Capítulo 4

17.2K 957 15
                                    

Acordo e me espreguiço calmamente. Raramente eu conseguia acordar cedo sem meu despertador tocar.

Pego o celular sobre a mesa de cabeceira e olho a hora enquanto bocejo.

7h37.

Puta merda!

Levanto com um pulo, jogando as cobertas no chão. Bato o dedo na quina da cama enquanto corro para o banheiro.

— Mas que porr... — começo a gritar e Carol acorda.

— Caralho, Letícia. O que está acontecendo?

Sem responder, continuo meu caminho e, no chuveiro, apenas molho o meu corpo e passo um sabonete rapidamente. Escovo os dentes em tempo recorde e volto ao quarto gritando Yana.

— YANA, ACORDA! — bato na sua porta pelo caminho.

— Por que fiquei comendo pizza, bebendo e conversando com as meninas até tarde? Por quê? Por que a droga do despertador do celular não tocou? Droga, droga, droga! — resmungo enquanto me visto.

Jogo o celular dentro da minha bolsa e corro para a sala, vestindo o mesmo casaco que Yana me emprestou no dia anterior.

Saímos de casa às 7h50. Yana ainda de pijama, apenas com um casaco por cima. Carol me desejou boa sorte antes de sairmos e voltou a dormir. A pressa foi tanta que saí com o zíper das duas botas aberto e as meias eram uma diferente da outra.

Durante o caminho fui me arrumando mais. Passei uma base, uma máscara de cílios e um batom para disfarçar. Yana correu tanto que com certeza levaremos algumas multas. Finalmente, ela parou o carro na frente da empresa.

— Tenho dois minutos de sobra. Tenho que correr. Até depois. Obrigada.

Sem esperar resposta, saí correndo. Pego meu crachá temporário na recepção e me encaminho para o elevador — que pareceu demorar uma eternidade para chegar.

Quando as portas do elevador se abriram, vi uma mulher – provavelmente a secretária —chegando à sala de espera e chamando meu sobrenome.

— Srta. Cavalcante?

— Sou eu.

— Siga-me.

Assenti e a segui pelo corredor. Ela me deixou em frente a uma porta dupla de madeira escura e me disse que era só bater e entrar.

Respiro fundo e fiz como ela havia dito.

— Sr. Taylor?

Ele levantou enquanto eu caminhava até ele e nos cumprimentamos com um aperto de mão e um sorriso.

O Sr. Taylor deve ter uns 65 anos. O cabelo e a barba já estão grisalhos, mas os olhos azuis brilham como se ainda fosse jovem.

Observei a sala, completamente admirada. Enorme, com uma janela que cobria toda a parede da metade para cima, uma mesa enorme com várias cadeiras e um telão, deixava qualquer um de boca aberta. Ok, aquela, com certeza, é uma sala de reuniões.

— Srta. Cavalcante é um prazer enorme tê-la aqui conosco. Gosto de eu mesmo receber os novos funcionários estrangeiros e lhes desejar as boas vindas. Então, seja bem vinda.

— Obrigada, senhor.

— Sente-se — pede e eu me sento na cadeira a sua frente. — Vi em sua ficha que já tentou várias vezes uma vaga na filial de Nova Iorque, mas só conseguiu agora.

— Isso. Sempre tentava como arquiteta, mas tinham pessoas que estavam mais habilitadas que eu, por exemplo, no inglês. Então, estudei mais para conseguir esse ano e aceitei vir como assistente de arquiteto e não como uma arquiteta.

— Seu inglês é muito bom— comenta e eu sorrio. — E você era arquiteta no Brasil.

— Sim — respondi mesmo sendo uma afirmação. — Porém precisava dessa experiência e sempre quis trabalhar fora do país.

— E desistiu de ser arquiteta?

— Não, eu amo ser arquiteta. Acredito que minha hora ainda vai chegar, só tenho que esperar e me esforçar.

— Isso, não desista. Continuando... Você vai ganhar um cubículo como todos os assistentes e vai ajudar os arquitetos que precisarem de ajuda em seus projetos. Inclusive vou recomendá-la para ajudar meu filho em um projeto da livraria dele que será no Brasil ele quer elementos no projeto que remetem o país, então você pode ajudar. Soube que é muito boa em design de interiores também.

Fico nervosa em pensar que meu primeiro projeto poderá ser ajudar o filho do presidente da empresa, mas engulo seco e sorrio.

— Eu adoraria trabalhar com ele.

— Ótimo, vou falar com ele e em seguida você receberá instruções. Agora, se me der licença, tenho uma reunião importante. Tina vai leva-la a sua mesa.

— Tudo bem, obrigada.

Saio da sala em silêncio e Tina — a sua secretária, que me levou até a sua sala anteriormente — me leva até meu cubículo.

Ele é composto por uma mesa, uma cadeira, um telefone, um porta lápis e um computador. É separado dos demais por um vidro fosco. Tem algumas dezenas de cubículos iguais por todo o espaço.

Penduro minha bolsa na cadeira e me sento.

A cadeira é muito confortável e tem rodinhas. Abro as gavetas da mesa e estão todas vazias, com exceção de uma que tem muitas folhas brancas. No telefone, há o número do ramal de várias pessoas e eu não conheço nenhuma.

Mesmo sem tem certeza se iria mesmo participar do projeto do filho do Sr. Taylor, pego algumas das folhas que achei e um lápis.

Fiquei algum tempo fazendo isso, até a hora do almoço, quando algumas pessoas me chamaram para almoçar com elas e me conhecerem.

Fiquei feliz, já que eu sempre espero um extrovertido me adotar.

Quando chegou o fim do expediente, eu já tinha ajudado alguns arquitetos e até alguns assistentes também.

Voltei para casa de táxi. Só quando meu cérebro "desligou", ainda dentro do táxi, que senti o cansaço batendo.

Em casa, a única coisa que eu queria era um banho quente e comer algo. Encontrei um bilhete de Yana avisando que tinha saído com um colega de trabalho e que eu não esperasse por ela acordada. Ora, até parece que eu esperaria.

Limpa e de barriga cheia, dormi rapidamente e feliz aquela noite.

Meu chefe (HIATUS)Where stories live. Discover now