PRIMEIRA PÁGINA - Conflito na...

By JoseMauricioCosta

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Em uma trama acelerada, tensa e totalmente viciante, a denúncia de uma menina de 9 anos coloca a jovem repórt... More

Avisos
Dos Leitores
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
O Telefonema de Jéssica
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo Final
Agradecimentos + Primeira Página no Wattpad
PRIMEIRA PÁGINA virou Livro Físico!

Capítulo 15

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By JoseMauricioCosta



De volta à redação, Bira me recebeu com um sorriso escancarado pelo furo do dia. "Garota, seu vídeo é um sucesso. A audiência do site explodiu, porra!", comemorou com os braços estendidos como quem convida a um abraço. Congelei. Ali de pé, bem em frente a ele. Permaneci parada sem reação por alguns segundos. Até que, sufocada por um súbito aperto no peito, explodi. As lágrimas desceram com tanta intensidade que chegaram a me tirar o ar. Bira, ainda com os braços abertos, não conseguiu disfarçar a surpresa. Desfez o sorriso e me abraçou.

—Shissssh...Que isso menina. Calma. O que houve?

Para minha sorte ainda era hora de almoço. A redação estava vazia. Bira pediu que a secretária levasse um copo de água até a sala de reunião e me tirou dali antes que algum colega me visse naquela situação. Jornalista adora uma fofoca de bastidor. Bastaria alguém me ver aos prantos para que o prédio inteiro passasse a especular e criar versões fantasiosas sobre a repórter que entrou em crise.

Contei-lhe sobre o encontro com Linho, sobre o sequestro e sobre a operação marcada para a madrugada. Entre soluços, despejei sobre Bira toda minha angústia em relação à Jéssica. Nas poucas e curtas intervenções que fez, alternou palavras de conforto com incentivos para que eu me aprofundasse nos detalhes. Ele sempre foi um mestre na arte de ouvir. Aos poucos o choro entrecortado foi perdendo força até cessar por completo. Bira me ofereceu um segundo copo d'água e tentou me passar um pouco de serenidade com sua visão dos fatos.

— Clara, nós não fazíamos ideia de que a menina estava sequestrada. E mesmo que soubéssemos acho que teríamos publicado o vídeo da mesma forma. Quem fez isso sabe que agora a imprensa inteira acompanha o caso. Vão pensar dez vezes antes de piorar as coisas matando uma criança. Talvez, ao contrário do que você pensa, sua reportagem tenha sido a salvação dela.

Envergonhada, desculpei-me pelo descontrole e agradeci por sua paciência. Com a segurança de quem já salvara muitos repórteres do desespero, Bira aproveitou a brecha para me preparar para o que estava por vir. Disse que eu não devia ter subido o morro mais uma vez sem comunicar ao jornal. Mas, já que o fiz, aconselhou-me a defender minha decisão de cabeça erguida, como fizera no dia anterior. Finalizou ao melhor estilo Bira, pedindo que eu me recompusesse porque ele não queria sua repórter de polícia com cara de "cu" diante do diretor de redação.

Em uma rápida passada pelo banheiro, lavei o rosto e retoquei a maquiagem. Tomava um café com Tião na cantina da redação quando fomos convocados para uma reunião na sala da direção do jornal. Bira e Romero, meu editor,  também estavam presentes. Expliquei-lhes que não poderíamos falar sobre o sequestro até que a polícia realizasse a operação da madrugada. Mostrei o video dos PMs seguindo Leninha na padaria e a gravação com Linho na varanda da casa no alto da Baiana. Fui duramente repreendida por ter entrado na favela para entrevistar o chefe do morro. Por fim, avisaram-me que, por segurança, depois daquela matéria seria afastada por uns tempos das coberturas policiais.

A decisão do jornal não me abalou. Não naquele momento. Eu sabia que corria o risco de sofrer alguma represália por desrespeitar as regras. Pelo menos me deixariam concluir a reportagem. E se Jéssica tinha uma chance de ser resgatada, eu tentava me convencer de que havia feito o que estava ao meu alcance para que isso se tornasse possível. Ficou decidido ainda que revelaríamos a ligação de Leninha com Linho na próxima matéria. A informação tornara-se essencial para que os leitores entendessem por que alguém sequestraria a filha da vítima.

Saí da reunião direto para a máquina de café no corredor do jornal. Culpa, medo, raiva. Precisava tomar um ar. Ainda tentava me reequilibrar, quando senti uma mão em meu ombro. Quase ao mesmo tempo uma voz grave sussurrou:

— Repórter que segue o manual e não traz resultados tem aos montes por aí....

Um singelo "oi?" foi só o que consegui dizer diante da surpresa ao me virar e ver quem havia me cochichado aquela frase. Era Nereu de Castro, um dos mais premiados repórteres policiais de sua época e atual diretor da redação do Diário. O mesmo cara que 5 minutos antes acabara de me dar um megaesporro na frente dos meus chefes e do Tião. O mesmo que comunicara sobre meu afastamento temporário das coberturas policiais. Percebendo meu misto de surpresa e desconforto, ele emendou ainda mais perto do meu ouvido:

— Se contar a alguém que eu disse isso te desminto em público. Lá dentro daquela sala de reunião quem falou com você foi o diretor do jornal. Agora, de repórter para repórter, quero te dar os parabéns. Gosto do seu estilo, da sua garra e do seu faro para notícia, Clara. Jamais perca esse brilho nos olhos. Só tome cuidado para não se matar. Repórter morto não dá furo.

Não preciso dizer que aquele café teve um indescritível poder revigorante. Voltei para a redação pronta para bater 50 páginas de suíte do caso. Deram-me bem menos do que isso. Como o jornal impresso seria rodado naquela noite, ainda antes do encontro marcado no posto de combustível, não podíamos adiantar muita coisa. Até porque não sabíamos de fato como aquilo tudo acabaria. Decidimos sair com a capa do dia seguinte apenas anunciando o sequestro de Jéssica.

Pela manhã, quando o jornal chegasse às bancas, a informação do sequestro já não seria mais sigilosa. Para não corrermos o risco de dar uma barriga — o que na linguagem jornalística é o mesmo que notícia falsa — optamos por focar a primeira página na denúncia de Anderson à Antissequestro e na certeza que tínhamos de que a polícia civil já investigava o rapto. Ainda não podíamos cravar com 100% de certeza que os PMs estavam por trás do sumiço da menina. A ligação que gravei, como cogitou Waldir, podia ser uma armação de Linho. Nada nos garantia que os homens com quem ele falava pelo celular eram mesmo policiais.

Fui orientada a não pedir qualquer resposta institucional à PM sobre o sequestro. Se fosse verdade, e os policiais soubessem que a imprensa já estava ligando o desaparecimento da menina a eles, era provável que cancelassem o encontro com Linho. Podiam ligar subindo novamente o valor do resgate, ou ainda pior, considerar a possibilidade de dar fim à vida de Jéssica. Não valia correr o risco.

A primeira página do DC rodou com a manchete: "SEQUESTRADA MENINA QUE FILMOU PMs NA BAIANA". Embaixo da chamada principal, um pequeno texto explicava que a família da mulher baleada e morta na Baiana procurou a polícia para denunciar o sequestro de Jéssica. O texto dizia ainda que, para o irmão da vítima, sua sobrinha havia sido levada pelos mesmos policiais que mataram sua irmã.

A foto principal da capa era de Jéssica com uniforme da escola. Abaixo dela, outra chamada gritava: "EXCLUSIVO: Imagens obtidas pelo Diário mostram que policiais militares já seguiam moradora da Baiana antes dela ser baleada". O DC não acusava formalmente a polícia, mas quem lia as duas chamadas na primeira página entendia o recado. Dentro do jornal foram três páginas sobre o caso. A abertura da reportagem trazia a foto que fiz da homenagem à Leninha na escadaria em que ela tombou baleada. Embalamos o que tínhamos de exclusivo e no pé colocamos as declarações do comandante geral da PM, dadas durante a coletiva de imprensa pela manhã.

Pelo segundo dia consecutivo sairíamos com uma série de desdobramentos exclusivos do caso e bem à frente da concorrência. Mas sabíamos que a grande bomba poderia vir no jornal seguinte, com o desfecho da operação da madrugada e suas consequências. A possibilidade de uma reviravolta antes mesmo do amanhecer deixou todo o pessoal do online acelerado. Bárbara escalou um editor de vídeo exclusivo para o site no turno da madrugada. Por e-mail, gritou-me  o óbvio sobre a operação no posto: "Clara, quero PRIORIDADE na postagem do desfecho dessa operação no site do jornal. A história é nossa. NÃO TOLERAREI furos". Ora, antes de "nossa", querida, a história é minha. Vaca!

É curioso como algumas pessoas se aproveitam de sua posição na empresa para sustentar falsos personagens. Bárbara era apenas dois anos mais velha do que eu. Mas comportava-se como se tivesse duas vidas de  vantagem. Tratava mal do contínuo aos editores. Tentava sem sucesso mascarar a insegurança estampada em seu rosto com grosserias e exigências descabidas. Dizem, e aí é só fofoca de bastidor, que sua ascensão meteórica de estagiária a editora ganhou força após favores não jornalísticos prestados à cúpula do jornal. Entre os favorecidos estaria Nereu de Castro. Não gosto dessas especulações machistas, mas é fato que a capacidade de processamento do seu cérebro é inversamente proporcional à sua bunda de tanajura e aos seus peitos turbinados.

###

Fechei minha terceira página de matéria pouco antes das 20h e fui para casa. Jantei com meus pais e tentei parecer o mais natural que pude. Depois de comermos, assistimos ao telejornal juntos. Eles vibraram quando o meu nome foi citado pelo apresentador do jornal da noite. A reportagem começou dando a notícia da morte de Leninha. Em seguida exibiram uma reprodução da minha matéria no Diário e mostraram trechos do vídeo feito por Jéssica. Por fim falaram meu nome ao informar que a filha da vítima pedira ajuda a uma jornalista do DC.

— Que história horrível, filha. Então foi por isso que você se atrasou ontem para o jantar do seu pai...

— Foi mãe.

— Você falou com essa criança que fez o tal vídeo? Nossa, ela deve estar com a cabecinha muito bagunçada.

— Falei só por telefone, mãe. Foi ela quem ligou para o jornal pedindo ajuda. Mas não vamos falar de coisa triste não, né Dona Sueli ? — Desconversei e evitei detalhes da história.

— Tá certo, filha. De qualquer forma estou orgulhosa de ver seu esforço repercutindo na TV. Você tem trabalhado duro e merece esse reconhecimento.

Aproveitei a deixa pra falar que sairia no fim da noite para complementar uma reportagem. Para não preocupá-los, omiti os detalhes. Apenas avisei que um carro do jornal passaria às 23h20m na portaria para acompanharmos o plantão da madrugada em uma delegacia. Entrei no meu quarto, tomei um banho e deitei na cama. Precisava descansar e controlar a ansiedade. Na mesa de cabeceira, um sinal sonoro indicou nova mensagem no celular. O recado enviado por Pereira me tirou o sono:

"Confirmado pela perícia. A digital confere com a da identidade que o tio nos entregou. O dedo é mesmo da Jéssica. Nos vemos daqui a pouco."

Eu não tinha dúvidas. No momento em que abri aquela caixa eu tive certeza de que o dedo era dela. E desde então um eco no meu inconsciente não me deixava descansar. Jéssica está morta...Jéssica está morta. Tentei ignorá-lo durante todo o dia, mas no silêncio do meu quarto ele ganhou força...Jéssica está morta... Sentada na cama, com as duas pernas recolhidas junto ao peito, assustei-me quando meu pai entrou no quarto.

— O que está havendo, Clara? — perguntou como se radiografasse minha confusão mental. Se não fosse médico, meu pai daria um ótimo repórter. Tinha a capacidade de enxergar a alma das pessoas — Não senti você animada com sua matéria chamada na TV. Tá tudo bem no trabalho?

— Pai como você faz para não se envolver com o sofrimento dos seus pacientes?

— Ah, isso é algo que a gente só aprende com o tempo, filha. Não se trata de ser frio, mas de entender que você não é o causador do problema que aflige aquela pessoa. Pelo contrário. Com seu conhecimento e seu trabalho você pode amenizar o sofrimento e orientá-la na busca de uma solução.

— Eu não consigo me distanciar das histórias que conto. Sofro com meus personagens.

— Filha, uma vez uma paciente saiu do meu consultório, escreveu uma carta para os três filhos pequenos e deu um tiro na cabeça. Por um tempo me questionei se devia ter-lhe dito que ela tinha metástase em estágio avançado. Senti-me como se tivesse puxado aquele gatilho. Depois percebi que estava além do meu controle.

— Sabe a garotinha que filmou a mãe baleada?

— Essa que apareceu no jornal? O que tem?

— Arrancaram o dedo dela como castigo por ter filmado aquela cena. Mas só descobriram que ela havia gravado as imagens porque eu divulguei isso na minha matéria.

—Tenho orgulho de ver sua coragem e empenho para lutar por justiça, filha. Não se culpe pelas loucuras do mundo. Tenha certeza de que você também não puxou esse gatilho. As pessoas têm livre arbítrio para o bem e para o mal.

Meu pai tinha o dom de captar minhas angústias e de me acalmar com suas palavras. Desde sempre, desde quando desconstruía fábulas inventando finais engraçados para que eu, ainda garotinha, adormecesse risonha em seus braços. Sei que ele percebeu que minha tensão não se encerrava no que já havia passado. Mas eu não queria preocupá-lo e ele respeitou o meu silêncio. Fez o sinal da cruz em minha testa, beijou-me o rosto e, ao apagar a luz, pediu que eu tivesse juízo no plantão da madrugada. Ele também sentia que algo grave estava por acontecer.


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#NOTA DO AUTOR:

A PARTIR DO PRÓXIMO CAPÍTULO ENTRAMOS NO TERÇO FINAL DE NOSSA HISTÓRIA. AGRADEÇO A TODOS PELA LEITURA, VOTOS E COMENTÁRIOS.

PREPARADOS PARA A PRÓXIMA MADRUGADA? 

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