Enquanto dure

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O sono foi embora. Em meio a um turbilhão de pensamentos a última coisa que conseguiria era fechar os olhos e dormir. Como poderia, se vou ter que bancar a grande mãe e ter uma conversa chata, porém necessária com Guilherme e Antônia?

Será que aqueles dois pelo menos estão se prevenindo contra uma gravidez precoce?

Além de tudo, ainda tem Eros. Basta conhecer um pouco dele para saber que não vai deixar minha escapada barata. Que merda, não entendo o motivo de eu ficar com a consciência queimando desse jeito, se ele foi o único a fazer planos para o dia seguinte.

Não são os homens que usam as mulheres e no outro dia jogam fora como se fosses objetos descartáveis? Por que não posso simplesmente fazer o mesmo?

Apenas porque você não consegue esquecer cada carícia, cada toque e olhar, o desejo flamejante que seu corpo sentiu e ainda sente pelo dele, a angústia que faz seu coração palpitar mais rápido com a presença daquele homem, seus pensamentos conflitantes que não encontram outra direção.

Ok, acho que já estou entendendo por que não consigo desligar Eros da minha vida como já fiz facilmente com outros homens.

Depois de tomar um banho, pensar, pensar e pensar um pouco mais, decido ajudar dona Marlene a preparar o café e esperar os meninos para ter uma conversinha particular. Fico me perguntando que tipo de desculpa Antônia deu ao pai para que ele a permita vir para cá em um dia de semana.

– Os meninos ainda estão dormindo, dona Marlene?

Abro um bocejo e estico os braços como se tivesse acabado de acordar. Na verdade, começo a ficar com sono, mas não consigo desligar minha mente a ponto de relaxar. Ela está me consumindo.

– Devem estar no quarto. Eu encontrei algumas roupas de Antônia jogadas pela sala e coloquei para lavar. Espero que ela tenha trazido outras. Esses meninos são tão impetuosos. Não conseguem esperar para chegar ao quarto.

Oi? É isso mesmo que estou ouvindo? Dona Marlene está falando com a naturalidade de quem sabe o que está acontecendo. Eu devo ser igual a marido traído: a última a saber. Quer dizer, nesse caso, o pai dela será o último.

– Então já faz algum tempo que Antônia e Gui dormem juntos?

Ela continua preparando o café como se eu tivesse lhe perguntando se vai chover ou fazer sol hoje. Pensando bem, tenho certeza de que será chuva torrencial a qualquer momento.

– Eles são jovens, bonitos e cheios de vida. Não seria natural que isso acontecesse mais cedo ou mais tarde? Não tem muito tempo que comecei a desconfiar, mas ultimamente sempre tenho encontrado algumas peças de roupas no caminho. Eu as tiro antes que você apareça, claro.

Do jeito que ela fala, parece que eu sou a bruxa má das histórias infantis que impede um lindo casal de ser feliz quando, na verdade, eu apenas quero proteger eles dois da ira do meu tio Joaquim.

– Por que a senhora faria isso? É lógico que quero vê-los felizes, embora sejam ainda muito jovens para decidirem o futuro. Eu tinha que saber desde o início para lhes dar conselhos, dona Marlene.

– Minha filha, e você acha que eu não já fiz isso? Guilherme é um rapaz determinado e sabe o que quer. Eles já estão se cuidando. Eu tive uma conversa de mulher para mulher com Antônia e percebi o quão madura é para sua idade. Não haverá complicações. Deixe que eles se divirtam.

Deus, o que há com o mundo? Parece tudo tão simples pela forma que ela coloca, mas só eu sei que não é bem assim. Na verdade, Gui e Antônia também sabem que não.

– Quer dizer que já resolveram tudo sem precisar da irmã mais velha se intrometendo. Eu posso apenas colocar minhas pernas para cima e relaxar porque nada de ruim vai acontecer, não é mesmo?

Eros: Quando a paixão entra em campo (lançamento disponível na Amazon)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora