Estavam em uma comunidade carente que a garota nunca tinha ido antes, nem sabia que existia.
- Okay.
Ele saiu do carro e ela continuou lá dentro, esperando que ele abrisse a porta.
- O que foi? - o garoto perguntou ao passar pelo lado do carro em que ela estava.
- Você não pode ser cavalheiro e abrir a porta? - perguntou, abrindo-a
- Não quero que se acostume. - ele riu, esperando que ela se aproximasse. Foram até a porta do prédio e um homem de meia idade abriu a porta, cumprimentando o garoto.
- E quem é essa? - o homem que perguntou tinha um tom gentil.
- A garota que eu falei. - Liam sorriu.
- Oh, ela é perfeita. - o homem olhou para ela e exibiu um largo sorriso. - Por ali. - indicou para um corredor e eles seguiram por ele.
O lugar por dentro era completamente diferente. Era tudo claro e alegre, as portas do lado direito e esquerdo ao longo do corredor eram rosas e azuis, respectivamente.
Uma das portas se abriu enquanto passavam e um medico saiu de dentro do recinto. Amy conseguiu ver um pedaço do quarto, que se parecia com um quarto de hospital, no entanto, era colorido e aconchegante. Não se parecia com um hospital, exatamente... pessoas passavam pra lá e pra cá , todas sorriam e acenavam para Liam.
- Liam. - ela chamou baixo e ele a olhou . - O que é isso aqui? - ele apenas sorriu e apoiou uma das mãos nas costas da garota. Com a outra mão , abriu uma porta, mais larga que as outras e Amy levou a mão a boca imediatamente.
O lugar era imenso. Imensos painéis pendurados por cabos de aço estavam por todos os lados. Em cada um deles, fotos de crianças lindas e sorridentes, todas sem cabelo.
Percebeu que as mesmas palavras se repetiam na parte superior das fotos:
" LOVE. HELP."
- Um Instituto de ajuda a crianças carentes com câncer. - Liam falou, olhando para frente.
- E as fotos são...
- Minhas.
- Isso é lindo. Por que não me contou?
- Preferi te mostrar. - deu de ombros
Ela sorriu encantada. Andou pela sala, avistando uma grande porta aberta ao fundo, onde se podia ver uma espécie de estúdio.
- William! - dois garotos que pareciam ter a mesma idade dele se aproximaram.
- Essa é a garota? - um deles, cumprimentando- a com um abraço e recebendo um abraço de Liam em seguida.
- Você é exatamente como estávamos procurando. - o outro falou, repetindo os cumprimentos do primeiro.
- Obrigada... Eu acho - a garota sorriu confusa.
- Amy, esses são Chris e Julian. Meus amigos. - ela não pôde esconder a surpresa ao escutar a palavra "amigos". Ele não parecia o tipo de cara que tem amigos. Pelo jeito, estava enganada sobre o garoto.
- O Chris é um gênio. Ele foi o mentor de tudo isso aqui. - continuou, piscando para o suposto "amigo gênio"
- Sempre modesto. - o garoto falou e Amy soltou uma risada anasalada, fazendo os três olharem para ela.
- Algum problema? - Liam arqueou a sobrancelha
- Não. - respondeu, corando - é que você é realmente muito modesto. - falou ironicamente, segurando o riso com todas as suas forças, e recebeu um olhar reprovador de Liam, que a fez tampar a boca para não rir novamente.
- Ele é. Criou tudo isso aqui, mas insiste em nos atribuir a autoria. - falou um dos garotos, provavelmente não entendendo o tom irônico do comentário da garota.
- Vocês são parte disso. - o garoto sorriu para os amigos. Ok, Liam havia sido abduzido e trocado por uma versão melhorada dele mesmo. - Agora precisamos tirar as fotos, porque a princesa aqui tem hora pra voltar.
Os dois meninos se despediram do amigo e de Amy, e saíram da sala.
- Princesa? - Amy sorriu ironicamente ao entrarem no estúdio improvisado. - que fofo.
- Eu estava pensando na Fiona, sabe. Cabelo vermelho e tudo mais... Mas se você acha fofo... - ele falou sorrindo, recebendo um tapa na nuca.
- Não consegue nem admitir que usou um apelido meigo.
-Eu não uso "apelidos meigos" - ele fez cara de tédio.
-Eu sei que lá no fundo você é um poço de meiguice.
- Pode se iludir a vontade. - riu.
- Você realmente criou isso aqui?
- Não sozinho. - deu de ombros, analisando algumas câmeras em uma mesinha.
- É uma atitude muito bonita, sabe.
- Eu vejo de tudo em minhas viagens, Amy - ele levantou a cabeça, encarando a garota - eu vejo pessoas que têm muito e pessoas que não têm nada. Vejo pessoas que não têm nada sacrificando o pouco que têm quando algum dos seus está passando por dificuldades. O que eu fiz, e o que eu faço aqui... Não é mais que minha obrigação.
Ela sorriu.
- Então, vou tirar as fotos com essas roupas mesmo? Ah, e as fotos são para...?
- Faremos uma campanha. Uma divulgação do instituto. E precisamos de um rosto, é aí que você entra.
- O projeto foi criado quando eu estava em Portugal. Morava em uma espécie de fraternidade, eles já tinham esse mesmo Centro lá e tinham um projeto de criar uma aqui. É um grupo de jovens que realizam projetos de todos os tipos sem fins lucrativos. Precisavam de uma ajuda financeira, e chegaram até mim. Eu gostei da idéia e resolvi trazer pra cá. - ele explicou enquanto mexia em algumas lentes.
- É lindo. Vocês devem ajudar muita gente!
- Sim. É gratificante. - mantinha uma pose séria enquanto se concentrava em trocar as lentes de algumas câmeras.
- Me disseram que Liam Foster estava aqui eu tive que vir ver com meus próprios olhos. - Uma voz feminina ecoou pelo ambiente e a ruiva observou uma garota loira de cabelos curtos e ondulados, que devia ter a mesma idade do garoto, se aproximar. Ela sorria exageradamente, e seus dentes eram tão brancos que Amy fez uma nota mental para não se esquecer de marcar um clareamento no dentista com urgência.
-Bi! - ele falou o nome da garota loira sorrindo e Amy arqueou a sobrancelha. "Ah, então agora ele usa apelidinhos meigos?" Amy pegou-se pensando ao observar a cena, estranhamente desconfortável.
A menina falava algo sobre estar com saudades, enquanto segurava ora ou outra no braço ou ombro do garoto e ria. Ria. Ria o tempo IN-TEI-RO.
Socava a garota mentalmente.
"Ele nem é tão engraçado assim." Começou a bater os pés inconscientemente (ou não), e Liam percebeu, parando a conversa e dizendo à loirinha que terminariam aquela conversa depois. O que pareceu agradá-la bastante. Ela sorriu, acenou para Amy e girou nos calcanhares, teatralmente, deixando o local.
- Achei que conversaria com sua amiguinha durante a noite toda. - ela falou numa mistura de ironia e nervosismo e um sorriso descarado surgiu nos lábios do garoto.
- Oh, eu tenho certeza que se tivéssemos a noite toda, a minha amiguinha não perderia tempo conversando. E sua camisa está ali. - falou, apontando para um biombo no canto do cômodo.
-Aquilo é quase transparente. - franziu o cenho ao olhar para o lugar aonde trocaria sua camiseta pela blusa da campanha. Era um daqueles trocadores de estúdio, onde quem está de fora consegue ver toda a silhueta de quem está dentro. - você vai me ver.
-Essa é a intenção. - ele riu.
Ela vestiu a blusa a contragosto e ao sair recebeu das mãos do garoto uma caixa com os sapatos que deveria usar. Não conteve o sorriso ao ver seus sapatos dentro da caixa.
Tiraram todas as fotos que eram necessárias e o trabalho foi muito mais fácil do que Amy imaginara. O fotografo ajudava. Liam era gentil e divertido o tempo todo, ela sorriu naturalmente em todas as fotos e o resultado ficou incrível.
- Essa ficou ótima. - ele aproximou a câmera para que a garota pudesse ver uma das fotos, enquanto caminhavam para fora do prédio.
- Fiquei gorda.
- Como se fosse possível.
- Tá me chamando de magrela?
Ele a olhou por cima e sorriu de lado. - Como eu já disse, razoavelmente... Ai! - gritou, alisando a própria nuca ao receber o segundo tapa da noite.
Pegou a garota no colo, levando-a até os ombros e carregando-a.
-Seu animal! -gritou, tentando inutilmente desviar se dou braços do garoto que a apertavam. No entanto, não conseguia segurar o riso.
- Hum. - ele a pressionou contra a parede, após soltá-lo na saída - gosto disso. Essa é a sua fantasia do dia, Chapeuzinho ? Porque eu não me importo em ser o lobo mau. - exibiu sorriso malicioso, com os lábios assustadoramente perto dos dela. A garota rolou os olhos com o novo apelido. Aquela mania de chamá-la por nomes de contos de fadas estava ficando ridícula.
-Você está mais pra sapo. - falou, sem desviar o olhar. - Nojento e asqueroso.
- Tem certeza que você tem nojo de mim? - ele perguntou baixo, roçando os dedos na parte inferior da barriga dela, e sorrindo, vitorioso, ao ver que os pelos do braço dela se eriçavam. - porque isso me parece tesão.
- Você é ridículo.
- Teimosa.
- Ogro.
-Linda.
- IN-SU-POR... Espera. An? - sorriu ao perceber do que ele a chamara. Estavam a apenas alguns centímetros de distância um do outro. Ele a segurou pela nuca, sorrindo enquanto aproximava-se ainda mais , e ela mordeu os lábios inconscientemente. Beijou o pescoço da garota, que contraiu o abdomen, agarrando-se no corpo a sua frente. Liam subiu os lábios até que seus rostos estivessem novamente frente a frente.
-Liam? - uma voz masculina chamou, tentando inutilmente esconder o riso ao perceber o que havia atrapalhado. - Me desculpa.
-Sem problemas. - o garoto respondeu perceptivelmente frustrado.
-Eu te avisei pra não deixar o carro aberto nessas redondezas... - o outro ria.
- Ah, não!
Alguns moleques das redondezas haviam tentado roubar o carro de Liam, no entanto, um garoto que trabalhava no Centro chegara a tempo. Tinham pedido uma pizza, mas não chegara ainda, então decidiram ir embora. Já passava de meia noite e ambos estavam famintos e cansados. Assim que entraram no veículo, o entregador da pizzaria parou a moto em frente ao Instituto. Liam pagou pela pizza e levaram para comer durante o longo percurso de volta.
-Coloca na minha boca! - já era a terceira ou quarta vez que Liam pedia e Amy ria da situação, comendo sua pizza tranquilamente.
-Por que você não pega com essas duas coisinhas que você tem, chamadas: mãos?
-Porque eu não quero sujar o volante do meu carro. - falou como se fosse óbvio.
-Ok, isso foi gay.
-Você desperta minha diva interior.
-No dia em que você sair do armário, me agradeça. - ela pra apontou o pedaço de pizza pra ela, piscando.
-Me dá isso, cacete. - Ele puxou a caixa de pizza do colo da garota, colocando em seu colo.
-Naaão! - ela gritou, rindo, enquanto tentava pegar a caixa novamente.
Vruum.
-O que foi isso ? Amy perguntou ao ouvir o carro emitir um som esquisito e observou Liam parar de rir imediatamente.
-Fodeu.
Ela olhou na direção que ele olhava, e percebeu pelo painel que o carro estava sem gasolina.
-E agora?
-Agora... fodeu.
-E você só percebeu agora? - quase gritou.
-Sim.
-Meu Deus, isso é inacreditável. - a menina massageou as têmporas e fechando os olhos com força, irritada. - Ok. Calma.
-Eu estou calmo- ele arqueou a sobrancelha, virando-se para ela.
-Eu não estou falando com você, imbecil.
-O que eu te fiz? - perguntou bufando.
-Não percebeu que estava sem gasolina. - ela falou como se fosse óbvio, abrindo os olhos.
-Eu abasteci. Na verdade, acho que fomos roubados. - falou, lembrando-se dos garotos que aparentemente teriam conseguido levar alguma coisa.
- Vamos ligar pra alguém. - ela respondeu, tentando manter o mínimo de razão e pegando o aparelho.
-Vai em frente. - ele riu e ficou observando a garota até vê-la praguejando baixo ao perceber que não havia sinal.
-Não estamos próximos a nada?
-Nop.
-Então nós... - ela franziu o cenho, olhando para o garoto que pegava um pedaço de pizza. - nós vamos dormir aqui ?
-Nós não precisamos dormir, você sabe... - ele falou casualmente e ela tentou inutilmente conter o riso. Maldito.
-Você não pode responder uma pergunta como um ser humano normal?
-Eu...
-Não. - ela falou mais alto, interrompendo-o. - Eu já conheço esse sorriso, você vai me responder com outra gracinha, e eu não estou disposta. Sério, Liam, a gente vai dormir aqui?
-Tem um motel aqui perto... - ela rolou os olhos e ele riu - agora é sério, caramba. Tem um motel vagabundo aqui perto, então imagino que você prefira ficar por aqui mesmo? - ela meneou a cabeça positivamente enquanto tentava não imaginar como ele sabia da existência de um motel ali. - Acho que aqui tem gasolina suficiente para levarmos o carro até aquele canto ali. - apontou para algumas árvores que ficavam bem perto de onde estavam, saindo da estrada.
-Eu vou congelar aqui dentro. - ela disse ao vê-lo entrar no veículo novamente. Liam havia descido para empurrar o carro, após a garota choramingar e usar argumentos como: não tinha forças, suas unhas estavam pintadas e lá fora estava frio. - e essa posição é super desconfortável - resmungava, mudando de posição repetidamente.
-Lá fora tem bastante espaço. - ele respondeu irritado, pegando mais um pedaço de pizza.
-Ei, esse é o último pedaço? - perguntou, percebendo que a caixa de pizza estava vazia. - me dá!
- Por que eu faria isso? - ele arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo.
-Liam, por favor, minha barriga tá roncando.
-Entenda, eu não posso fazer isso sem receber nada em troca, meu bem...
-O que você quer? - perguntou, arrependendo-se imediatamente.
Ele sorriu e tocou os próprios lábios com o dedo indicador.
Ela rolou os olhos e apertou os lábios em uma linha, contendo um sorriso.
-Por que você faz isso? - ela perguntou rindo, arrastando as palavras.
-Porque você gosta.
Ele se aproximou perigosamente do rosto da garota, sorrindo de lado, seus olhos examinando cada centímetro do rosto a sua frente. Amy afastou-se instintivamente. Não podia beijá-lo ali, quando passariam a noite inteira dentro daquele carro. Seus hormônios pulsavam, pulavam, sambavam e dançavam funk. Se começasse, não conseguiria parar.