180 dias de Inverno

By luizacarvxlho

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Eles eram melhores amigos. Ele tinha um carinho imenso por ela e uma necessidade absurda de cuidar da mesma... More

Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
XII - Epílogo

Capítulo VIII

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By luizacarvxlho

Melany disse com tranquilidade, enquanto minha boca caia de surpresa, e eu pude ver os olhos de Harry fazerem o mesmo. Olhando isso, quis rir da cena. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Julian e Melany foram namorados no colégio. Julian e Melany. Minha maior duvida no momento é como isso é possível. Quero dizer, Julian era totalmente atraente e a Melany também (novamente, gostaria de ignorar esse fato), mas como duas pessoas totalmente opostas poderiam namorar? E como a gente nunca soube disso?

- Julian e Melany? Sério isso gente? - Gemma disse com o maior tom de deboche que eu já havia escutado, entrando na sala, e se sentando ao meu lado.

- Sim, a gente namorou por mais ou menos dois anos. Mas ai ele veio se mudar para a América e terminamos. - Melany disse, sentando-se na poltrona de frente para Harry, sendo acompanhada por Julian, que se sentou ao lado de Gemma.

- Faz um bom tempo isso, não? - Gemma perguntou mostrando um interesse repentino pelo ocorrido, e eu desconfiei, semi-cerrando os olhos para ela, que apenas deixou um riso sair de sua boca.

- Pois é... - Melany disse, sorrindo. - E como vai indo sua carreira aqui? Ainda continua no ramo da música? Eu lembro que seu pai veio pra cá com aquela empresa... não consigo lembrar o nome.

- Sempre né. Meu pai já saiu daquela empresa, ele abriu uma gravadora e na maior parte do tempo eu trabalho nela. Inclusive a Emma também.

Sorri em educação sabendo que esse assunto se estenderia, afinal, todos eramos do ramo da música. Olhei disfarçadamente para Harry e vi que ele olhava para a mesa de centro, com um olhar perdido em algo supérfluo. Eu sabia o que estava acontecendo, e de algum jeito, sabia que não era uma coisa boa.

Estava tentando me concentrar no que Julian dizia, o que grande parte, eu já sabia, mas apenas para não ficar avulsa na conversa. Assim como Harry estava. Ele concordava e sorria quando ele era citado na conversa, mas eu sabia que não estava prestando atenção em absolutamente nada naquele momento. Senti uma vibração no meu bolso e percebi que era meu celular. Graças a Deus, algo que me salvaria daquela situação.

- Com licença. - eu disse e me retirei, indo para a cozinha. - Alô?

- Alô? Senhorita Emma? - um homem falou do outro lado da linha e eu pude reconhecer sendo Taylor.

- Ah, oi Taylor - eu disse - está tudo bem?

- Sim, senhorita. Eu só liguei para confirmar sobre a premiação.

- Premiação? Que premiação? - eu perguntei confusa. Não me lembrava de nenhum compromisso, e estava rezando para que não fosse nada importante.

- A premiação de música, senhorita. Digo, no RadioCity Music Hall. Vai ser na quinta, mas pediram para que eu lhe avisa-se com antecedência. Está marcado para começar as duas, mas me informaram para busca-lá as 13 horas.

- Não, tá bom assim, Taylor. Ainda bem que você me lembrou, eu havia me esquecido completamente. As treze está bom.

- Ok então, senhorita. Mais alguma coisa?

- Não, obrigada. Tenha um bom dia, Taylor. - ele respondeu agradecendo e desejando um também e terminou a ligação. Abri minha agenda de contatos e confirmei com a Sofi, minha agente pessoal, desse evento. Ela me disse que já havia marcado com a maquiadora e a stylish, e me explicou de todas as burocracias.

Depois que eu já estava de volta a sala, e quase uma hora depois Julian foi embora com a desculpa de que tinha que trabalhar, e no momento seguinte, Harry subiu para o quarto e não deu sinal de vida. Incontáveis vezes eu senti vontade de abrir aquela porta para dizer o que estava acontecendo, mas sabia que não era a minha função fazer isso, então, passei o resto da tarde na biblioteca.

Era final de tarde quando Gemma deu a ideia de vermos um filme. Estava na cozinha com ela e Melany, que agora não parava de rir e digitar no celular, preparando brigadeiro e pipoca.

- Melany, leva a pipoca e o brigadeiro que eu e Emma vamos levar os copos e os refrigerantes. - Gemma disse, e me chamou com a cabeça. No corredor, ela me parou e disse. - olha, eu não sei o que tem naquele telefone, mas boa coisa não é.

Ela disse e então continuou seguindo o caminho até a sala. Pois é, Gemma. Eu também acho que não.

Sentei no sofá maior acompanhada por Gemma. Melany se sentou na poltrona dupla, colocando o pé na mesa de centro, até que Harry desceu e ela o chamou.

- Amor, senta aqui comigo. - ela disse, batendo no lugar vazio ao seu lado. Eu já estava levantando minha perna para estica-la no espaço ao meu lado, até que Harry me surpreende e diz:

- Não, eu tô de boa aqui. - ele disse, calmamente, e se sentou ao meu lado.

No mesmo instante Gemma me olhou, e de algum modo, sabia que ela pensava o mesmo que eu. Aquilo não era nada bom.

*

Começamos a assistir O Diabo Veste Prada, um filme que por justificativa de Gemma, era o melhor filme sobre moda já lançado. Deve ser por isso que no meio do filme ela já estava dormindo. E acompanhando ela, Melany também dormia deitada no sofá. Ou seja, só eu e Harry estávamos acordados.

Conseguia sentir os olhos de Harry sobre mim durante boa parte do filme. Eu estava tentando prestar atenção, repito, tentava. Porque no momento que consegui me convencer dessa ideia eu senti a mão de Harry na minha perna. Olhei para ele, assustada e curiosa, mas ele agora olhava diretamente para a tela, sem desviar um segundo sequer o olhar.

Uma parte de mim queria sair dali, porque sabia que era errado e que Melany não merecia isso. Mas a outra parte, ah, essa parte queria continuar com esse jogo de sedução apenas para ver o que Harry seria capaz de fazer. E bem, essa com certeza falou mais alto, porque no momento seguinte eu já estava com a minha mãe em cima da dele, entrelaçando nossos dedos e, calmamente, apertando-a sobre minha perna. A mão dele escorregou para dentro das minhas coxas fazendo um carinho que fez meu coração palpitar mais rapidamente e pude sentir minha respiração pesar. As mãos de Harry foram escorregando lentamente pela extensão do meu joelho ao interior da minha perna, me torturando, enquanto prestava atenção no filme. Por um segundo me perguntei como ele conseguia aparentar tanta calma. O que estávamos fazendo, afinal?

Soltei um pequeno sorriso em forma de agrado à Harry, que percebeu e sorriu também, deixando aquelas covinhas a mostra. Apenas metade do seu rosto estava iluminado pela luz que vinha da televisão. Virei-me para ele novamente, que ainda observava atentamente as cenas do filme que passavam. Em um gesto involuntário, me inclinei para seu lado, apoiando minha cabeça em seu ombro, e em resposta senti ele passar os braços em volta do meu ombro e costas, abraçando-me e fazendo que eu me aproximasse mais.

E naquele momento era só eu e ele. Mais nada em volta. Porque por alguns minutos eu consegui sentir que tinha o meu melhor amigo de volta, e era tudo o que importava naquele momento. Queria que ali, naquele momento, durasse para sempre.

Mas nem tudo dura pra sempre.

- Harry? - uma voz fraca vindo do canto soava pela sala. Melany. - Harry, amor? - ela o chamava, e em questões de segundos nós nos separamos e eu senti de frente novamente. Uma pontada de tristeza me atingiu, mas minha consciência gritou mais alto então logo me fiz acalmar o coração.

- Oi Melany - Harry disse sussurrando. - Tá tarde, sobe pra dormir lá que eu já vou, só vou terminar de assistir o filme com Emma.

Melany despertou, mas ainda continuou com os olhos semi-cerrados e olhou em nossa direção como se estivesse pensando em algo.

- Tudo bem, vou subindo então. Bom filme pra vocês. - Ela disse e subiu. Sem "boa noite amor" ou "até amanhã, Emma", e o mais estranho de todos, sem um beijo em Harry.

Alguns minutos se passaram depois que Melany já havia subido. Continuamos em silêncio e afastados até os créditos subirem na tela. Enquanto isso, Gemma continuava dormindo no sofá ao lado, como se estivesse no mais profundo transe. Harry continuou sentado olhando para a televisão como se houvesse algo de interessante nessas letras.

Não havia muito o que fazer agora, então levantei do sofá e pequei o balde de pipoca - que se encontrara vazio no momento e o prato com uma metade de brigadeiro. Fui em direção a cozinha e coloquei os mesmos dentro da pia. Precisava me distrair até Harry subir, então comecei a enxaguar o prato como se ele tivesse sujo com a pior das coisas. Qual é, era só brigadeiro.

Estava concentrada na tarefa de lavar os potes quando ouço um conjunto de passos vindo até mim. Não precisei virar para ver quem era, o cheiro do perfume é irreconhecível, e que logo tomou conta dos meus pulmões. Ouvi uma tosse ainda baixa e virei meu pescoço em sua direção.

- Eu... trouxe os copos. - ele diz colocando os copos em cima da ilha e se apoiando ali.

- Ok, muito obrigada. - eu digo pegando os copos e então me viro de volta para a pia, enxaguando-os.

- Precisa de ajuda?

- Não, só vou lavar esses copos. Pode ir subindo, e pede pra Gemma subir também, se não for muito incomodo. - eu disse sem olhá-lo. Sabia o que viria a seguir se o fizesse.

- Tudo bem... - ele falou baixo. - E, Emma...

- É só isso Harry. Boa noite. - eu disse e continuei sem olhar para ele. Passou-se algum tempo e não ouvi nenhum barulho, então me virei e vi que o que havia pensado estava certo: ele não estava mais na cozinha.

Depois de guardar calmamente todos os copos no armário e pegar uma taça separada, fui até a Adega e peguei um vinho qualquer. Não precisava agradar, só precisava beber. Subi para o segundo andar e passei direto pelos quartos, indo direto para a sala de música. Abri a porta da varanda e me sentei no conjunto de sofá que tinha lá, apoiando meu pé na mesa de centro. Abri o vinho e enchi uma taça, dando um grande gole nele. Senti o gosto doce, sútil e ainda sim alcóolico descendo pela minha garganta e me lembrei da primeira vez que havia bebido algo para maior de idade na vida. Maldita ironia do destino.

ínico do flashback

Já faziam umas duas horas que havia chegado na casa de Lindsay. Ela estava comemorando o fato do time da escola ter ganhado o campeonato regional, e fez uma festa fechada para comemorar. Harry fazia parte do time, então logo eu estava indo como sua acompanhante. O que soa irônico, já que eu estava sentada na mesa da cozinha acompanhada de algumas pessoas menos ele. Onde ele se meteu?

- E ai, Emma, você não vai beber? - uma garota ruiva que eu suspeitava ser líder de torcida me perguntou. Ela e mais algumas pessoas estavam com um copo vermelho assim como eu, mas que com certeza deveria ter uma quantidade significativa de álcool nele.

- Ah não, obrigada. Eu não bebo. - eu respondi, tentando ser simpática.

- Bem, você quem sabe, mas se quiser sabe onde encontrar a gente. Vamos jogar beer pong. - um outro garoto falou e saiu da cozinha sendo acompanhado pelo resto do pequeno grupo. E lá estava eu, sozinha na cozinha. Decidi sair dali e procurar Harry, afinal, ele iria pra casa comigo. Procurei por toda sala e quintal externo mas ele não se encontrava em lugar algum. Vi um grupo de meninos que mais cedo haviam chamado Harry para comemorar conversando perto da piscina então resolvi ir até eles ver onde eles se encontravam.

- Olá meninos, vocês por acaso viram o Harry? - eu perguntei olhando para eles. Josh, o que era mais íntimo em termos de amizade comigo, congelou, e por um segundo pensei que ele estivesse com medo de algo.

- Oi Emma, na verdade eu vi ele subindo com a Lindsey, mas não vejo ele desde aquela hora. - um outro garoto do time respondeu e Josh o olhou com um olhar de repreensão. Havia alguma coisa muito, muito estranha ali.

- Ah, ok, obrigada meninos. - eu disse e me virei indo em direção a porta que voltava para a casa e indo para as escadas. E antes eu não tivesse feito isso.

- Estava no segundo andar e percebi, como um agrado das divindades, que haviam apenas seis portas. Ok, de alguma forma temos que começar.

A primeira porta a esquerda estava aberta e era um banheiro, ao contrário da porta da frente e as outras duas, que estavam trancadas. Fui até a ultima porta, que estava encostada. Assim que abri, levei um susto. Havia um casal na cama se beijando. A menina estava sem a camisa sentada sobre o garoto, que também estava sem a camisa e com a mão em direção ao sutiã da garota. Estava prestes a fechar a porta e sair do quarto, até reconhecer a garota pelos cabelos ruivos e o garoto pelas feições. Senti meu coração parar e ficar sem reação. Senti um soluço sair da minha garganta e dois corpos virarem pra mim. Um deles com uma cara de desprezo e outro com um olhar de desespero. Eu não podia acreditar, ou melhor, não queria. A unica coisa que queria era sair dali e acordar no meio da cama, como se tudo não passasse de um pesadelo.

Quase sem forças, virei de costas e desci em uma velocidade imprescindível pelas escadas. Não queria chorar na frente de ninguém, mas naquelas condições era praticamente impossível. Fui em direção ao lado de fora da casa e, depois de limpar qualquer vestígio de lagrimas que tomou conta do meu rosto, fui em direção ao grupo de estava jogando no canto esquerdo da casa. Em uma pessoa em especial. Precisava esquecer aquilo que tinha acabado de acontecer, e já sabia como.

- Então, vocês ainda tem alguma bebida sobrando? - disse pegando meu copo e dando um gole após enche-lo. A noite seria longa.

Fim de flashback.

Patético. Era a unica coisa que me vinha a cabeça no momento. O quão patético e irônico era eu me encontrar naquelas situações para esquecer alguém? Comecei assim e vou terminar assim. Em menos de uma semana, todos aqueles sentimentos que eu havia enterrado no meu profundo coração se dissiparam e vieram a tona novamente. Eu amava Harry, isso era fato. Mas até que ponto eu o amava para deixá-lo fazer parte da minha vida? Quero dizer, ele estava noivo. Havia encontrado alguém que ele amasse e que retribua na mesma proporção. O quão egoísta eu seria por tirá-lo disso? E além do mais, quem garantiria que ele me amasse da mesma forma - ou melhor, ainda me amasse mesmo com toda minha bagagem?

Estava perdida em meus pensamentos que nem ouvi a porta sendo aberta e um corpo se aproximando. Senti sua respiração forte em minhas costas e ele se mover lentamente até aparecer em meu campo de visão.

Eu sabia o que vinha a seguir.


NOTAS DA AUTORA:

it's our paradise and it's our war zone. Parece que o jogo virou, não é mesmo. Fiquei muito ansiosa com esse capítulo, desculpa a demora pra postá-lo, mas é porque o próximo vai abalar as estruturas de qualquer um.
Vou postar ainda essa semana (quem sabe hoje mais tarde) as perguntas que fizeram para os personagens. Muitas meninas no grupo mandaram então to bem feliz! Caso vocês ainda tenham alguma pergunta para algum personagem comentem nesse capítulo também!

Não esqueçam de comentar e favoritar, muito obrigada por todo apoio! <3 <3

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