Bruno não viu nada de diferente ou ninguém suspeito enquanto Olivia almoçava com a irmã. Claro que ele não reconheceria nenhum empregado do Jota, mas também não reparou em ninguém suspeito interessado demais nas duas garotas que aos poucos começaram a rir e se sentir mais a vontade. Bruno deixou que elas conversassem por umas duas horas enquanto ele as vigiava da pizzaria do outro lado da rua e voltou no tempo em que Olivia tinha marcado com ele. Quando entrou no restaurante, Patricia arregalou os olhos ao ver que ele estava se aproximando da mesa das duas.
- Boa tarde garotas.
Olivia indicou uma cadeira e Bruno se sentou após se apresentar para a irmã de Liv.
- Então você é o amigo que a minha irmã pegou carona?
- Sim, eu sou.
- Ela não disse que você era tão bonito. - Bruno riu e viu que Olivia estava desconfortável. Só que ele não sabia é se ela estava com medo dele contar alguma coisa que não devia, ou se iria escutar alguma coisa de Patricia que ela não queria compartilhar. - Se conhecem a muito tempo?
- Há alguns dias, na verdade. Somos vizinhos então nos esbarramos algumas vezes nos últimos dias.
Na mente de Bruno todas as cenas dos dois transando apareceram como flash e ele agradeceu pela toalha da mesa ser longa o suficiente para esconder seu colo. Ele mal conseguia tirar os olhos de Olivia que parece mais relaxada depois desse tempo conversando com a irmã.
-Nossa Ollie, que sorte você encontrar alguém tão prestativo, não?
Graças àquele comentário Bruno finalmente percebeu a burrada que ele cometeu. Ficou tão concentrado em livrar Olivia do incômodo que era encontrar a irmã que ela não via há anos que esqueceu que ela poderia saber que Jota contratou um segurança para Olivia.
- Ele precisou resolver uns assuntos aqui em Resende, eu só aproveitei que ele passaria por aqui, só isso.
Patricia olhava Bruno atentamente enquanto a irmã falava. Ele estava um pouco incomodado, mas fez o possível para não transparecer.
- Sei, legal e em que você trabalha Bruno?
- Tenho uma empresa com um amigo, fazemos a monitoramento de encomendas de grandes carga.
Foi a mentira mais próxima que ele arrumou.
- Então você é tipo um guarda costas?
Ele riu para esconder o nervosismo. É claro que ela sabia, mas será que ela também sabia que não era para contar nada para Olivia? Ele pelo menos torceu que sim.
- Só se for guarda costas de objetos. Faço apenas o rastreio de produtos transportados em veículos terrestres ou marítimos.
- Parece chato.
- As vezes é sim, mas você se acostuma. - ele sorriu.
Olivia se levantou e disse que ia ao banheiro sem ao menos olhar para os dois e deixou-os sozinhos. Quando ela se afastou o suficiente Patricia se aproximou de Bruno por cima da mesa e sussurrou:
- Foi você que meu pai contratou, não foi?
-Sim, mas ela não pode imaginar que...
- Sabia! Eu sei, ela é um pouco cabeça dura as vezes. Pelo menos já sei que vocês dois nunca terão nada juntos.
- Porque diz isso?
- Meu pai mataria você sem pensar duas vezes.
Ela deve ter reparado que Bruno imediatamente ficou tenso porque perguntou:
- Ou não vá me dizer que vocês dois...
-Não, claro que não. Estou fazendo amizade com ela para que ela não estranhe se acontecer alguma coisa e eu ter que aparecer na casa dela de repente, entende.
Ela pareceu mais aliviada quando ele respondeu, se ajeitou na cadeira e deu o último gole no seu refrigerante.
- Ah então você está bem. Soube o que ele fez com o último namorado dela?
Bruno balançou negativamente a cabeça e quando estava prestes de perguntar o que Jota tinha feito Olivia chegou.
-Tudo bem aqui? Desculpa, acho que comi algo que não me fez bem, podemos marcar para conversarmos mais outro dia, Patricia?
Patricia diz que sim e levanta da cadeira sorrindo para a irmã, diz que vai pagar a conta no caixa mesmo após Olivia insistir em dividir a conta.
-Não precisa, uma viagem para o Brasil é caro e você nem tem emprego aqui, dessa vez eu pago. Enquanto isso, vocês me esperem ali na frente para nos despedirmos, ok?
Olivia não discutiu mais. Foi ao lado de Bruno para a calçada enquanto esperava a irmã.
- Ela é bem legal, porque vocês não se falavam mesmo?
Olivia olhou de cara feia para Bruno e não respondeu.
- O que foi que eu disse?
Ela não respondeu mesmo com Bruno tentando fazê-la falar. Ele não queria parecer íntimo demais quando Patricia chegasse então ele não insistiu muito. Ficaram calados esperando a irmã para se despedir.
Enquanto as duas estavam de abraços e beijos Bruno foi buscar o carro e estacionou ao lado de Olivia.
-Vai entrar ou quer que eu ligue para um táxi?
Ela sorriu sem vontade e entrou. Quando estavam há certa distância dos olhares curiosos de Patricia Bruno começou a rir.
- O que tem de tão engraçado na rua?
- Não estou rindo da rua, estou rindo porque você está com ciúmes de mim.
-Ciúmes? Eu? Poupe-me Bruno.
- Então porque quis vir embora quando comecei a me dar bem com a sua irmã?
- Ahh então vocês estavam se dando bem? - Olivia não conseguiu segurar, o que fez Bruno rir novamente.
- Não nesse sentido. Mas não estávamos nos estapeando no meio do restaurante. Só quis dizer que ela não é tão má quanto você me disse.
Olivia ficou um tempo em silêncio antes de responder.
- Não estava me sentindo bem, é só isso. Se queria ficar mais era só dizer, eu pegaria mesmo um táxi...
Bruno tossiu a palavra "ciumenta" o que fez Olivia dar um tapa na coxa de Bruno.
- Eu não tive ciúmes de você, só... - Ela mesma estava tentando entender seus sentimentos - Só estou um pouco confusa.
- Com o quê?
- Se eu fiz certo em ir embora, em largar a minha irmã com o Jota.
- Você achou que devia fazer aquilo e fez. Não tem nada de errado em tentar viver bem, mesmo quando isso não inclui a sua família.
- Mas e se eu tivesse mantido contato com ela? Poderíamos ter sido boas amigas.
- E ainda podem, Liv. Você só perdeu alguns anos com ela, mas sempre serão irmãs. Isso nunca vai mudar.
- Você tem algum irmão? - Ela achou que se falasse sobre ele, sobre as experiencias dele, as dela poderiam ser anestesiadas, por hora.
- Tenho uma irmã mais nova.
- E você tem contato com ela?
Bruno ri.
- Mais do que eu gostaria de ter.
Olivia se vê sorrindo com o brilho nos olhos de Bruno ao falar da irmã, mesmo que esteja falando coisas negativas sobre ela.
- Ela vive me ligando, fala o tempo todo. E quando digo que é o tempo todo quero dizer que ela realmente não consegue manter a língua parada entre os dentes. Adora se meter na minha vida e de alguma forma ela consegue que eu faça tudo pra ela.
-hmm, ela deve ser interessante. Queria conhecê-la.
- Você irá, mas este fim de semana ela foi com meus pais para Copacabana.
- Praia. Nossa quanto tempo não sei o que é isso. Bom, pelo menos não aqui no Brasil.
- Fui há alguns meses e na semana que vem vou para o casamento de uma prima também.
- Que legal, mande os parabéns para ela.
- Mandarei. - Dez segundos depois. - Ou você pode ir comigo.