Coração Gelado

By JaneViesseli

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Fria, cruel e calculista, era assim que Jane Volturi sempre fora conhecida. Por onde passava sua fama a prece... More

O Intruso
O Camaleão
Primeira Missão
Refeição
A Criança Imortal
O Moinho
Roubando o Lugar de Confiança
Turbulência - Parte I
Turbulência - Parte II
A História de Maximilian
Nervos à Flor da Pele - Parte I
Nervos à Flor da Pele - Parte II
Entre Cores e Flores, o Despertar de Alec
Lidando com Heidi
Notte Rossa
A Descoberta
O Primeiro Flash
Pressentimento
Desentendimento
Tudo o que Vai...
...Volta!
Redemoinho
A Viagem
Fragmentos de Jane
O Relicário da Despedida
Enquanto Espero...
Emboscada
Agora Estamos Quites
Sussurros no Vento
Andrômeda
Histórias Ocultas
Investida
Que Vença a Melhor Vampira
A Origem do Verdadeiro Poder
A Franqueza do Sentimento
Addio, Volterra! - Parte I
Addio, Volterra! - Parte II
A Eternidade que Nos Espera

Acomodando-se

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By JaneViesseli

Maximilian observava os corredores curiosamente enquanto caminhava, acompanhando as explicações claras e rápidas de Alec, que estava a apenas alguns passos a sua frente. Conforme andavam, portas e mais portas surgiam em seu caminho, sendo apresentados como os quartos dos integrantes da Guarda. Não que eles realmente necessitassem de uma cama, de sono ou de descanso, mas a eternidade os ensinou que a privacidade era muito bem-vinda, seja para praticar seus hobbies, para pensar, maquinar o mal ou para aplacar sua luxúria.

E a cada quarto avistava, Alec voltava seus olhos para trás, retornando-os para a frente no segundo seguinte, como se não quisesse ser pego em flagrante. Ele ainda estava bravo pelas acusações do camaleão contra sua irmã e frustrado pelos ataques que não surtiram efeito no grande salão, porém, não podia negar sentir curiosidade quanto aos segredos e poderes que tanto encantaram o seu mestre.

À frente da dupla estava Jane, caminhando com velocidade humana e constante. Sua postura era imponente e calma, contudo, sua mente estava furiosa com as acusações descabidas daquele estranho. Maximilian acompanhava seu andar com atenção, era impossível desviar sua mente de uma criatura tão adorável e ele a admirou até que desaparecesse do corredor, adentrando sua área particular, seu quarto.

O novato cogitou segui-la, num primeiro impulso, mas seu guia parou algumas portas antes, chamando sua atenção para o que, dali em diante, seria o seu novo quarto. Ele tenta conter um rosnado frustrado, entrando rapidamente no quarto que lhe era indicado antes que Alec resolvesse questionar seu comportamento.

O cômodo era grande e extremamente vazio, com apenas alguns móveis feitos de mogno. Tinha uma estante vazia, um armário, uma escrivaninha com uma cadeira e uma cama larga, com cobertas tão bem esticadas que Maximilian duvidou que um dia fora usada.

― Belo quarto – sussurrou, mais para si mesmo do que para o seu guia.

Havia tanto tempo que ele não dormia num quarto de verdade... Quer dizer, ele tinha uma pequena casa em sua terra natal, que mudava o nome do proprietário uma vez ou outra somente para despistar a sociedade humana, mas que na verdade nunca deixou de ser dele. Entretanto, o vampiro estava tão ocupado em seguir sua criadora e, depois, tão empenhado em encontrar Jane, que nunca dormira em seu interior uma noite sequer.

Alec, depois de fechar a porta atrás de si, observava o rosto passivo do novo Volturi, enquanto ele olhava o local com certa admiração. Aquele semblante lhe pareceu familiar por um momento e, sem que pudesse controlar a própria língua, ele disse:

― Se precisar de algo para compor o seu quarto, ou para matar o tempo, basta me dizer... Quero dizer, já que estou responsável por lhe mostrar o aposento, não me custará nada conseguir algumas coisas. – Tenta se explicar.

O Volturi vira-se de costas, como se quisesse partir, mas sem realmente sair do lugar. Sua testa se enruga de repente, ao mesmo tempo em que se perguntava o que estava fazendo. Desde quanto se tornara tão prestativo? Desde quando se importava com o conforto dos outros?

― Acho que eu iria gostar de alguns livros – diz Maximilian, rompendo os devaneios de Alec. – Essas estantes parecem mortas, acho que se preencher esse lugar vai parecer mais normal... Mais vivo!

― Mais vivo? – repete o outro vampiro com sarcasmo, voltando-se para encará-lo.

― Acho que poderia preencher esta estante com livros, a mesa com uma luminária, papéis e canetas, o armário com algumas roupas legais, tipo jaquetas de couro ou roupas que me façam parecer um bad boy – continua, sem se deixar interromper. – O que acha, Alec?

Maximilian estava de costas para o gêmeo Volturi, apontando para os móveis como se já pudesse ver os objetos de que falava ali, e, naquele final, quando fizera a pergunta, sua cabeça tombou levemente na direção do vampiro mais novo, dando-lhe um sorriso tão gentil e verdadeiro que fizera o corpo de Alec recuar dois passos.

Novamente uma onda de familiaridade atinge o vampiro. "O que acha, Alec?", a pergunta ecoou em sua mente como uma lembrança há muito esquecida, acompanhado de imagens anuviadas de alguém que conversava com ele a muito tempo atrás.

O vampiro mais velho desfaz seu sorriso gentil, substituindo-o por um sorriso irônico, e, sem interromper os devaneios que sabia que Alec estava tendo, começa a utilizar seu dom novamente. O calor característico dos humanos começa a tomar conta de sua pele, enquanto seu cheiro dominava o ar e se alastrava por todo o cômodo.

Alec respira profundamente o cheiro do novo integrante da Guarda, aquilo não surtia nele o mesmo efeito que na irmã, mas, ainda assim, o vampiro levou as mãos à cabeça como se sentisse uma forte tontura. Não se tratava de tentação à fragrância ou de sede, tudo o que ele queria era se livrar daquelas sensações estranhas de familiaridade, de querer acolhê-lo bem, de afeição... Afeição? Não, aquilo era impossível, não era permitido a um Volturi se afeiçoar a alguém, não era permitido criar laços, pois isso resultava em misericórdia e um Volturi não podia ter misericórdia.

― O que foi, pequeno Alec? – questiona o camaleão num sussurro, colocando a mão direita nos cabelos do vampiro e os bagunçando como se fosse uma criança. – Parece que se lembrou de alguma coisa...

― Não sou pequeno! – explode Alec subitamente, batendo contra as mãos que lhe acariciavam e encarando-o de maneira raivosa. – E pare de bagunçar meus cabelos, levei muito tempo para arrumá-los!

Maximilian sorri, soltando uma leve risada, enquanto Alec arregalava os olhos assustado e tentava se recompor. O gesto, a fala, tudo aquilo desencadeou nele um comportamento que a muito estivera escondido em seu subconsciente. Contudo, àquela não era uma conduta comum para ele, não pertencia ao Alec imortal, o que estava acontecendo? Será que o vampiro a sua frente tinha algum tipo de magia que não fora descoberta por seu mestre? Será que o estava enfeitiçando?

― Certas coisas nunca mudam – comenta o novato distraidamente, novamente com aquele sorriso gentil. – Você continua o mesmo Alec que conheci...

Conheceu? O novato realmente o conheceu? Antes mesmo de seu mestre e antes da transformação? Tudo parecia tão confuso, a mente de Alec parecia girar com o cheiro humano que ele exalava, com a maneira de agir, com aquelas frases estranhas e com as influências que ele parecia causar em sua mente...

Alguns passos foram recuados lentamente, enquanto pensava, e somente quando as costas do vampiro tocaram a porta de madeira, foi que ele retornou para o presente. A essa altura, Maximilian estava recostado ao parapeito da única e imensa janela do quarto, com a testa colada no vidro fumê, que não condizia com o ambiente rústico do castelo, provavelmente sendo colocado ali para que pudessem se aproximar sem que o Sol os denunciasse. Sua mente estava longe, lembrando-se de algo que era desconhecido ao outro vampiro, e a camuflagem já havia sido suspensa, permitindo que o cheiro humano diminuísse e que seu guia colocasse a mente no lugar.

― Você me conheceu quando ainda era humano? – perguntou Alec num sussurro, como se àquele fosse um assunto proibido, como se pudesse esconder tal pergunta dos vampiros nos quartos ao lado.

― Sim – responde, saindo de sua viagem ao passado e retornando ao quarto. – Você e Jane... Os gêmeos!

― Eu não me lembro de você – continua Alec. – Jane realmente lhe fez alguma promessa?

― Sim, ela fez...

Houve um silêncio e nenhum deles se moveu por longos minutos. Alec já se preparava para sair quando se lembrou de algo, de mais uma pergunta.

― Então você é um camaleão... – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

― Sou. Posso sair ao Sol, chorar como humanos e andar ao lado deles sem que notem minha natureza estranha, tornando minhas caçadas ainda mais fáceis.

― E isso aqui? – Aponta para própria cabeça, atraindo a atenção do rapaz na janela. – É algum tipo de feitiçaria? Essa confusão em minha cabeça faz parte do seu poder? – Franze a testa em confusão.

― Não. – Pausa. – Acho que você não tem pensado muito no passado ultimamente, não é?

― Pensar no passado é bobagem.

― Isso em sua cabeça são apenas lembranças de sua vida humana... São nubladas e confusas, mas ainda assim são lembranças do que você um dia já foi. Fazem parte de você, deveria pensar no passado um pouco mais ou acabará se esquecendo dele.

― Pensar no passado é bobagem! – repete com um pouco mais de firmeza. – Humanos são fracos, vermes capazes de trair seus semelhantes... Não tenho que me lembrar de uma vida tão medíocre! – Sobe o tom de voz, sentindo um forte tom de amargor acompanhar suas palavras.

― Não precisa se lembrar da vida, somente daquilo que lhe foi importante.

― A única coisa importante pra mim, partilha a eternidade ao meu lado e se chama Jane! – rosna. – Sou um vampiro, os humanos não passam de refeição para mim e brincar com seus medinhos insignificantes é a minha vingança pelo que me fizeram.

― Alec, saia daí imediatamente e retorne para o seu quarto – ordena Jane do outro lado da porta, seu tom era autoritário, ela realmente não estava gostando da forma com que o estranho mexendo com seu irmão.

― Sim, Jane! – concorda ele, sempre obediente à irmã como Maximilian se lembrava, porém, ele não se retira prontamente. – Você diz que nos conhece e fala sobre lembrar-se de coisas importantes, mas nem eu e muito menos Jane nos lembramos de você... – Pausa, apenas para ter certeza de que ele estava prestando atenção. – Isso quer dizer que você não é importante... Para nenhum de nós!

O vampiro se retira do quarto sem reverências ou despedidas, apenas abrindo a porta de madeira e quase a arrancando do lugar, batendo-a atrás de seu corpo gélido. E ali, no silêncio de seu novo aposento, Maximilian voltou a olhar para o lado de fora da janela e retomou sua camuflagem humana, deixando que seu cheiro de quando era mortal impregnasse o cômodo e uma lágrima solitária escorresse por seu rosto agora quente, pois aquela era a única forma que tinha de colocar para fora a dor que agora o consumia.

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