delas era a dos Styles, aquele maldito lugar onde estava passando boa parte da minha vida nos últimos meses.

Enquanto andavamos silenciosamente cortando caminho pelos jardins daquelas famílias (que mais pareciam um cenário de um dos livros que meu pai havia achado em meio a destroços quando era pequena, qual era o nome mesmo? Alice no país das maravilhas!), Connor me dava conselhos do que devia fazer. Basicamente eu deveria passar a noite no quartinho da empregada até que o sol nascesse e os batedores saíssem das ruas, pegar o que fosse necessário da mansão, sair de lá sem ser notada e depois sair de Enrir.
Talvez aquele plano fosse insano e suicida? Sim, mas não era como se ficar também não fosse suicídio. Se eu tinha esperanças? Digamos que eu só conseguia pensar que, na melhor das hipóteses, morrer por radiação, insolação, fome e sede fosse menos doloroso que enfrentar as torturas que o esquadrão certamente guardava para os que descumpriam a lei. Li uma vez em uma estrutura antiga que o medo dos seres humanos funcionava como um mecanismo de defesa e sobrevivência, e era como seu instinto de vida, disse um cara chamado Freud que aparentemente era bem importante pros nossos antepassados. Tudo se tratava de evitar a dor. Quando eu li não entendi, mas naquele momento tudo fez bastante sentido.

— É aqui, não é? — Meu amigo de infância apontou a enorme construção feita com detalhes em mármore que se estendia bem na nossa frente. Eu assenti, era tudo que conseguia fazer sentindo aquele nó na guarganta — Então é isso...

Me virei para ele e fiz o que era mais sensato, mesmo que não fosse meu hábito mais comum. Eu abracei Connor com toda força que tinha.

— Obrigado... Cuide de Constâncio, ela é uma senhora boa e sabia demais para acabar como a minha família. Não deixe que eles te tirem o que ama.

Pude o sentir assentir positivamente sobre meus ombros e ele finalmente disse.

— Aja como a guerreira que o seu pai a criou pra ser. Você é inteligente demais pra deixar que te peguem — ele se afastou um pouco e, segurando meu ombro esquerdo, disse tocando minha testa com sua mão livre — Quebre os paradigmas daqui. Quem disse que não tem um lugar melhor que esse fora de Enrir?

— Todos?

— Eles não sabem o que dizem, Mack.  Eles não sabem o que dizem. — ele me respondeu negando com a cabeça e eu sorri de forma torta.

Dei passos para trás para guardar o que provavelmente seria um dos últimos rostos amigos que veria por um longo tempo e depois corri pela propriedade dos Styles. Corri como se minha vida dependesse daquilo, porque ela dependia, e tentava não pensar nos meus pés tão pesados quanto eu os sentia.

Nos fundos havia a entrada pro porão, e aquele lugar, para surpresa de ninguém, ela maior que a minha antiga casa inteira. Cheirava a mofo, era frio, nada aconchegante, mas pro meu azar quando tentei abrir a porta que me levaria a um corredor dentro da casa percebi que estava trancada por fora. Presa no porão de uma casa que se quer era minha, não me restava fazer nada, apenas me aconchegar entre os vários tapetes que a Sra. Styles guardava ali e dormir, e assim eu fiz.
Quando me deitei ali eu senti minha estrutura formigar. Era como sentir que seu corpo dizia "Isso! Era exatamente isso que eu pedi o dia inteiro!".

Depois de minutos em silêncio e em meio a escuridão pude ouvir trovões ressoarem através das paredes da construção. Chuva. Inacreditável! Quase não chovia naquele lugar e a chuva resolve cair quando eu estou tramando uma fuga suicida? Eu só conseguia pedir para que Connor estivesse bem naquele momento, até que meus pensamentos se concentraram na minha família. Eu esperava mesmo que eles estivessem todos juntos num lugar melhor, longe de todo aquele caos e sofrimento. Pensando naquilo eu adormeci.

[...]

Eu me considerava uma pessoa de sono bastante leve, mas naquele dia, possivelmente graças ao meu nível de fadiga, eu não despertei com a tempestade, eu não despertei com os passos do Sr. Styles sobre o teto do porão, e o pior de tudo, eu não despertei quando um homem de aproximadamente 1,80 entrou no porão silenciosamente pouco antes do sol nascer. A notícia boa é que eu acordei quando ele me lançou água fria no rosto, me fazendo sentar assustada e desnorteada no tapete de cor vinho.

— O que faz aqui? — Questionou em tom baixo enquanto eu tentava focar minha visão em seu rosto iluminado pela única luz do teto, fraca e amarelada.

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