- Capítulo 16 -

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A viagem dentro de um contêiner não é lá muito confortável. Usei um respirador para ter oxigênio o suficiente até Fortal, o que demorou mais tempo que o esperado. Estava quente, quase como e uma sauna, e, apesar de não haver muita turbulência, a altitude nunca me fez muito bem. Duas horas de voo e em fim fui recepcionado por um pelotão armado.

Meu coração disparou, mesmo que nenhuma arma tivesse sido apontada para mim. Minha presença foi automaticamente ignorada, sem nem ao menos alguma ação suspeita da parte dos jaguares. Alguns deles apenas entraram no contêiner e começaram a descarregá-lo. Eu que já vestia a uma farta com a insignia do pelotão, tive apenas que me juntar a eles. Ninguém fora do contêiner notaria um homem a mais.

O comboio que os acompanhava era formado por seis automóveis, onde quatro carregavam os homens na parte traseira e outros dois que eram apenas para a carga. Peguei uma caixa onde estava estampada a palavra frágil. Provavelmente medicamentos, o que me fez lembrar da minha primeira semana com a resistência, quando invadimos um quartel para consegui mais G6 para Danitria. Faziam quase dois meses e eu já não conseguia chamar nossos homens de rebeldes, eles eram a resistência, e os jaguares, que eu costumava chamar de nossos homens, agora eram peças em um jogo de ascensão diferente do que eu estava acostumado a jogar. Um jogo que transformou um príncipe em um fugitivo.

- Você aí. - um homem gritou, vindo em minha direção. - Essas caixas vão naquele carro ali. Cuidado com isso!

- Vamos homens, não temos o dia todo! - gritou outro jaguar. Um homem baixo, mas que impunha respeito.

Enquanto caminhava na direção do carro, em todas as vezes em que ia e vinha com um caixa ou duas, eu observava tudo em nossa volta. A pista aérea era a mesma em que havia acontecido o atentado em que eu poderia ter perdido a vida junto com todas as outras peças.

Busquei em minha mente as imagens daquele dia. A aeronave em chamas, pessoas correndo, Danitria caída no chão e como, sem nem me aperceber do que estava fazendo, corri até ela para tirá-la dali. Lembrei do rosto assustado de Evelyn, das ordens gritadas por Thomas e do medo de perder Danitria, tanto para a morte como para meu irmão. Naquele mesmo local havia um grupo grande de homens ajudando a descarregar um contêiner, que fingiam não me ver, mas do lado de fora haviam homens que realmente não tivessem me visto, me reconhecido. Tamanho era meu nervosismo que eu conseguia sentir o suor escorrendo por minha costa.

A aeronave quem trouxera o contêiner em que eu estava pousou em frente a um dos galpões, bem longe do prédio da base e por isso o comboio era necessário. Assim que carregamos os caminhões, fomos em direção a base, e essa era a base que realmente me preocupava.

- Um jaguar desleixado como você chamaria muita atenção. - resmungou uma garota ao meu lado, que puxou meu rosto e começou a pentear meu cabelo para trás, com os próprios dedos.

- Um jaguar muito bonito e elegante também chamaria a atenção, não? - questionei, abaixando a cabeça para que ela pudesse trabalhar melhor.

- Ande normalmente, mas sem parecer ser o dono do mundo. Você é um jaguar e não um príncipe. Não se esqueça disso. - continuou falando sem dá importância a minha provocação.

- Não preciso que me deixe mais nervoso ainda.

- Relaxa, vai dá tudo certo. Você está comigo. Alias, você fica bem de barba, mas assim que isso tudo terminar, tira ela. Faz você parecer um lenhador.

- Então você tem uma queda por lenhadores, Beatriz? - perguntei, arqueando uma sobrancelha, tentando parecer menos nervoso, em vão.

- Também senti sua falta, alteza.

Beatriz era a única que eu reconhecia no pelotão, talvez por ser a única que estava disfarçada, como eu. Todos os outros eram jaguares de verdade, com treino, patentes e coisas do tipo e por isso eu não me sentia tão confiante. Eles até poderiam está do nosso lado, mas isso me deixava intrigado com a real segurança em tempos de paz. Os homens da resistência se infiltravam nas forças armadas mesmo antes de eu ter sido dado como morto. Não seria também fácil outros se infiltrarem, outros inimigos que poderiam realmente querer nosso mal?

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora