Apostas do destino

De MihBrandao

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Depois do trágico acidente que matou seu pai, Luna se vê obrigada a mudar de cidade com a mulher que consider... Mais

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 - Parte I
Capítulo 35 - Parte II
Epílogo
Capítulo bônus

Capítulo 28

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De MihBrandao

- Você... sabe? - Falei automaticamente.

Vovó ficou um tempo me olhando, como se de repente tivesse se arrependido do que tinha falado.

- Eu não sei o nome, mas conheço o rosto. - Ela finalmente disse devagar, escolhendo as palavras. - Eu sei quem é.

- Como ele é? - Insisti.

- Sinto muito, meu bem, mas isso eu não posso te dizer.

Franzi levemente minha testa.

- Como é que é?

- Eu não devia nem ter falado que eu sei... eu não tenho o direito. Isso faz parte do seu destino, eu não posso me intrometer.

Por algum tempo eu não soube o que responder.

- É alguma pegadinha?

- Não, Luna. Existem coisas que eu não posso revelar, mesmo sendo assim tão importantes...

- Vovó, ele era meu pai! Eu tenho o direito de saber quem o matou!

- E você vai saber. - Ela falou quase apavorada, em tom de defesa. - Mas não por mim...

Fiquei a olhando por um tempo, tentando colocar meus pensamentos em ordem.

Meu pai foi assassinado. Fato. Depois de um mês com a certeza de que o culpado era Diogo, vovó me diz que eu estou errada. Okay. Ela sabe definitivamente quem foi o assassino, mas não quer me contar.

Como ela pode fazer isso?

- Você está mentindo. - Falei baixo.

- Não, Luna. Eu não estou. Eu não sou mentirosa.

- Parece que o dinheiro dele foi capaz de mudar seu caráter, então.

Vovó arregalou os olhos como se o que eu disse foi a coisa mais absurda que ela já ouvira.

- Foi isso, não foi? Ele te pagou pra mentir pra mim.

- Luna, você não está entendendo, me escuta... - Ela se aproximou pra segurar minha mão de novo, mas eu me levantei de repente me afastando dela.

- Você não sabe de nada! Não tem dom nenhum! Tudo o que você faz é enganar as pessoas em troca de dinheiro! - Eu estava gritando como um louca, como se minha vida dependesse disso. - Você não se importa com ninguém, não é? Nada importa pra você, apenas você mesma!

- Querida, você não sabe o que está dizendo... - Ela se levantou pra se aproximar, mas eu me afastei de novo.

- Fique longe de mim! - A essa altura minha voz já estava embargada por causa das lágrimas que eu estava lutando pra esconder.

Engoli em seco e respirei.

- Ele era seu filho. - Falei mais calma dessa vez. - Que tipo de humana você é, vovó...? Que tipo de mulher é capaz de mentir pelo assassino do próprio filho em troca de dinheiro?

As lágrimas escorreram, mas eu fingi não notar.

- Se ele estivesse vivo, teria vergonha de você. Meu pai era maravilhoso... ele não merecia uma mãe assim.

Ela não disse nada. Devia estar chocada demais por eu ter descoberto tudo tão rápido.

Me virei e fui para o meu quarto, me esforçando mais que o necessário pra manter minhas pernas firmes.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Meu travesseiro estava molhado pelas lágrimas, mas ainda assim elas não paravam de escorrer.

Como ela pôde...?

Abraçada ao travesseiro, eu enterrei nele minha cabeça e chorei tentando não fazer barulho.

Eu achei que ela era uma boa mulher. Uma mulher tão boa, que Deus resolveu abençoá-la com um dom raro e precioso... um dom que ela não possui. Porque ela não é boa. Ela é um monstro. Minha vida está cercada de monstros sem alma, sem sentimentos, sem coração. Cercada de mentiras...

Minha mente parecia máquinas a todo vapor, sem descanso.

Mentirosa... eu devia ter percebido desde o começo. Não deve existir no mundo alguém mais idiota que eu...

Minha mente hesitou por um momento quando uma lembrança tomou meu pensamento.

"Eu só precisei de um segundo pra saber tudo sobre a aposta..."

Ela sabia sobre a aposta... ele contou a ela sobre a aposta também?

Era uma lembrança secundária, mas foi o suficiente pra eu controlar minhas lágrimas e me sentar na cama.

Eu se ela estivesse falando a verdade? E se ele não tivesse pagado a ela pra mentir?

Espera... Diogo seria idiota o suficiente pra confessar para uma mãe que tinha matado seu filho e ainda lhe oferecer dinheiro pra ela mentir sobre isso?

Não fazia sentido...

No dia que eu cheguei... eu sorri da maneira mais convincente possível, mas mesmo assim ela percebeu instantaneamente que eu não estava bem.

Seria possível que fosse apenas um chute, um tiro no escuro, que ela coincidentemente acertou?

Forcei minha mente a recordar memórias a longo prazo. Algo que me convencesse de que ela não mentira pra mim. Algo que me fizesse acreditar que Diogo amava seu pai o suficiente pra não cogitar a ideia de matá-lo por dinheiro.

O balão... era um lugar sagrado porque foi o último presente que seu pai lhe deu. A casa na árvore... ele construiu com seu pai.

Como poderia não amá-lo?

As lágrimas voltaram a escorrer em meu rosto, mas dessa vez por um motivo diferente.

"O que ele sente por você é a mais autêntica, pura e inocente forma de amor. Quem é capaz de sentir algo assim não é capaz de tirar uma vida."

Ah, droga... o que era real? O que era ilusão?

Minha mente estava tão confusa...

Então, em meio a pensamento embaralhados, eu tive uma ideia.

Eu precisava ter certeza absoluta. Precisava de uma prova de que ela realmente era uma pessoa honesta, incapaz de mentir. Uma prova que ela realmente tinha dons.

Respirei fundo e quando consegui controlar minhas lágrimas, saí do quarto.

Eu sabia que estava tarde pra ela ainda estar acordada, mas já tinha passado tempo o suficiente ali pra saber que ela não deixava a luz da cozinha acesa quando ia dormir.

Bem, a luz estava acesa.

Encontrei minha avó sentada em uma cadeira, com as mãos entrelaçadas sobre a mesa.

Ela levantou os olhos pra mim quando eu entrei.

- Por que ainda não foi dormir? - Perguntei com a voz fraca por causa do choro.

Parei perto da porta.

- Estava te esperando.

Balancei minha cabeça devagar.

- Você sabe o que eu vim fazer aqui?

- Me testar. - Ela sequer precisou pensar pra responder.

Okay. Isso ela poderia ter chutado.

- Eu não contei isso a ninguém, mas quero que você me responda... qual foi o último lugar que eu visitei antes de vir pra cá?

Vovó fechou os olhos por um segundo, então me olhou novamente.

- O cemitério. Visitar seus pais.

- Alguém te contou isso? - Minha voz falhou.

- Não. - O tom de sua voz era firme e cortante. - Apesar de que algumas pessoas podem saber onde você esteve, tem uma coisa que ninguém sabe. - Ela se inclinou sobre a mesa. - Sua mãe te ouviu. E você sabe disso, porque quando estava conversando com ela, de alguma maneira, você a sentiu.

Um arrepio percorreu minha espinha e automaticamente eu levei minha mão à boca.

O vento...

Eu me lembro que naquele momento eu considerei sim essa ideia, mas não achei que fosse possível.

Como minha avó poderia saber... se ela não tivesse o dom?

Meu rosto se contorceu, dando boas vindas à nova enxurrada de lágrimas.

- Ei... - Vovó se levantou e veio me abraçar. - Tudo bem, querida. Não precisa chorar.

Mas eu sabia que precisava sim.

Duvidei da honestidade da minha avó, sendo que ela era a pessoa mais honesta que eu já tinha conhecido. Julguei Diogo por um mês inteiro quando ele era inocente.

Como não precisaria chorar?

Abracei minha avó apertado, escondendo meu rosto em seu ombro.

- Me desculpa... eu sinto muito, vovó.

- Shhh... eu sei. Tudo bem.

- Ele não matou meu pai. - Minha voz saiu estrangulada, embargada. Estava difícil falar.

Um mês. Eu duvidei do caráter de Diogo durante um mês. Nicolas, Sofia, Luciana... provavelmente até sua própria mãe. Todos enganados. Todos errados. Todos julgando um garoto inocente, que assim como eu e Nicolas, lamentava amargamente a perda do pai...

Como isso pôde acontecer?

- Não, ele não matou... - Vovó sussurrou acariciando meu cabelo. - Shhh...

- Eu sinto muito... - Falei de novo.

- Eu também, meu bem. - Vovó beijou minha cabeça. - Eu também...

Permanecemos abraçadas até que eu me acalmasse. Vovó teve paciência em esperar.

Por fim, eu me afastei e olhei pra ela.

- Houveram tantas pistas, vovó... - Murmurei com a voz fraca. - Pistas que não me deixaram dúvidas de que tinha sido ele. Até o irmão dele acredita que ele é o assassino. Como isso pôde acontecer? Como pode existir tantas pistas que apontam pra ele se ele é inocente?

- No mínimo, todas essas provas têm uma explicação.

Funguei, pegando a pequena foto queimada no bolso de trás da minha calça.

- Olha isso. - Eu disse estendo a foto pra ela. - O irmão dele achou isso no quintal da casa deles depois do acidente. Ele disse que Diogo estava queimando as provas do homicídio e deixou isso passar despercebido. - Minha voz tremeu.

Uma nova onda de lágrimas estava se formando em meus olhos, mas eu resolvi ignorar.

- E você acredita que Diogo seria tão imprudente se fossem realmente provas? - Vovó perguntou estudando a foto. - Ele poderia estar queimando o resto das coisas do seu pai depois que a perícia pegou o que precisava. Isso é normal, querida. - Ela me devolveu a foto. - Ele poderia estar limpando o escritório em que seu pai trabalhou e queimou o que não iria mais usar.

Respirei fundo sentindo a culpa me dilacerar.

Como eu não pensei nisso antes?

- O irmão dele acertou o fato de que o pai de vocês foram assassinados por dinheiro, mas errou na hora de identificar o assassino. - Vovó segurou minha mão, a que não estava ocupada com a foto. - Você confia nele?

- No Nicolas? Claro, vovó. Ele é meu melhor amigo.

- Então siga seu coração. Ele vai te ajudar a descobrir o verdadeiro assassino.

- Como? Por favor, vovó... só me diz como. - Implorei.

Minha avó passou a mão em meu rosto com um sorriso carinhoso, mas tenso.

- Você vai saber, meu bem. Na hora certa, tudo vai se encaixar.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

- Gustavo me ligou. - Jessy disse enquanto arrastava minha mala de rodinhas pela rodoviária movimentada de Castanheiras. - Mandou um abraço pra você.

Eu sorri.

- Ele é um bom amigo. Pena que não conseguimos nos despedir.

Haviam se passado um dia completo e mais uma noite desde que eu tivera a conversa reveladora com minha avó.

Logo que amanheceu fomos procurar passagem pra voltar pra Colatina, mas só encontramos pro dia seguinte.

Okay. Hoje era o dia seguinte.

- Seu celular está carregado? Dizem que precisa deixar celulares novos carregando por 24 horas na primeira vez. - Jessy falou.

- Deixei ele carregar a noite inteira. Não foram 24 horas, mas foi o suficiente.

- Não se esqueça de me ligar quando chegar lá. - Vovó me avisou do outro lado.

- Por falar em ligar, você já ligou pra ele? - Jessy perguntou.

- Não. Ainda tenho três dias. É tempo suficiente.

- Meu bem, acho que vocês têm muito o que conversar. Não se esqueça que em alguns espaços da viagem o celular perde área. Não deixe pra ligar quando estiver chegando lá.

- Bem pensado, dona Antônia.

- Tá, vovó. Eu vou ligar mais tarde.

Paramos na área de embarque e eu conferi a hora.

07:48.

Meu ônibus estava previsto pra 08:00.

- Você se alimentou direito? - Vovó perguntou colocando a maleta de mão no chão ao seu lado.

- Sim.

- Luna, acho melhor você comprar algo pra comer na viagem. Não se esqueça que agora você come por dois. - Jessy sorriu, um sorriso cúmplice.

Olhei pra minha barriga e sorri também.

Passei o tempo inteiro me perguntando de que jeito eu poderia contar a Diogo que ele seria papai. Imaginando qual seria sua reação.

É claro que Nicolas também não saiu da minha cabeça.

Agora que eu estava voltando, era definitivamente impossível manter minha gravidez em segredo por mais tempo. Sendo assim... qual seria sua reação também?

- Eu vou comprar alguma coisa. - Jessy disse e se afastou sem esperar resposta.

- Querida, você está bem? - Vovó perguntou pegando minha mão.

Balancei minha cabeça.

- Só um pouco nervosa.

- Memórias.

Eu a olhei.

- O que?

- Você me perguntou como iria descobrir. Lembranças vagas, recordações pequenas. Tanto em curto quanto em longo prazo. Você vai se lembrar e descobrir quando estiver na frente do assassino do seu pai.

Meu coração deu um salto.

- Na frente? Eu vou ficar frente a frente com ele?

Vovó balançou a cabeça.

- Mas não se preocupe. O que é dele está guardado.

- Como assim?

- Eu espero que você goste de coxinha. - Jessy disse voltando com uma sacola parda e um refrigerante na mão. - Era o único salgado que tinha.

Continuei olhando pra minha avó por um tempo, então percebi que ela não iria responder minha pergunta.

Me virei pra Jessy tentando ignorar a sensação sufocante pairando sobre mim.

- Está ótimo, obrigada. - Forcei um sorriso.

- Disponha. Tente comer regularmente entre três e três horas. É bom fazer seu estômago se acostumar a comer por dois.

Dessa vez meu sorriso foi sincero.

- Vou me lembrar disso.

O auto-falante da rodoviária anunciou a chegada do meu ônibus.

- Parece que está na hora de dizer tchau. - Vovó falou com um tom de tristeza bastante perceptível.

Sorri.

- Nem é tão mau assim, vovó. Eu não fazia muita diferença mesmo, dormindo mais do que ficando acordada com você.

Ela deu de ombros.

- Fazer o que? Me acostumei a sentir sua presença.

Eu a abracei.

- Obrigada por tudo. Se tiver algo mais pra me dizer sobre... você sabe... me liga.

No fundo eu sabia que ela não iria me ligar.

- Você é mais forte do que pensa, Luna. Ficará surpresa quando descobrir isso.

Me afastei esperando perguntar do que ela estava falando, mas seu sorriso denunciou que isso era tudo o que ela iria dizer.

Suspirei e me virei pra Jessy.

- Quando eu me formar em medicina vou me mudar pra cuidar do seu pimpolho. - Ela sorriu.

- Isso vai ser ótimo. - Eu a abracei. - Você é uma ótima amiga, Jessy. Foi bom te conhecer.

- Esquece, flor. Você não vai me fazer chorar.

Eu ri.

- Diga ao Gustavo que mandei outro abraço. - Me afastei.

- Pode deixar.

Olhei pra vovó novamente. Ela estava com um sorriso triste no rosto, quase preocupado.

Respirei fundo e sorri.

- Então é isso. Foi bom passar esse tempo aqui.

- Boa sorte, Luna. - Jessy desejou com um sorriso sincero.

- Obrigada. - "Acho que realmente vou precisar."

Comprimi os lábios e me virei em direção ao ônibus.

- Luna. - Vovó me chamou de novo.

A expectativa me tomou, esperando que ela me daria mais alguma informação sobre a morte do meu pai. Olhei pra ela.

Vovó se aproximou e colocou a mão sobre minha barriga, então sorriu.

- Eu sei que mesmo que todo mundo se refira a esse feto como um menino, sempre sobra aquele suspense. Só pra garantir. É um menino. - Seu sorriso aumentou. - Um lindo e saudável menino.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Quase oito horas se passaram desde que eu saí da rodoviária. O ônibus já tinha feito cinco paradas para descanso. Eu já tinha me alimentado três vezes seguindo o conselho de Jessy... mas ainda não conseguia ter coragem para apertar a maldita tecla verde do celular.

O número estava na tela. Eu o tinha gravado na mente há muito tempo e não esquecera, então foi fácil digitar, mas a tecla que definia meu destino parecia a zona de tortura em que eu devia entrar querendo ou não.

E se ele tivesse mudado de número?

Faziam duas semanas que ele fora atrás de mim, mas talvez ele tenha cansado de esperar e mudou de número. Ou talvez esteja em uma reunião e não pode atender.

Ou, quem sabe, - esse pensamento me fez gelar - uma voz feminina atendesse ao telefone e me informasse que ele estava tomando banho ou dormindo...

Não. Ele disse que iria esperar. Eu precisava acabar com esse suspense.

Toquei a tecla e por um momento fiquei congelada olhando a tela do telefone.

"Calma Luna... Talvez ele nem atenda."

Levei o celular ao ouvido sentindo-o escorregar em minha mão suada.

Tuuuum...

Okay. Ele não tinha bloqueado meu número. Era um bom começo.

Olhei a paisagem que passava rapidamente do outro lado da janela ao meu lado e tentei controlar minha respiração.

Tuuuum...

E se ele desligasse quando ouvisse minha voz?

Ele não podia ignorar antes de saber quem era... ou será que ele costumava rejeitar números desconhecidos?

Eu estava tremendo.

Tuuuum...

Fechei meus olhos e respirei fundo.

Talvez sua demora fosse um sinal pra eu desistir. Talvez era o destino me avisando que...

- Alô.

Meus pensamentos se perderam quando ouvi sua voz serena e calma... exatamente como eu me lembrava.

Ele atendeu!!!

- Alô? - Dessa vez parecia mais impaciente.

- Oi... - Minha voz saiu num sussurro estrangulado.

Do outro lado da linha um silêncio gritante se formou, mas algo me dizia que ele não tinha desligado.

- Luna? - Ele falou uma voz rouca, quase engasgada. É claro que estava surpreso.

- É, sou eu... - Tentei soar naturalmente, mas esfreguei minha mão na saia do vestido pra secar o suor. - Você... quer dizer, estou atrapalhando?

Ele ficou em silêncio de novo.

Será que ele estava pensando em algum jeito de me dizer que sim sem me magoar?

Será que ele estava com outra?

Fechei meus olhos com força, esperando sua resposta.

- Você sempre soube que não me atrapalha. - Ele falou baixo, mas eu ainda notava o choque presente.

Não atrapalho...

Isso queria dizer alguma coisa?

- Pensei que... talvez... - Droga. Eu estava gaguejando. - Pensei que você estivesse... com outra... pessoa.

Ele suspirou.

- Achou que eu estivesse com outra mulher?

Mordi meu lábio inferior antes de responder.

- Sim... - Sussurrei.

- Isso seria meio difícil, já que eu não acho mais graça em nenhuma outra desde que uma certa garota me deixou.

Não encontrei nada inteligente pra responder.

- É claro que eu não estou reclamando, mas preciso perguntar... por que você me ligou, Luna?

Fechei os olhos.

- Por que eu... fui uma idiota. Eu não sabia o que estava fazendo e... bem, é uma história longa. Eu preciso conversar com você pessoalmente.

Eu sabia que essa conversa seria tensa. Com que cara eu chegaria pra ele e diria: "Larguei você porque poderia jurar que você tinha matado o meu e o seu pai por causa de dinheiro."?

- Conversar comigo pessoalmente? Quer que eu volte aí?

- Não, eu... estou voltando.

- O que? - A surpresa estava de volta em sua voz.

Sorri sem querer.

- Eu estou voltando.

- Voltando pra cá? Quer dizer... você está voltando pra mim?

Dei de ombros como se ele pudesse ver.

- Se você me aceitar...

Ele suspirou.

- Por favor, me diga que isso não é mais um sonho...

- Houveram muitos? - Meu coração apertou.

- Todas as malditas noites.

Ao fundo ouvi uma voz feminina: "Chefe, sua próxima reunião será em dez minutos."

- Eu já vou, Lorena. Peça ao Felipe para recepcionar os convidados.

"Sim senhor."

Se voltando pra mim...

- Quando você chega?

- Daqui a três dias, eu acho.

- Quer que eu te busque na rodoviária?

Olhei pra minha barriga e sorri, cobrindo-a com a mão.

- Não. Me espere na nossa casa da árvore. Quer dizer... o que aconteceu depois que... eu...

- Depois que você a destruiu completamente? - Ele sorriu. - Eu reconstrui. Achei que era tudo o que tinha me sobrado de você.

Respirei fundo. Parece que tudo ficaria bem, afinal...

- Tudo bem. Me espere lá. Eu tenho uma coisa pra te dizer.

- Eu também...

Franzi minha testa.

- O que?

- É uma surpresa. E tenho que te dar seu presente de aniversário atrasado. Tem certeza que consegue chegar lá sozinha?

- Vou de táxi. Já consegui chegar uma vez a pé, lembra?

- Claro. - Seu sorriso ainda estava presente, me contagiando.

- Diogo...

- Fala.

- Eu senti sua falta.

Ele respirou profundamente. Era quase com se ele fosse capaz de liberar tudo de ruim que existia entre a gente através da respiração.

- Você não tem ideia do quanto esperei pra ouvir isso... eu também, meu anjo. Senti muito sua falta.

Ficamos um tempo em silêncio.

- Eu te vejo em breve. - Falei.

- Estou te esperando.

Quando desliguei me recostei na poltrona e mordi meu lábio tentando sufocar o gritou que queria escapar.

É isso. Ele me esperava. Ele não tinha desistido de mim. Ele me amava.

Formaríamos uma família, afinal. Daquelas que brincam de pega-pega na beira da praia e faz piquenique debaixo de uma árvore na praça. Seríamos felizes.

Aliás, naquele momento eu poderia jurar que ninguém no mundo estava mais feliz do que eu.

Claro, eu não tinha me esquecido de que ficaria frente a frente com o monstro que matou nossos pais, mas eu teria Diogo e Nicolas comigo. O que poderia me assustar assim?

Adormeci, deixando que esses pensamentos embalassem meu sono.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

- Quem diria que um dia estaríamos assim... - Sofia diz ao meu lado, esticada em sua cadeira de praia.

Sinto o calor do sol banhando nossa pele e o cheiro de maresia. Um guarda sol colorido está aberto sobre nós, e, a alguns metros, Diogo e Nicolas brincam de correr com duas crianças. Um menino e uma menina.

- Eles são bons pais. - Respondo.

- E bons maridos. - Sofia ri. - Duvido que Diogo seja tão bom na cama quanto o Nicolas.

Faço uma careta.

- Menos detalhes, por favor. - Fecho os olhos e me permito ouvir as risadas e gritos deles correndo sobre a areia, misturadas com o barulho das ondas.

- Eles são lindos.

- Quem?

- Seu príncipe e minha princesa. - Sofia faz uma pausa, então volta a falar com a voz mais animada. - Já pensou se eles se casarem?!

Eu rio.

- Sofia, eles são primos.

- E daí? Minha tia se casou com o primo dela.

- Você nem tem tia.

- Dane-se. Eles ainda vão viver uma paixão daqui a uns quinze anos...

O balanço suave do ônibus me despertou.

Sorri. Eu não iria reclamar caso meu sonho se realizasse.

Lá fora, a noite havia caído. Do meu lado, uma mulher dormia tranquilamente. Devia ter chegado enquanto eu estava tendo o melhor dos sonhos.

Procurei meu celular e o encontrei caído entre as poltronas. Levei um susto quando liguei a tela. 01:56.

Isso significava que eu tinha dormido cerca de dez horas.

Também haviam duas ligações perdidas de Diogo, mas eu não retornei. É claro que ele já estava dormindo.

Liguei para o único outro número que eu sabia de cor. Sofia.

Estava sentindo uma vontade avassaladora de falar com ela, e não ficaria surpresa se ela ainda estivesse acordada.

Ela atendeu no terceiro toque.

- Adivinha quem é.

- Ah, até que enfim... estava me perguntando quando você iria voltar à vida.

Sorri.

A última vez que ouvi sua voz foram duas noites atrás, depois que ela convenceu Nicolas de que eu não poderia voltar com eles porque tinha mais três consultas marcadas.

É claro que ele não acreditou, mas também não discutiu. Ele disse que iria respeitar meu tempo e minha vontade. Não insistiu nem reclamou. Apenas aceitou.

Ele era bom. Me entendia até quando nem eu mesma conseguia.

- O que está fazendo acordada?

- Não te interessa, flor.

Revirei os olhos.

- Deixa de ser ridícula, garota. Eu sei que estava conversando com macho.

- Eu sei que sabe. Quem me conhece melhor que você?

Meu coração se animou.

- E por acaso esse macho seria... Nicolas?

Ela riu.

- Pirou de vez, é? Passou longe.

Desanimei.

- Foi só um chute. Sonhei que você se casava com ele e eu me casava com Diogo, e nós tínhamos...

- Espera. - Sofia me interrompeu. - O que você disse?

É claro que eu não esperava outra reação.

- No sonho eu me casava com Diogo.

Sofia não respondeu. Ficamos em silêncio até eu decidir abrir o jogo e falar tudo de uma vez.

- É o seguinte: minha avó não perdeu os dons dela, eu me enganei. Ela não percebeu nada sobre Diogo porque ele é inocente, Sofia. Esse tempo todo, todo mundo se enganou sobre ele. Ele não é assassino.

A mulher adormecida do meu lado se mexeu, encontrando uma posição melhor.

- Amiga, escuta. - Sofia disse devagar. - Eu sei que é difícil acreditar e eu entendo que sua gravidez tenha te deixado mais sensível sobre isso... mas não adianta tentar negar o que aconteceu. Você sabe a verdade, não dá pra fugir dela.

- Você não me entende. - Minha voz estava mais baixa pra eu não acordar a mulher. - As pistas que Nicolas encontrou têm outras explicações. Por isso não encontraram nada concreto que pudesse condená-lo. Eu sei, minha avó me disse.

- Uhum...

- Olha, eu sei que é difícil acreditar, mas você conhece minha avó, eu não estou inventando isso! Será que pode ficar ao menos um pouco feliz em saber que o pai do meu filho não é um monstro?

- Você tem certeza absoluta do que está dizendo?

- Claro, eu confio nela!

- Sendo assim... talvez eu ficaria mais feliz se você não tivesse feito o Nicolas prometer que se vingaria do "pai inocente do seu filho".

Meu coração gelou.

- O que...?

- Sabe, ele está levando muito a sério esse trabalho. Eu não ficaria surpresa se descobrisse que ele não dorme mais pra que tudo saia como ele quer.

Cada fio de cabelo do meu corpo se arrepiou.

- O que ele vai fazer?

- Não faço ideia. Ele disse que é melhor eu ficar fora disso.

- Você tem o número dele?

- Claro.

Menos de um minuto depois eu estava ouvindo o "tum... tum... tum..." no telefone.

- Hmm... - Nicolas resmungou grogue de sono.

Me senti aliviada ao saber que ele estava dormindo.

- Nicolas, sou eu. - Falei quase desesperada, embora baixo. - Eu preciso falar com você. Está acordado?

- Luna? - Ele estava despertando. - O que houve?

Respirei.

- Diogo é inocente.

Como Sofia, ele não me respondeu imediatamente.

- Como assim?

- Lembra que eu disse que minha avó perdeu os talentos dela? Eu estava enganada. Ela não viu que Diogo tinha matado nosso pai porque ele não tinha. Ele é inocente, Nicolas.

- Hm... calma, Luna. Não estou conseguindo acompanhar. E as pistas que eu te mostrei? E as provas que eu mesmo vi?

- Têm outra explicação. Quando eu chegar aí, vamos nos sentar todos juntos pra conversar. Diogo vai nos explicar por que tudo aponta pra ele.

- Como assim "quando você chegar aqui"?

- É, eu estou voltando.

Nicolas suspirou.

- Tem mais alguma bomba que você queira explodir?

Sorri.

- Mais uma só, mas vou deixar essa pra quando eu chegar.

- Ótimo. Agora você quer que eu acredite que odiei mortalmente meu irmão por três anos... por nada?

Comprimi meus lábios.

- Eu sei que é difícil entender, mas... é basicamente isso.

Nicolas riu.

- Desculpa, princesa, mas não dá pra eu acreditar numa coisa dessas. Eu sei o que descobri, não vou abrir mão disso.

- Nicolas, por favor, acredite em mim...

- Luna, me peça qualquer coisa, isso não.

Droga.

- Olha, eu sei o que você está sentindo. Eu também perdi meu pai, lembra? Eu só quero que você entenda que não foi Diogo quem os tirou da gente.

- E eu quero que você entenda que eu conheço ele a dezoito anos e desconfio dele a três. A quanto tempo você o conhece? Um mês?

Senti meu coração murchar.

-Dois.

- Você não sabe nada sobre ele, Luna. Não o conhece como eu.

Fechei meus olhos.

Como eu poderia convencer Nicolas de que eu estava certa?

Não tinha como. Não agora.

- Tudo bem. Só me faça um favor?

- Fala.

- Esquece a promessa que você me fez. Não faça nada até eu chegar aí. Por favor, não machuque ele.

- Quando você chega?

- Em dois dias e algumas horas, eu acho.

- Okay.

- Promete pra mim que não vai machucá-lo?

Nicolas respirou fundo.

- Prometo, Luna.

Quando eu desliguei meu coração estava tenso.

Nicolas não acreditou em mim.

Vovó disse que ele iria me ajudar a descobrir o verdadeiro assassino, mas como faria isso se já tinha declarado o veredito?

Abracei minhas pernas sobre a poltrona, encostei minha cabeça na janela e fechei os olhos.

Deixei minha mente relaxar.

Eu não queria pensar em nada, mas ainda assim, foi difícil pegar no sono.

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*

Dois dias depois desembarquei em Colatina, desci do ônibus e acompanhei o cobrador até o bagageiro pra pegar minhas malas.

- Fez boa viagem?

Meu coração vibrou quando ouvi a voz de Nicolas atrás de mim.

Me virei por impulso e joguei meus braços ao redor do seu pescoço, o abraçando com toda a minha força.

Ele riu e me envolveu, me tirando do chão e me rodopiando no ar.

Quando me soltou, tirou meu cabelo do rosto.

- Não acredito que você voltou...

- O que você está fazendo aqui? - Perguntei sorrindo.

- Diogo me pediu pra vir te buscar. Ele não confia em te deixar ir até a casa da árvore sozinha.

Minha testa franziu com a confusão.

- Vocês conversaram?

Nicolas balançou a cabeça.

- Eu fiquei frustrado com a sua ligação. Precisei tirar essas dúvidas de uma vez por todas.

- Então... quer dizer que... agora você acredita me mim?

Nicolas colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

- Eu nem sei o que devo sentir por ter corrido atrás de um assassino inexistente por três anos, mas sim. Me desculpe por ter duvidado.

Quase desmaiei com o alívio que senti.

- E a casa da árvore... ele te contou?

Nicolas sorriu.

- Princesa, tivemos dois dias pra conversar. Foi o suficiente pra gente resolver nossas diferenças.

Inspirei profundamente e soltei o ar de uma vez.

- Bem, eu ainda não estou conformado por você ter escolhido ele... - Nicolas continuou com um sorriso carinhoso. - Mas se esse for realmente o seu desejo, vou tentar ser um bom cunhado.

Eu ri.

O que mais eu poderia querer na vida?

Pulei sobre ele, passando meus braços em torno do seu pescoço e as pernas em seu quadril.

- Cuidado... - Ele disse rindo, me segurando. - Eu posso pensar que você mudou de ideia quanto a sua escolha.

Desci do seu colo rindo ainda mais.

- Você é o melhor amigo que existe no mundo, sabia?

- Claro. - Ele ainda estava sorrindo. - Só isso? - Perguntou apontando com o queixo para as malas que o cobrador tinha colocado no chão.

Fiz que sim com a cabeça.

- Como você sabia o horário que o ônibus chegaria? - Perguntei enquanto ele levava as malas para a Ferrari.

- Eu e Diogo acompanhamos o trajeto pela internet.

- Bastante prestativos.

- Sempre. - Ele sorriu abrindo a porta do carona pra eu entrar.

Depois de dar a volta, Nicolas se acomodou na poltrona ao meu lado e colocou o cinto.

- Me conte novidades... o que aconteceu na minha ausência?

- Sua mãe desapareceu do mapa, a polícia encontrou o carro de Ricardo e deu o caso como encerrado, Diogo passou a dormir todas as noites na casa da árvore... acho que é isso.

Levantei minhas sobrancelhas.

- Luciana desapareceu?

- Ela não aparece desde aquele dia no hospital. Meu palpite é que ela tenha raspado alguma conta no banco, apagado seus rastros e se mudado pra algum lugar distante. Europa, por exemplo.

Um sentimento desagradável pairou sobre mim.

Tudo bem que ela não era minha mãe e eu a odiava, mas como ela podia ir embora e me deixar sozinha assim? Ela prometeu pra Olívia que cuidaria de mim...

- Como ficou o caso do assalto? - Perguntei mudando de assunto.

- A polícia acredita que o assaltante queria apenas assustar Ricardo. Os ferimentos não foram tão graves pra convencê-los a sair por aí procurando quem os tinha feito. Parece que tinham algo mais importante pra fazer.

- E por que Diogo está dormindo na casa da árvore?

Nicolas me olhou por um instante, então se voltou pra estrada.

- Você não precisa mesmo que eu te responda isso.

Suspirei.

Realmente, eu não precisava.

Encostei minha cabeça na janela e deixei meus pensamentos vagarem. Ficamos em silêncio por vários minutos até Nicolas resolver quebrá-lo.

- Então... me explique direito essa coisa de intuição. Como sua avó soube que não foi Diogo?

- Eu não sei explicar muito bem. - Olhei pra ele. - Ela disse eu vou descobrir também, mas não foi ele.

Nicolas passou em frente sua casa e entrou na estrada de terra mais adiante.

Meu coração acelerava gradativamente com a expectativa de ver Diogo.

- Você vai descobrir? - Ele me olhou por um segundo. - Como?

- Memórias. - Dei de ombros. - Foi só o que ela disse.

Nicolas freou o carro e me olhou.

- Você quer dizer então que... no fundo você já sabe?

- É, acho que sim...

- Por Deus, Luna! Por três anos eu acreditei que Diogo fosse o assassino, e agora você me diz que sabe quem foi...?

- Ora, eu não tenho culpa. - Falei quase em tom de defesa.

Ele passou as mãos pelo cabelo.

- Tudo bem, desculpa. Eu não estou brigando com você, só... - Ele me olhou. - Por que você não pensa então? Se você vai descobrir por memórias, basta pensar, não é?

- E você acha que eu não tentei? Passei três dias inteiros tentando me lembrar de algo que me levasse ao assassino, mas não cheguei em lugar algum!

Nicolas respirou e balançou a cabeça.

- Tudo bem, vem cá. - Ele abriu a porta e desceu do carro.

Desci também.

- Nós ainda não chegamos.

- Você sabe como Diogo vai reagir quando souber quem matou nosso pai, não sabe? - Ele perguntou se aproximando de mim. - Ele vai querer justiça, não vingança. Vai querer que o assassino seja preso por dez, vinte anos no máximo e vai acabar por aí. Luna, esse desgraçado tirou nossos pais pra sempre, você entende? O que são vinte anos perto da eternidade?

Engoli em seco.

Nicolas tinha razão. Ele não merecia apenas alguns anos na prisão, ele merecia a eternidade no inferno.

- Então você quer que eu pense agora e descubra quem fez isso?

Nicolas balançou a cabeça.

- Por favor...

Respirei fundo e fechei os olhos.

Pela milésima vez, busquei lembranças adormecidas. Pensei nas noites em que meu pai chegava do trabalho, o que ele dizia... pensei nas vésperas da sua morte, das pessoas que foram no enterro...

- Não consigo. - Abri os olhos. - Não dá, Nicolas! Eu não me lembro de nada.

Nicolas segurou minha mão.

- Princesa, por favor... eram nossos pais. Pense em algo mais recente, sei lá. Se sua avó disse que você vai descobrir por lembranças, então elas estão aí dentro em algum lugar. Você só precisa encontrá-las. Por favor.

Pisquei algumas vezes.

Vovó disse que ele iria me ajudar. Ele estava fazendo a parte dele, então eu precisava fazer a minha.

Fechei os olhos novamente e Nicolas apertou delicadamente minha mão, me incentivando.

Por algum motivo, meus pensamentos se voltaram pra Diogo.

Me lembrei quando ele disse que seu pai tinha passado tudo em seu nome no testamento, mas ninguém sabia. Nicolas disse que ele matou seu pai porque sabia que ficaria com a herança. Nicolas mentiu? Por que?

Me lembrei do ódio que Diogo sentia dele. Sofia disse que era porque Nicolas tinha descoberto tudo, mas se isso não tinha acontecido... por que Diogo o odiava? Porque Nicolas estava acobertando o verdadeiro assassino? Isso não fazia sentido...

Não. Minha avó disse que Diogo me amava, então era lógico que ele não mentiria pra mim. Se ele disse que ninguém sabia sobre o testamento, então realmente ninguém sabia. Ela disse que nossos pais foram assassinados por dinheiro. Alguém que achava que poderia lucrar com a morte do pai de Nicolas e teria algum motivo pra ter raiva do meu pai...

Que ligação isso tinha?

Me lembrei então quando Diogo disse que começou a falir. Ele achou que teria que passar tudo para Nicolas, então o administrador - meu pai - o ajudou a levantar a empresa.

É isso. Aí estava a ligação.

Soltei a mão de Nicolas de repente e me afastei. Minha respiração entrecortada, meus olhos mais abertos que o normal, meu coração congelando...

- Você sabe? - Ele perguntou atento. - Descobriu quem é o assassino?

Eu não consegui desviar meus olhos dele. Minha boca estava aberta, mas ainda assim, o oxigênio não parecia ser suficiente pra mim.

- Foi... você. - Minha voz não passou de um sussurro.

Ele ficou me olhando por alguns segundos, então o cantos dos seus lábios se curvaram em um sorriso assustador. Um brilho estranho, que eu nunca tinha visto antes, surgiu em seus olhos.

- Bingo.

Do bolso do paletó, ele tirou uma seringa com uma substância azulada e a levou ao meu pescoço antes que eu pudesse pensar.

A picada ardente foi a última coisa que eu senti antes de tudo ficar escuro.

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