Os Guardiões

By elisabarbosac

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Katherine Johnson jamais imaginou que sua vida mudaria desde que chegou à Nova York. Até que, após completar... More

Dedicatória
Prólogo - Como tudo começou
Capítulo 1 - O moinho
Capítulo 2 - Estranhas
Capítulo 3 - Presente
Capítulo 4 - Organização
Capítulo 5 - Explicações
Capítulo 6 - Atordoada
Capítulo 7 - A fuga
Capítulo 8 - Jane
Capítulo 9 - Chamas
Capítulo 10 - Noticias
Capítulo 11 - Capturada
Capítulo 12 - Olhos cinza
Capítulo 13 - Refém
Capítulo 14 - Pôquer
Capítulo 15 - Dylan
Capítulo 16 - Sufocada
Capítulo 17 - Enviados
Capítulo 18 - Habilidades
Capítulo 19 - A força do poder
Capítulo 20 - Traidor
Capítulo 21 - Mitologia Grega
Capítulo 22 - Furto
Capítulo 23 - Maria
Capítulo 24 - James
Capítulo 25 - Negociação
AVISO
Capítulo 26 - O penhasco
Capítulo 27 - Presa
Coisinhas
Capítulo 28 - Veneno
Capítulo 30 - Destroços
Por que eu sumi?
Capítulo 31 - Pugna
AVISO
Epílogo - O começo do fim
Curiosidades sobre Os Guardiões
Páginas inicias de O Quinto Elemento
O retorno da autora
Páginas inicias de O Quinto Elemento (parte 2)
TATUEI!
CAPA DO QUINTO ELEMENTO
PODCAST
AVISO - Instagram

Capítulo 29 - Resgate

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By elisabarbosac

Nota da autora: HELLO, IT'S MEEEEEE! E ai gente, bão demais? Bateu um aperto no peito aqui no momento que coloquei "capítulo 29" ali em cima e percebi que faltam só 4 capítulos pra isso aqui acabar :((((((((( MAS, estou com um projeto de mistério por ai e acho que vou postar aqui no wattpad, então não vou sumir pra sempre hehehe juro. Enfim, é isso. Senta que lá vem capítulo! <3

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Subo a montanha, desejando a cada passada que essa seja a última vez e que tudo dê certo no fim do dia.

Depois que tivemos aquela desavença no café da manhã, Jane pediu que todos descansassem depois do almoço para que estejamos prontos para a troca. Tentei dormir, mas não consegui. Rolei na cama repassando na minha cabeça tudo que James disse. Quando levantei, Dylan me informou que Jane conversou com James e conseguiu convencê-lo a seguir o nosso plano.

É obvio que James não está feliz com isso porque, andando na trilha, ele não conversa e muito menos olha para ninguém.

Antes de sairmos da casa de Diego, Evan me ensinou o que fazer com o ar para que os raios caiam. Não foi difícil, mas me deixou exausta. Só preciso me concentrar na hora que tudo vai dar certo.

Pelo menos é o que eu espero.

Gostaria de ter treinado com James. Olho suas costas se movimentando na minha frente e não posso deixar de me sentir magoada pelo jeito que falou comigo. Mesmo sabendo que ele só disse aquelas coisas porque está preocupado com a irmã, eu não consigo entender como que não pode confiar na gente.

Toco o colar do olho grego no meu pescoço, ainda observando-o caminhar. Pelo rabo do olho espio Jane, que também olha para ele com certa preocupação. Todos estão com medo de que o que James disse seja verdade, mas ninguém tem coragem de admitir isso.

Esfrego os pés na terra avermelhada, tentando me distrair. Já passa das quatro e meia da tarde e até agora ninguém apareceu. Cada vez que o relógio vira um ponteiro, a agonia cresce no meu peito.

Penso em Maria e como deve estar sendo difícil para ela. Se nos atacam ao ar livre, na luz clara do sol, o que fazem com ela em cativeiro? Arrepio da cabeça ao pés e tento ao máximo não me preocupar com isso.

Levanto a cabeça para checar se as nuvens escuras ainda estão lá em cima e me assusto ao pegar James me encarando. Paraliso no lugar com medo de me movimentar e ele desviar os olhos. James separa os lábios para dizer algo, mas o som de um helicóptero cruzado com um trovão corta a sua voz.

Olho para cima e vejo a grande aeronave cinza passar em cima de nós, chacoalhando tudo em volta com o vento forte que as hélices produzem. Volto a fitar James e ele me lança um olhar que não consigo decifrar a tempo, pois logo depois se põe a correr, afastando-se de mim.

Corro atrás junto com os outros e ao chegar ao topo da montanha vejo o helicóptero desligando – as hélices girando devagar – e um amontoado de Atiradores ocupando o espaço, esperando por nós. Paro ao lado de Javier arfando e tentando controlar o nervosismo. Não são muitos, mas é o suficiente para me deixar apavorada.

Desce do helicóptero um homem usando uma camisa branca de manga e calças folgadas cinza. Seu cabelo é azul escuro e sua pele é duas vezes mais escura que a de Dylan. Mas não é ele que tem a minha atenção e sim quem ele aponta uma arma prateada bem na cabeça. Uma menina magricela, baixinha e de cabelos castanhos se debate nos braços dele.

Maria.

Mesmo de longe noto machucados pelo seu corpo. Seu cabelo está bagunçado, caindo no rosto, e seus olhos azuis como os de James correm pela paisagem até que se focalizam no irmão. Ela não consegue gritar. Está amordaçada com um pano branco encardido. Além disso, seus pés e seus braços estão presos.

Não é preciso ouvi-la para saber que está chorando.

James dá um passo à frente, mas Dylan o segura do seu lado com firmeza.

–Esse é Albert Allen. – cochicha Evan no meu ouvido. O analiso com cuidado e ao que parece ele faz o mesmo comigo. Silêncio absoluto corre entre nós assim que o barulho do helicóptero cessa.

Albert diz algo rente aos ouvidos de Maria e a menina se acalma.

–Olá Guardiões! – ele inspira e expira o ar como se estivesse saboreado o momento. – Devo admitir que pensei que nunca veria todos reunidos assim, como um bando de bonecos mandados.

Os Atiradores sorriem enquanto seguram suas armas gigantes.

–Vamos acabar logo com isso, Allen. – Jane precisa gritar para ser ouvida. A conheço suficientemente bem para notar o medo na sua voz.

–Ora, por que a pressa? Acabamos de chegar. É falta de educação despachar as pessoas assim, sabia Janet? Como está o seu elemento? – pergunta com uma voz rouca, sorrindo de orelha a orelha.

–Muito bem agora, longe de vocês. – retruca a ruiva, cerrando os punhos. Albert ri com desdém e aperta mais o cano na cabeça de Maria, observando com curiosidade a reação de James cada vez que dá uma sacolejada na garota. Esse parece que vai explodir de tanta raiva a qualquer momento.

–Nossa! Vocês Guardiões são muito rancorosos. – admira-se. – Muito bem então. Estou contente por você ter aceitado a nossa condição, James. Sabe... a sua irmã se comportou direitinho enquanto esteve conosco, não é meu anjo?

–Tire as mãos dela seu desgraçado! – urra James em toda sua fúria quando Albert toca o cabelo da menina com os dedos.

–Está bem! – ele levanta uma das mãos em sinal de redenção. A outra ainda segurando a arma. – Se vocês querem ir direto ao ponto então vamos nessa. Mostre-me o elemento primeiro que eu não estouro os miolos da sua irmãzinha.

Com o temperamento de James, não sei quanto tempo ele ira aguentar todas essas provocações.

James tira de dentro do bolso a pedra que mais parece um globo de neve e a levanta, a fim de mostrar a todos. Os olhos de Albert brilham de um jeito maníaco.

–Ótimo! Agora preste bastante atenção, Guardião da água. Como você não pode lançá-la até mim, ande até aquela pedra ali e ponha com delicadeza o elemento no chão. – Albert ordena, indicando o lugar com o queixo. James, com os braços levantados, faz o que ele pede devagar. Caminha o tempo todo com os olhos grudados na irmã, apertando o elemento na mão com força.

A cada passo que ele dá meu coração aperta no peito. Pode parecer loucura, mas consigo escutar o som da sola do sapato de James em contato com o chão da montanha, sua respiração entrando e saindo. Olho para cima mais uma vez, conferindo se as nuvens ainda estão lá.

James se aproxima da pedra e inclina o corpo, para repousar o elemento.

Ninguém respira.

Assim que ele solta a pedra, os Atiradores engatilham as armas para nós. Engulo em seco, sentindo uma gota de suor frio descendo pela lateral do meu rosto. James recua um pouco, ainda com os braços levantados.

Albert gargalha.

–Eu sabia que...

–Dylan! – grita Jane e eu mal tenho tempo de sentir medo.

O chão treme como eu nunca vi Dylan fazer tremer antes. Caio rapidamente de barriga para baixo, observando horrorizada a montanha se rachar bem debaixo do meu nariz. Primeiro uma linha se abre separando o nosso lado do lado da Organização. Depois, no meio desta, forma outra linha com uma fenda maior, isolando o lugar onde Albert, Maria e mais dois Atiradores estão.

Um T gigante está diante dos nossos olhos. O chão para de tremer e Dylan, com as mãos ainda tocando a montanha, cai para o lado sem forças. Me levanto rapidamente e duas cenas se desenrolam no meu campo de visão: Jane e os Enviados começam a lutar com os Atiradores em conjunto; James pegando o elemento e correndo em direção à Maria.

Droga! O que ele está fazendo?

Vou atrás dele, tentando dizer a mim mesma que vai seguir o plano. A fenda se aproxima e aumento o impulso para conseguir saltá-la. Pulo o mais alto que consigo, mas me desequilibro na queda. Meus pés pendem no buraco e minhas mãos se agarram a rocha, lutando para conseguir puxar meu corpo. Minhas unhas começam a doer e meus braços estendidos não vão aguentar muito tempo.

Preciso agir depressa.

Solto uma das mãos e empurro o ar para baixo. Quanto mais ar reúno, mais molengo meu corpo fica. Minha mão que segura na beirada escorrega e eu me preparo para cair. Mas no mesmo instante sou impulsionada para frente e rolo pelo chão do outro lado.

Agradeço mentalmente a sorte ao me levantar. Mais a frente, James está lutando com Albert e não consigo entender quem está ganhando. Os Atiradores apontam as armas para os dois.

Como James é idiota!

Estico a mão e as armas voam pelo ar. Lanço-as na fenda e crio uma barreira de ar entre mim e os dois Atiradores quando eles tentam correr na minha direção. Depois os empurro para longe e os jogo para o outro lado da divisão.

Minha visão embaça.

Sou agarrada por trás. Alguém me segura com força, apertando a mão na minha boca. Me debatendo, tento de livrar, mas o esforço que veio por eu ter usado o poder me impede de ser ágil. Vendo como a última alternativa, piso no pé do meu agressor com força e ele geme. Aproveito a deixa para morder sua mão e depois enfiar meu cotovelo na sua costela.

Me viro de frente a ele quando me solta e o lanço para trás, usando o ar. Giro os calcanhares mais uma vez e vejo James ser chutado bem no rosto, caído no chão. Está coberto de sangue e sujeira. Do lado dele, Maria está caída no chão tentando se livrar das amarras.

Albert não me vê, então rastejo até ela e desato os nós que a prende. Maria pensa em dizer alguma coisa, mas seus olhos arregalam e eu olho para o que lhe assusta. Tudo acontece muito rápido.

Albert se aproxima do elemento da água, jogado no chão. James está imóvel, deitado de barriga para cima.

Por favor, que esteja apenas desmaiado.

Estico o braço para empurrar o elemento para longe de Albert, mas ele já o segura. Observo sua mão que o toca congelar enquanto urra de dor. Na sua outra mão, empunha a arma e aponta para nós duas. O som do gatilho sendo disparado me faz empurrar Maria para o chão com o ar.

Cheiro de pólvora me faz querer vomitar.

A bala perfura minha pele.

Queima tanto que acho que estou pegando fogo. Minha perna esquerda está jorrando sangue vinho. A dor alucinante me faz querer que tudo pare por um momento. Na verdade, é isso que eu mais preciso desde que descobri ser uma Guardiã. Que tudo pare por um momento.

Grito o mais alto que consigo. Do chão, vejo Albert tremer por inteiro. Eu conheço o olhar nos seus olhos: culpa. É a mesma coisa que senti quando atirei nos Atiradores no penhasco. No meio de tanta dor consigo notar que Albert nunca usou uma arma antes. Ele a solta como se estivesse impregnada com uma doença contagiosa e corre para longe de nós.

–Não! – berro a pleno pulmões, me arrastando em direção a ele para tentar impedi-lo. Não consigo ir muito longe, a dor está me devorando, sugando a pouca energia que ainda me resta.

–V-Vai ficar t-tudo b-bem – ouço Maria dizer perto de mim, suas mãos estão banhadas com sangue. Meu sangue. Tento falar para ela pedir ajuda, porém não consigo vê-la mais. Não consigo ver mais nada. Sinto quando ela aperta algo na minha perna e a dor me leva para longe. Sinto um suspiro escapar dos meus lábios antes de tudo se tornar apenas escuridão. 


Abro uma fresta nos olhos e tudo está embaçado. Escuto uma discussão longe de mim, misturado aos soluços de uma mulher e sussurros em conjunto. Sinto meu corpo tremer como se alguém me balançasse pra lá e pra cá. Minha perna parece que está sendo arrancada do meu corpo.

Aperto as pálpebras e quando as abro de novo, fecho no mesmo instante por conta do raio de sol que entra pela janela do quarto. Confiro se estou mesmo respirando levando os dedos até a ponta do meu nariz. Pisco por alguns instantes e depois olho ao redor.

Estou no mesmo quarto que estive depois que sai do penhasco, tirando o fato de que agora está cheio de instrumentos cirúrgicos que desconheço e cestas e mais cestas com panos brancos sujos de sangue. Assustada, olho em baixo do fino lençol que me cobre. Minha perna está enfaixada onde a bala atingiu e uma mancha redonda de sangue a pinta. Está latejando e isso mais incomoda do que faz sentir dor. Umedeço os lábios e sinto minha garganta arranhando. Minhas unhas estão feridas e meus braços abrigam alguns arranhões, além de dois tubos ligados a bolsas de liquido transparente.

Está frio.

Escuto um remexer e levo meus olhos até uma das poltronas postas lado a lado. James está sentado nela, a cabeça pendida para trás, os olhos fechados e os lábios meio abertos. Está dormindo. Seu rosto tem, no mínimo, cinco roxos gigantes manchando sua pele. Um corte com pontos atravessa sua sobrancelha direta e seu braço está enfaixado, como o de Mike.

Só então me lembro do que houve.

A correria, Maria se debatendo, Albert com o elemento e depois o som do tiro. As cenas correm pela minha mente e eu volto a deitar, arrasada. James não seguiu o plano como combinamos. Muito pelo contrário, decidiu agir sozinho. Toco meu rosto com as duas mãos por saber que perdemos um elemento para a Organização.

Como ele pode ter pensado que conseguiria fazer tudo sozinho?

Olho para as escoriações nele, xingando-o mentalmente de diversos nomes.

Jane entra no quarto de fininho. Quando me vê, arregala os olhos e solta uma exclamação alta.

–Ah meu Deus Kate! – me abraça com força, apertando minha costela. – Não acredito que finalmente acordou. Eu já estava indo te levar para um hospital de verdade. Está se sentindo bem?

–Estou normal. – respondo.

–E a perna? Tá doendo? – ela puxa o lençol para conferir.

–Um pouco, mas está tudo bem.

Jane sorri.

–Finalmente acordou? – repito em um sussurro, sorrindo também por vê-la bem. – O que quer dizer com isso?

Jane olha para James ainda dormindo, faz uma careta e se senta na beirada da cama.

–Você está apagada faz cinco dias. Diego disse que seu corpo entrou em coma e que você poderia acordar em uma semana ou em um mês. Eu fiquei com tanto medo de que fossemos te perder que eu... – seus olhos se enchem de lágrimas. Seguro uma mão dela na minha e aperto com força, tentando dizer que estou bem.

Jane limpa o rosto com os dedos e depois me lança um sorriso triste.

–Mas... foi só um tiro. – digo e quase soa como uma pergunta.

–Sim, mas pegou uma artéria. Nós te encontramos na montanha depois que alguns Atiradores recuaram. Maria estava gritando por ajuda. Você estava deitada numa poça gigante de sangue. Teve uma hemorragia. Foi... foi horrível. – ela parece que luta para não chorar novamente. – Conseguimos tirar a bala, mas você ainda estava perdendo muito sangue. Tivemos que trazer as pressas seis Enviados da cura de Atenas para ajudar Diego.

Me lembro vagamente de pessoas sussurrando ao meu redor. Pensei ser um sonho.

–Eles conseguiram controlar o sangramento e dispensar a transfusão de sangue. – continua. – Só que você não acordou. Ministramos remédios, os Enviados tentaram ajudar, mas nada fazia você acordar. Decidimos esperar um pouco para ver o que aconteceria. Ainda bem que fizemos isso. No hospital você poderia ser pega pela Organização e eu não sei o que seria pior.

Concordo com a cabeça meio chocada, dizendo a mim mesma que devo agradecer aos Enviados mais tarde por salvarem minha vida.

–Você está um pouco quente. – ela afirma, apertando minha mão e se inclinando para tocar minha testa. –É, está com febre.

Jane se levanta da cama e abre a gaveta da mesinha do lado da minha cama. Tira lá de dentro uma caixa de remédio. Enquanto ela corre para cá e para lá procurando um copo para colocar água, fixo meus olhos em James.

–Aqui está! – me entrega o copo de plástico e um comprimido azul. Ainda olho para ele ao aceitar e Jane percebe.

–James não sai dessa poltrona desde que você chegou. – ela levanta as sobrancelhas e sacode a cabeça como se não entendesse. – Não come direito e muito menos dorme. Peguei-o segurando sua mão e cochichando para você umas quatro vezes. Os dias começaram a se passar e ele foi ficando cada vez mais inquieto. Inquieto demais, na verdade.

Engulo o comprimido em silêncio.

–Eu sei que vocês estão juntos. – diz sorrindo. Paro minha mão no meio do caminho de beber o resto da água, incapaz de me mover.

Depois de alguns longos segundos olhando fixamente para ela, solto o ar preso dentro do meu pulmão e decido não mentir.

–Há quanto tempo? – Tento desviar os olhos dos dela, mas ainda estou em choque por ter me pegado de surpresa. Por muitas coisas, na verdade.

–Eu andei percebendo coisas entre vocês dois há muito tempo. Por curiosidade... quanto tempo já faz?

–Se contar os dias que estive apagada... uma semana – digo desgostosa. – E não sei se juntos é a expressão perfeita que nos define nesse momento.

–Está com raiva? – pergunta.

–Sim, mas não por ter sido baleada e tudo mais. Estou magoada por ele não ter seguido o plano, me deixando lá igual uma idiota sem saber o que fazer. – desabafo, brincando com a ponta do lençol.

–Você se saiu muito bem, Kate. Se não tivesse empurrado Maria ela poderia estar morta. – explica Jane.

–Perdemos o elemento.

–Isso não foi sua culpa.

–Eu sei, mas não estou contente por ele ter sido tão estupido.

Jane sorri.

–Ninguém está querida. Mas não fique assim. Ele só estava tentando salvar a irmã. Se culpou diversas vezes por você ter sido baleada e ao mesmo tempo te agradeceu por salvar Maria. É claro que você não viu nada disso, mas o que vale é a intenção, não é?

–Tanto faz. – dou de ombros.

–Bem... eu só fiquei surpresa por vocês não terem ficado juntos antes. – ela diz, olhando para mim como se quisesse que eu entendesse algo entre linhas.

–Jane vá direto ao ponto.

–Não faça essa cara. Não quero que você pense que não estou feliz por vê-los juntos ou que não aprovo. Não é nada disso. A minha função aqui é apenas te alertar: uma relação entre dois Guardiões pode ser perigosa e imprevisível. Eu sei que vocês ainda estão se conhecendo, mas...

–Não vejo nenhum problema nisso. – encolho os ombros.

–Eu sei! Droga! – ela xinga. – Eu sei!

Ela suspira.

–Eu me preocupo com você, com vocês dois na verdade e...

Jane interrompe a fala e olha na direção do barulho de alguém se levantando na poltrona. James está em pé, sem saber se olha para mim ou para Jane.

Engulo em seco.

–Pense nisso. – diz Jane finalizando e sorrindo para mim. Se levanta e acena para James com a cabeça antes de sair pela porta e nos deixar sozinhos. Abaixo a cabeça e rodo a ponta do indicador ao redor do copo, sentindo que James está com os olhos cravados em mim.

–Oi – ele diz, se aproximando com passos cautelosos. – Você acordou.

Deixo os lábios em uma linha reta.

–É – afirmo. James senta na cama e me permite analisá-lo com mais precisão. Há seis manchas no rosto, para ser mais exata. Estão quase todas amarelas e concluo que os Enviados devem ter o ajudado também. O lábio superior está cortado e cicatriza, assim como os pontos que pegam a sua pálpebra, atravessa sua sobrancelha loira e termina na metade da testa.

Com certeza vai ficar a marca.

Os dedos da mão que estão para fora da faixa estão roxos nos nós do dedo.

–Apanhei feio. – confessa com um meio sorriso.

–Jura? Eu nem percebi. – ironizo.

–Katherine...

–Por que você não seguiu o plano, James? – vou direto ao assunto.

–Era arriscado e eu não podia...

–Mais arriscado do que quase perder a sua irmã e o elemento? – o interrompo. James estica a mão e tira uma mecha do meu cabelo da frente do rosto, colocando com delicadeza atrás da orelha.

–E você. Eu quase perdi você – diz com pesar e eu não consigo deixar de amolecer um pouco por causa disso.

–Você perdeu o elemento. – afirmo com precisão, tentando manter o foco da conversa. James recua um pouco.

–Isso é o de menos, Katherine. – murmura. Está dizendo isso, mas posso perceber que bem lá no fundo se sente mal.

–Não diga isso! É por isso que estamos aqui. Os elementos são a razão de tudo e você o entregou de mão beijada para a Organização.

–Tudo bem. Se é isso que você quer ouvir então... sim! Eu achei que poderia salvar a minha irmã e ao mesmo tempo queria tanto matar aquele desgraçado que perdi a cabeça. Fui irresponsável e impulsivo. Cometi um erro terrível, coloquei minha vida em perigo, a de Maria e a sua. Perdi o elemento. Mas todo mundo faz besteira de vez em quando e eu estou terrivelmente arrependido. – diz em um folego só. Franzo as sobrancelhas e assinto com a cabeça.

–Eu sei, James. Só não vá cometer o mesmo erro duas vezes. Precisava ter confiado em nós. – é o que consigo dizer.

–Eu não vou. – responde.

Respiro fundo.

–Como ela está?

–Maria? – ele pergunta. Concordo com a cabeça. –Bem, eu acho. Tive que mandá-la para Atenas, onde existem mais Enviados. Vai ficar segura lá.

–Que bom.

–Ela queria esperar que você acordasse para se despedir sabe, mas eu não podia perder tempo. Então pediu que eu lhe dissesse obrigado, por ter salvado sua vida. – ele sorriu.

–Qualquer um no meu lugar faria o mesmo. – penso distante.

–Também disse que se eu for um idiota com você, ela vai me odiar pelo resto da vida. – comenta, erguendo as sobrancelhas para seus dedos e depois olhando para mim com uma expressão relaxada. Dou uma risada sem graça e desvio o olhar.

–Nós vamos atrás do elemento de novo então? – pergunto mais calma. James abre os lábios e depois os fecha, pensando no que dizer.

–Jane não comentou nada? – parece preocupado.

–Não. O que foi?

–Não está sentindo falta de nada em mim? – James abre os braços para que eu o analise. Sem entender nada, corro os olhos nele umas três vezes. O colar do poço não está mais em seu pescoço. Apalpo o meio do seu peito, pensando que talvez esteja por dentro da blusa, mas não encontro nada.

–Onde está? – pergunto.

–Albert o levou depois que fiquei inconsciente. Bem, pelo menos Jane disse que procurou no chão onde eu estava e não encontrou.

–O que isso significa? – instigo.

–Achamos que, a essa altura, eles devem ter deduzido o que os colares significam. Albert levou o meu para, provavelmente, provar isso aos outros.

Sinto um frio descer pela barriga.

–E agora? – minha voz sai por um fio.

James suspira.

–Agora que você acordou e está relativamente bem, Jane deve estar providenciando as passagens para o Brasil. Precisamos, o mais depressa possível, chegar ao seu elemento antes da Organização. Ou tudo estará perdido.

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