- Então sua mãe não morreu, os conselheiros de seu irmão, estão tentando roubar o trono e nós estamos mortos? - ela perguntou, com a cabeça deitada em meu peito.
Era bom tê-la ali. Fiz o possível para não chamar a atenção quando a carreguei até minha cabine e, graças ao cara emproado, Evelyn tinha sua própria cabine, o que reduziam meus problemas.
- É. E eu me tornei um fora da lei. - respondi, mexendo em seu cabelo, que ainda estava molhado graças ao banho que ela havia tomado.
- Fora da lei não é uma palavra que combine com você.
- São três palavras. - a corrigir rindo, o que fez com que eu levasse um beliscão.
- Eu quis dizer que não parece afrescalhado o suficiente. Você tem mania de fazer tudo ser mais complicado do que deve ser. Achei que iria escolher uma palavra mais enfeitada para você. - explicou. - Tem alguma palavra assim que diz a mesma coisa?
- Deixa eu ver... - comecei a procurar em minha memória uma palavra que correspondesse as expectativas dela. - Rebelde é muito simplório. Insurgente muito usado pelos militares. Preciso de algo único, como eu. - disse, provocando uma risada nela. - Que tal, contumaz?
- O que é isso? - perguntou, ainda rindo.
- É alguém que age com rebeldia. Alguém teimoso, também usado para aqueles que se nega a pagar por seus crimes.
- Gostei. Contumaz. É bem sua cara. Teimoso, cabeça dura e agora um "criminoso".
- Sou perfeito, não é? - perguntei, tirando ela do meu peito para deitá-la no travesseiro.
Lhe arranquei um sorriso ao enterrar meu rosto em seu cabelo e a apertando em um abraço, mesmo não considerando aquilo um aperto de verdade. Estava com tanto medo de causar algum dano, que eu comecei a tratá-la como uma boneca de porcelana.
- Tem mais alguma coisa que esqueceu de me contar ou isso é tudo? - perguntou, ainda com aquele ar de cansaço.
- Evelyn. - disse com cuidado. - O bebê não é meu.
Sentir o corpo dela ficar tenso, então a larguei e me afastei um pouco para que pudesse olhar para ela e ela também pudesse me ver.
- Eu tentei te explicar. Mas você ficou tão zangada e eu tão desesperado. Evelyn chegou grávida em Etama, mas demorou um pouco para ela descobrir. Eu nunca toquei nela, a única vez que a beijei foi na minha festa.
- Isso é verdade?
O olhar que ela me lançou foi ao mesmo tempo, para mim, reconfortante e doloroso. Eu podia ver que ela queria acreditar em mim e aquilo aquecia meu coração, mas ver a dor em seu olhar me fez pensar em quão ruim deve ter sido para ela, talvez tão ruim como foi para mim, que passei a noite bebendo a agindo de maneira irrefletida ao quarto de meu irmão. Aquele era um dos momento em que você fica dividido. Eu não podia dizer que, se pudesse, voltaria no tempo e mudava tudo, porque, por mais que a amasse, eu não conseguiria colocar Evelyn numa situação ruim com seu tio e, pela primeira vez na vida, me odiei por tentar ajudar os outros. Se eu não o fizesse, meus problemas se reduziam quase a nada.
- Eu não mentiria pra você. Pode me perguntar qualquer coisa e eu te respondo.
- Victória morreu? - perguntou com aquela expressão que dizia que ela já sabia a resposta da sua pergunta.
- A peça de Thomas? Lamentavelmente, sim.
- Você bebeu naquela noite, não bebeu? - me perguntou, mordendo os lábios.
- Muito, mais do que achei que conseguiria aguentar.
- Tentou proteger ela, assumindo o bebê?
Respondi que sim, balançando a cabeça.
- Já tinha estado com alguém antes de mim?
Novamente assenti, com medo de onde aquilo poderia nos levar.
- Com quem? - perguntou, perdendo um pouco da força na voz.
- Algumas. - fiz uma pausa pra limpa a garganta. - Algumas garotas.
- Você... Você dormiu com alguma delas?
- Tem certeza que quer falar sobre isso?
- Responde.
- Sim. - respondi a contra gosto. - Eu dormi com algumas. Mas foi antes de você, bem antes.
- Sou só mais uma delas? Mais uma garota que você beija e que quer levar pra cama para depois me esquecer?
- O que? Não! - respondi, me sentando na cama, a encarando. - Que absurdo. Elas nunca significaram nada para mim. Sei que pareço pior ainda por falar assim, mas é verdade. Eu era um adolescente a flor da pele com várias mulheres a minha disposição fazendo de tudo para está com um cara como eu. A única mulher por quem eu cheguei a sentir algo antes de você era três vezes mais velha que eu, casada e eu era uma garoto de treze anos. É mais que óbvio que eu nunca tive nada com ela. Você não é uma delas para mim. - disse, tocando em seu queixo para que olhasse para mim. - Eu não arriscaria tudo o que arrisquei se você não fosse especial para mim. Eu não estaria aqui, meu amor. Eu te amo. Sei que amo e não adianta virem me passar um sermão de que você não pode saber se ama alguém apenas com o tempo em que nos conhecemos, porque eu sei que isso não tem haver com você ser linda, ou com algo que eu possa sentir por você. É o que eu sei, o que conheço, são as somas de tudo que vi em você, suas atitudes, suas qualidades, sua história e o que vivemos juntos. São detalhes e não tão detalhes assim. É você, sou eu, somos nós. Essa sintonia estranha como quando se mistura dois ritmos distintos e se cria algo totalmente novo e envolvente. Eu te amo, Danitria. Não tenha dúvida sobre isso, porque eu não tenho.
E nesse momento ela me surpreendeu, pois achei, que depois de ter digo algo assim, eu, no minimo, teria uma garota me puxando para junto dela e me cobriria de beijo, mesmo que não tenha sido esse o meu objetivo em dizer aquelas palavras. Mas tudo o que ela fez foi sorrir, com o rosto levemente corado, o que era possível de se ver, já que um mês sem o sol tocando-lhe a pele a deixou pálida.
- Você nunca tinha tido que me amava. - disse, fazendo com que eu erguesse uma sobrancelha.
- Eu te chamo de amor a um bom tempo. - respondi, tentando entender o que ela estava tentando dizer com aquilo.
- Não e a mesma coisa. Foi a primeira vez que disse com todas as palavras...
Então eu sorrir e mesmo sem entender o que ela queria dizer com aquilo, porque entendi o que eu podia consegui com aquilo. Aquele sorriso no rosto dela, aquilo era algo o que eu queria ver sempre e se acrescentar duas palavras insignificante, formando uma pequena frase que a fazia feliz, fosse tudo o que eu precisava fazer ele aparecer, eu não me importaria de o dizer sempre.
- Tem certeza? - perguntei, me deitando ao seu lado, voltando a abraçá-la.
- Uhum...
- Certo, foi a primeira. - concordei, beijando a linha de seu maxilar, próximo a orelha, junto a onde eu queria chegar, afim de poder sussurrar as minhas próximas palavras. - mais não vai ser a última vez que vai me ouvir dizer que eu te amo, porque eu te amo, me amo e não importa o quão redundante isso pareça.
- Você está me dando uma lição de português? Sério? - perguntou, se contorcendo de rir.
- Assim você acaba com o clima. - reclamei, mas pra brincar com ela do que por está chateado. Eu estava fazendo aquilo pelo sorriso dela, então ela podia o fazer a vontade.
Nunca me sentir tão bem quanto quando dormir com Danitria em meus braços, mesmo que soubesse que o mundo em terra firme estava um caos e que eu teria, em breve, que encarar a realidade novamente, eu não me neguei o prazer de aproveitar aquele momento.
De manhã a levei até o deque, onde encontraríamos comida e fingir não ver como todos nos olhavam. Evidente que todos notaram que eu não estava apenas protegendo a noiva de meu irmão, mas ninguém se atrevei a dizer nada, nem minha mãe, para quem evitei olhar durante todo o café da manhã.
Evelyn manteve distância, me enviando sorrisos sempre que nossos olhos se encontravam e Jack foi correndo saber como estava a garota que fez com que eu tentasse matar ele. Não deu tempo de impedi que ele falasse sobre, nem de me explicar para Danitria, já que o menino começou falar como uma matraca, fazendo todos que conheciam a estória rir.
Estavam ali conosco, Otávio, Luís e Adam. Beatriz havia ficado em Pontas e o resto ali eram do que estavam com minha mãe. De relance a vi rindo ao me ver brincando com Jack o que só me deixou mais zangado ainda.
Comi um pouco e só não sair da mesa porque queria que Danitria se alimentasse direito e se eu levantasse, sabia que ela ficaria preocupada e iria querer saber o que estava acontecendo, já que, quando contei que minha mãe estava viva, eu não havia falado o que eu sentia sobre aquilo.