Eros: Quando a paixão entra e...

By LucyBerhends

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Eros Nóbrega é o zagueiro do Avantes Esporte Clube e considerado o melhor do país atualmente. O futebol está... More

Apresentação
Prólogo
Capítulo 1 - Butterfly
Capítulo 2
Que jogo ele está jogando
Capítulo 3
O que eu devo fazer?
Capítulo 4
Eu posso lidar com isso
Capítulo 5
Capítulo 6
Eu estou totalmente perdida
Capítulo 7
Capítulo 8
Razão versus emoção
Capítulo 9
Estou esperando
Capítulo 10
Apenas você - PARTE I
Apenas você - PARTE II
Capítulo 11
O que você quer?
Capítulo 12
Padrinhos reservas
Capítulo 13 - Na maioria das vezes
Capítulo 14 - Confia em mim?
Capítulo 15 - Ombro amigo
Capítulo 16 - Dia estranho
AVISO IMPORTANTE!!!
Capítulo 17
Capítulo 18 - Deus, que confusão!
Capítulo 19 - Escolha do coração
Capítulo 20 - O que você quer de mim?
Capítulo 21 - Eu juro que vou conseguir
Capítulo 22 - Sabor de vingança
Capítulo 23 - Time adversário
Capítulo 24 - Vencer a partida
Capítulo 25 - Minha principal meta
Capítulo 26 - Eu te amo
Capítulo 27 - Eros e Psiquê
Capítulo 28 - Grata surpresa
Capítulo 29 - Dia ensolarado
Capítulo 30 - Acima do bem e do mal
Capítulo 31 - Bem até demais
Capítulo 32 - Que comece o primeiro tempo!
Capítulo 33 - Não brinque com fogo
Capítulo 34 - A vingança vem a cavalo
EPÍLOGO

Enquanto dure

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By LucyBerhends

O sono foi embora. Em meio a um turbilhão de pensamentos a última coisa que conseguiria era fechar os olhos e dormir. Como poderia, se vou ter que bancar a grande mãe e ter uma conversa chata, porém necessária com Guilherme e Antônia?

Será que aqueles dois pelo menos estão se prevenindo contra uma gravidez precoce?

Além de tudo, ainda tem Eros. Basta conhecer um pouco dele para saber que não vai deixar minha escapada barata. Que merda, não entendo o motivo de eu ficar com a consciência queimando desse jeito, se ele foi o único a fazer planos para o dia seguinte.

Não são os homens que usam as mulheres e no outro dia jogam fora como se fosses objetos descartáveis? Por que não posso simplesmente fazer o mesmo?

Apenas porque você não consegue esquecer cada carícia, cada toque e olhar, o desejo flamejante que seu corpo sentiu e ainda sente pelo dele, a angústia que faz seu coração palpitar mais rápido com a presença daquele homem, seus pensamentos conflitantes que não encontram outra direção.

Ok, acho que já estou entendendo por que não consigo desligar Eros da minha vida como já fiz facilmente com outros homens.

Depois de tomar um banho, pensar, pensar e pensar um pouco mais, decido ajudar dona Marlene a preparar o café e esperar os meninos para ter uma conversinha particular. Fico me perguntando que tipo de desculpa Antônia deu ao pai para que ele a permita vir para cá em um dia de semana.

– Os meninos ainda estão dormindo, dona Marlene?

Abro um bocejo e estico os braços como se tivesse acabado de acordar. Na verdade, começo a ficar com sono, mas não consigo desligar minha mente a ponto de relaxar. Ela está me consumindo.

– Devem estar no quarto. Eu encontrei algumas roupas de Antônia jogadas pela sala e coloquei para lavar. Espero que ela tenha trazido outras. Esses meninos são tão impetuosos. Não conseguem esperar para chegar ao quarto.

Oi? É isso mesmo que estou ouvindo? Dona Marlene está falando com a naturalidade de quem sabe o que está acontecendo. Eu devo ser igual a marido traído: a última a saber. Quer dizer, nesse caso, o pai dela será o último.

– Então já faz algum tempo que Antônia e Gui dormem juntos?

Ela continua preparando o café como se eu tivesse lhe perguntando se vai chover ou fazer sol hoje. Pensando bem, tenho certeza de que será chuva torrencial a qualquer momento.

– Eles são jovens, bonitos e cheios de vida. Não seria natural que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde? Não tem muito tempo que comecei a desconfiar, mas ultimamente sempre tenho encontrado algumas peças de roupas no caminho. Eu as tiro antes que você apareça, claro.

Do jeito que ela fala, parece que eu sou a bruxa má das histórias infantis que impede um lindo casal de ser feliz quando, na verdade, eu apenas quero proteger eles dois da ira do meu tio Joaquim.

– Por que a senhora faria isso? É lógico que quero vê-los felizes, embora sejam ainda muito jovens para decidirem o futuro. Eu tinha que saber desde o início para lhes dar conselhos, dona Marlene.

– Minha filha, e você acha que eu não já fiz isso? Guilherme é um rapaz determinado e sabe o que quer. Eles já estão se cuidando. Eu tive uma conversa de mulher para mulher com Antônia e percebi o quão madura é para sua idade. Não haverá complicações. Deixe que eles se divirtam.

Deus, o que há com o mundo? Parece tudo tão simples pela forma que ela coloca, mas só eu sei que não é bem assim. Na verdade, Gui e Antônia também sabem que não.

– Quer dizer que já resolveram tudo sem precisar da irmã mais velha se intrometendo. Eu posso apenas colocar minhas pernas para cima e relaxar porque nada de ruim vai acontecer, não é mesmo?

– Sabe do que você precisa realmente, minha filha? Amar. Como diz que vai dar conselho a seu irmão, se provavelmente ele entende muito mais de amor com tão pouca idade do que você? Acho tão triste vê-la passear com um monte de rapazes bonitos e não se apegar a nenhum deles.

Touché. Eu sei que não posso discursar sobre amor e essas coisas todas do coração, quando ainda não experimentei esse sentimento com um homem. Contudo, quem disse que a conversa precisa ir por esse caminho?

A maldita imagem de Eros me possuindo com gana, vontade, preenche minha mente de novo. Não posso negar o quanto ele mexe comigo de forma tal como nenhum outro já conseguiu. Eu nunca amaria um bastardo cretino como ele, mas confesso que gosto da adrenalina em meu sangue quando está próximo a mim.

– Um dia eu encontrarei o amor, dona Marlene, e viverei esse sonho cor-de-rosa que a senhora tanto insiste em desenhar. Acontece que no momento preciso me preocupar com assuntos mais práticos, como o pai de Antônia, por exemplo.

Quase derrubo a jarra de leite quando ouço a voz grossa do meu irmão, me questionando.

– O que tem o pai de Antônia?

Eles descem as escadas juntos, minha priminha com ar desconfiado, sem aquele sorriso frouxo tão peculiar dela.

– Sentem-se primeiro e tomem seu café. – eles o fazem, um ao lado do outro, sentindo que o clima está um tanto pesado. – Por que está aqui durante a semana, Antônia? Seu pai permitiu?

Ela olha para Gui, procurando a segurança de que precisa para iniciar a conversa. Ele lhe dá um olhar tranquilizador, acenando positivamente.

– Ele... ele foi agressivo comigo ontem e eu tive que sair de casa.

Meu sangue ferve por saber que ele continua o mesmo crápula de sempre. Deus, o que ele inventou dessa vez?

– Houve algum motivo especial?

Ela respira fundo, olhando para o teto, perdida em pensamentos.

– Meu pai quer que eu conheça o filho de um banqueiro com quem ele está fazendo acordos. Diz que já está na hora de planejar meu futuro antes que me deixe levar pela paixão e acabe nos braços de um perdedor qualquer.

Bato na mesa, raiva me consumindo. Como ele pode ser tão asqueroso? Que tipo de homem ainda vende sua própria filha em pleno século XXI?

– Meu Deus, ele está passando dos limites. E tia Ester não fez nada?

– Você sabe como ela é, Linha. Ela não tem coragem nem forças para brigar com meu pai, então acaba concordando com tudo que ele diz. Eu não quero acabar como ela.

– Nem vai. – Gui me surpreende com sua impulsividade. – Antônia ficará aqui conosco pelo tempo que for preciso até aquele velho baixar a guarda. Se ele decidir que ela não precisa mais voltar, melhor ainda. Ela fica para sempre.

Ah, tudo é tão fácil na mente de dois adolescentes, não? Por que a gente simplesmente não vai passear na floresta, procurar frutas pelo caminho, sem ter medo do lobo mau?

Gui é o extremo contrário do que eu sempre fui. Ele é apaixonado e sonhador. Eu sempre tive meus dois pés presos ao chão desde que me entendo por gente. Talvez Eros tenha ajudado a me dar essa porção de realidade na infância. Desde cedo descobri o quanto as pessoas podem se aproveitar, se você tiver um coração mole.

– Terminem o café de vocês e depois podemos conversar com mais calma.

Eles assentem, mantendo um silêncio incômodo, enquanto comem quase forçadamente. Dona Marlene alisa os cabelos de Gui e ele lhe oferece um sorriso fraternal. Ela senta-se conosco e me desafia com o olhar. Deus, ela mima demais meu irmão a ponto de estragá-lo. Apesar disso, todos nós a amamos como parte da família.

– Obrigada. – sussurro para ela que solta um beijo no ar. – Vou para a sala, meninos. Quando terminar, me encontrem lá.

Gui rola os olhos como o garoto imaturo que é, incapaz de reagir bem a uma conversa séria. Antônia parece um tanto tímida, mas balança a cabeça, concordando.

Me jogo no sofá com tudo, sentindo a maciez do estofado ceder ao meu peso. Eu ainda tenho que ler o contrato e dar uma resposta rápida a Eduardo Nóbrega, além de resolver algumas pendências a respeito da viagem de Apollo.

Dona Marlene ainda fala em amor. Me conte onde pode haver espaço para amor em uma vida tão tumultuada como a minha.

Verifico as mensagens do meu smartphone, percebendo que recebi algumas de clientes, amigos que não vejo há algum tempo, outras de Apollo me perguntando se cheguei bem e mais algumas de Mandi, me questionando sobre a programação do dia.

Desligo o aparelho quando percebo que minha prioridade número um está chegando na sala, de mãos dadas com a prima, de queixo erguido como se estivesse pronto para me enfrentar. Quanta evolução! Vamos ver se ele é tão maduro assim para lidar com as consequências de suas escolhas.

– Quer dizer que vocês dois estão namorando.

Talvez minha pergunta tenha saído mais amarga do que eu gostaria. Eu preciso controlar esse meu jeito porque se for isso que eles querem de verdade, preciso dar apoio.

– Olha, Paula, eu não vou deixar você nem ninguém atrapalhar meu lance com Antônia. Eu gosto dela e ela de mim. Isso é tudo o que importa.

Sinto uma ponta de orgulho em vê-lo defender com tanta veemência aquilo que ele quer. Uma reação negativa é melhor do que nenhuma, não é mesmo? Eu consigo ver como uma evolução para quem sempre foi tão apático depois de perder nossos pais brutalmente.

– Ei, eu não estou contra vocês. – esboço um sorriso. – Eu também amo os dois demais e aprecio a determinação de vocês, mas as coisas não são assim tão fáceis. Já pensaram como tio Joaquim vai reagir a essa novidade?

– Eu quero que ele se exploda. – Gui diz, em tom agressivo.

– É assim que pretende enfrentá-lo, Guilherme? Vai mandá-lo se explodir e todos os problemas do mundo estão resolvidos? Lembrem-se que vocês são menores de idade e que ele é o pai de Antônia, independente do que você diga. Ele não vai deixar essa história tão barata.

– Não vai mesmo. – ela diz, se lamentando. – Ele vai fazer um inferno ainda maior quando vir que estou fazendo minhas próprias escolhas. Eu amo Guilherme, Linha, e sou capaz de fazer qualquer besteira se ele não me deixar viver esse amor.

Ah, o amor. Esse é o tal sentimento que fazem as catracas do mundo girarem.

– Vocês ainda são muito jovens e inexperientes para falar em amor. Os sentimentos podem ser confundidos quando se está na adolescência. O que precisamos pensar agora é numa estratégia para convencer seu pai a permitir esse namoro.

Guilherme me surpreende quando começa a rir. Eu não estou gostando do tom do seu riso, pois ele parece bastante irônico, sarcástico.

– E quem está falando sobre amor é a Miss Não Quero Me Apegar. O que eu vejo, Paulinha, é uma mulher que troca de namorado como quem troca de roupa por medo de se deixar levar por um sentimento tão bonito. Pelo menos estamos nos permitindo descobrir se é amor ou não. E você, que experiência tem para avaliar o que sentimos um pelo outro?

Estou pasma. Esse rapaz todo cheio de si em minha frente é realmente meu irmãozinho que mal abria a boca e se trancava para o universo?

Ele não compreende que meu mundo sempre girou em torno de crescer profissionalmente para lhe dar segurança, de ser como uma espécie de mãe no momento que ele precisasse, que sempre quis dar orgulho aos meus pais mesmo que já não esteja entre nós?

Como se lesse meus pensamentos e, ao perceber que me deixou sem reação, ele continua.

– Minha irmã, não estou falando isso para lhe ofender. Eu te amo e não tenho dúvida alguma desse sentimento. – ele brinca. – Você é a melhor, sempre foi, mas nada do que faça vai tomar o lugar de nossa mãe. Puxa, você só tem vinte e cinco e muitas vezes parece uma senhora mais velha. Se permita amar, sentir, se entregar a uma relação mesmo que quebre a cara depois. Não queira olhar pra trás e se arrepender do que deixou de viver, no futuro.

Lágrimas enchem meus olhos. Poucas vezes senti vontade de chorar. Essa é uma delas.

Eu tentei ser uma boa mãe para ele? Sim.

Eu deixei com que minhas responsabilidades falassem mais alto do que qualquer fio de voz que meu coração tentasse expressar? Sim.

Ele tem razão em cada mínima palavra que está me deixando chocada, sem resposta? Sim, sim, sim.

– Eu também te amo tanto, Gui. – ele caminha em minha direção e Antônia o acompanha. Quando menos percebo, estamos em um enorme abraço de urso em meio a risos e choro, com dona Marlene também entre nós. – Você tem razão. Eu não sou a nossa mãe.

Vamos encontrar um jeito de lidar com o pai de Antônia. Parece que um peso sai das minhas costas ao perceber que não preciso resolver nada sozinha. Meu irmão está se tornando um homem capaz de encarar suas próprias responsabilidades e só preciso estar aqui para dar apoio.

Agora como irmã.

***

Meu coração está aflito.

Não sei dizer se essa aflição é porque daqui a alguns instantes eu serei apresentada a todos como advogada chefe do Avantes Esporte Clube ou se meu coração está apertado pela expectativa de rever Eros.

Eu não o vejo desde o dia que saí de sua casa escondida, sem lhe dar explicações muito menos ouvir a conversa definitiva que tanto insistia em me lembrar. Fiquei surpresa depois de alguns dias quando não o vi bater na minha porta ou me deparei com ele no escritório de um modo intempestivo.

Talvez seja melhor assim, não é mesmo? Para que insistir em algo que está fadado a não dar certo?

– Pronta para conhecer a diretoria e os jogadores do clube, Paula? Você fez a escolha certa em aceitar minha proposta. É jovem, bonita e tem uma brilhante estrada a percorrer pela frente.

Eu não consigo entender onde "jovem" e "bonita" se encaixam nesse contexto. Se eu não fosse tão jovem e ele me considerasse feia, não teria a mesma chance de ser uma boa profissional?

Pesando bem suas palavras, ele disse que vai me apresentar aos jogadores do clube como eu já imaginava. Essa é a confirmação de que estarei cara a cara com Eros e essa certeza já começa a me corroer em antecipação.

– Claro, Eduardo. Nasci pronta. – Brinco, tentando disfarçar o nervoso que me consome.

Em uma espécie de auditório, Eduardo Nóbrega me apresenta a cada um da diretoria que sorri e me recepciona respeitosamente, me apresenta a cerca de mais três advogados do clube com quem vou trabalhar e cita o nome de cada jogador, dando-lhes uma atenção especial nas apresentações.

– Paula será o braço direito de vocês assim como tem sido impecavelmente com Apollo. Apesar da pouca idade, acho que todos temos muito o que aprender com ela, uma vez que esteve à frente de uma das maiores negociações do esporte mundial.

Eduardo continua com seu discurso que deixaria qualquer advogado soberbo ainda mais cheio de si, mas eu não sou do tipo que me deixo comprar por meia dúzia de palavras. O som de sua voz fica longe quando meu olhar encontra o de Eros.

Não está na primeira fila, entre os jogadores, nem faz questão de ser visto do lugar onde está, mas não há como fugir. Um magnetismo surpreendente me puxa para ele sem me dar qualquer escolha senão encontrá-lo mesmo que esteja a metros de distância.

As batidas de meu coração estão mais fortes, sinto um estranho arrepio em minha espinha e algo apertado que eu posso denominar como saudade, já que desse sentimento eu entendo muito bem.

– Por favor, venham até aqui cumprimentar a nova grande aquisição do Avantes. Paula Moraes, seja bem-vinda ao clube.

De um em um, os jogadores vem até mim, aperta minha mão e diz alguma frase receptiva. Percebo em alguns deles sinais de interesse bem familiares. Já estou acostumada com os homens tentando se aproximar de alguma forma e sei reconhecer todos os trejeitos e sorrisos sedutores que me julgam como uma possível conquista.

– Será um grande prazer tê-la conosco, Paula. – Um deles diz, em seguida beija minha mão suavemente e pisca o olho para mim.

Finjo que estou levando na brincadeira, pois não pretendo manter uma imagem de alguém inacessível e de nariz em pé. Quero me mostrar disponível para o que eles precisarem no âmbito profissional.

Meu olhar encontra o de Eros novamente. Ele não parece feliz com a minha chegada ao clube ou outro motivo o está irritando. É impressão minha ou ele está com ciúmes dos seus próprios companheiros de clube?

E impressão sua, Paula. Ele sequer a procurou depois que você saiu de sua casa sem se despedir. Talvez nem mesmo se lembre da tal conversa definitiva que queria ter com você no outro dia.

Melhor assim. Já que vamos ter que conviver um com o outro, não precisamos misturar as coisas. Ele será apenas a lembrança do melhor sexo que já tive na vida e eu serei apenas mais uma conquista dentre tantas que ele pode enumerar.

Eros se aproxima de mim, mas ao contrário dos outros, seu sorriso tem uma pitada de sarcasmo e ameaça. Ele aperta a minha mão com bastante força, sem desviar seus olhos cristalinos dos meus e, como se estivesse apenas me cumprimentando, sussurra de modo que só eu posso escutar.

– Espero que esteja se divertindo hoje, Butterfly. Eu não pretendo tornar seus dias nada fáceis aqui no clube.

Engulo em seco pelo tom de sua ameaça ao mesmo tempo que meu corpo reconhece o perfume inebriante capaz de despertar todos os meus sentidos. Ele leva minha mão para sua boca e deposita ali um beijo suave que tem o poder de enervar o meu sangue, me levando a quase mendigar por sentir mais do seu toque.

Sinto-me confusa por um segundo sem entender se suas palavras representam uma ameaça de vingança por ter saído de sua cama sem dizer adeus ou uma promessa de sedução.

Eu não sei qual das duas me afetaria mais e nunca tive dúvidas de que meu trabalho não será nada fácil somente por saber que estou tão perto dele.

Eros é fogo.

Paixão.

Loucura.

E começo a ver todas as minhas convicções caírem por terra nesse exato momento. Penso rapidamente na possibilidade de me entregar a esse misto de confusão que ele representa. Certamente não posso colocar amor na equação, porque confiar o coração a Eros é o mesmo que entregar as ovelhas ao lobo. Ele vai fazer pedacinhos na primeira oportunidade.

Outros jogadores me cumprimentam com entusiasmo, mas já estou no modo automático como se apenas meu corpo estivesse ali e aquele maldito tivesse levado minha alma com ele.

Depois das apresentações, Eduardo me leva até a enorme sala onde será meu novo escritório. Ela é maior do que todo meu escritório anterior que ficava na Avenida Paulista e ainda abrigava Mandi e Andrei, meus estagiários.

– A sala te agrada? Você acha que vai precisar de mais alguma coisa? Sua estagiária terá total liberdade de solicitar aos funcionários tudo que for preciso para que você se sinta acomodada e equipada para fazer seu trabalho.

Olho à minha volta e percebo algumas estantes com pastas de arquivo disponíveis, três computadores de última geração à minha disposição, um frigobar e uma máquina de café expresso que, para mim, é como o paraíso na terra.

– Obrigada, Eduardo, está perfeita. Se eu precisar de algo mais, entro em contato.

Ele se aproxima de mim com o olhar um tanto enrugado, carregado de segundas intenções, pega minha mão e aperta forte enquanto alisa seu polegar levemente. Eu não gosto desse contato. Preciso deixar claro para ele que não deve confundir as coisas, pois nunca me tornarei seu brinquedinho particular.

– Deixe-me saber se precisar de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo. Não hesite em me procurar.

Eu não me intimido pelo fato dele ser meu chefe ou o escambau que seja. Ofereço-lhe um olhar desafiador, aperto sua mão ainda mais forte e prendo seu polegar em movimento, fazendo-o parar.

– Tenho certeza de que é um homem muito ocupado, então só pretendo incomodá-lo se sua atenção for indispensável para resolver qualquer assunto. Não é para isso que você me paga, Sr. Nóbrega?

Ele ri, puxando sua mão ao perceber que estou impondo limites entre nós. Fico feliz por ele ser um bom entendedor ou não hesitaria em esclarecer com todas as letras.

– Os advogados vão te deixar a par dos últimos acontecimentos no clube. Tem o caso da morte de Alexandre que ainda não foi desvendado também. Quero que você se inteire sobre o assunto. Até breve, Paula.

– Até. – Respondo com um aceno.

Respiro aliviada quando me vejo sozinha naquela sala, pronta para começar a ler alguns arquivos postos sobre a mesa e analisar alguns processos de compra e venda de jogadores.

Estou entretida com a leitura de um deles que trata da compra de um jogador argentino, mundialmente conhecido. Já havia lido algo nos jornais sobre essa possibilidade, mas nada que chamasse minha atenção. Esta será uma transação milionária, então, agora que estou do outro lado da força, não posso deixar nenhum ponto que prejudique o clube passar despercebido.

Ouço três batidas na porta, mas antes que eu diga qualquer coisa, ela se abre e uma certa estagiária mais que animada aparece em seguida. Sorrio com o jeito bem-humorado de minha amiga, mas o sorriso não demora muito tempo em meu rosto porque o senhor de todas as confusões passa por ela, invadindo a sala.

Eros Nóbrega está diante de mim, soltando faíscas no olhar, me deixando apreensiva e armada novamente. Respiro fundo e levanto o rosto para enfrentá-lo. Independente do que o traga aqui, preciso disfarçar meu nervoso, embora meu coração teime em bater mais rápido do que uma metralhadora.

– Você pode ir, Mandi. Eros deve ter algum assunto importante para falar comigo.

A vadia da minha amiga sorri e pisca o olho antes de deixar a sala de um modo sugestivo. Levanto-me da cadeira e dou a volta na mesa, sem deixar de encará-lo. Cruzo os braços diante do peito e levanto a sobrancelha, com um olhar inquiridor.

– Pois não, Eros. Em que posso te ajudar?

Ele elimina a distância entre nós, se aproximando a ponto de me fazer perder as forças, me desarmar, me deixar tão nervosa que eu não consiga me manter sobre minhas pernas.

– Você gostou de ser o centro das atenções na frente daquele bando de lobos famintos? Gostou de saber que está sendo disputada por todos os jogadores solteiros e até mesmo alguns casados? Está feliz por me provocar sabendo que eu não podia mover uma unha porque você se nega a se tornar minha?

Bom Deus, do que esse homem está falando?

– Foi por isso que você disse que meus dias não serão fáceis aqui no clube?

– Você acha que será fácil conviver com a única mulher que eu quero em minha cama se tornando alvo de conquista para todos os homens à sua volta? Por que eu tornaria sua vida fácil se a minha não será nem um pouco?

– Você está com... ciúmes?

Sou cada vez mais um poço de confusão. O que ele quer dizer exatamente?

– Sim, inferno. Eu estou morrendo de ciúmes, de tesão, de frustração. Ao contrário de você, não faço questão nenhuma de esconder meus sentimentos e estaria até disposto a lutar contra eles, se você não deixasse claro toda vez que me aproximo que me quer também.

– Eu-eu não...

– Pare de negar, Butterfly. Seu corpo te trai, seus olhos falam por você, sua respiração é vacilante e seu coração... – ele estende a mão, depositando sobre meu peito esquerdo. – bate tão forte que parece reconhecer sem sombra de dúvidas a quem pertence.

Eros me encosta contra a mesa e prende sua mão em minha nuca, esmagando seus lábios nos meus com desejo, necessidade, brutalidade. Esqueço-me de onde estou e me entrego à paixão daquele beijo que tem o poder de me tirar do chão, me enfeitiçar, querer sempre mais dele.

Não sei quanto tempo nos mantemos ali presos um no outro como se ninguém mais no mundo existisse além de nós dois. Naquele momento, decido calar qualquer voz racional em minha cabeça e tomo uma decisão com o coração.

Vou parar de negar o que meu corpo tanto anseia. Vou parar de lutar contra o inevitável. Eu nunca fui tão feliz nos braços de qualquer outro homem como quando estou nos braços desse estúpido jogador. E quem não busca a felicidade?

Eu quero e vou dar uma chance à felicidade. Nem que seja enquanto dure.

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