DOCE CORAÇÃO - Livro I - Amor...

By JfbBauer

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Degustação do livro publicado na Amazon. Quando Grace se muda para a casa do novo marido de sua mãe não esper... More

Sinopse
Apresentação
Prólogo
Doce Rebeldia - parte 1
Doce Amizade - parte 1
Doce Amizade - parte 2
Doce Romance - parte 1
Doce Romance - parte 2
Doce Encanto - Parte 1
Doce Encanto - parte 2
Doce Paixão - Parte 1
Doce Coração - Livro 1 - Amor Proibido - O que te espera na Amazon!
A continuação. Doce Coração Livro II Verdadeiro Amor

Doce Rebeldia - parte 2

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By JfbBauer

Doce Rebeldia

Jason

Na sala da delegacia finjo estar alienado ao que o delegado diz ao meu pai, mas não é verdade. Eu estou ciente de todas as complicações de meus atos, e ouço cada resmungo do meu pai que não disfarça o quanto a situação o incomoda.

Olho para ele por um tempo. Somos tão diferentes. Eu sou um adolescente ainda, mas já tenho consciência disso.

Primeiro há as diferenças físicas. Meu pai é loiro de olhos azuis e meu irmão, mesmo adotado, é mais parecido com ele do que eu que sou seu filho legitimo.

Fora as diferenças físicas há também as diferenças entre personalidades. Novamente Nestor e Enrico tem o temperamento parecido: eram calmos, sérios e compenetrados. Ao contrário deles eu e minha mãe éramos intempestivos, impulsivos quase ao ponto de sermos considerados imponderados.

— Eu entendo que isso possa ser um transtorno para o senhor, mas sabemos que isso é o mais correto. Sua posição na cidade é de destaque senhor Travelli, e, por isso que deve ser o exemplo.

Escuto novamente o diálogo entre o delegado e meu pai.

— Concordo plenamente, delegado. Não está no meu caráter querer passar por cima da lei, mas deve entender que Jason é meu filho. E é apenas um adolescente.

— Sim, eu entendo isso. Mas ele não pode deixar de assumir as responsabilidades do que faz.

Encaro os olhos do delegado que estão em mim sem me rebaixar. Sei que o homem não gosta de mim por conta da filha dele. Eu e Ana havíamos sido surpreendidos pelo pai dela em uma situação bem comprometedora e desde então o homem não simpatizava comigo.

Dane-se ele! Eu não tenho culpa se a filha dele gosta de usar a boca, e a menina tem uma boca espetacular.

— Acredito que os danos não foram tão terríveis. Poderia ter sido pior- o delegado fala e então olha para mim — poderia ter se machucado, filho, ou machucado outras pessoas. É melhor pensar antes de fazer esse tipo de coisa.

Concordo, a contragosto, o velho tinha razão.

— Ele vai pensar, delegado.

Meu pai responde deixando claro sua irritação e o aviso implícito nela.

— Não é bom que o filho de tão ilustre cidadão de nossa cidade seja visto participando de atividades ilegais.

Eu reviro os olhos. O delegado prezava pelos valores morais e bons costumes. Babaquice!

— Isso não vai mais acontecer — Garante Nestor.

— E a minha moto? —Me pronuncio.

— Ficará sob minha jurisdição até que você complete dezoito anos — explica o delgado.

— O quê?! — meu gênio forte logo começa a aparecer.

Eu não iria deixar a minha moto, a moto da minha mãe nas mãos da polícia!

Meu pai temendo minha reação, se levanta apertando a mão do delegado.

— Obrigado, Diogo. Prometo que meu filho não se meterá em situações de ilegalidade novamente.

Sob protestos saio arrastado da delegacia em direção à rua, quando chegamos onde o carro está estacionado, não me seguro.

— Vai concordar com isso?! – Explodo.

— Sim, eu vou — meu pai responde calmo, calmo demais.

— Eu não vou aceitar...

— Você não tem escolha, Jason. O delegado já foi bem indulgente deixando você sair sem nenhuma queixa.

— Essa é a moto da minha mãe! Não vou deixar ela aqui, porra! —Grito.

O estrondo da porta do carro batendo me pega desprevenido. Meu pai não é um homem violento, muito pelo contrário, por isso me surpreendo ao ver raiva em suas feições.

— Não sei mais como agir com você, Jason! — ele diz se aproximando de mim. —Há uma semana foi pego fumando maconha...

— Ah, pai, como se você nunca tivesse feito isso quando era jovem.

— Sim, eu fiz, mas não é a isso apenas que estou me referindo, Jason. É a tudo. Você era um bom garoto. Tirava boas notas, respeitava as pessoas... agora parece um... selvagem... se metendo em raxas, brigas. Quero que volte a ser aquele menino, filho.

— Sim, eu era um bom garoto, pai, e veja o que me trouxe de bom, minha mãe me abandonou — digo, magoado. — E você nem liga...

— Você me culpa por algo que não tenho culpa, filho.

Abaixo o olhar.

— Não sei por que sua mãe nos abandonou, mas sei que ela não gostaria de vê-lo desse jeito sempre tentando se meter em confusões, disposto a prejudicar seu futuro.

— Ela não se importa comigo — dou de ombros.

— Não fale assim. Tenho certeza que ela se importa, de que ela te ama.

— Como pode defendê-la? Até uma namorada você já tem. Está pouco se importando também.

— O que você quer, Jason? Que eu fique sozinho à espera da sua mãe voltar? Isso se ela voltar. Eu não tenho raiva dela, mas preciso seguir em frente com a minha vida.

Começo a andar sem direção, eu não curto esse lance de conversar sobre minha mãe, e muito menos essa coisa sentimental entre meu pai e eu.

— Jason? —Ele me chama o que me fez parar. — Eu iria conversar com você hoje, em casa, com calma e tranquilidade, mas você sumiu... bem..., Luiza e Grace vão se mudar para nossa casa.

Fico olhando para ele. O que ele espera que eu diga?

— Sei que pode ser difícil para você ver Luiza ao meu lado...

— No lugar que é da minha mãe – acrescento.

— Não é assim... Luiza será minha mulher, mas Lídia sempre terá o lugar dela que é de sua mãe. Sua e do seu irmão.

legal, pai. Chega desse papo.

— Certo, então espero que você as trate bem, ok — alerta.

— Tanto faz.

— Jason...

— Está bem — respondo bufando.

— Se você se esforçar eu vou conversar com o delegado para liberar sua motocicleta...

Eu não posso evitar que um sorriso aparece em meus lábios.

— Mas apenas se você se comprometer a ser um bom garoto.

Bom garoto nem pensar, pensei comigo. Isso não combinava mais comigo.

— Eu vou... vou tentar ser legal — falo.

Voltamos para casa, era madrugada quando chegamos, e penso que meu pai até foi bacana em relação ao que houve nesta noite. É claro que durante o caminho ele me deu "aquele" sermão sobre responsabilidade e bláblá. Mas até que não foi de todo ruim.

Ao entrar no meu quarto encontro Nico a minha espera.

— E aí, mano? Como foi lá? Deu tudo certo?

Meu irmão pergunta visivelmente preocupado. Não é aquele tipo de pergunta para sacanear, tipo de irmão que gosta de ver o outro ferrado. Eu tenho sorte. Meu irmão é um cara legal.

— Tudo tranquilo, Nico. O pai resolveu tudo.

— Que bom. Fiquei meio bolado quando ele saiu furioso depois de receber a ligação do delegado.

— Imagino, mas foi tudo numa boa. Claro vou ter que me comportar e tal e minha moto ficou retida.

— Ah, saco!

— Pois é.

— O pai te falou que elas se mudam amanhã.—Quis saber interessado na minha reação.

— Falou.

— Elas são legais, Jason.

— Mas ela não é a nossa mãe — resmungo.

— É, não é.

Ele parece triste.

—Você pensa nela, Nico?

Ele pensa na reposta.

— Não muito.

— Eu penso sempre — admito. — Sinto falta dela.

— Eu procuro não pensar. Não quero pensar que ela me adotou pra depois me abandonar... não quero ficar com raiva dela, por isso não penso.

Ele é sincero.

— Vou dormir.

Nico sai do meu quarto e fico pensando no que ele disse. Talvez para Nico fosse mais difícil do que para mim. Nunca tinha visto por esta perspectiva.

No dia seguinte, um sábado em que eu dormiria até mais tarde, acordo com barulhos pelos corredores, e no jardim.

Falo palavrões tentando voltar a dormir, mas não consigo. Por fim resolvo levantar.

Saio do quarto como de costume, sem camisa e calça de moletom. Essas calças eram boas pra caralho! Não precisar usar cuecas e deixar tudo solto era bem confortável.

Entendo, então, por que acordei. Há um falatório que vinha do andar inferior. Pela voz parecia ser da minha nova madrasta.

Duas portas após a do meu quarto vejo Grace rodeada de caixas. Parece que ali será o quarto da minha nova meia irmã.

Escoro o ombro contra a batente da porta e fico espiando-a. Ela parece perdida, não sabendo por onde começar.

— Quer ajuda?

Ela se assusta e se vira me olhando. Não passa despercebido que ela dá uma conferida no meu corpo antes de olhar para meu rosto.

— Não, não preciso da sua ajuda.

Ela enfatizou bem o "sua" para que eu soubesse que era comigo.

A garota tímida e que pareceu se encolher quando falei com ela, no dia anterior, não parece mais existir. Agora é uma gatinha com as unhas afiadas. Aquilo me irrita e me deixa ligado, o que me faz ainda mais irritado.

Entro no quarto sem ser convidado, com raiva, mas ela se desfez quando noto novamente o olhar de cobiça de Grace. Um lento sorriso convencido aparece no meu rosto.

— Não devia ficar me secando, irmãzinha — provoco.

— Eu... eu não estou te secando, Jason, não seja convencido. E para deixar claro, não sou sua irmã – ela diz.

Ainda sorrindo olho para ela dos pés à cabeça. Ela está, mais uma vez, vestida como uma mocinha certinha de classe média. Mesmo assim está bonita. Eu tenho que reconhecer. Já não a acho tão sem graça como na noite anterior.

— Não mesmo — falo malicioso.

Viro-me saindo do quarto dela rindo. Meu bom humor não dura muito. Ao entrar na cozinha pego meu pai e Luiza se agarrando.

Por sorte não fui apenas eu que fico sem graça, os dois também parecem querer um buraco para se enfiar.

Luiza ajeita os cabelos e meu pai vai até o fogão pegando água quente para se servir de chá.

— Bom dia, Jason. Espero que esteja com fome eu trouxe umas rosquinhas da padaria que estão deliciosas...

— Não como nada de manhã! —Corto minha madrasta, rispidamente.

Recebo, na mesma hora, um olhar de reprovação do meu pai.

— Ah, bem... eu não sabia — Luiza diz sem graça.

Minha reação faz com que me sinta mal. Luiza parece ser uma boa pessoa e querendo agradar. Ela não tem culpa se está no lugar que, para mim, pertence a minha mãe.

— Tudo bem... eu acho... que vou experimentar — me ouço falando.

Nem mesmo soube de onde aquilo surge. Eu não sou simpático. Não faço questão de ser, então por que eu quis amenizar o modo como falei com ela?

Um belo sorriso enfeita o rosto de Luiza e naquele momento achei mãe e filha bem parecidas.

Nas próximas semanas posso dizer que tudo corre... tranquilo. Todos estamos nos adaptando. Meu pai a ter uma nova esposa. Meu irmão, bom meu irmão sempre se adapta a tudo, eu brinco que ele é um conciliador nato. Ótima qualidade para um político. Começo a acreditar quando Nico falava, em criança, que iria ser político.

E eu também estou tentando me adaptar a ter duas mulheres constantemente em casa, a ter uma madrasta e uma nova irmã. Não que eu passe muito tempo com elas, longe disso. Estou evitando contado mais que o necessário, mas afinal morávamos todos na mesma casa, é obvio que eu esbarraria com elas a todo o momento. E na medida do possível tento ser educado. Grace parece me evitar tanto quanto eu a ela, então quase não nos víamos.

Já na escola eu a vejo muito, e por isso mesmo a ignoro por completo. Lá eu não tinha obrigação de paparicá-la. Essa função era de Nico, e ele a cumpre de bom grado. Pelo jeito ela e meu irmão se tornaram bons amigos.

Eu geralmente estou com meus amigos populares ou com alguma garota gostosa. Grace não faz parte do nosso clube. Reconheço que fiquei abismado quando ela começou a andar com a garota mais nerd e esquisita do colégio. Jurava que ela, por ser toda certinha, se juntaria as patricinhas, mas não. Optou pela menina de cabelo azul e óculos grossos preso ao rosto. Por mim tanto faz. Não estava interessado no que aquela menina fazia ou deixava de fazer e muito menos em suas amizades.

Em casa, naquela tarde, ouço barulho de risos vindos do quarto de Grace quando eu passo pela porta que não estava fechada.

— Não, sério, toda mulher precisa assistir "doce novembro" é um clássico — ouço a voz de Grace, argumentar.

— Decidido então, será "doce novembro" que vamos assistir hoje. — Nico completa.

Traidor! Foi por isso que ele sumiu após as aulas, para se enfiar no quarto de Grace. Será que ele está a fim dela? Será que estão sozinhos?

— Esse não é aquele filme que a menina morre no final? —Uma terceira voz desconhecida responde meu questionamento.

—Monica! Você contou o final do filme! — Grace fala.

— Eca! — a outra voz feminina geme— filme muito melado.

— É romântico, Mônica — Grace resmunga, — eu adoro. Mamãe e eu vimos umas cinquenta vezes. E choramos todas as vezes.

— Eu também assisti — Nico diz— bem, eu estava namorando uma garota e achei que era um filme de casal essas coisas...

—Ah que doce, Nico!— Grace o elogia.

Viado!

Farto de ouvir aquela melação, resolvo entrar, e tentar colocar um pouco de hormônio masculino naquela ambiente, pelo jeito Nico tinha mais estrogênio do que testosterona.

Assim que entro vejo meu colocando o DVD no aparelho enquanto a menina do cabelo azul está deitada na cama de Grace que está sentada na beirada.

E é ela que me encara quando entro.

— Parece que tem uma festinha aqui. Sinto-me excluído já que não fui convidado.

— E aí, mano? — Nico é o único a me cumprimentar. — Vamos assistir...

— Já sei, estava escutando a conversa de vocês.

— Se quiser assistir com a gente...

— Acho que... — coloco meus olhos sobre minha nova meia irmã, — é a Grace que deve me convidar. Afinal o quarto é dela.

Eu estou provocando, e ela sabe.

— Se você quiser ficar... — ela dá de ombros.

Na primeira vez que a vi ela me pareceu uma menina tímida que mal levantou os olhos para me encarar. Desde então ela não age mais assim, não interagíamos, na verdade nos evitávamos, mas quando nos encontrávamos ela me encara sempre, firme sem se rebaixar. Aquilo é ... excitante.

— Não. Vou passar esse programinha infantil de vocês. Tenho coisa melhor para fazer.

É mentira. Eu não tenho nada demais para fazer. Apenas vou ficar enfurnado no meu quarto jogando vídeo game, vendo revista de motos ou de pornografia.

— Você adora ser desagradável — ela responde irritada.

— E você...

— Volto com as pipocas — Nico diz interrompendo o que eu falaria e me arrasta do quarto de Grace.

No corredor meu irmão me olha atravessado.

— Por que gosta tanto de provocar? Custa ser gentil?

— Não enche, Nico.

— Gentileza e Jason são palavras que não combinam, Nico, você já deveria saber.

Viro-me para ver Grace na porta de seu quarto. Uma irritação sobe por corpo como lava quente. Nem sei por que fico tão puto. Talvez eu me encontre em constante estado de fúria desde que mamãe fora embora.

— Olha aqui, pirralha, esta é a minha casa, não venha querer...

Paro de falar quando ela se aproxima a passos rápidos parando bem a minha frente, sua cabeça mal passado meu peito, mas ela levanta aquele nariz estranho e aponta o dedo no meu rosto.

— Escuta aqui você. Acha que só você tem problemas? Que é o único abandonado pela mamãe? Pois saiba que não é. Tem muita gente com problemas bem piores que o de um garoto mimado. Nico mesmo foi abandonado pela família quando bebê e não é esse babaca que você é.

— Não fala da minha mãe... — aviso tentando me controlar.

— Estou de saco cheio de ver você tratando todo mundo mal, seu pai, minha mãe que só quer te agradar e tudo por que você coloca a culpa de sua mãe ter ido embora em todos, menos nela mesma.

Ela passa dos limites.

— Cala a porra boca, garota! Quem pensa que é pra falar da minha mãe? Se liga! Está aqui nessa casa há algumas semanas e já se acha a dona do pedaço. Acha que me conhece? Sinto lhe decepcionar, você não me conhece e saiba que esta casa é e sempre será da minha mãe!

— É mesmo? Sua preciosa mãe que se mandou deixando dois filhos para trás?

— Porra!— olho para o meu irmão. — Eu posso com isso, Nico? Essa garota magrela falando sobre o que ela nãos sabe?

— Gente, vamos se acalmar!— Ele interfere.

— Eu não queria brigar, Nico, — Grace diz— não gosto de discussão, mas seu irmão me irrita.

— Eu irrito. Eu te ignoro, garota.

Ela volta a me encarar com os olhos em chamas.

— Foi você que entrou no meu quarto sem ser convidado apenas para provocar.

Era verdade, e estou furioso.

— Porra! — falo alto — Só o que me faltava ter que aguentar essa garota de nariz feio me enchendo o saco.

— Jason!

Ouço a reprimenda de meu irmão, porém não dou atenção. Grace a minha frente esconde parte do rosto com ambas as mãos e seus olhos enchem de lágrimas.

Porra de garota!Vinha provocar e agora chora. Ela corre para o seu quarto e bate à porta com força.

— Maravilha, Jason! Maravilha! Magoou a menina!— Nico fala, aborrecido.

— Grande merda! — Resmungo.

— Ela é legal, Jason. É uma garota doce. E Luiza também é bacana. As duas só estão querendo fazer parte da nossa família, se aproximar, mas você colocou um escudo que não as deixa chegarem perto. Assim como fez comigo e com o pai desde que a mamãe se mandou. Não temos culpa, mano, ninguém tem. Apenas temos de seguir cada dia com a vida.

— Não viaja, Nico!

Fico abalado pelo que meu irmão fala. Não esperava essa reação dele.

Nico respira fundo

— Você sempre foi um cara bacana, não sei por que tem agido assim, mas espero que mude e volte a seu o meu brother.

Viro as costas e o deixo falando sozinho. Bato a porta do meu quarto com força, do mesmo jeito que Grace fez a pouco e me jogo na cama.

A lição de moral do meu irmão mais velho não está descendo bem. Quero extravasar minha raiva. Quero sair. Quero tanto minha moto. Certamente sairia pelas estradas sentindo o vento no rosto e aquilo me acalmaria.

— Porra!— Praguejo alto.

Porque estou sempre tratando Grace tão mal? E até mesmo Luiza? Qual a explicação? É verdade que eu havia sido uma pessoa melhor. Quem sabe a presença de minha mãe me fizesse melhor. Sinto que há duas partes dentro de mim. Como se uma parte fosse o bem e a outra o mal. Não sei explicar.

Eu só sei que após minha mãe ter ido embora eu mudei. Fiquei mais duro. Não quero mais ninguém quebrando a porra do meu coração.

Mas... pensando bem, acho que Nico está certo. Eu estou agindo muito mal. Lembro do rosto de Grace chorando...

— Que se dane!

Não vou pedir desculpa, não vou mesmo. Ninguém mandou ela se meter a falar o que não é da conta dela.

Pego os cadernos da escola. Num ponto reconheço que tenho que maneirar, se não me cuidar levarei bomba esse ano. Eu já estou atrasado dois anos.

Quando tudo aconteceu não consegui ir às aulas, o assunto na cidade e na escola era a partida de Lídia Travelli. Por isso acabei perdendo um ano por falta.

Por coincidência, agora, eu estou no mesmo ano que Grace, mas por sorte estávamos em turmas diferentes.

Passo à tarde no meu quarto. Esperando pela reprimenda que levarei do meu pai por brigar com Grace. Com certeza ela falaria para a mãe, que diria ao meu pai que então me daria uma grande bronca. Contudo a tarde passou a noite chegou e nada aconteceu. Na hora do jantar, estávamos todos a mesa como um dia qualquer. A única coisa diferente era que Grace estava ausente.

Em nenhum momento meu pai ou Luiza pareciam chateados. Entendi que eles não sabem da minha discussão com Grace. Ela não falara nada. Isso me surpreende.

Estou louco para saber sobre ela, mas prefiro que meu pau caia a perguntar algo. Por sorte meu pai pergunta a Luiza responde nervosa que Grace não estava se sentindo bem.

— Não deve ser nada, querida – meu pai dia a Luiza.

Na mesma hora meu olhar foi para Nico que faz uma careta. Ele está chateado comigo.

Então ela vem: a culpa.

Senti-me culpado. Muito mesmo. Eu não gosto da menina, mas falar do nariz dela foi golpe baixo e na verdade nem é tão feio assim. Eu quis ser mal e consegui.

Meu pai, Luiza e Nico conversam na sala quando subo para ir para o quarto. Ao passar na frente da porta de Grace, paro.

— Merda! —Rosno. — Não vou, não vou pedir desculpa — falo comigo mesmo.

Sigo para meu quarto, mas a porra da minha consciência diz que eu devo pedir desculpa a menina.

— Porra!

Volto decidido a acabar com essa babaquice de consciência pesada e bato na porta antes de desistir. A voz suave de Grace atravessa a grossa porta de madeira.

— Quem é?

Respiro fundo antes de falar.

— Sou, eu Grace, Jason.

Fica um silêncio de uns quinze segundos.

— O que você quer?—Ela pergunta.

— Posso entrar? Quero falar com você.

— Não quero falar com você.

Eu sabia que não seria tão fácil.

— Se não percebeu já estamos falando um com o outro – não resisto em dizer.

— E você já está sendo o imbecil de sempre – ela retruca.

Suspiro.

— Grace? Eu... quero me desculpar...

O silêncio dessa vez deve ter sido de uns trinta segundos. Eu estou quase desistindo e mandando a garota se ferrar quando ouço o clique da porta.

Empurro a porta devagar encontrando Grace de costas para mim, próxima a cama.

— O que você quer falar, Jason?

— Eu...

Eu não tenho um pedido de desculpas ensaiado. Nunca havia feito um. Não sei o que dizer.

— Porque não falou nada para sua mãe? Ou para o meu pai?

— O que isso importa? — Suspira— Eu não quero causar confusão.

Não entendo as razões dela, porém isso não importava agora.

— Grace... eu... porque está de costas pra mim?

— Evitando que você veja a garota de nariz feio.

Porra! Eu tinha mesmo magoado a menina.

— Desculpe, eu não queria ter dito aquilo... eu... é que você falou sobre minha mãe... esse assunto... Grace? — me aproximo mais pegando uma das mãos dela. — Vire-se, não precisa se esconder.

Ela se vira para mim, de cabeça baixa, o cabelo escondendo parcialmente o rosto. Coloco meus dedos em seu rosto fazendo-a me olhar.

Pela primeira vez quero me chutar por fazer alguém tão triste. Seus olhos estão tão apagados.

— Eu sei que ele é feio — ela começa a dizer, — desproporcional para meu rosto. Sei disso. Eu até pensei em cirurgia plástica, mas... bem não importa.

— Grace... eu... me desculpe... desculpe mesmo. Não há nada de errado com seu nariz. Eu só quis te machucar. Você... você é linda.

Os olhos dela se abrem mais.

— Acha que eu sou linda? —Pergunta.

Percebo que estou próximo dela, próximo demais. Retiro a mão do rosto dela e me afasto.

— Sim — pigarreio. — Sim... quer dizer, bonita como toda garota... normal.

Ela parece desapontada, novamente baixa os olhos.

— Grace?

— Sim?

— Vai me desculpar?

— Está tudo bem. Eu desculpo você, Jason. E, eu não queria ter falado daquela forma sobre sua mãe.

— Tudo bem. Estamos quites.

Ela esboça um sorriso e eu me viro para sair.

—Jason? Vai voltar a me ignorar? —Pergunta quando eu já estou na porta, pronto para sair.

— É, vou sim — respondo.

É melhor assim. É perigoso ficar próximo dessa menina.

— Tudo bem - diz com a voz fraca. — Boa noite, Jason.

— Boa noite, Grace.

Duas semanas se passaram e eu continuo vivendo minha vida como antes. Não tive mais contato com Grace, mas não posso dizer que estava ignorando-a como prometi.

Na escola, quando nos encontrávamos eu sempre levanto meus lábios, não chegava ser um sorriso, mas próximo disso. Grace faz o mesmo.

Aquele dia, um dia especial, Grace não fora para a escola, parece que ela e a mãe tinham ido ao médico. Não fazia ideia do porquê, mas também não iria perguntar.

Nico veio ao meu encontro, com a mochila pendurada no ombro.

— Qual a sensação de ter dezessete anos? —Pergunta colocando o braço sobre meus ombros, caminhando ao meu lado.

Ah, sim, hoje é meu aniversário.

— Por enquanto a mesma de ter dezesseis.

— Vamos ter uma festa na casa do Vinicius para comemorar seu aniversário. Muitas garotas gostosas e um pouco de álcool. Bem-vindo a quase maior idade.

Sorrio da sua tentativa de ser transgressor. Ele não lava jeito para isso.

Meu aniversário era uma data que eu sempre tinha esperança. Esperança que minha mãe pudesse aparecer ou dar notícia, mas nada acontecia. Por isso eu não gosto muito de comemorar.

Quando chego da escola, um cheiro maravilhoso está por toda casa. É divino. Com cem por cento de certeza que é bolo de chocolate. Meu favorito.

Sigo sorrindo para a cozinha e paraliso ao ver Grace despejando calda de chocolate sobre um enorme bolo também de chocolate. Jurei que seria Luiza que estaria cozinhando.

— Oi — falo, não sei o porquê, totalmente sem graça.

— Oi — ela sorri.

Meus olhos não se afastam daquele bolo. Minha boca chega a salivar.

— Belo bolo — elogio.

— Gostou?

— Sim — respondo.

— Que bom! Por que eu fiz para você.

Ainda bem que eu não estou mais salivando ou teria uma poça de baba no chão, pois minha boca, agora, está aberta em surpresa.

— Você fez um bolo pra mim? —Pergunto abismado.

— Sim, eu fiz.

Ela faltou à aula para fazer um bolo para mim. Um bolo de chocolate. Para mim.

— É, seu aniversário, não é? Então, sim, eu fiz um bolo para você.

Olho para Grace como se a visse pela primeira vez. Porra! E foi aí que tudo começou a mudar.

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