Entre o capítulo 17 e o capítulo 18, tem uma cena em que Emília flerta com o Rato e eu exclui para evitar comentários de ódio gratuito em cima da personagem. O problema é que a cena era importante para a continuação e eu não sabia, porque não li todo o livro. Agora, tive que voltar atrás e deixar a cena original. Quem quiser ler, saiba que já fiz modificações.
Tomamos banho juntos e o Chorão estava mais carinhoso que o habitual, mas de um jeito estranho como se tivesse certeza que essa seria a minha última visita íntima.
Por um minuto, eu pensei na possibilidade dele estar planejando me matar igual fez com o próprio pai, porque essa informação não saia da minha mente desde que ele confessou o assassinato.
Eu sei que ele é um criminoso que matou diversas pessoas, porém matar o próprio é um pouco doentio demais pra mim.
Eu odeio muito o meu pai, contudo, não sei se seria capaz de acabar com a vida dele.
Porém, graças a Deus, o Chorão não fez nada contra mim e só ficou passando as suas mãos no meu corpo magro como o velho tarado que ele é e eu como a boa safada que sou, apreciei as sensações de prazer e os arrepios pela minha pele causados pelos seus toques.
Ao sairmos do banheiro, eu comecei a me enxugar com uma toalha branca e o Chorão ficou parado em um canto do quarto me encarando embasbacado.
— Eu quero casar com você, Emília.
— Nem tenho idade pra isso! — Ri de nervoso com a sua proposta e meti uma desculpa sem sentido: — E a minha mãe me mataria se eu falasse que meu futuro marido é o cara que apontou uma arma para a sua cabeça.
Chorão ajeitou a toalha na sua cintura e ficou nítido que ele estava começando a ficar excitado outra vez quando notei a sua ereção embaixo do pano.
— Eu daria tudo pra gente ter uma oportunidade de recomeçar do zero.
— Não sei se você iria me valorizar tanto se estivesse em liberdade — disse, com sinceridade. — Talvez, você só esteja apegado a mim por eu ser a única que vem te ver.
— Quem disse que você é a única? — O homem rebateu no mesmo instante, me fazendo engolir em seco com a informação.
Franzi o cenho, me sentindo a pessoa mais otária do mundo por ter acreditado no Chorão.
— Eu não sou a única? — Me aproximei dele e sem pensar, dei um tapa estalado no seu rosto. — E todo aquele papinho de ciúmes do Rato, seu cretino?
— Eu tava brincando, sua maluca! — O Chorão alisou a sua bochecha. — Meu Deus, óbvio que não tem ninguém além de você, Emília!
— Não se brinca com uma coisa dessas, Chorão! — Tirei a sua mão de cima do próprio rosto e comecei a fazer uma massagem no local atingido. — Desculpa, eu não deveria ter te batido.
— Não foi nada, coração. — Ele me puxou pela cintura e beijou meu pescoço. — Pode me bater quando quiser.
— Qualquer outro traficante iria me matar por ter me atrevido a dar um tapa na cara dele.
— Já te disse que entre quatro paredes quem manda é você.
— Menos quando você me obriga a ir com a calcinha gozada até em casa.
— Foi tão ruim assim ir com cheiro do teu homem, coração? — Chorão iniciou uma série de beijinhos pelo meu pescoço. — Sentir a minha porra escorrendo pela sua perna e te lembrar tudo o que fizemos aqui dentro.
— Depois que a raiva passou, eu achei um pouco excitante — confessei, sentindo meu rosto esquentar.
— Se quiser, eu gozo na sua calcinha amanhã antes de você sair.
— Talvez, só talvez, eu queira.
[...]
— Teu tapa é forte, hein? — Chorão reclamou ao perceber que ficou avermelhado ao olhar o seu rosto em um espelho pequeno.
— Onde você conseguiu esse espelho e o celular? — perguntei, com curiosidade. — Achei que os presos não poderiam ter objetos cortantes.
— Teoricamente, eu não posso nada, mas, na prática, eu posso tudo e mais um pouco, coração. — Ele sentou-se na beirada da cama enquanto eu estava procurando algo para comer nas sacolas que o GV me deu.
— Isso soou como uma ameaça pra mim. — Peguei um pacote de biscoito. — Qual a possibilidade de você me matar?
— Só vai ser ameaça se tu não me respeitar e só pretendo te matar de prazer, minha gostosa.
— Eu te dei um tapa, Chorão. — Mordi um pedaço do biscoito para evitar que uma gargalhada escapasse. — Caso você não tenha percebido, eu não te levo muito a sério.
— Ah, mas eu não ligo de apanhar da minha futura mulher quando tiver só eu e ela. — Ele sorriu de um jeito divertido.
— Nunca fui tão iludida por um idoso como sou por você! — Me aproximei dele com alguns biscoitos nas mãos.
— Vem cá, coração! — O moreno fez sinal para eu sentar no seu colo e eu o obedeci.
— Vai, me ilude mais de perto. — Comi mais um biscoito.
— Eu gosto de você e quando eu digo que gosto eu quero dizer que gosto pra caralho. — Chorão segurou o meu rosto e me fez olhar nos olhos dele.
— Não sei se devo acreditar em você, Chorão.
— Por quê? O que mais você quer que eu faça?
— Você não é qualquer traficante, é o chefe da FDM e eu procurei na internet quanto vocês faturam em um ano, então deve ter um monte de mulher interessada em ficar contigo.
— Mas eu só quero você.
Tentei sair de cima dele, mas o Chorão me segurou a minha cintura com força.
— Deixa eu te provar que tô disposto a ficar só com uma mulher, Emília.
— Tem certeza que você conseguiria ser fiel a mim?
— Bom, a única maneira de você saber que tô disposto a ficar só com uma mulher é se eu tiver uma oportunidade de ser levado mais a sério.
— Tenho medo de você só querer sexo e eu tá me apaixonando sozinha.
— Você não tá sozinha nessa, coração.
O moreno pareceu honesto com os seus sentimentos e eu engoli em seco ao perceber que vacilei com ele ao ter dado brecha para o Cobra.
Eu ainda não me sentia apaixonada pelo Chorão, o que sinto por ele é um sentimento muito mais parecido com uma amizade colorida do que amoroso, porém, não podia ser burra de me colocar em uma situação ruim com ele.
Se eu não contasse a verdade para o Chorão, o Rato poderia contar do jeito dele e o meu corpo iria acabar sendo desovado em um terreno baldio.
— Preciso te contar uma coisa que fiz, mas promete que não vai me matar.
— Prometo, o que foi?
— Eu flertei com o seu irmão na sorveteria — revelei e, no mesmo instante, fui retirada do seu colo com brutalidade, o que me fez desequilibrar e cair no chão. — Você tá doido?
— Quem tá doida é tu, Emília! — Chorão levantou-se da cama e caminhou de um lado para o outro. — Quantas vezes eu te pedi pra não dar confiança pra ele?
Tentei erguer o meu corpo, mas ao apoiar a minha mão no chão, senti uma dor no pulso e gritei. Chorão me encarou com preocupação nos seus olhos, porém não fez nada com a intenção de me castigar.
— Tem como você me ajudar, por favor? — indaguei e o moreno bufou com raiva. — Meus biscoitos caíram no chão.
— A minha vontade é de te quebrar a sua cara, Emília.
Me assustei ao ser colocada no colo do homem tatuado e ser levada até a cama, onde sentei e fiquei massageando meu pulso machucado.
— Não foi nada demais, eu só disse que queria deixar minhas possibilidades abertas se você aprontasse comigo, mas foi da boca pra fora.
— O que tu ia sentir se eu falasse algo assim pra Gabi? Não vou nem usar a Isadora como exemplo, porque, ao contrário de você, eu tenho vergonha na cara.
— Eu sei que errei e me arrependi quando percebi que ele só tava me manipulando pra ficar contra você, mas prefiro te contar a verdade do que fingir que sou santa e não errei como muita gente faz.
— Do que tu tá falando? — Chorão perguntou com cenho franzido. — Ela te procurou?
— Ela quem? — Levantei a sobrancelha, confusa.
— Esquece, Emília. Eu vou dormir.
Chorão deitou-se e eu repeti seu gesto, deitando-me ao seu lado, com um peso no coração por ter provocado sua raiva.