Leiam as notas finais por favor...
– Como pode sugerir uma coisa dessas? Depois do que aconteceu...– Sua voz falhou.
– Com Alexa? Eu falo, já que você não consegue. Alexa tomou uma decisão tola e pagou por isso. Camila é diferente; ela tem juízo. Mas isso não importa, se você concordar – acrescentou ela, repelindo outros protestos de Taylor. – O fato é que ela agora está fraca e precisa de sangue. Cuidarei para que o consiga, depois descobrirei quem fez isso com ela. Você pode vir ou não. Fique à vontade.
Ela se levantou, arrastando Camila.
–Vamos.
Camila a seguiu obedientemente, satisfeita em, enfim, se mover. O bosque era interessante à noite; nunca havia percebido isso. As corujas lançavam chamados desolados de caça pelas árvores e ratos-veadeiros fugiam de seus pés que deslizavam. O ar era mais gelado em certos trechos, como se esfriasse primeiro nas cavidades e declives da mata. Ela achou fácil se mover em silêncio ao lado de Lauren pelo leito de folhas; a questão era ter cuidado com onde pisava. Camila não olhou para trás para ver se Taylor as seguia.
Ao saírem do bosque, Camila reconheceu o lugar. Tinha estado ali naquele mesmo dia. Agora, porém, havia uma espécie de atividade frenética: luzes vermelhas e azuis piscando em carros, lanternas emoldurando as formas reunidas e escuras de pessoas. Camila os olhou com curiosidade. Várias eram conhecidas. Aquela mulher, por exemplo, com o rosto magro atormentado e os olhos angustiados – tia Patricia? E o homem alto ao lado dela – o noivo de tia Patricia, Jerry?
Devia haver mais alguém com eles, pensou Camila. Uma criança de cabelo tão claro quanto o de Camila. Mas, por mais que tentasse, não conseguia formar o nome em sua mente.
As duas meninas de braços dados, paradas diante de uma roda de policiais, daquelas duas ela se lembrava. A alta loira que chorava era Dinah. A de cabelos pretos, Normani.
– Mas ela não está na água – dizia Dinah a um homem de uniforme. A voz tremendo à feira da histeria. – Vimos Taylor retirá-la. Já falamos isso várias vezes.
– E você a deixou aqui com ela?
– Tivemos que deixar. A tempestade estava piorando e ainda havia algo que estava a caminho...
– Deixe isso pra lá – Normani interrompeu. Ela só parecia um pouco mais calma do que Dinah. – Taylor disse que se ela... tivesse de deixá-la, a colocaria deitada sob os salgueiros.
– E onde está Taylor agora? – perguntou outro homem uniformizado.
– Não sabemos. Voltamos para pedir ajuda. Ela deve ter nos seguido. Mas quanto ao que aconteceu com... com Camila... – Dinah se virou e enterrou a cara no ombro de Normani.
Elas estavam nervosas por minha causa, percebeu Camila. Mas que coisa boba. Posso esclarecer tudo. Ela partiu em direção à luz, mas Lauren a puxou de volta. Camila olhou para ela, magoada.
– Assim não. Escolha os que quiser e vamos atraí-los para fora – disse ela.
– Que eu quiser para quê?
– Para se alimentar, Camila. Agora você é uma caçadora. Aqueles ali são a sua presa.
Camila passou a língua no canino, em dúvida. Nada ali parecia com comida. Ainda assim, como Lauren falou, ela estava inclinada a dar a ela o benefício da dúvida.
– O que você achar melhor – disse ela, obediente.
Lauren inclinou a cabeça para trás, semicerrou os olhos, observando a cena como um especialista avaliando uma tela famosa.
– Bom, que tal simpaticíssimos paramédicos?
– Não – ordenou uma voz por trás delas.
Lauren mal olhou para Taylor por sobre o ombro
– E por que não?
– Porque já chega de ataques. Ela pode precisar de sangue humano, mas não terá de caçar para conseguir. – A expressão de Taylor era carrancuda e hostil, mas trazia um ar de determinação implacável.
– Existe outra maneira? – perguntou Lauren com ironia.
– Você sabe que sim. Encontre alguém que esteja disposto... Ou que possa ser influenciado a isso. Alguém que o faça por Camila e seja mentalmente forte o bastante para lidar com isso.
– E eu devia saber onde encontrar tal modelo de virtude?
– Leve-a à escola. Encontrarei vocês lá – disse Taylor, e desapareceu.
Elas deixaram a cena ainda em alvoroço, as luzes piscando, as pessoas zanzando. Enquanto partiam, Camila percebeu algo estranho. No meio do rio, iluminado pelas lanternas, havia um carro. Estava completamente submerso, a não ser pelo parachoque dianteiro, que se projetava da água.
Que lugar idiota para estacionar um carro, pensou ela, seguindo Lauren de volta ao bosque.
* * *
Taylor recuperava as sensações.
Doía. Ela pensou que havia superado a dor, que não sentiria mais nada. Quando pegou o corpo sem vida de Camila da água escura, ela pensou que jamais sentiria dor novamente porque nada seria páreo para aquele momento.
Taylor estava enganada.
Ela parou, e apoiou a mão que não estava machucada numa árvore, a cabeça baixa, respirando fundo. Quando a neblina vermelha clareou e ela pôde enxergar novamente, Taylor continuou, mas a dor que queimava no peito não diminuía. Pare de pensar nela, disse a si mesma, sabendo que era inútil.
Mas ela não estava verdadeiramente morta. Isso não valia alguma coisa? Taylor pensou que jamais ouviria sua voz novamente, jamais sentiria seu toque...
E agora, quando ela a tocou, queria matá-la.
Ela parou novamente, curvando-se, temendo vomitar.
Ver Camila daquele jeito foi uma tortura pior do que vê-la fria, inerte e morta. É possível que Lauren a tenha deixado viva por isso. Talvez esta fosse a vingança dela.
E talvez Taylor devesse fazer o que pretendia depois de matar Lauren. Esperar até o amanhecer e tirar o anel de prata que a protegia do sol. Banhar-se no abraço feroz daqueles raios até que queimassem a carne em seus ossos e eliminassem a dor de uma vez por todas.
Mas ela sabia que não faria isso. Enquanto Camila andasse pela face da Terra, ela jamais a deixaria. Mesmo que ela a odiasse, mesmo que a caçasse. Ela faria qualquer coisa para mantê-la segura.
Taylor pegou um atalho para o pensionato. Precisava se limpar antes de permitir que os humanos a vissem. Em seu quarto, ela lavou o sangue do rosto e do pescoço e examinou o braço. O processo de cura já começara e, concentrada, ela o aceleraria ainda mais. Estava esgotando rapidamente seus Poderes; a luta com a irmã já a enfraquecera. Mas isso era importante. Não por causa da dor – Taylor mal dava por ela – mas porque precisava estar preparada.
Lauren e Taylor esperavam na frente da escola. Ela podia sentir a impaciência da irmã e a presença selvagem de Camila no escuro.
– É melhor que isto dê certo – disse Lauren.
Taylor não disse nada. O auditório da escola era outro centro de comoção. As pessoas deviam estar desfrutando do baile do Dia dos Fundadores; na realidade, aqueles que ficaram durante a tempestade andavam de um lado a outro ou se reuniam em pequenos grupos para conversar. Taylor olhou por entre a porta aberta, procurando mentalmente uma determinada presença.
Taylor a encontrou. Uma cabeça castanha estava curvada sobre uma mesa no canto.
Austin.
Austin endireitou o corpo e olhou em volta, confuso. Taylor desejou que ele saísse. Precisa de ar fresco, pensou ela, insinuando a sugestão no subconsciente de Austin. Você está com vontade de sair por um momento.
A Lauren, parada invisível pouco além da luz, ela disse, Leve-a para a escola, para a sala de fotografia. Ela sabe onde fica. Não se mostre antes que eu autorize. Depois voltou e esperou que Austin aparecesse.
Austin saiu, o rosto exausto virado para o céu sem lua. Tomou um susto violento quando Taylor falou com ele.
– Taylor! Você está aqui! – Desespero, esperança e horror lutavam para dominar sua expressão. Ele correu até Taylor. – Eles... conseguiram trazê-la de volta? Há alguma novidade?
– O que você soube.
Austin a encarou por um momento antes de responder.
– Dinah e Normani apareceram dizendo que Camila tinha caído da ponte Wickery com meu carro. Disseram que ela... – Ele parou e engoliu em seco. – Taylor, não é verdade, é? – O olhar de Austin era suplicante.
Taylor desviou o rosto.
– Ah, meu Deus – disse Austin com a voz rouca. Ele se virou de novo para Taylor, apertando os olhos com as mãos. – Não acredito; eu não acredito. Não pode ser verdade.
– Austin... – Taylor tocou o ombro do rapaz.
– Desculpe. – A voz de Austin era áspera e entrecortada. – Você deve ter passado o diabo e aqui estou eu, piorando tudo.
Mais do que imagina, pensou Taylor, a mão de afastando. Ela veio com a intenção de usar seus Poderes para convencer Austin. Agora parecia algo impossível. Não podia fazer isso, não com o primeiro – e único – amigo humano que teve neste lugar.
Sua única alternativa era contar a verdade. Deixar que Austin tomasse a decisão, sabendo de tudo.
– Se houvesse alguma coisa que você pudesse fazer por Camila agora – disse ela –, você faria?
Austin estava perdido em emoções para indagar que pergunta idiota era aquela.
– Qualquer coisa – disse ele quase com raiva, passando a manga da camisa nos olhos. – Eu faria qualquer coisa por ela. – Ele olhou para Taylor de um jeito quase desafiador, a respiração trêmula.
Meus parabéns, pensou Taylor, sentindo o estômago ruir de repente. Acaba de ganhar uma viagem para Além da Imaginação.
– Venha comigo – disse ela. – Tenho que mostrar uma coisa a você.
Notas finais.
Para compensar a demora, venho com essa atualizaçao de um capítulo bem grandinho em duas partes... Comentem, (por favor) quero saber a opinião de vocês sobre como estou indo... Se eu estiver indo mal, paro de escrever e excluo esta fic. Se gostarem, eu continuo, podem favoritar, votar, etc...
Me sigam no Twitter: MarinaV81618329 (estranho esse monte de número, eu sei kk)
Enfim...
Beijos .
– Mah *-*