Tinham-se passados exatamente três dias desde que a rapariguinha não vem à escola, o que me deixa muito bem para falar a verdade. Não tenho que aturá-la.
Estava num canto com os braços cruzados a observar todos os que se encontravam na sala. Haviam alguns quase a espancar os aleijados mas outros aos abraços e sorrisinhos, o que me enojava imenso.
Foi aqui que a professora armada em santinha se aproximou de mim, com um quase impossível de ver, sorriso.
"Podes acompanhar-me?"-perguntou-me, agarrando no meu pulso.
"Se é para o gabinete é melhor trazerem os gorilas!"-recuso, preparando-me para lutar.
"Nada disso..."-suspirou. "Apenas vem!"
Revirei os olhos e decidi seguir a santa até onde quer que fosse o sítio para onde íamos. Depois de quase saírmos do interior da escola entramos numa sala, mais pequena que o normal.
Sentada numa cadeira, que me parecia super confortável, estava a miúdinha. Não era ela que só vinha para a semana? Que merda...
"O que raio estou aqui a fazer no mesmo lugar que esta!?"-esbracejo.
A Santa– que acabei por dar-lhe este nome, devido a estar sempre a chamá-la desta maneira– puxou-me para a rua e fechou a porta, falando comigo em privado.
"Não fales assim com ela! Que mal ela te fez?"
"Ela é irritante e uma bebé, odeio-a!"-grito.
"Ela não melhorou nada desde aquele dia."-ignorou-me. "Mas pergunta sempre por ti."
Por mim? Mas aquela mimadinha pergunta por mim porquê? Que merda.
"Impossível."
Preparo-me para virar costas e ir-me embora, mas isso não acontece.
"Por favor, fala com ela... Eu suplico-te."
"E o que eu ganho em falar com ela?"-cruzo os braços.
"Empatia e amizade?"
"Ugh."
Reviro os olhos, mas entro novamente naquela salinha, fechando a porta atrás de mim. Se quer falar que não seja com a Santa por perto. Respiro fundo e dirijo o olhar para ela, que chora tal como da última vez.
"Será que podes parar de chorar? Isso é enervante!"
"Desculpa..."-murmurou.
Tentou limpar as lágrimas e tentou também acalmar-se. Apenas a observava enquanto isso.
"Porque raio queres falar comigo?"-franzo as sombracelhas.
"Precisas de amor..."-disse muito baixinho.
"Não preciso da merda de amor nenhum, deixa-me da mão! Qual é a tua afinal!?"
"Quero fazer sentir-te feliz outravez..."-formou um beicinho. "Eu quero que tenhas alguém sempre ao teu lado, não quero que fiques sozinho... É horrível... Não quero que fiques triste ou com o coração destruído... Eu quero salvar-te."
Ando de um lado para o outro, ouvindo tudo o que esta idiota me diz. Decido roer as unhas porque estou outravez com o maldito nervosismo e só quero ir até o lugar do costume encomendar mais uns quilos de droga.
Desde quando alguém quer "salvar-me"? Eu não preciso de ninguém, eu estou bem sozinho, eu quero apenas desaparecer, nunca mais respirar.
Morrer.
É assim tão difícil? É preciso engulir cinquenta quilos de heroína? Tudo bem, eu faço isso! Beber até não poder mais? Tudo bem, eu faço isso! Fumar e suicidar-me depois de ter relaxado pela última vez? Tudo bem! Eu faço isso...
"Pára de pensar em coisas más..."-agarrou na manga do meu plover.
"Porque pensas que estou a pensar em alguma coisa má?"
"Porque os teus olhos transmitem dor..."-murmurou.
Engulo em seco, mas tento esquecer o quão esta conversa está a deixar-me inquieto.
"Já é normal, não achas?"-reviro os olhos.
"Posso abraçar-te?"-ignorou-me.
"Não."
"Porque tens de ser tão mau?"-cruzou os braços, irritadiça.
"Qual é a parte em que não percebes que eu não gosto de ti, que te acho uma idiota e uma criançinha de merda e que só quero distância? É que tu nã-"
Fui interrompido com alguém a apertar-me e quase a matar-me, o que iria agradecer para a enternidade, fazendo-me sentir estranho.
Odeio. Odeio. Odeio.
Odeio.
"Larga-me idiota!"
Por mais que eu quisesse, ou pensava que queria, a criançinha nunca se soltava e esta enorme proximidade deixava-me esquesito. Eu não estou a gostar desta estranha sensação.
"Não."-negou.
"Larga-me, já disse!"-repito.
"Não!"-dirijiu o seu olhar desafiador para mim.
Apetece-me bater em tudo, partir tudo, qualquer coisa. No meu interior passa uma enorme batalha de sensações e sentimentos e eu só quero ir para o sítio aonde tem o teto cheio de buracos, a que as pessoas chamam de 'casa'.
"Eu odeio-te!"
Na verdade o que deveria ser um grito, saíu num susurro. E adorava bater-me por isso.
Porque é que me sinto inútil nesta situação? Porque me sinto tão fraco e tão... calmo?? O que é que esta miúda me está a fazer?
Porque raio estou a fazer tantas perguntas?
"Qual é o teu nome?"-perguntou-me docmente. Eww.
Eu não queria dizer o meu nome porque sei que, se eu ao dizê-lo, terei que dar um paço para o que quer que esteja a acontecer, e eu não quero isso.
Mas quando decidi não dizer, a minha boca não me obedece.
"Luke."
Nunca me odiei tanto na vida.
"Tens um nome bonito."-sorriu e apertou-me ainda mais.
Afinal ela sorri.
"Não tenho não. É normal."-dou de ombros.
"Vou chamar-te de Lucas."
"Não me chames isso pirralha!"-resmungo.
O meu sangue começa a ferver, e isso nunca é bom. Tento soltar-me do aperto dela o que quase resulta.
"Okay, não sabia Luke, desculpa."-pareceu-me arrependida. "Chamo-me Melanie."-adicionou.
Levou a sua pequena mão à minha cabeça e começou a dar-me uma espécie de festinhas.
A razão é-me desconhecida, mas eu tomei a liberdade de me sentar numa cadeira e deixar-me estar simplesmente assim.
O toque da sua mão era suave e a maneira como puxava os meus fios de cabelo era boa.
Não que esteja a gostar...
Acabo por fechar os olhos, e depois de anos, eu sinto-me finalmente bem.
__________//__________//_________
Olá gente 💖 desculpem a demora, não tive tempo quase nenhum esta semana e estive todos os dias a escrever durante uns pequenos minutinhos, são 1060 palavras, espero que tenham gostado!! 💖
As minhas capas vão ser em novembro e amanhã já vou às compras haha, quem não é a pessoa que gosta de comprar uns sapatos novos e roupa para especial ocasião, não é mesmo!? 💞😊
∆ Votem e comentem, por favor!? MUITO importante para mim 🙏😘
Luv Ya!!