Psicose (Livro I)

By andiiep

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Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... More

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Dez - Embriaguez Acidental
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezesseis - Triângulo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Quatro - Intimidade
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e sete - Quebra-Cabeças
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Trinta e Seis - Scotland Yard

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By andiiep


Três dias se passaram desde a surpreendente e misteriosa rebelião no St. Marcus Institute. Três dias que se arrastaram como se fossem três meses. Três dias desde que a paz voltara a reinar no St. Marcus Institute, por mais que naquele local "paz" tivesse significados distintos do usuário comum.

Nenhuma morte, alguns pacientes e guardas levemente feridos, apenas uma única fuga: Corey Sanders.

Era o assunto do momento pelos corredores e isso não ajudava Melissa a se sentir melhor por ser a responsável por toda aquela confusão. Todos cochichavam pelos cantos, criando mirabolantes teorias da conspiração sobre a espetacular fuga de Corey Sanders.

A principal dúvida era: quem o havia ajudado?

Porque ele não seria capaz de escapar dos muros do St. Marcus sozinho. A segurança era arrogante o suficiente para chegar rapidamente a tal conclusão. Ninguém, jamais, em mais de 150 anos de história, havia escapado. Sozinho, por mais inteligente que fosse, nenhum prisioneiro seria capaz de tal façanha. Nem mesmo Corey Sanders.

Pelo número de funcionários, os suspeitos eram muitos, mas por algum motivo, Melissa sentia o olhar desconfiado de todos por onde passava. Ou talvez fosse apenas peso na consciência.

Melissa desligou-se do mundo conspirador que a rodeava, porque o nome de Corey passando de boca em boca só trazia a amarga lembrança de que também há três dias não tinha notícias dele. Talvez devesse tomar o silêncio como um bom sinal, pois ele haveria completado sua fuga com sucesso. Por outro lado, entretanto, não poderia deixar de considerar a possibilidade de ele ter se perdido na floresta, ou se machucado de alguma forma. Pelo menos a polícia ainda não havia dado as caras, e isso era um alento.

Alento esse que, infelizmente, passou no início da manhã do terceiro dia.

Melissa caminhava distraída pelos corredores, o pensamento naquele que era o responsável por suas preocupações, suas três noites mal dormidas e suas olheiras escuras. Mas a agitação de três enfermeiras que passaram esbarrando em seu ombro chamou a atenção. E quando chegou ao refeitório, Melissa reativou sua audição, apenas para ouvir qual era a fofoca da vez. Torcia para não ser a localização de Corey. Felizmente, não era, constatou.

Mas tinha a ver com sua fuga e a palavra Scotland Yard fez um frio esquisito subir por sua espinha. Eles estavam levando o caso muito sério, a ponto de deslocar alguém da polícia metropolitana de Londres até o fim do mundo. Provavelmente porque Corey era quem era, e porque precisavam dar uma resposta rápida aos ingleses de bem, preocupados com a possibilidade de um assassino frio como ele estar à solta. Por um instante, a doutora parou com as mãos sobre um pedaço de pão doce. E só se mexeu porque alguém pigarreou atrás dela, chamando-a de volta à realidade.

Era Kate.

— Já soube da novidade? — Ela perguntou.

Seu semblante maternal de sempre foi substituído por um visivelmente preocupado. Era a primeira vez que Melissa via Kate sem aquela aura de calma contagiante envolvendo-a. Não houve contágio sobre a doutora desta vez, portanto.

— Acho que acabei de descobrir. Não falam de outra coisa nesse lugar. — Melissa rolou os olhos, tentando parecer equilibrada.

Um colapso nervoso estava na iminência de acontecer, o copo de suco de laranja tremendo entre seus dedos confirmava com propriedade sua suspeita. Kate caminhou atrás de Melissa, enquanto ela buscava um lugar afastado de todos no refeitório para se sentar.

— O investigador chega logo após o almoço. — Kate apoiou as mãos sobre a mesa de fórmica branca e começou a tamborilar os dedos ali.

Melissa mordeu um pedaço do pão doce e observou o gesto inquieto da outra.

— Você está preocupada.

— Tem como não estar preocupada?

— Bem, já era esperado que a polícia viesse nos visitar, Corey é um dos "assassinos" mais famosos da história da Inglaterra. — Deu de ombros, mas não pareceu calma — Nós estávamos dando um passeio noturno, não estávamos? — Melissa tentou sorrir. — E nenhuma das câmeras de seguranças captou nada suspeito da nossa parte.

— Eu sei Melissa, eu sei.

— Então qual a sua preocupação?

— O investigador achar Corey no meio da mata. Não está preocupada com isso?

— Sinceramente... — Melissa deu um gole em seu suco antes de continuar: — Quando se deram conta de que ele havia fugido, a polícia de Rye fez uma busca por tudo e não o encontrou... Acho que ele chegou aonde deveria chegar.

— Porque a polícia de Rye é incompetente. Mas um investigador da Scotland Yard talvez saiba onde procurar...

— Não faz sentido... — ela comentou pensativa.

— O que não faz sentido?

— A Scotland Yard vir investigar a fuga de Corey... O crime nem foi cometido em Londres...

— Eu sei, pensando por esse lado, é bastante estranho. De qualquer modo, é um oficial da Scotland Yard... Eles querem resolver o assunto o mais rápido possível, isso está bastante claro.

— Então nós teremos o tempo que ele vai gastar para interrogar todos os funcionários para achar Corey e mandá-lo embora o mais rápido possível.

Kate não respondeu, apenas acenou positivamente com a cabeça. A falta de positividade de seu poço de confiança não estava fazendo bem à doutora. Por mais que por fora parecesse inteira, por dentro, estava desmoronando. E os papéis haviam se invertido ali. Kate era a preocupada, Melissa a responsável por trazer a calma de volta. E isso era inquietante. Ela engoliu um bom tanto de suco de laranja, distraindo-se por cinco segundos do mundo inconstante que ela mesma construiu.

A consulta com Julia Sheffield voou. Com a senhora Logan também. O piloto automático estava ligado. Era difícil racionar com coerência quando sua cabeça viajava desde os momentos de prazer que desfrutara com Corey, os mais intensos e profundos, até o fato de que ele estava lá fora, correndo risco de vida.

O guarda que esperava para levar a senhora Logan de volta ao prédio A foi quem avisou a Melissa que a hora do almoço havia chegado. Mas ela passou todo o tempo de intervalo trancafiada em seu consultório, sem ter forças para fazer nada, além de vegetar morbidamente. Só acordou daquele transe constante em que se encontrava quando alguém bateu em sua porta. Autorizou a entrada e menos de dois segundos depois, o doutor Thompson deu o ar da graça. Em seu rosto velho e amigável, trazia um sorriso nervoso. O lenço azul claro estava apertado entre seus dedos e ele o usou para secar sua testa brilhante de suor, antes de falar:

— Doutora Parker, estou atrapalhando alguma coisa?

Melissa levantou os olhos, antes perdidos nas ranhuras de sua mesa de madeira, e pigarreou antes de responder:

— Não. — Ela negou com a cabeça e então se ajeitou em sua cadeira — Pode entrar.

— Na verdade, eu trouxe alguém para conversar com você. — O velho homem gesticulou demais com as mãos, e então abriu a porta para que outro homem, esse com cara de poucos amigos, entrasse no consultório.

Os músculos de Melissa enrijeceram, a pose de autoridade que ele exalava com naturalidade aproximava-se de um irritante clichê.

— Este é Josh Bethel, investigador da Scotland Yard. — informou o doutor Thompson, que parecia incomodado demais com o fato de que a autoridade estava presente no St. Marcus Institute.

— Boa tarde. — O homem cumprimentou, o sorriso demonstrando sua jovialidade.

— Boa tarde. — Melissa levantou de sua cadeira, e apoiou o corpo com uma mão na mesa, enquanto estendia a outra cordialmente para que pudesse cumprimentar o investigador Josh Bethel.

O aperto de mão dele era firme e a mão de Melissa suava e tremia. Péssima impressão teria o investigador, se prestasse atenção nesses mínimos detalhes que entregavam seu nervosismo. Se ele fosse mais fundo, Melissa entregaria também sua óbvia posição de cumplicidade com a fuga de Corey Sanders. Não era difícil ligar os pontos, pensou ela, enquanto sorria de volta para o investigador e acompanhava de modo saudoso a saída do doutor Thompson. O que lhe restava de calma foi embora como o chefe maior do St. Marcus.

— Sente-se. — pediu a doutora, educadamente indicando a cadeira destinada aos pacientes.

— Obrigado.

O sorriso do policial cresceu em excesso, daquele modo Brian de ser que atualmente despertava confiança em Melissa.

— Então... A que devo a honra da visita?

— Bem... — O investigador Josh Bethel juntou as duas mãos sobre sua mesa e se aproximou. Claramente o olhar seguro tentava dar a ela uma falsa sensação de segurança, de que poderia confessar todos seus mais profundos segredos, eles estariam muito bem guardados. Seus vinte e poucos anos de vida gritaram que não precisava acreditar naquele tipo de ladainha policial. — Você com certeza está ciente da fuga de três dias atrás, durante aquela rebelião que o chefe da segurança do hospital julgou como... Inexplicável.

— Sim, estou.

— Soube que o prisioneiro que fugiu, Corey Sanders, era seu paciente.

— Sim, ele era.

— Há quanto tempo Corey Sanders era seu paciente? — perguntou o investigador, enquanto levava as mãos ao bolso do terno bem alinhado que vestia.

De lá retirou um bloco e uma caneta prateada de aparência cara.

— Há mais ou menos dois meses, desde que cheguei aqui. — respondeu, enquanto acompanhava atentamente o investigador escrever em seu bloco.

— Como era sua relação com ele?

— Boa... — Melissa deu de ombros. Ele escreveu novamente. E bem mais do que o "boa" que Melissa respondeu.

Ela franziu o cenho. Lembrou-se de quando fora mandada para a sala da diretora da escola quando tinha 11 anos, porque não hesitara em dar uns bons socos na cara da colega Cindy Parsons que a provocava todos os dias por causa de seus óculos. A postura da diretora parecia-se muito com a do investigador, muito embora acreditasse que a sala daquela austera senhora seria o limite para suas transgressões.

— Soube que durante todo o tempo em que esteve aqui, o prisioneiro se recusou a se comunicar com todos os médicos que o trataram...

— Isso mesmo.

— Mas com você ele falou, não foi?

— Falou. — Melissa confirmou com a cabeça, e seus olhos curiosos não saíam do bloco em que o investigador continuava a fazer suas ilegíveis anotações — E foi um grande avanço no tratamento dele. — Deu-se ao trabalho de completar.

Falar em excesso entregaria o nervosismo evidente em sua voz trêmula, mas adotar uma postura monossilábica também não a ajudaria naquele momento.

— Por que ele resolveu falar só com você?

— Eu não sei... Talvez eu tenha sido mais persistente do que os outros médicos.

— Ele passou por todos os outros médicos desse hospital, estou correto?

— Sim.

— Interessante... — Ele escreveu mais algumas linhas em seu bloco, então levantou os olhos de águia na direção de Melissa novamente — A relação de vocês ia além da relação médico/paciente?

Melissa engoliu em seco e hesitou por um instante.

— Qual o objetivo de uma pergunta dessas?

— Saber se a relação de vocês ia além de médico/paciente...?

— O que leva você a pensar que isso aconteceria no St. Marcus Institute?

— Eu não sei, doutora Parker... Estou apenas cogitando algumas possibilidades... Você deve entender que é uma suspeita em potencial de cumplicidade com a fuga de Corey Sanders, dado o fato de que era sua médica. E de que ele parecia ter bastante apreço por você.

— Quem foi que disse isso?

— O doutor Thompson, enquanto conversávamos sobre a rebelião e suas possíveis causas. É interessante como as portas das celas se abriram e ninguém sabe como... Sem levar em conta o incêndio que distraiu a metade dos guardas presentes naquela noite... Foi um plano bem arquitetado, não concorda?

— Concordo.

— Então, doutora Parker... Durante nossa conversa, o doutor Thompson me informou de alguns incidentes no hospital que envolveram Corey Sanders. Ele brigou com o doutor Brian Peters e com um dos outros pacientes, Johnathan Reagon, por sua causa, estou correto?

— Sim.

— E mesmo ciente de que ele poderia enxergá-la de uma forma inapropriada, aceitou ser sua psiquiatra?

— Aceitei.

— Pode me dizer por quê?

— Porque entendi que era a única aqui dentro que poderia ajudá-lo.

— Ele estava precisando de ajuda?

— Todos os prisioneiros do St. Marcus precisam de ajuda, investigador. – Melissa, pela primeira vez, sentiu-se mais segura a falar. A voz quase parecia a sua novamente. — Você deve entender como é difícil viver em um lugar como este, cheio de assassinos, estupradores, pedófilos... Todos tomados por alguma doença mental ou psicológica grave. Se, por ventura, alguém veio parar aqui por engano, com certeza vai enlouquecer... Manter todos eles o mais lúcidos possível é o nosso trabalho.

—Então você entendeu que deveria trabalhar para mantê-lo lúcido?

— É para isso que sou paga, não é mesmo? Fiz um juramento quando me formei, e não estou tentada a quebrá-lo.

— Tem razão. — O investigador Josh Bethel anotou mais linhas em seu bloquinho, virando a página. Melissa mantinha os olhos fixos no que ele fazia, a saliva descendo áspera pela garganta. — Sobre o que conversavam nas consultas?

— Desculpa, mas isso é confidencial. — Melissa negou veementemente com a cabeça e segurou um sorriso de canto de lábio.

A expressão desgostosa do investigador, que pela primeira vez, não parecia inabalável, era impagável.

Ele cerrou os olhos por um instante e voltou a escrever no bloquinho.

— Certo... Além de você, com quem mais ele conversava?

— Pete, o carcereiro chefe do prédio C.

— Ótimo. — ele assentiu e escreveu novamente — Pode me dizer onde estava no momento da rebelião?

— Passeando com Kate, uma das enfermeiras, pelo jardim.

— O que estava fazendo à noite no jardim?

— Passeando...

— Por quê?

— Porque eu e Kate gostamos de fazer passeios noturnos... — Melissa retrucou, com um tom de obviedade que beirava a insolência.

O investigador Josh Bethel mais uma vez pareceu desgostoso.

— E quando o incêndio começou, para onde foram?

— Para dentro do prédio administrativo, logicamente.

Quem era ele para dizer que ela não estava dentro do prédio administrativo quando a rebelião estourou?

— Se você estava no jardim no momento em que todo o caos começou, deve saber me dizer se havia alguma coisa estranha ocorrendo naquela noite...

— Nada que eu tenha notado...

— Tem certeza?

— Kate e eu não saímos em passeios noturnos preocupadas em investigar focos de incêndio ou rebeliões misteriosas... Nada disso nunca havia acontecido, pelo que eu sei.

— Certo... — Josh Bethel anotou novamente no bloquinho, virando outra página. — Então não viu Corey Sanders fugir?

— Não.

— Não sabe quem pode tê-lo ajudado?

— Não.

— Ele andava tendo algum comportamento estranho nos últimos dias, algo que denunciasse seus planos?

— Não que eu me lembre, não.

— Tudo bem. — Josh Bethel assentiu, finamente fechou o bloquinho e o guardou no bolso, juntamente com a caneta. — Se lembrar de algum detalhe, me procure. Estarei a semana toda no hospital, interrogando funcionários e investigando fatos...

— Com certeza.

— Estarei de olho em cada movimento de cada funcionário...

— Espero que esteja. — Melissa piscou.

O investigador Josh Bethel lançou-lhe um olhar desconfiado, que pareceu durar o restante do dia, então virou as costas e não disse mais nenhuma palavra antes de sair e fechar a porta atrás de si.

Melissa esperou um tempo encarando a porta de madeira escura. Então largou o corpo em sua cadeira e permitiu-se soltar a respiração que vinha prendendo durante toda a conversa mais tensa de sua vida. Quando o ar finalmente saiu de seus pulmões, as lágrimas entenderam que era hora de ganhar vida e escorreram por seus olhos, que ardiam como se tivessem jogado areia neles.

Não tentou segurar nenhuma das reações desesperadas de seu corpo. Era hora de deixar toda a carga de sentimentos que o St. Marcus Institute fez acumular em suas costas extravasar. Era hora, antes que ela, literalmente, explodisse. Então, pela segunda vez em uma semana, lá estava ela, chorando toda a água ainda restante em seu corpo, sozinha em seu consultório sombrio que já havia presenciado dos mais inacreditáveis eventos sobrenaturais. Se alguém dissesse que enquanto estivesse no St. Marcus tudo aquilo aconteceria, Melissa provavelmente zombaria desse alguém...

Quando as lágrimas pararam de cair e ela já era capaz de respirar sem parecer ter corrido a maratona de Nova York, deixou seu consultório para trás. A sala fechada a sufocava. Era difícil pensar ali dentro. E o pensamento de que tinha que achar Corey e mandá-lo para bem longe do St. Marcus precisava evoluir para mais além disso, se quisesse que ele, de fato, não fosse capturado pelo investigador Josh Bethel.

Ele era esperto. E provavelmente ficaria no cangote de Melissa todo o tempo em que estivesse ali. Cada comportamento dela estaria sendo vigiado e seria motivo de desconfiança. E de mais um daqueles interrogatórios.

A informação de que não estava bem o bastante para continuar trabalhando pelo restante do dia não foi novidade para o doutor Thompson, que a dispensou com um sorriso menos nervoso no rosto. O investigador Josh Bethel, com seu instinto aguçado, logo ficou sabendo, e seguia Melissa para todo lado que ela ia. Até que resolveu se trancar em seu quarto e só abrir a porta quando Kate bateu.

— Temos que tirar o Corey da cidade, do condado, do país, se for preciso, o mais rápido possível. Esse Josh Bethel vai encontrar ele mais cedo do que a gente espera e...

— Calma, Melissa! — Kate levantou as mãos espalmadas. Tentava sorrir e transpassar a calma medicinal de sempre.

— Desculpa, Kate, mas não tem como ficar calma em um momento desses...

— Josh não vai encontrar Corey onde ele está escondido.

— Mas você estava preocupada com isso hoje mais cedo, e... Espera. — Melissa cerrou os olhos e levou as mãos à cintura — Josh? Já está íntima do imbecil do investigador?

Kate pigarreou e encarou os próprios pés vestidos nos seus sapatos muito brancos. O tempo que durou o silêncio, foi o tempo que Melissa levou para ligar os pontos. Kate parecia corada, mesmo de cabeça baixa. O modo nervoso como remexia as mãos a entregava em seu segredo.

— Ele é o seu ex-namorado, não é? Aquele que te deixou pela Scotland Yard?

— Brian deveria ser menos fofoqueiro. — Ela ainda não encarava Melissa.

— Não estamos discutindo os maus hábitos de Brian agora, Kate...

Ela suspirou. Então estalou os lábios. E aí seus olhos verdes faiscaram na direção dos de Melissa.

— Sim, é ele...

— Como está se sentindo?

— Bem...

— Não me parece bem...

— Não estamos discutindo meu estado psicológico. Corey precisa mais da sua preocupação do que eu.

Melissa lançou um olhar enfezado à outra, dando-lhe o recado de que iriam conversar sobre aquilo depois. Quando Corey estivesse finalmente seguro.

— O mundo é muito pequeno, não é mesmo? Por que agora tem tanta certeza de que Josh Bethel não vai encontra-lo.

— Porque a presença dele me deixou mais calma e confiante e agora eu acredito que ninguém vai acha-lo.

— É um motivo muito estranho.

— Confie em mim. Pegue o mapa e vá visitar Corey. Vou distrair Josh, tirá-lo da sua cola, e pensar em algum modo de tirar Corey de lá. Converse com ele sobre isso. Três cabeças pensando são melhores do que duas. Driblar o bando de policiais que estão guardando as fronteiras da floresta não vai ser fácil...

— Há guardas nas fronteiras da floresta? — Melissa arregalou os olhos, mil vezes mais preocupada do que já estava.

— E por toda a Winchelsea... Aparentemente eles acham que Corey está escondido por aqui...

— E eles não estão errados! Eu vou... Eu não vou conseguir chegar na cabana...

Desespero era um triste eufemismo naquele momento.

— Claro que vai, você é uma menina esperta.

— Não o suficiente para seguir um mapa.

— Então seja guiada pelo amor. — Kate sorriu, piscando, e deixou sobre a cômoda de Melissa um pedaço de papel branco.

Ela não teve tempo de retrucar o último comentário de Kate. Apenas encarou a porta que se fechou. Então foi imediatamente tentar decifrar o mapa que a levaria diretamente até Corey.

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