CAPÍTULO 24 - O SUSPEITO
PAM
— Pam, eu posso te fazer uma pergunta? – Rafael pediu, me olhando nos olhos. — Eu preciso tirar essa dúvida.
— Pode, meu amor.
— Por que você pensou que seu namorado era o Mattheus e não eu?
Perdi o ar. E agora, o que eu faço? Existe resposta pra essa pergunta?
Sem saber o que dizer, e com medo de gaguejar, respondi me fazendo de desentendida:
— Como assim? – encolhi os ombros. — Eu fiz o quê?
— Você não lembra, amor?
— Não. – ri me fazendo de desacreditada. — Nossa, como assim? É praticamente impossível imaginar uma coisa dessa. É um absurdo! Eu devo mesmo ter batido muito forte com a cabeça.
— Me perdoa por ter causado aquele acidente, Pam...
— Não precisa pedir perdão, Rafa. – o abracei. — O importante é que agora estamos bem.
— Tem razão. Essa história agora não tem mais importância nenhuma.
Ficamos abraçadinhos. Ufa! Escapei de mais uma e que essa seja a última vez que passo por uma saia justa como essa.
Rafael achou melhor que eu não ficasse muito tempo na rua, porque meu estado ainda inspirava cuidados e após conversarmos por mais alguns minutos, ele me levou para casa.
Fechei o portão depois que me despedi com muitos beijos do meu namorado. Seguia pelo quintal, e me bateu uma fome! No bolso do meu shortinho jeans, havia algumas moedas e antes que meus pais me vissem e me mandassem entrar, corri até a rua.
Decidi ir á padaria comprar alguma coisa que matasse minha fome de leão. Quando abri o portão e saí, vi que Rafa já tinha sumido da minha vista. Com cinco reais nas mãos, só em moeda, caminhei até a padaria, porém no percurso até lá, encontrei quem eu não queria: Mattheus!
— Oi Pam. – ele disse sério e eu respondi séria também:
— Oi Mattheus.
— É muito bom ver que você está melhor.
— Obrigada!
— Pam, você ainda acha que eu...
— Se quer saber se eu acho que você é meu namorado, a resposta é não. Já recuperei minha memória. – respondi emburrada.
— Beleza, fico feliz por isso.
— Eu tenho que ir. – dei um corte nele, porque percebi que essas palavras não eram sinceras.
— Pam, espera. – ele segurou meu braço.
— O que foi? – puxei meu braço das mãos dele.
— Por que você pensou que seu namorado era eu?
— Nem eu sei explicar, Mattheus, eu estava confusa demais, só isso. Para de se iludir, porque eu nunca vou trocar o Rafael por você!
— Não, Pam. Eu jurei á mim mesmo que vou guardar esse amor só pra mim. – ele não parava de olhar em meus olhos.
— Então faça o favor de guardá-lo bem escondido, onde ninguém possa ver. – pedi num tom bastante rude. — Você já me causou problemas demais.
Dei-lhe as costas e me afastei depressa, para não correr o risco dele vir atrás de mim.
Entrei em uma outra rua, e me surpreendi quando ouvi uma voz atrás de mim me chamar.
— Pam.
— Lunna! – me virei sorrindo ao reconhecer sua voz.
— Você já está muito bem, pelo que estou vendo. – ela disse.
— Sim, estou melhorando e sabe o que é melhor? Recuperei toda minha memória. – dei uns pulinhos empolgada.
— Show, amiga! – Lunna me abraçou.
— Eu lembrei do meu Rafa e... Nós voltamos a namorar. – afirmei me sentindo ainda nas nuvens. Porém, não percebi a mesma empolgação em minha "best".
— Que foi, Lu? – estranhei o fato dela ficar tão cabisbaixa.
— Nossa Pam, você tem tanta sorte... – ela disse entristecida.
— Tá falando do quê?
— Você é disputada por dois caras lindos, enquanto eu...
— E o lance entre você e o Mattheus? Desistiu dele?
— Eu desisti de ser otária! Pam, acabei de vê-lo com você...
— Mas eu já deixei bem claro que não quero ficar com ele.
— Mesmo assim, ele não deixou de te amar. Essa vida é muito injusta, enquanto uns tem muito, outros não tem nada!
— Amiga, não fica assim, você vai conhecer alguém que...
— Não continua! – ela fez sinal de pausa com a mão. — Esse é o conselho mais dolorido e mais clichê que existe! Não precisa dizer nada. – Lunna suspirou forte. — Eu estou bem!
Lunna se afastou vagarosamente e eu a deixei ir. Não tinha as palavras certas para falar pra ela naquele momento.
MATTHEUS
Eu quero que essa tenha sido a última vez que falei com a Pam. Enterro hoje, de uma vez por todas essa história.
Voltei para casa e assim que cheguei, recebi uma ligação da gravadora. Eles solicitaram a presença da banda Reluz, no dia seguinte para uma reunião. Comuniquei aos meus Brothers, e na tarde do outro dia lá fomos nós.
Tensos com o que viria, chegamos ao local marcado para a reunião. Lá estavam os produtores e a banda que seria nossa concorrente.
— Essa é a banda "The Time", eles que irão disputar com vocês a oportunidade de serem a revelação da gravadora, no início do próximo ano.
Essa banda era composta por cinco caras e uma garota. Pareciam ter um estilo bem diferente de nossa banda. Tudo leva a crer que são fortes concorrentes. Todos nos cumprimentamos e logo depois, um dos produtores começou a explicar sobre o tal teste.
— Serão três etapas. Na primeira, as duas bandas irão se apresentar e avaliaremos cada uma com uma pontuação, que será dividida em: Som, harmonia, voz e profissionalismo. Na segunda etapa, vocês se apresentarão para um público crítico, que também irá avaliá-los através de pontuação nesses mesmos itens. Por último, vocês se apresentarão para um público comum, para verificarmos a aceitação de cada banda. Após esses três testes, faremos um balanço geral, para darmos a decisão final.
— Eu tenho uma pergunta. – falei, cruzando as mãos sobre a mesa.
— Pode perguntar.
— Quando será a primeira etapa?
— Amanhã.
— Amanhã? – Rafael arregalou os olhos.
— Para nós está tudo bem. – disse um integrante da outra banda, com um ar de superioridade. — Eu e minha banda estamos sempre prontos.
— Ótimo, assim nos apresentaremos de igual para igual. – Gabriel alfinetou na educação.
— Esse ar de rivalidade torna tudo mais interessante. – riu um dos produtores.
Realmente o clima de rivalidade ficou no ar, mas não era pra menos. Aquela banda não parecia ser nada sociável.
Após a reunião, fomos direto para minha casa, ensaiar e conversar.
— Só de pensar que podíamos estar livres disso e estarmos gravando nosso tão sonhado CD... – Victor disse indignado.
— Tivemos uma justificativa para sumir e eles deveriam compreender. – Gabriel falou no mesmo tom que o primo.
— Agora já era, temos que vencer aqueles caras cheios de si. – Rafael falou.
— O que vamos fazer? Virar a noite ensaiando?
— Não exagera, Mattheus, temos que nos guardar pra amanhã, temos que ganhar isso. – disse Gabriel. — Você está certo. Então galera, vamos escolher nossa melhor música e arrasar amanhã.
— Aquele lugar é nosso e ninguém irá tomá-lo de nós. – Rafael disse determinado.
GABRIEL
Mal pude dormir á noite. Não consegui em instante algum pregar meus olhos. Pensei na Reluz a noite inteira, parecia que eu estava vivendo a mesma tensão que vivi no dia do concurso de bandas, na qual a Reluz ficou em segundo lugar. Não posso me conformar com uma derrota como essa de novo, depois de já termos o contrato praticamente em nossas mãos.
Amanheceu! O dia passou lentamente. Contei para a Babi tudo o que havia acontecido na reunião com os produtores. Tenho muita sorte por ter uma esposa como ela. Até massagem relaxante nas costas, eu recebi.
Á noite, chegou a tão esperada hora. Minutos antes da apresentação, cada banda se reuniu em seu camarim. Após acertarmos os últimos detalhes, preferimos ficar zen. Fiquei com a Babi, porque ao lado dela, toda tensão vai embora.
— Amor, eu te amo demais! Não importa o que aconteça, sempre continuarei te amando.
— Eu sei Gabriel, mas... Por que você está falando assim? – ela franziu a testa sem entender.
— Assim como?
— Em tom de despedida. Parece que você está sentindo que alguma coisa vai acontecer e isso me deixa assustada. Não é a primeira vez que você fala desse jeito.
— Não amor, não se preocupe. É que eu aprendi que sempre que tivermos oportunidade, devemos dizer às pessoas que amamos, o quanto elas são importantes.
— É isso mesmo, loirinho?
— Claro, princesa.
A abracei. Sinto que nossos dias de amor estão contados. Não sei porque estou com essa sensação, se já tenho tudo sob controle. De uma coisa eu sei, não posso perder a Babi. Não posso!
RAFAEL
Chamei a Pam em um cantinho, dentro do próprio camarim.
— Pam, ontem á noite eu me gravei cantando, você pode me dar sua opinião?
— Lógico, Rafa.
Entreguei o fone pra ela, e ela os colocou no ouvido. E eu soltei o som, no meu celular.
PAM
Rafael me pediu que avaliasse sua voz. Pus os fones no ouvido e o ouvi cantando e tocando em seu teclado. Ele cantava uma música em estilo pop, mas do nada começou a cantar uma música romântica que eu gosto muito.
"Meu amor, quando palavras não conseguem expressar, veja o brilho em meu olhar. Acredita em mim, o que eu sinto por você é amor!" (Acredita em mim - Banda Novo Som)
Quando Rafael terminou de cantar essa música, tive uma surpresa. Eu olhava pra ele, enquanto ouvia, e ele me encarava com um sorriso apreensivo.
"Pam, minha linda, nós vivemos belos momentos juntos e eu gostaria de eternizá-los ao seu lado. Você me causou algo novo, porque as melhores coisas da vida, não podemos ver, mas podemos sentir e você me permitiu sentir o amor. Pam... Quer ser minha noiva?"
Quando escutei isso, comecei a tremer de cima a baixo. Fiquei sem ar, sem palavras. Tirei os fones do ouvido e perguntei emocionada:
— Vo-Você está falando sério?
— Estou sim. – ele segurou em minha mão e beijou minha testa.
— Eu só quero deixar claras as minhas intenções com você, moça. Pode me responder quando estiver pronta.
Rafael se afastou e foi ficar com os rapazes. Não acredito que fui pedida em casamento! Minha vontade era gritar para o mundo inteiro, essa felicidade que estou sentindo.
GABRIEL
Eu ainda conversava com a Babi, quando Mattheus falou:
— Eu queria dar uma última palavrinha com vocês.
Eu e o Rafael nos aproximamos dele e eu perguntei:
— Onde está o Victor?
— Ele disse que iria beber água e até agora não voltou. – Mattheus respondeu.
— O Victor é assim mesmo. Vou lá chamar ele.
Saí do nosso camarim e segui pelo corredor, procurando meu primo. Cheguei ao bebedouro, mas ele não estava lá. Continuei o procurando, e me surpreendi quando o vi saindo do camarim da nossa concorrente.
— O que você estava fazendo lá?
— Gabriel?!?! – ele arregalou os olhos assustado.
— Não vou perguntar de novo. – fechei a cara.
— Eles são meus conhecidos. Não é nada demais. – ele tentou desvencilhar-se do assunto.
— Escuta bem, Victor, se eu descobrir que você está nos traindo...
— Não viaja, Gabriel, na boa, eu já cansei dessa sua desconfiança.
— Se não quer que a gente desconfie de você, então não dê motivos.
— A minha consciência está limpa! Vou voltar para o nosso camarim.
Que droga! Pensei que finalmente poderia voltar a confiar no Victor, mas tô vendo que não. Estou arrependido de ter contado tanta coisa pra ele. Eu nunca deveria ter voltado a confiar nele, nunca!
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PAM
— O que foi, mana? – Babi perguntou baixinho.
— Babi... – eu estava emocionada, enquanto os rapazes já na sala de audições, se preparavam para se apresentar. — O Rafa me pediu em casamento. – a lágrima escorreu.
— Sério? – ela abriu um sorrisão. — Nem preciso dizer que você vai aceitar, não é?
— Sim! A resposta será mil vezes sim.
Olhei para o Rafa e ele mandou uma piscadinha pra mim. Me derreti e joguei um beijinho para ele.
GABRIEL
Começamos a nos apresentar. Eu e o Victor dividimos o solo, e estávamos nos saindo super bem até que... Victor teve um pequeno tropeço na letra. Nos entreolhamos com fisionomia de decepção.
Logo depois, a outra banda se apresentou, e para nosso azar, a apresentação deles foi impecável.
— Avaliaremos com calma, a performance das duas bandas. É claro que qualquer erro por menor que seja, pode ser crucial numa competição de extrema importância como essa, mas nada está decidido. Nos vemos nas próximas etapas. – disse um dos produtores, ao fim.
O pessoal da banda "The time", abriu um sorriso de contentamento, por causa do nosso erro. Ficamos frustrados com isso, mas preferimos ficar em silêncio e retornamos para o nosso camarim.
Meus brothers, Pam e Babi entraram no camarim, e eu discretamente peguei Victor pelo braço e ali ao lado de fora, tirei pergunta com ele.
— Você errou de propósito, não é?
— Eu esqueci a letra. – ele respondeu naturalmente.
— Ah Victor, conta outra, tá? – me irritei com isso. — Está na cara que você está tentando prejudicar a Reluz.
— Está tudo bem? – Babi perguntou, indo até nós.
— Está sim. – respondi com um sorriso forçado. — Vamos entrar, amor.
Entramos no camarim e Victor veio logo atrás.
PAM
— Amor, não fica assim. – eu tentava consolar o Rafa, após a apresentação.
— Eu achei que nos sairíamos melhor. – ele disse cabisbaixo.
— Foi tão lindo o seu pedido... – suspirei mudando de assunto, na tentativa de animá-lo.
— Gostou mesmo? – consegui arrancar-lhe um sorriso.
— Sim.
— E... Não estou querendo te pressionar, mas você já tem uma resposta?
— Tenho.
RAFAEL
Eu esperava ansioso pela resposta da Pam, mas na hora que ela iria dizer, meu celular começou a vibrar.
— Um minutinho, amor. – peguei meu celular no bolso da calça.
Olhei para a tela e vi que era uma mensagem de um número anônimo. Curioso, é claro que abri.
— Recebi uma mensagem anônima. – eu disse alto e todos se viraram para mim.
— E o que diz essa mensagem? – Pam perguntou preocupada.
— Vou ler.
Comecei a ler alto, já que todos como eu, estavam curiosos para saber do que se tratava:
"Rafael, você é mesmo um otário! Você é tão idiota que nem percebe que seus queridos amigos estão te fazendo de palhaço."
Pausei a leitura e olhei para eles. Todos estavam com os olhos arregalados.
— Nossa, quem será que me enviou isso? – falei sem entender nada.
— Não dê importância pra isso, Rafael. Deve ser mensagem de algum desocupado. – Mattheus disse.
— O Mattheus tem razão. – Gabriel disse.
Percebi pela fisionomia deles, que havia algo estranho. O clima ficou esquisito, parecia que todos já sabiam o sentido dessa mensagem.
— Vou terminar de ler. – debati com o coração na mão, já com medo do que poderia vir.
— Amor, esquece isso. – Pam pediu assustada.
Ignorei seu pedido e prossegui com a leitura.
"Será que você não percebe a troca de olhares ao seu redor? E por que você acha que sua namorada pensou que o namorado dela fosse o Mattheus?"
Olhei para ambos com lágrimas nos olhos e continuei lendo.
"O Mattheus quer a sua namorada, e todos os seus amigos sabem disso, mas ninguém teve coragem de te contar. E a Pam? A Pam também é uma covarde, porque ela nunca conseguiu olhar nos seus olhos e dizer a verdade. Todos são falsos, TODOS!"
— Me digam a verdade. – pedi entre os dentes, apertando o celular na mão.
— Rafa... – Pam me olhava chorando.
Olhei com ódio para todos eles, ninguém conseguiu me dirigir a palavra.
— Então você quer minha namorada, seu desgraçado! – gritei indo para cima do Mattheus, o pegando pela gola da camisa e batendo suas costas com força contra a parede.
— Para com isso, Rafael! – Gabriel, entrou em nosso meio.
— Cala a boca, Gabriel! – gritei ainda mais alto. — Eu pensei que você era meu amigo, mas é um traidor, é um falso!
A revolta me dominou, a ponto de me fazer perder totalmente o controle!
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Galera, a bomba finalmente estourou, e agora...? Até o próximo capítulo, beijos!!!!
Obrigada por acompanharem :)