PSI Evolution - Vencedor do W...

By WalacyMachado

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A mente humana torna-se a arma mais poderosa! Ação frenética e uma perseguição implacável, uma verdadeira lut... More

Parte - 1
Parte - 3
Parte - 4
Parte - 5
Parte - 6
Parte - 7
Sobre o autor e o ilustrador
Parte -8
Parte - 9
Parte - 10
Parte - 11
Parte - 12
Parte - 13
Parte - 14
Parte - 15
Parte - 16
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Parte - 18
Parte - 19
Parte - 20
Parte - 21
Parte - 22
Parte - 23
Parte - 24
Parte - 25
Parte - 26
Parte - 27
Parte - 28
Parte - 29
Parte - 30
Parte - 31
Parte - 32
Parte - 33
Parte - 34
Parte - 35
FINAL

Parte - 2

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By WalacyMachado

José estava ansioso. Ele não parava de olhar para a pequena janela fixa no lado inferior direito de seu campo de visão. Era apenas uma janela de realidade ampliada de seu sistema operacional individual, porém, para ele, ela carregava a informação mais preciosa do mundo no momento: faltavam apenas 10 minutos para o fim de seu expediente.

Ele ergueu os olhos e notou o ambiente asséptico e branco em que se encontrava. Estava sentado em sua mesa, usando aplicativos também em realidade ampliada e podia ver seus colegas de trabalho andando pelos corredores, ou também sentados em suas mesas ansiosos olhando para seus relógios digitais.

Subitamente, todo o ambiente que o cercava começa a se desfazer. Os avatares de seus colegas vão sumindo um a um na medida em que dão breves acenos de despedida uns para os outros.

E assim o expediente termina. José já estava em seu apartamento sentado na poltrona da sala. Ele havia trabalhado de forma remota em casa, fazendo home office e interagindo com o escritório através do metaverso, uma espécie de realidade ampliada ainda mais poderosa e realística.

Ele se levanta, tira o pijama e se veste apropriadamente para o happy hour. Afinal era sexta-feira e a noite estava muito agradável.

Caminhando pela calçada, à medida que andava ele ia se esquivando do turbilhão de anúncios que pipocavam na altura de suas vistas ao passar na frente dos estabelecimentos comerciais da rua.

Abriu o aplicativo de mapa das redondezas e fez uma breve busca por "melhores amigos". O aplicativo via GPS não encontrou nenhum dos seus contatos nas imediações. Tentou de novo, colocando apenas "amigos" e deu certo. Achou três gatos-pingados piscando em verde no mapa do perímetro. Chamou os três pelo comunicador instantâneo e marcou de se encontrar com eles em um bar próximo. Em seguida ele tocou no nome do bar pelo mesmo mapa e fez uma reserva para quatro pessoas, pediu uma rodada de cerveja e se dirigiu para lá.

Imediatamente o bar entrou em contato com ele, e com base nas suas últimas compras e configuração de perfil, questionou se poderia mandar fritar uma porção de batatas-fritas. Ele confirmou, mas em seguida recebeu uma nova pergunta do próprio bar avisando que o médico de um de seus convidados havia marcado no perfil do mesmo que ele estava proibido de comer frituras. José confirmou o pedido assim mesmo. Como pode estar proibido de comer frituras e estar liberado a tomar bebida alcoólica com os amigos? Esse médico devia ser um canastrão!

Ele chegou ao bar e seus amigos ainda não haviam aparecido, no entanto suas bebidas e mesa já estavam prontas. Imediatamente o valor das bebidas já havia sido debitado de seus créditos na conta bancária. Ele sentou e aguardou, enquanto isso ficou vendo as notícias em tempo real, e conforme eles demoravam ia ficando entediado. Esqueceu-se das notícias e passou a jogar um joguinho casual que ele tinha acabado de baixar.

Entediou-se, ao passo em que notava que sua cerveja começava a esquentar. Ele notou uma garota bonita na outra mesa, apontou um dedo para ela e o perfil da rede social dela pipocou na sua frente. Queria saber se a garota estava solteira e com o status de "disponível" ativo.

Ao notar o estranho bisbilhotando sua vida, a garota imediatamente bloqueou suas informações e fez um sinal em negativa com o balançar do indicador para ele.

João deu de ombros. Continuou esperando os amigos, mas estava realmente incomodado com a demora. Após alguns minutos o que mais o irritava era o barulho ensurdecedor de um helicóptero acima do estabelecimento.

Ele tentou ignorar, voltou ao seu jogo e aumentou o volume para se focar em passar aquela fase. Então houve um estrondo, outro e por fim barulho de rajada de tiros. Ele se levantou da mesa em sobressalto e correu para a rua para ver o que acontecia.

Quando ele viu a cena ficou pasmo e sem ação. Assim que se recuperou só pensou em começar a gravar o que acontecia e postar imediatamente na internet. Aquele era um furo que ele não podia perder, talvez até ficasse famoso, quem sabe? Ele estava prestes a ser uma celebridade instantânea e efêmera da internet.

Mas tudo veio abaixo quando o helicóptero caiu em cima do bar e pôs fim a sua curta carreira de repórter anônimo.

Hipnos sentado mantinha as duas mãos sustentando o queixo e os cotovelos apoiados na mesa. Ele assistia, sem mudar sua expressão, um vídeo que estava tendo gigantesca repercussão na internet. Era o novo viral, já havia sido compartilhado por milhões de pessoas. Havia saído de controle.

No vídeo, três adolescentes nus estavam sendo ofuscado pelos refletores de um helicóptero. Estavam parados no meio da rua se apoiando uns nos outros. A câmera tremia muito e de forma brusca diversas vezes perdia o foco.

Mas eis que um dos jovens, o de pele escura, ergueu uma das mãos ao alto, como se apontasse para o helicóptero. A expressão do rapaz foi mudando, como se apresentasse algum tipo de dor, e na mesma hora o helicóptero foi perdendo altitude e girando em torno do próprio eixo. A gravação se interrompe bruscamente quando o helicóptero se dirige em velocidade contra o solo e acerta o bar em que o autor do vídeo estava. Assim que a gravação fecha, subitamente todos que haviam assistido sabiam que o autor da gravação não estava mais entre os vivos. Fora esmagado pelo helicóptero e pelos destroços do prédio.

Mas ele conseguiu o que queria. O vídeo era um sucesso, havia ganhado o mundo.

Um soldado entra na sala e interrompe a divagação de Hipnos.

— Senhor? Ele está acordando.

— Ótimo!

Thanatos estava recobrando a consciência e percebe que está, mais uma vez, preso na mesma cadeira, na mesma mesa e na mesma sala de interrogação na qual havia sido amarrado anos atrás, no dia fatídico em que soubera de toda a verdade sobre o revolucionário projeto no qual ele, idealista e de coração puro, havia encabeçado toda sua vida e energia.

Hipnos rompe com fúria a porta adentrando a sala e assustando levemente Fernandez, que ainda estava buscando forças para se desvencilhar.

— Certo, desembucha! O que você fez com eles?

— Merda! Você tem alguma perversão em me amarrar aqui?

Hipnos leva sua face para junto da de Fernandez, mas de uma forma muito ameaçadora.

— Você nem imagina as perversões que passam pela minha cabeça agora... sobre o que fazer com um verme traidor como você!

Hipnos não hesita em dar um tapa em Fernandez.

— Saco! Por que sempre do jeito difícil? HEIN?

— Nossa relação sempre foi assim, não é parceiro?

— Droga! Por que você? Porque um gênio da neurocirurgia seria um idealista tão chato? Por quê?

— Idealismo? Medicina é um sacerdócio idiota! Estudamos e trabalhamos em prol de vidas!

— Então me explica onde enfiou seu idealismo quando descobriu o que fazíamos aqui? Por que continuou?

— Oras! Você ameaçou a minha FILHA!

— E você nem imagina o que vou fazer com aquela garota quando eu a pegar! Você a condenou à morte, idiota!

Fernandez começou a rir para si mesmo. Hipnos ficou bem surpreso com aquilo, afinal, ele só poderia ter perdido o juízo por causa do estresse da situação. A mente deve ter criado algum tipo de catarse para fugir de tal pressão.

— Sinto decepcioná-lo Hipnos, mas você nunca mais a achará! PSI-Theta me fez um favorzinho antes de sair daqui.

— O quê? Como assim?

Soldados fortemente armados descem de grandes veículos e tomam a rua, fechando todas as saídas e cercando um prédio residencial.

Eles avançam e invadem o prédio, tomando o hall em segundos. Sobem as escadas enquanto outro grupo monitora os elevadores. Todos os moradores em transito pelo hall, áreas comuns e corredores são surpreendidos e imediatamente revistados.

Eles tinham urgência. O ID de Gabriela Fernandez sumiu subitamente do mapa, enquanto eles invadiam os sistemas do departamento de segurança pública e buscavam a localização exata dela via GPS. O serviço de segurança tinha autorização para monitorar e identificar a localização de qualquer indivíduo sob sua jurisdição em qualquer parte do território nacional, e monitorar entendia-se por monitorar mesmo. Eles podiam saber onde qualquer pessoa estava; com quem havia falado; o que havia comprado; comido; quais sites e serviços ele havia acessado... enfim, toda e qualquer ação era passível de ser rastreada e averiguada. Softwares vasculhavam a rede atrás de perfis de comportamento suspeito, assim como palavras-chaves no meio de conversas de áudio e textos. A privacidade era uma dádiva exclusiva de altas autoridades e patentes. A individualidade era sacrificada em prol da proteção e do bem comum. Crimes com viés terrorista eram tão comuns quanto incidentes de trânsito.

Neste mundo, era óbvia a ideia de que o monitoramento se estenderia também a itens simples, como insatisfação, opinião política e ideológica do indivíduo. Pensar fora do que o sistema achava que era certo era uma certeza de que o sujeito já poderia ser considerado um suspeito em potencial.

Porém o sistema que era infalível agora aparecia com um suposto problema: o alvo, esta jovem que até poucos anos era uma adolescente, tinha simplesmente sumido do mapa.

O sargento que tomava a frente da operação estava confuso, afinal, qual seria a razão de todo esse aparato para pegar uma garota que aparentemente estava sozinha? Ele não fazia ideia.

Invadiram o apartamento dela. Reviraram tudo e não acharam nada. Quando estavam quase desistindo e saindo do local, o sargento viu um pequeno pedaço de papel amassado jogado no lixo à beira da pia da cozinha. O papel era uma anotação à caneta, provavelmente feito às pressas enquanto ela falava pelo vídeo-comunicador. Lá estava o endereço de uma casa noturna, uma balada de fim de noite.

Uma loja de roupas, na principal rua da cidade onde houve o incidente com o helicóptero e o bar, havia sido roubada. A loja teve o vidro da vitrine quebrada e a câmera de segurança só havia identificado três ladrões. É de uma tolice se cometer crimes, uma vez que o ID do criminoso poderia ser identificado em segundos, mas ainda assim aconteciam pequenos delitos e era mais comum envolverem jovens infratores, adolescentes revoltados ou filhinhos de papai entediados.

Mas esse furto era diferente. Três jovens nus invadiram a loja, quebrando o vidro da vitrine sem sequer tocar nele. Eles não possuíam ID e roubaram apenas roupas para se cobrirem de sua vergonha.

Era algo que não se via todos os dias, pensava o pobre policial que estava de plantão quando recebeu a estranha chamada. Ele e seus colegas, que chegaram juntos na viatura, ficaram pasmos ao verem o vídeo do sistema de segurança da loja. E abriram os braços como se dissessem um ao outro: "E agora"?

Naquela noite também desciam de um grande camburão inúmeros soldados e um garoto com capa de chuva e uma máscara de gás cobrindo todo seu rosto.

"Para que a capa de chuva"? Não tinha uma nuvem no céu... pensou alto o policial.

Um cachorro, um pastor alemão, sai de dentro do veículo. Poderia ser um cão farejador comum, dentre muitos outros usados pelas forças de segurança, mas esse era estranho, tinha uma parafernália eletrônica implantada sobre a pele na grande área sobre suas costas, que havia tido todos os pelos raspados.

O cão entrou, farejou muito pouco, voltou para seu suposto dono, o sujeito estranho da máscara, acenou para ele como se falasse e correu por um beco em alta velocidade.

O sujeito estranho apagou o vídeo do sistema de segurança e um soldado veio falar com os policiais. A mensagem foi curta, clara e direta:

— Nenhum detalhe sobre o que aconteceu aqui. Não devem falar nada a ninguém. Vocês nunca estiveram aqui. E isso é para seu bem. Entendido? Boa noite senhores, passar bem.

Subiram no grande veículo e se foram. Os policiais olharam um para a cara do outro. Após um breve hiato de tempo entraram na viatura e voltaram para a delegacia. Com sorte conseguiriam ver os minutos finais do jogo de futebol enquanto tomavam um café sossegadamente esperando o próximo chamado no plantão.

De volta ao laboratório, Hipnos segurava Fernandez pelo queixo enquanto esbravejava próximo de sua face, praticamente lhe dando um banho de saliva à medida que gritava.

— Há quanto tempo eles estão conscientes, seu maldito? Você mantinha contato com eles?

— Digamos que durante toda a estadia deles eles estiveram conscientes... eles te odeiam e você não vai viver para continuar com essa monstruosidade.

— Idiota... eu não sei o que Theta fez para esconder sua filha, mas vou achá-la, e vou achar aqueles três também. E vou te deixar vivo, para que você possa me ver empalhá-los na sua frente.

— Você não os conhece Hipnos... ou diria Scott? Hein, meu caro Scott Stevenson?

Hipnos é tomado por uma fúria que ele nunca havia experimentado. Ele praticamente suspende Fernandez pelo pescoço e quase o estrangula.

— Como você SABE meu nome? HEIN?

— PSI-Theta seu babaca... Ele pode invadir qualquer sistema... qualquer rede, qualquer computador!

Hipnos solta Fernandez e deixa seu próprio peso lhe arremessar contra a cadeira.

— Interessante... você deve tê-lo usado para entrar em contato com sua filha... E como vai continuar com isso? Diga ou eu vou acabar com você!

— Nem se dê ao trabalho... eles mudaram o ID dela, que pode estar em qualquer lugar agora... outro nome, outra cidade... quem sabe?

Hipnos soca a mesa, assustando novamente Fernandez.

— Certo... não vamos a lugar nenhum com isso. Ok, pelo que você acabou de me dizer... eles podem assumir outra identidade, outro ID ... sumir na multidão?

— Como você vê, você os criou muito bem. Não são espertos os nossos filhos?

O cão do mascarado estava em alta velocidade ziguezagueando entre as pessoas na calçada. Ele havia chegado à frente de uma espécie de boate. Era noite alta de sexta-feira para sábado e dia de festa. Alguma coisa dizia àquele bicho que os três alvos estavam nas imediações.

Do outro lado da rua, pela porta dos fundos, os soldados que estavam atrás de Gabriela Fernandez já estavam invadindo o recinto.

O camburão com o rapaz de máscara e seus soldados fortemente armados chega bruscamente após uma manobra perigosa, parando em frente à boate e fechando a rua.

Eles invadem o local pela porta da frente. Os seguranças da boate sequer intervêm, pelo contrário, saem da frente, afinal aqueles caras com roupas estranhas que saiam do veículo tinham armas suficientes para começar uma guerra se assim quisessem.

Hipnos chuta a mesa e faz Fernandez cair com a cadeira para trás.

Com Fernandez caído, preso à cadeira, Hipnos se abaixa para continuar falando perto de sua face em tom de ameaça.

— O que você fez? Como os soltou?

— Você gosta de fazer perguntas, não é? E se você respondesse algumas das minhas?

Hipnos segura as bochechas de Fernandes com o indicador e o polegar até forçá-lo a fazer um biquinho com a boca.

— Você abusa da sua sorte... abusa! Escute, você vai me contar o que fez! E nunca mais uma cobaia vai conseguir fugir daqui! E eu vou prender aqueles três de novo! E vou fazer tantos overclocks neles que eles não vão durar sequer um único ano aqui! OUVIU?

Assim que vê a mão de Hipnos afrouxar, Fernandez cospe em sua face.

Hipnos se levanta e com nojo se limpa. Vira-se para Fernandez com ódio e chuta seu estomago.

Hipnos faz um sinal para o soldado mais próximo erguer Fernandez de sua cadeira e ajustá-lo novamente na mesa.

Após Fernandez recuperar o fôlego, ele torna a falar.

— Cobaias... eles são apenas cobaias? Diga-me desgraçado... de onde saíram todas as vidas que você ceifou... HEIN?

— Ah, não se faça de sonso Thanatos!

Fernandez grita na sala, surpreendendo até mesmo Hipnos.

— De ONDE? DE ONDE?

Hipnos suspira. Ele encosta-se à parede e pensa que não vai conseguir arrancar o que quer de Thanatos sem tortura-lo, mas Hipnos se deliciava ao chocar Thanatos e aquele idealismo e senso de justiça irritante dele.

— Bom... Você sabe... no começo conseguimos ter acesso a todos os embriões esquecidos e congelados por mais de 100 anos naquelas clínicas de reprodução humana. Por lei, as clínicas não podiam descartar os embriões e eles foram se acumulando... até a hora em que alguém se esqueceu de que existiam.

— Veja bem, se não fosse por mim eles nem teriam existido, nunca teriam nascido. Consegue imaginar que destino mais triste? Pelo menos a existência deles foi benéfica, tiveram utilidade em prol da ciência, não vejo existência mais nobre!

— Você só pode estar sendo irônico...

— Sim, estou sendo irônico, você me pegou. Mas que eles foram uteis, eles foram.

— Monstro! Você os fez terem uma vida de desgraça, com seus corpos presos... você os tornou vegetais, roubou o mundo deles!

Hipnos sorri e fala como se recitasse um poema, seu tom de arrogância e ironia irritava Fernandez de tal forma que ele queria gritar e arrancar aquelas amarras na mesma hora em que o ouvia.

— "Minha versão do mundo não inclui coisas que não percebi, nem a vontade universal que não experimentei...".

— O que diabos... do que está falando?

— Schopenhauer, gosta?

— Quem?

— Ele era um filósofo!

— Você está querendo me dizer que pelo simples fato deles não saberem que um mundo existia, eles não sentiam falta dele? Logo não se importariam e nem ficariam tristes de serem amarrados e usados como processadores de computador para entretenimento de algum adolescente idiota do outro lado do mundo?

— Isso mesmo! Você entendeu!

— Escute essa então Hipnos: "Os indivíduos podem escolher fazer coisas que afetem seus corpos, mas não os de outras pessoas".

Hipnos ironicamente bate palmas.

— John Stuart Mill? Olha, que surpresa, você conhece filosofia!

— Não entendo de filosofia. Apenas pesquisei a respeito da ética, ou falta dela, no que tange ao que fazíamos aqui.

Hipnos se aproxima mais de Fernandez e fala se agachando perto dele, mas desta vez pelas costas, para evitar uma nova cusparada.

— "Os fins justificam os meios"!

— E você acha que tudo se resume assim, Hipnos? Maquiavel?

— Maquiavel nunca disse essa frase... É um ditado popular erroneamente atribuído a ele, mas como um bom ditado popular ele tem lá sua razão, sabe como é ... "A voz do povo é a voz de Deus".

— Então tudo é permitido desde que se justifique o massacre?

— Para mim, para o meu mundo sim! Tudo tem justificativa! Já para você, sua vida não tem justificativa mesmo! Você se corrompeu, não tem mais seus próprios ideais!

— Monstro! Eles são seres humanos! Você cometeu crimes contra a humanidade!

— "O que é o coração, senão uma mola, e os nervos senão várias cordas, e as articulações, senão várias rodas, dando movimento ao corpo inteiro" — Thomas Hobbes. Gostou? Para mim eles eram apenas peças de uma máquina maior.

— Aqueles três... eles tinham algum tipo de consciência, eram diferentes... não viveram as suas vidas todas como vegetais, eles sabiam se comunicar... eles tinham alguma espécie de repertório de vida...

— Repertório? Sim, talvez... "O conhecimento de nenhum homem pode ir além de sua própria existência". Você descobriu isso também, Thanatos?

— Mais uma frase de filósofo esquecida que você copiou da internet e distorceu para seus interesses?

— John Locke... adoro isso! A teoria da Tabula Rasa. Foi essa teoria que me abriu a mente para as possibilidades.

Hipnos se sentou e entrelaçou os dedos, apoiando o queixo e encarando Fernandez.

— Você sabe por que os três são promissores?

— Não faço ideia...

— Eles tinham repertório. É complicado para você usar uma mente em branco, sem nenhum registro cognitivo, sem nunca ter exercitado os neurônios... aquelas cobaias originais eram máquinas burras, cegas!

— Mas um cérebro com experiência, com vivência, que é dotado de lógica, de raciocínio... ah! Você não usa mais este cérebro apenas como extensão do processamento, mas o usa como o próprio computador.

— Eles tinham uma vida antes disso?

— Sim! Eles tinham, eram três jovens saudáveis e talvez felizes! Espécimes perfeitos!

Gabriela Fernandez estava em cima do balcão. Ligeiramente bêbada e desinibida, ela ameaçava tirar a camiseta enquanto dançava entusiasticamente no ritmo da batida eletrônica, esquecendo-se de que haviam tantos olhos a observando, muitos até gravando a cena. Os vídeos, inclusive, já desfilavam na internet em muitas páginas voltadas ao escárnio e à destruição da imagem alheia. Ela era, agora, um item de entretenimento para a massa anônima.

Mas a música parou, a festa acabou e todos ficaram inquietos quando a trupe — armada até os dentes — se dirigiu para a moça que até aquele momento chamava toda a atenção para si. E parece que o público havia aumentado subitamente.

Um soldado a puxou pelo braço de forma brusca e a derrubou do balcão. Ela gritou e ameaçou bater nele, mas foi imobilizada.

Um segundo soldado se dirigiu até ela, abrindo um par de algemas para prender seus pulsos, quando uma garota careca com o rosto cheio de sardas jogou o conteúdo de um copo de bebida na face dele.

Incrédulo, o soldado ia devolver a ousadia da moça com um forte golpe, mas foi surpreendido por um soco em suas costas, obra de um rapaz moreno de capuz.

Todos os soldados voltaram suas armas ao casal, mas para surpresa e pânico geral, o rapaz abre os braços e todos os soldados são arremessados para longe sem que ninguém houvesse tocado neles.

O cão do rapaz mascarado avançou na multidão e saltou, visando ao pescoço do jovem moreno de capuz, mas foi impedido, interceptado em pleno salto, por um caco de garrafa que lhe invadiu a mandíbula aberta e atravessou o céu de sua boca. O cão caiu inerte no chão. Todos viraram seus pescoços à direita procurando quem havia arremessado o pedaço de vidro.

Junto ao grupo, escorado no outro lado do balcão, também havia um jovem rapaz branco, igualmente careca e trajando calça, camisa e sapato. Roupas nada condizentes com o ambiente da festa.

Os soldados atiraram nos três jovens, mas todos os tiros ricochetearam em alguma espécie de parede invisível e algumas das balas os acertaram de volta. Nesta hora houve pânico geral e muitos foram pisoteados por conta da massa que, desesperada, procurava a saída da boate.

Após alguns segundos de tiroteio os soldados pararam. Afinal, o que estaria acontecendo?

O rapaz de capa de chuva e máscara de gás adentra o local, e pasmo vê seu cão morto estirado no chão.

Ele volta suas vistas para os três carecas e não pensa duas vezes, avançando.

Ele estende a palma da mão direita contra o rapaz do balcão, jogando-o para o outro lado e acertando um soco no moreno.

Quando estava prestes a agarrar a garota de vestido, os dois que haviam sido derrubados há poucos segundos já estavam ao lado dele prestes a revidar.

O rapaz de máscara se esquiva e os dois carecas se emparelham com o estranho inimigo.

Imóvel, o rapaz de capa de chuva continua observando os dois.

Ele abre os dois braços e arremessa os dois carecas para longe de novo. Tão logo os oponentes estavam no chão, ele se volta para a garota de vestido que, para sua surpresa, ainda estava lá imóvel segurando a outra garota visivelmente alcoolizada.

Quando começou a caminhar em direção às duas, o estranho homem de capa de chuva notou algo estranho na feição da jovem sem cabelo. Ele recuou um passo e levou as duas mãos instintivamente para o alto, numa vã tentativa de se defender do impacto que viria a seguir.

A garota soltou um grito que ecoou por muitos segundos, e todos que ainda estava lutando para sair da boate ficaram surdos, vários deles caindo inconscientes e começando a ser pisoteados pela massa em pânico.

Tão logo conseguiu recuperar a orientação, o caçador voltou seus olhos para onde as duas estavam e viu que a jovem garota de vestido já havia sumido, assim como a garota alcoolizada.

Ele faz um sinal com as mãos para os soldados irem atrás das duas e se volta para os dois carecas, notando que eles também tinham partido.

Eles saíram correndo levando a garota ao tiracolo pela porta dos fundos que dava em uma rua sem saída do outro lado da boate. Eles começaram a correr naquele beco estreito e mal iluminado. Conseguiram virar a esquina no exato instante em que os primeiros soldados saíam também pela porta dos fundos.

PSI-Theta, o rapaz branco entre os promissores, notou um velho mendigo largado na calçada com uma garrafa de bebida vazia na mão. Ele não pensou duas vezes, foi até o indigente e tocou na testa dele. Em seguida continuou correndo.

Quando os quatro fugitivos já estavam dobrando a esquina, um dos soldados saiu do beco e teve contato visual com eles. Neste exato instante o mendigo se interpôs entre o soldado e a sua visão dos fugitivos.

— Sai da minha frente seu bêbado! Quer morrer?

— O velho apenas lhe tocou e imediatamente o soldado já não se sentia mais lá, perdera a noção de tudo, não tinha ideia de onde estava, quem era e o que fazia ali. De repente uma ordem muito clara surgiu em sua mente: usar a arma que tinha nas mãos para atirar nos demais soldados que vinham pelo mesmo beco de onde ele saíra.

Ele apontou para todos que vinham em fila indiana e descarregou sua metralhadora. Não houve chance alguma de revidar, tamanha a surpresa ao verem um companheiro mirando contra eles.

Por alguns instantes, o soldado se ocultando na esquina do beco alvejava qualquer um que tentasse sair pela porta da boate, ganhando assim um precioso tempo para os fugitivos.

Ele só parou de atirar quando um pastor alemão, com inúmeros cortes nas costas e implantes eletrônicos, saltou em sua jugular de forma sorrateira e precisa.

O caçador com capa de chuva e máscara de gás saiu de dentro da boate, desviou dos corpos dos soldados pelo caminho e se agachou para afagar demoradamente seu cão, que havia feito um ótimo trabalho. Ele ergue a cabeça em seguida para contemplar a grande matilha, todos iguais ao cão que ele afagava, que se juntou perto dele. Ao fazer um sinal com a cabeça, cada um deles dispara em uma direção diferente. A ordem era óbvia: encontrar os quatro fugitivos.


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