Saímos da loja quando já marcava 20h30 no relógio. Compramos um sorvete e voltamos para a minha casa. E por incrível que pareça, Louis ainda estava lá. E, claro, minha mãe também, só que com uma cara nada feliz.
— Letícia! Posso falar com você? — minha mãe fala e sai me puxando pelo braço. — Como você pôde deixar o Louis aqui sozinho? — reclama ela quando já estamos sozinhas na cozinha.
— Primeiro que eu não deixei ninguém sozinho, tinha gente aqui. E Tom é amigo dele, podia ter feito companhia — dei de ombros. — E outra, vocês amam ficar me fazendo passar vergonha e eu não aguentava mais. Agora, se me der licença,ainda tenho que ajudar Thamires a conferir se está tudo certo com a padaria pra fazer os bolos, com os convites, com o local e...
— Você está sendo mal educada! — repreende minha mãe.
— Não. Eu estou sendo realista!
Saio do banheiro e ela bate a porta atrás de mim.
— Eu ainda não acabei — minha mãe fala e eu reviro os olhos.
— Hãn... Podemos fazer tudo isso amanhã, né Thamy? — Mariana fala e eu lhe lanço um olhar mortal.
— Claro. Voltaremos aqui amanhã. Também tenho que ver o Daniel — disse Thamires.
— Mas, mas... Você ia dormir aqui, não é Cah?
— Minha mãe me mandou uma mensagem para que eu vá dormir lá. Desculpa — ela disse segurando o riso.
A mãe dessa vaca nem mora nessa cidade.
Bufo e me despeço de cada uma das traidoras. Grandes amigas eu tenho. Me jogo no sofá e tiro meu chinelo.
— Vou fazer pipoca — avisa minha mãe e segue para a cozinha. — Sente-se aí Louis.
Louis, que até agora estava em silêncio e em pé ao lado da televisão, caminha e senta ao meu lado no sofá.
— Me desculpe por atrapalhar seus planos — disse ele. — Eu até tentei arrumar uma desculpa, mas sua mãe é bem convincente.
Eu rio e ele sorri.
— Eu sei bem, pode apostar. Me desculpe por sair, eu estava muito envergonhada e ainda estou.
— Eu imaginei — ele sorri de lado. — Suas amigas são ótimas e eu adorei o elogio.
Reviro os olhos e o empurro de brincadeira com o ombro.
— Amigas da onça, isso sim.
— Não entendi essa expressão.
— É porque elas se dizem minhas amigas, mas me fazem passar vexame. Mas eu as amo.
— Percebi. Mas é sério, se você ainda estiver incomodada eu vou embora.
— Não precisa ir. Minha mãe vai ficar chateada e vai brigar comigo. E eu gosto de falar com você, quando não tem ninguém me importunando.
Ele arqueia uma sobrancelha, e exibe um lindo sorriso de canto.
Foco, Letícia!
— E, hãn, eu tenho umas coisas para listar sobre o casamento, mas se eu precisar eu arrumo um casamento inteiro em menos de uma semana.
— Sério? — ele diz surpreso.
— Sério. Já fui madrinha em muitos casamentos.
— Deve ser legal.
— Eu adoro, mas é mais cansativo do quê tudo. Só é legal ver tudo pronto e saber que você ajudou aquilo tudo acontecer.
— Lê! — Raquel grita enquanto entrava em casa.
— Ei! Você não chegaria só amanhã? — me levanto e abraço.
— Fiz papai ir me buscar quando soube da sua chegada. Estava com saudades.
— Eu também estava. Como você está, mocinha?
— Bem. Eu vou ser dama de honra no casamento da sua amiga. Vou entrar com as alianças.
— Você está muito grande para isso, não?
— Eu ajudei a realizar o pedido de casamento, então eu mereço ter um destaque — ela mostra a língua e eu rio.
— Ok — levanto as mãos em sinal de rendição.
A porta se abre novamente e revela meu pai e...oh Deus! Igor está com ele.
Igor e eu estudamos juntos,e até fomos a festa de formatura juntos. Eu meio que gostava dele, mas acho que só confundi as coisas, pois somos muito próximos. Ele foi embora do país para seguir com a carreira de modelo e eu superei. Mas, uau, ele ainda está mais lindo do que me lembrava.
— Letícia! — Igor me chama e eu corro para abraçá-lo.
— Oi! — respondo ainda surpresa. O observo de cima abaixo e toco seus braços.
Sorrio e o abraço de novo.
— Não acredito que você está aqui mesmo!
— Também senti sua falta — ele passa o braço pelos meus ombros e eu sorrio.
— Sr. Cavalcante, eu posso dar uma volta com a Lê? – pergunta Igor para o meu pai. Sempre tão formal e educado que as vezes dá até raiva.
Eu já ia responder que agora sou adulta e faço meus horários, mas minha mãe falou antes.
— Ela está com visitas – minha mãe fala, aparecendo na sala com um vasilha cheia de pipoca. — Igor! É você mesmo? — ele assente e minha mãe o abraça depois de colocar a vasilha nas minhas mãos.
— Thamires me chamou para ser padrinho. Tive que vir — ele sorri e dá um abraço leve em minha mãe.
— Que bom. Letícia também será madrinha
— De novo? — ele arqueia uma sobrancelha.
— É o carma da minha vida — respondo sorrindo e ele ri.
— Bom, acho que essa é minha deixa — Louis fala enquanto se levanta.
— Tem certeza? — o pergunto.
— Sim, nos vemos amanhã, ok? Curta sua família agora e mande um abraço para Tom — ele beija minha bochecha, aperta as mãos dos meus pais e vai embora.
— Me desculpa se eu atrapalhei, flor — Igor fala.
— Não atrapalhou nada. Por mais que eu goste do Louis, você me livrou de passar mais vergonha — falo e ele me olha com um sorriso malicioso. — Gosto como amigo, ok? — completo e ele sorri.
— Eu meio que prometi que não ia sair mais hoje, então podemos conversar aqui mesmo enquanto faço umas anotações e pesquisas.
— Claro.
— Para mim, você não bebia — Igor fala depois que eu pego uma cerveja na geladeira.
— Eu também não usava vestido colado, mas agora uso. As pessoas mudam. E eu bebo, mas é pouco. Nunca fiquei bêbada, nem nada parecido — dei de ombros e nos sentamos no chão, apoiando as garrafas na mesa de centro.
— Entendo... Como anda sua vida?
— Por mais que esteja meio corrida, eu estou amando o rumo que ela tomou. Vou virar a noite revendo um projeto? Vou, mas foi legal sair com minhas amigas para escolhermos um vestido e agora ficar conversando com você. E o Louis é um cara legal, então ele é flexível.
Ele me olha de lado e eu rio.
— Não vale levar para o duplo sentido — nós rimos.
— E ele é seu namorado?
Não aguento e começo a rir.
— Ele é meu chefe... Na verdade, ele é filho do meu chefe. Ele é mais como um supervisor.
— Entendi... E como está seu coração?
Bebo um gole da cerveja antes de responder.
— Meu coração? — ele confirma. — Bombeando sangue e o seu?
— O mesmo — ele ri e eu rio junto, digitando o nome de uma floricultura no Google.
— Você não estava namorando uma tal de Vanessa? — revezo meu olhar entre a tela do notebook e Igor.
— Estava... No passado. Ela era meio possessiva.
— Eu avisei, mas você preferiu não me ouvir e deu asa para cobra — ri.
— Mais uma vez a senhorita estava certa.
— Nada novo sob o sol, querido. Nunca sinto frio, pois sempre estou coberta de razão — sorrio e jogo o cabelo para o lado.
Ele gargalha e aperta minha mão por cima da mesa.
— Senti falta dessa sua loucura.
— Também senti falta do seu jeito certinho. Sua vida é mais corrida que a minha — aperto sua mão de volta e sorrio.
Olho em seus olhos ainda sorrindo, mas minha atenção vai para a parede atrás dele. Mais especificamente para o relógio na parede.
— Então é minha hora de ir. Estou hospedado em um hotel aqui perto — avisa e toma o último gole de sua cerveja.
O abraço e levantamos do chão.
— O Louis parece ser legal. Dê uma chance — Igor fala, já na porta.
— Você sabe que eu sou meia insegura, muito chata e pessimista, mas eu geralmente acerto as coisas. Não quero me iludir — de novo, quase completo.
— Você não é chata. E eu adoro esse seu jeito sincero — gargalha.
— Muita gente me chama de mal educada — alô, alô, mamãe.
Nós rimos e nos abraçamos mais uma vez, já no portão.
— Tchau — falo e ele acena, saindo em seguida.
Tranco tudo e volto para a sala.
E lá vamos nós virar a noite.
— Pode ir acordando, Letícia — minha mãe abre a porta do meu quarto com tudo, me dando um susto.
— Tô acordada — resmungo e me viro na cama, puxando o edredom para cima de mim.
— Levanta logo. Conheço muito bem esse seu "tô acordada", se duvidar você dorme mais uma hora — ela tira o edredom do meu rosto e balança meu ombro. — Louis ligou e pediu para você encontrar ele no escritório às 09h, para irem a obra juntos. Agora já é 08h30.
Com um pulo, levanto da cama e corro até minha mala. Minha mãe se assusta, mas depois solta uma risada.
— Por que não me chamou antes?
— Eu chamei, seus irmãos chamaram. Se fosse seu pai, já tinha jogado água em você — ela ri e sai do quarto.
Nem vi a hora que eu dormi, mas foi tarde. A última fez que olhei as horas tinha passado das 04h da manhã.
Pego minha calça jeans favorita — de cintura alta e flare —, minha única blusa que não estava amassada — uma blusa de alcinha cor de bronze —e minha bota preta, pois vou em uma obra.
Tomo um banho rápido, me visto, faço uma maquiagem básica, desembaraço meu cabelo e faço um rabo de cavalo alto, para em seguida ir correndo para a cozinha.
— Bom dia — falo para o meu pai, já enchendo minha xícara de café para não perder tempo.
— Bom dia.
Com um único gole, bebo todo o meu café, que desce rasgando a minha garganta.
— Senta e toma café devagar — repreende minha mãe, mas vejo que ela segura a risada.
— Na volta eu tomo com calma.
Corro para o banheiro e escovo meus dentes. No caminho para a sala, pego eu celular e jogo dentro da minha bolsa. Pego também meu brinco e meu óculos de sol para por dentro do carro.
— Pode me levar pai? — pergunto olhando para o relógio. 08h50.
— Vamos.
Entro no carro e em seguida meu pai, e ele acelera.
— Alguns minutos atrasada, mas tudo bem. Obrigada pai.
Sio do carro sem esperar resposta e entro correndo.
— O Sr. Turner está esperando por você — responde a secretária assim que me vê e volta seu olhar para o computador, antes que eu possa falar algo.
Respiro fundo e me encaminho para a sala. Ajeito minha blusa e bato na porta.
— Entre.
Abro a porta e ele sorri.
— Bom dia.
— Bom dia. Me desculpe o atraso.
Ele olha no relógio de pulso e revira os olhos.
— Só dez minutos, Letícia.
Ele se levanta, desliga a tela do computador e coloca o celular no bolso da calça.
— Então podemos ir?
Confirmo e anda na minha frente, abrindo a porta para eu passar.
— Obrigada.
— Só mais uma coisa — ele fala e eu paro me virando para trás e trombando nele.
Ele segura os meus braços e olha nos meus olhos.
— Calma — sorri e eu não contenho um sorriso sem graça.
Ele é bonito, mas é mais bonito ainda de perto.
— O que queria me falar?
— Eu pedi meu pai para você trabalhar daqui comigo até a obra acabar e ele aceitou. Então você vai ajudar alguns arquitetos daqui do escritório, pode ser?
— Claro, é o meu trabalho.
— ótimo, agora vamos — ele coloca a mão nas minhas costas e me guia até o elevador.