Louis
Ontem pela segunda vez na semana Harry havia me mandando a mesma mensagem. Sinceramente, acho que ele apenas copiava e colava, tinha sempre as mesmas palavras.
"Preso no trabalho, pode ir sozinho?"
Estava ficando muito acostumado com essas palavras, ainda mais agora que Harry estava extremamente empolgado com um negócio novo que lhe traria ainda mais dinheiro do que já tem.
Às vezes sinto que Harry está indo para algum lugar longe demais para que eu possa alcançá-lo. É como se em algum momento tivéssemos parado de caminhar lado a lado, e Harry passou a dar passos muito maiores que os meus.
— Tchau, Louis. Até amanhã. — disse minha colega de trabalho e acenei um adeus para ela enquanto terminava de fechar a cafeteria.
Olhei para os lados tirando o celular do bolso e lá estava a mesma mensagem, um pouco diferente dessa vez, mas com o mesmo significado e a mesma desculpa.
"Amor, estou atolado em trabalho, podemos passar o dia juntos amanhã, o que acha? Te amo, beijos."
Balancei a cabeça em negação e peguei meu caminho para o ponto onde Thomas havia passado a me buscar sempre no mesmo horário.
— Oi, Louis. Boa noite. — sorriu e abri a porta do carro entrando no mesmo.
— Oi, Thomas, boa noite. — sorri colocando o cinto.
— O que acha de um chá? — perguntou dirigindo com cuidado pela fina camada de neve que caía por aqui devido a proximidade do fim de ano.
— Acho maravilhoso. — sorri ligando o rádio.
Harry - Dois dias depois.
Gemma andava de um lado para o outro na cozinha e sorri mexendo na minha tigela de cereais.
— Ainda procurando Ramon para devolver o carro?
— Isso não tem graça.
— Já faz mais de uma semana, aceite, ele não volta. Vai ver se encontrou por aí. — resmunguei me levantando.
— Vai à merda, Harry! — reclamou e sorri, saindo da cozinha.
Peguei a chave do meu carro e me dirigi até a casa de Louis. Era sábado, e apesar do sol fraco ainda fazia frio por aqui. Assim que cheguei ajeitei meu casaco e em seguida caminhei até a entrada da casa e toquei a campainha esperando alguém vim atendê-la.
Logo Louis apareceu, usava uma calça jeans preta, uma camisa branca e um casaco preto por cima com um cachecol e um gorro por cima dos seus cabelos, completando com botas pretas. Ele estava preparado para o frio que estava fazendo.
— Pronto?
— Sim, aonde vamos? — perguntou me dando um beijo rápido fechando a porta em seguida.
— Pensei em assistir um filme que saiu e eu queria ver. — comentei abrindo a porta do carro para ele.
— Tudo bem, vamos ao cinema então. — sorriu entrando no carro e fui para o outro lado, em seguida sentei em meu lugar.
Não demoramos muito para chegar, por conta do mau tempo não havia muita gente pelas ruas como costumava ter, mesmo achando que a pior época para sair de casa é nos dias de compras de Natal, e ainda está frio.
Compramos as entradas do cinema, pipoca e refrigerante seguindo para dentro da sala. Ainda estava passando os trailers e a sala estava parcialmente cheia, nos sentamos em nossos lugares e colocamos os refrigerantes no suporte para copos.
— Como foi a sua semana? — sussurrei enquanto o filme não começava.
— Boa, e a sua? — perguntou apoiando a cabeça em meu ombro e passei meu braço pelo seu ombro me acomodando melhor na cadeira.
— Agitada, mas boa. — sorri beijando o topo da sua cabeça enquanto o mesmo colocava o gorro sobre o colo.
...
O filme estava quase na metade quando meu celular começou a vibrar no bolso. Louis desviou os olhos da tela para olhar para mim e peguei o aparelho.
— Desculpa, amor. Tenho que atender, vai ser rapidinho. — sussurrei lhe dando um selinho rápido e sai me agachando para não atrapalhar os outros.
"Pode falar." murmurei assim que atendi o telefone.
"Senhor, aqui é o André. Conseguimos aquele contrato com a Sims."
"Sério?!"
"Sim, senhor, mas eles querem um almoço ainda hoje. Precisam esclarecer alguns termos deles."
"Agora? Mas eu não estou em casa, estou no cinema com o meu namorado."
"Senhor, a nossa concorrente está no encalço, se negarmos perderemos essa."
"Droga, tudo bem, eu te ligo daqui a cinco minutos."
"Sim, senhor."
— Harry? — olhei para trás e Louis estava parado segurando a porta da sala de cinema. — Está perdendo o filme.
— É... Amor, eu...
— Precisa ir? — perguntou.
— Eu prometo que passo na sua casa, assim que acabar isso, eu prometo. — falei e o mesmo assentiu.
Entrei na sala apenas para pegar seu gorro e seu casaco e sai, em seguida os entregando para ele. Saímos do shopping e caminhamos para o meu carro.
— Tudo bem? — questionei tirando o carro do estacionamento e Louis assentiu.
— Está sim, fique tranquilo. — sorriu ajeitando o gorro na cabeça e encostou a cabeça na janela observando a chuva fina que começava a cair.
Parei o carro novamente em frente a casa de Louis e olhei para ele.
— Eu posso levá-lo até-
— Não precisa, está bom aqui.
— Louis, você não está bem, o que foi?
— O que foi? Sério? — perguntou virando-se para mim e vi seus olhos marejados.
— Amor, o que você tem?
— Harry, não me pergunte o óbvio, mal nos vimos a semana inteira e quando finalmente chega o fim de semana, não ficamos nem quarenta minutos fora de casa e você tem que voltar para o maldito trabalho, e não adianta me dizer que virá mais tarde, porque eu sei e você mesmo sabe que não virá. — e saiu do carro.
— Louis, espere! — exclamei retirando o cinto e saindo do carro também.
A chuva irritante estava lá novamente caindo sobre nós dois. Louis tinha a ponta do nariz avermelhado como sempre ficava por conta do frio, e os olhos tristes e marejados. Como eu odiava vê-los dessa forma, e por minha culpa.
— Quer saber, Harry? Não volte. — disse balaçando a cabeça em negação. — Não precisa voltar, sabe o por quê?
— Louis... — sussurrei angustiado.
— Porque se você voltar vai ser mais outra decepção que me joga cada vez mais para baixo. Na semana que vem será o que? "Amor, estou preso na minha maldita vida de dinheiro, luxo e montes de relatórios e não posso ter um mísero minuto para o meu próprio namorado?" Você nem sabe mais o que faz comigo.
— Isso não é verdade, eu amo você. — afirmei dando alguns passos à frente e Louis balançou a cabeça em negação, erguendo a mão para me impedir de andar na sua direção.
— O que é amor para você, Harry? Tudo o que temos feito é nos distanciarmos um do outro, por culpa sua, vamos deixar bem claro. Tudo a sua volta gira em torno dessa maldita empresa, mais isso não dá mais pra mim, Harry. — disse olhando para seus pés.
— É só você me dizer... Eu posso melhorar, ser melhor, apenas me diga como.
— Eu não posso, Harry. Você tem que saber o que fazer sozinho, isso é algo a dois e eu não posso pensar por mim e por você. Eu preciso de mais, Harry. Um mais que você não consegue me dar.
— Louis, por favor, vamos conversar com calma mais tarde, nós podemos-
— Não! Você não vê, Harry? Nós não podemos deixar para mais tarde, a minha vida não pode esperar para quando você tiver tempo para mim!
— Você está terminando? Está terminando tudo? — questionei sentindo um nó em minha garganta e Louis respirou fundo, tirando o gorro molhado da cabeça frustrado.
— Eu estou.
— Eu amo você, será que isso não basta? — perguntei em pânico, minha voz embargada e trêmula.
— Olha em volta, Harry. Olha para nós dois e me diz... Isso basta? Todo o seu amor supera a sua ausência? Olha para a nossa situação, Harry, e me diga, Isso basta para você? Porque para mim é pouco demais.
— Não... Isso não basta. — confessei sentindo meus olhos arderem por tentar conter as lágrimas.
— Quer saber? Vai para casa, ou para o seu almoço, não sei, vá para onde tem que ir. Eu apenas tenho que ficar sozinho agora. — disse andando para trás até chegar aos degraus da sua casa.
— Louis... — chamei e ele apenas me olhou. — Não me deixe, por favor.
— Você já me deixou muito antes de percerber isso. — e se virou, entrando para dentro de casa e fechei meus olhos.
Eu havia perdido aquele que jurei que jamais iria perder, tudo porque voltei a ser uma pessoa que prometi não ser nunca mais.
"Agora nós somos jovens demais para reconhecer
Nada permanece o mesmo
Prometo que não vou ser o único culpado
Porque o tempo não te ama mais
Mas eu ainda estou batendo na sua porta
Oh, o tempo não te ama como eu te amo."