Psicose (Livro I)

By andiiep

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Melissa Parker é uma psiquiatra recém-formada que encontra seu primeiro emprego em um manicômio judiciário. E... More

Aviso Inicial
Prólogo
Um - St. Marcus Institute
Dois - A holandesa de Cambridge
Três - Inesperado
Quatro - Sutura
Cinco - Insônia
Seis - Happy Hour
Sete - Progresso
Oito - Passado
Nove - Proximidade
Dez - Embriaguez Acidental
Onze - Hormônios!
Doze - Corey vs Brian
Treze - Fotografia
Quatorze - Helvete
Quinze - Perigo
Dezesseis - Triângulo
Dezessete - Sobrenatural
Dezoito - Confusão
Dezenove - Corey vs Brian (parte 2)
Vinte - O plano mirabolante de Corey Sanders
Vinte e Um - Render-se
Vinte e Dois - Bipolaridade
Vinte e Três - Mensagem Sobrenatural
Vinte e Quatro - Intimidade
Vinte e Cinco - O inferno converte-se em paraíso
Vinte e Seis - Não Há Compaixão Com a Morte
Vinte e Oito - O Passado Condena
Vinte e Nove - REDRUM
Trinta - Veritas Vos Liberabit
Trinta e Um - Plano de Fuga
Trinta e Dois - Luxúria
Trinta e Três - Preparação
Trinta e Quatro - Vai Dar Tudo Certo!
Trinta e Cinco - Um Sonho de Liberdade
Trinta e Seis - Scotland Yard
Trinta e Sete - Reencontro
Trinta e Oito - Vigilância Constante
Trinta e Nove - Corpo e Alma
Quarenta - Encontros e Desencontros
Quarenta e Um - Armadilha
Quarenta e Dois - Salvação?
Quarenta e Três - Tentativa e Erro
Quarenta e Quatro - O Infeliz Retorno
Quarenta e Cinco - Do Pó Vieste...
Epílogo
AUTO MERCHAN

Vinte e sete - Quebra-Cabeças

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By andiiep


O domingo arrastou-se frente aos olhos de Melissa como se dela zombasse. O tempo ainda fechado, de céu acinzentado, deixava o dia parecendo o fim da tarde. A garoa que caía era fina, gelada, anunciando cada vez mais a proximidade do inverno. Melissa, em verdade, preferia ter dormido todas as horas daquele desnecessário dia, para finalmente acordar na segunda-feira. Então poderia saciar sua curiosidade, interrogando Corey Sanders e Brian Peters.

Melissa planejou com cuidado as perguntas que faria em sua cabeça, que fervilhava em curiosidade. Principalmente com relação a Brian, quem Melissa jamais imaginou ter qualquer ligação com Barber Paay. Forçou sua consciência a ignorar um estranho sentimento de traição, dado o fato de que ele jamais mencionou esse importante fato, para que pudesse, enfim, saciar toda a sua curiosidade. Pelo menos, durante o período de reflexão que envolveu Brian e Barber Paay, chegou à conclusão de que tinha uma ideia do porquê do ódio recíproco entre ele e Corey Sanders.

Após Brian, viria o desafio Corey Sanders. Melissa, contudo, estava decidida a fazê-lo falar quem diabos era Danny Langdon. Talvez ajudasse a refrescar sua memória, a entender por que tinha a impressão de que já tinha ouvido aquele nome antes. Só poderia ter sido dito por Corey Sanders. Por mais que tentasse, não conseguia fazer a memória renascer, e isso a estava deixando completamente maluca.

Além disso, ainda havia o fato de que Brian conhecia Barber Paay em sua época em Cambridge. Melissa simplesmente precisava saber se Corey Sanders teria conhecimento disso. E se conhecia Brian desde antes do St. Marcus, o que faria bastante sentido.

Ademais, precisava mais do que nunca colocar um basta na perseguição da sobrenatural Barber Paay. O fato de olhar por cima dos ombros a todo lugar que ia desde que a garota materializou-se à sua frente, estava deixando-a ainda mais enlouquecida.

Corey Sanders, obviamente, encarregava-se do resto, mesmo de sua cela afastada.

A visita mensal dos pais deveria ter distraído Melissa, mas não foi o que aconteceu. A saudade sanada pareceu aliviar um pouco o aperto em seu coração quando os pais bateram a porta do carro e saltaram dele. A mãe foi a primeira a abraçá-la, e o perfume característico que trouxe a memória dos bons tempos de infância acalmou suas narinas, fazendo o mesmo com seu coração. Precisava daquilo.

O pai deu-lhe o abraço desajeitado de sempre e o costumeiro tapinha nas costas. O tapinha nas costas que sempre dava quando estava orgulhoso de algo. Melissa achava que não havia motivos para se orgulharem dela naqueles tempos. E foi nesse momento que as lembranças do que havia feito com Corey Sanders tomaram sua mente como água em uma enxurrada. Não teve como se concentrar nas fofocas da mãe sobre a vida amorosa dos dois irmãos, ou nas perguntas interessadas do pai sobre a rotina no St. Marcus Institute.

A comida do 'New In' descia por sua garganta como pedaços de isopor. O ambiente cheio de pessoas buscando o almoço familiar de domingo era apenas um zumbido baixinho e desconexo que irritava seus ouvidos. Melissa limitava-se a sorrir e balançar a cabeça em movimentos negativos ou positivos, enquanto os pais conversavam entre eles.

Sua mãe perguntou-lhe cinco ou seis vezes se estava tudo bem, e Melissa acordava do transe em que estava, mas apenas por cinco minutos. Em seguida, voltava ao torpor de antes. Quando os pais se despediram ao pé da colina do St. Marcus, Melissa percebeu o quanto sua mãe estava desgostosa. Comentou repetidas vezes de sua palidez e olheiras. O pai concordou com a cabeça, como sempre fazia, reiterando com um resmungo. Melissa sorriu, tentando tranquilizar os dois, mas soube que enquanto faziam o caminho de volta a Oxford, iam discutindo os meios de tirá-la do St. Marcus Institute.

O problema de Melissa não era o St. Marcus Institute, entretanto. O lugar era sombrio e exalava negatividade em cada pedaço de concreto que o sustentava. Mas a razão de não mais se reconhecer era outra bem diferente.

Melissa demorou a pegar no sono aquela noite. Os mesmos pensamentos e dúvidas que a atazanaram durante o dia, também estavam ali após o pôr do sol. E rolando na cama, entre os lençóis e cobertores pesados, parecia muito mais difícil livrar-se deles. As pálpebras só pesaram quando já passava das quatro da manhã, e o pássaro que sempre pousava em sua janela fez questão de acordá-la antes das seis. E então estava de pé. O dia que tanto foi torturada por esperar amanhecer, finalmente chegara.

Melissa tomou seu banho e, antes das sete, já estava pronta. Fez o caminho até o refeitório, sem encontrar nada de útil em seu quarto que fosse capaz de fazer o tempo passar até o horário de suas consultas.

Os corredores do St. Marcus ainda estavam vazios àquela hora da manhã. O refeitório também. Melissa buscou o melhor que encontrou, fez seu prato, e foi sentar à mesa mais afastada possível, com vista para os jardins. Sabia o que estava procurando ao se sentar ali, mas duvidava que com aquele frio, até mesmo ele, que ignorava o uso de roupas quentes, arriscaria-se a um passeio matinal.

O fator que mais a assustou, quando finalmente desviou os olhos da grama coberta de orvalho, foi que nem se envergonhou em admitir a si mesma que procurava por Corey Sanders e seus músculos tatuados trabalhando pelos jardins. Melissa balançou a cabeça de um lado a outro repetidas vezes, os olhos arregalados em surpresa, e então pôs-se a comer. Não demorou muito para que o lugar à sua frente fosse ocupado.

A outra pessoa que mais desejava ver no mundo estava ali, embora suas intenções em relação a Brian e Corey Sanders fossem completamente distintas. Apesar da curiosidade em saber o que diabos tinha a ver com Barber Paay, Melissa não apreciou tanto a presença de Brian quanto esperava.

Tomava seu suco de laranja, o que foi uma bela desculpa para não sorrir. Brian a encarava incerto e levemente acusador. Os olhos dele não pareceram a Melissa cativantes como antes. O sorriso também cativante não estava ali, dando lugar a um torcer de lábios hesitante.

Melissa depositou seu copo sobre a mesa e buscou um pedaço de biscoito de chocolate. Brian bufou, apoiando os braços sobre a mesa, falando logo em seguida. Sua voz saiu em um misto de irritação e arrependimento:

— Eu... Estou com saudades de você.

Melissa continuou comendo seu biscoito, tentando formular a pergunta que pulava em sua cabeça de modo que não fosse rude e nem acusador. Ensaiar em seu quarto, sozinha, era muito mais fácil do que realizar, de fato, seu planejamento. De repente, sentiu-se covarde.

— Eu ando mais ocupada que o normal. — foi o que disse, protelando o momento por mais uns instantes.

Pegou outro biscoito, dessa vez de baunilha.

— Eu sei... Eu... Não tenho te dado muita atenção também. Peço desculpas.

— Não tem problema. — Melissa deu de ombros, mais indiferente do que pretendia.

— Saia comigo esta noite. Quero me redimir. — ele sorriu, pegando a mão de Melissa sobre a mesa e entrelaçando seus dedos.

A sensação era estranha. Por que não era a mesma que Corey Sanders proporcionava-lhe com um mínimo toque.

E era ali, afinal, que estava a diferença derradeira e crucial entre os dois. Corey Sanders era o responsável pelo agitar incontrolável de seus hormônios, pelo formigar delicioso de sua pele, pelo bater desesperado de seu coração. De um modo que Brian jamais se aproximaria.

Melissa ficou tentada a recusar o convite de Brian, portanto. Contudo, precisava de um momento a sós com ele, longe do St. Marcus, para que pudesse, enfim, realizar o interrogatório planejado. Um jantar fora, embora parecesse uma péssima ideia em outros aspectos, quando sua curiosidade era levada em consideração, parecia razoável. Além do mais, teria mais tempo para ensaiar o interrogatório e criar a coragem que sua covardia roubava-lhe.

— Tudo bem. — Melissa concordou, sorrindo de um modo que achou não parecer forçado.

Brian sorriu também, e seus olhos brilharam em satisfação. Então largou a mão de Melissa, que ainda segurava, sobre a mesa, quando notou que alguns médicos já começavam a encher o refeitório.

**

Melissa acompanhava com os olhos o tique-taque do relógio de metal pendurado sobre sua porta. O som reverberava em sua cabeça com alguns decibéis a mais, produzidos por sua mente gradativamente insana. Os olhos piscavam distraídos a cada batucada do ponteiro. Seus dedos, por sua vez, batucavam na mesa de madeira, em um ritmo contínuo. Era de enlouquecer qualquer um que a observasse de fora. Não parecia equilibrada o bastante para atender um falso psicopata com falsas tendências assassinas.

Aquela particular consulta tinha um objetivo específico a ser atingido. Após todas aquelas sessões em que nenhum aspecto psiquiátrico havia sido realmente explorado... Com todos os acontecimentos sobrenaturais/sexuais/caóticos de sua vida, Melissa acabou esquecendo-se da curiosidade que tinha em saber por que razão Corey Sanders havia sido trancafiado no helvete. Depois de parar para refletir sobre os novos aspectos de sua vida, lá no fundo de sua mente, essa cruel dúvida voltou a atormentar. E seria sanada, juntamente com outras dúvidas insistentes: quem era Danny Langdon? Corey conhecia Brian na época da faculdade? Barber Paay claramente o conhecia.

Para o alívio de Melissa, Corey Sanders não atrasou meio segundo. Às oito horas da manhã em ponto, o guarda batia à porta, colocando a cabeça para dentro. Melissa sorriu para ele, afirmando com um gesto que o paciente poderia entrar, quando isso foi questionado.

Melissa não hesitou em levantar da cadeira - que vinha ocupando na mesma posição há quase uma hora - dando a volta na mesa para apoiar os quadris nela.

A primeira visão que teve foi das mãos de Corey Sanders, então o brilho prateado das algemas. Melissa não gostou de ver aquilo. Fez seu coração apertar. Fez seus instintos obrigarem-na a impedir o ato de abraçá-lo e dizer que estava tudo bem, que as algemas não eram um problema. Mas...

As algemas não eram um problema para o que, mesmo?

Melissa nem quis completar seu raciocínio. E também não seria capaz, dado o fato de que seu olhar foi atraído de imediato para o de Corey Sanders. Ele empurrou a porta com os pés com displicência, antes de finalmente preencher o pequeno consultório com sua intensa presença. O perfume que Melissa jurava ainda tomar sua pele, tomou então suas narinas. Reivindicou-as para si, como já era costume fazer.

Melissa engoliu em seco, quando os olhos azuis antes tão opacos e sem vida dele – agora completamente vívidos e recheados de malícia – mediram-na de cima a baixo, como se a avaliasse para modelo de propaganda. Como de praxe, ele parecia enxergar através de sua carne, chegando à sua essência, à sua alma. Parecia desvendar cada mínimo pensamento luxurioso que dominava a mente de Melissa à mínima aproximação. O sorriso característico que erguia ligeiramente o canto de seus lábios apareceu logo em seguida, então Melissa preferiu fechar os olhos por um instante.

Corey Sanders era um clichê de garoto malvado tão óbvio, que chegaca a doer nas entranhas para tê-lo envolvendo seu corpo. Para tê-lo penetrando seu interior quente e úmido, como já fez com maestria.

Melissa foi gratamente distraída dos campos perdidos por que vagava sua mente. Teve que abrir os olhos, quando o timbre levemente rouco de Corey Sanders tomou seus ouvidos, massageando-os como a mais bela canção.

— Doutora Melissa Parker... — ele começou, dando um passo a frente. Melissa ergueu o queixo e manteve-se ereta – Linda como sempre... — o sorriso brilhou em seus lábios e mostrou seus dentes.

Melissa rolou os olhos, contendo a tentação de corar pelo elogio repentino.

— Cale a boca, Sanders. — os braços cruzaram apertados na frente de seu peito.

— Rabugenta como sempre. — ele gargalhou levemente e foi como se sininhos tocassem no ouvido de Melissa. Franziu o cenho e fechou a expressão. — Um bom dia seria mais apropriado, não acha? Que eu saiba você não dormiu comigo... — Sanders ponderou, encarando o teto em fingida concentração. — Ah, espera! Dormiu, sim. Não literalmente falando, mas...

— Não vou pedir para calar a boca de novo...

— Seu cheiro está impregnado nas minhas roupas...

— Se não parar agora, vou chamar o guarda. — resmungou. Não estava preparada para aquela investida àquela hora da manhã.

Passara o final de semana todo planejando como tirar deles as respostas de que precisava, que se esqueceu de que também precisava preparar seus hormônios para o furacão que era a presença de Corey Sanders. E sua língua afiada.

Ela apontou o dedo na direção de seu peito. Não queria ser encurralada por ele. Mais uma vez, não. E sabia que não tinha nem o mínimo de forças necessárias para lutar. Era Corey Sanders quem estava ali e não havia questões a serem impostas sobre o assunto.

— Fico pensando quando fará uma visita à minha nova cela no prédio B...

— Me recuso a ficar sozinha com você novamente.

— Tenho uma novidade para você, doutora: Já está sozinha comigo. — ele piscou.

Outro passo foi dado. O coração de Melissa disparava um tanto a mais cada vez que isso acontecia.

— Mas não pode fazer nada comigo aqui. Chamo o guarda e você vai direto para a solitária.

— E você não quer isso, quer? Arranjou aquela vaga no prédio B, e não posso deixar de pensar que é porque não me quer ver sofrendo. Ou algo do tipo que preocupa as mulheres. — ele deu de ombros, indiferente.

— De nada. — foi o que Melissa respondeu, enfezada, levando as mãos à cintura.

— Encare nosso último encontro particular como agradecimento. — Corey Sanders sorriu de novo, e o próximo passo que deu o deixou a poucos centímetros de Melissa.

Ela o fitou decidida.

— Fica bem aí onde está, Sanders, longe de mim. — Melissa estendeu a mão na direção do peito dele, e o empurrou levemente para longe.

Corey Sanders não se moveu um mínimo centímetro. Seu corpo era imponente e transpassava uma sensação esquisita, que Melissa não queria definir como "frio na barriga".

— E se você não conseguir ficar longe de mim? — ele sorriu ladino, encarando com diversão a mão dela, que ainda escorava seu peito.

— Não estamos em um motel, isto é uma sessão psiquiátrica.

— É muito mais excitante entre as paredes do St. Marcus do que em um motel, doutora.

— Argh! Você é impossível! — Melissa rolou os olhos.

— E você não resiste.

— Fica quieto, por favor! — A doutora fechou os olhos e apertou com força a ponte do nariz.

Sua cabeça fervilhava, como sempre acontecia quando Corey Sanders estava por perto. A sensação de perda de lucidez a deixava apavorada, antes de completamente extasiada. Ainda estava naquele curto período em que tentava fingir que não queria que ele a agarrasse e a levasse a fazer loucuras que jamais imaginou ser capaz de fazer. Ainda estava sob o domínio do medo de se perder completamente por ele, de modo que o caminho de volta já não pudesse mais ser encontrado.

— Tudo bem, como quiser, doutora. — Corey Sanders deu de ombros, quando Melissa voltou a abrir os olhos.

— Obrigada. — agradeceu, então limpou a garganta, antes que a coragem para continuar lhe possuísse — Tenho coisas mais importantes a tratar com você hoje do que os erros que cometemos no arquivo e na sua cela. — Ele fez menção de abrir a boca para protestar, contudo a doutora levantou a mão e ele obedeceu o pedido silencioso para que ficasse quieto. — Tenho perguntas e você vai me dar as respostas de que preciso.

— Se estiver ao meu alcance. — ele levantou um ombro.

— A resposta está ao seu alcance, depende da sua boa vontade compartilhá-la comigo ou não.

— E o que eu ganho com isso?

Melissa o encarou séria, tentando manter um semblante compenetrado e misterioso. Por dentro, no entanto, sorriu com o soar mal-intencionado de sua indagação. Sabia bem o que ele gostaria de ganhar, e dependendo das respostas que recebesse, talvez não fosse forte o bastante para recusá-lo. Onde estava com a cabeça ao admitir isso a si mesma, Melissa não sabia.

Mas aquele era o momento em que cedia e tentava explicar ao seu lado sensato os motivos da desistência da batalha que, de início, já era perdida.

— A gente conversa sobre isso depois. — disse, indo sentar-se em sua cadeira, enquanto Corey Sanders sentava na que era destinada a ele.

Melissa cruzou as mãos sobre a mesa e observou Corey Sanders fazer o mesmo com as suas, sempre presas pelas algemas prateadas. Melissa evitou encará-las, como sempre fazia, sentindo o ar voltar a deixar seu peito menos comprimido pela dor. A visão dos olhos azuis dele tentando penetrar sua alma era algo a se apreciar, antes que fosse tirada de seus devaneios vergonhosos pelo pigarrear irônico dele.

— Então, doutora... Pergunte logo o que tem que perguntar. Estou ansioso pela minha recompensa. — os dentes brancos apareceram quando Corey Sanders sorriu.

— Ninguém disse nada sobre recompensa alguma.

— É a minha condição, doutora. Caso contrário, prefiro ficar calado. Como sempre preferi. O problema das pessoas é que você dá a mão, e elas já querem o pé. O fato de eu falar com você e adorar te provocar com frases safadas e cheias de segundas intenções, não quer dizer que eu simplesmente aceitei te contar toda a minha vida.

Melissa engoliu em seco e tentou não transparecer o quanto ficou abalada. Abriu um sorriso quando continuou:

— Tudo bem. — assentiu — Você pode pedir o que quiser, mas tem que me prometer que não vai omitir nada. Isso é muito importante.

— Contarei até os detalhes mais sórdidos. — Corey Sanders piscou maroto.

Melissa revirou os olhos, antes de perguntar de uma vez, antes que perdesse a coragem:

— Quando chegou aqui, não foi direto para o helvete, foi?

— Não. Tive uma cela no prédio B. Por pouco tempo, mas tive.

— E o que fez para ganhar uma cela no helvete?

— Por que a curiosidade sobre isso agora, doutora? — o sorriso de Corey Sanders murchou e ele remexeu incomodado em sua cadeira.

Melissa soube que havia atingido um ponto fraco ali.

— Quando fui pedir ao doutor Thompson sua transferência, perguntei o motivo de estar no helvete. — disse Melissa, mexendo e encarando metodicamente seu bloquinho de anotações.

— E aí?

Melissa tinha, no fundo, medo. Muito medo de saber o que ele havia aprontado. E que era grave o bastante para render-lhe um lugar especial no inferno. Tinha medo de ser algo que nem sua mente de psiquiatra, que convivia diariamente com loucos assassinos, fosse capaz de perdoar.

— E aí que ele não quis me contar. Mandou perguntar diretamente a você. — finalizou, finalmente levantando os olhos para encontrar os, pela primeira vez, visivelmente preocupados dele.

Corey Sanders engoliu em seco, hesitando de modo tão aparente, que Melissa estranhou. Não parecia o Corey Sanders sempre tão seguro de si, que achava que era superior ao restante do mundo. Mostrava que ele era humano, no final das contas. Que não era imune a coisas tão fracas como a hesitação.

— Você... — ele começou, umedecendo os lábios antes de continuar. Suas mãos brincavam nervosas com a corrente das algemas — Você já conheceu um guarda chamado Hoogan?

— Não.

— Acho que provavelmente não vai conhecer. Ele guarda as entradas no St. Marcus naquelas guaritas enormes, desde que aconteceu o que aconteceu. Acho que não gosta de mostrar seu rosto por aí.

— E o que aconteceu?

— Ele... Disse coisas que não deveria para mim...

— O que ele disse? E por que faria isso?

Sanders respirou fundo, então prosseguiu:

— Olha, eu não tenho como saber por que um guarda de um manicômio judiciário acha interessante falar um monte de merdas para um prisioneiro recém-chegado. Acho que ele é um tanto sádico. Quer dizer, quem gosta de se divertir com a desgraça alheia? Eu tinha acabado de chegar aqui, eu estava revoltado. Minha namorada tinha sido assassinada e colocaram a culpa em mim. E a culpa ficou em mim, embora eu não tenha feito porra nenhuma contra Barber! Ele me provocou... Ele disse coisas sobre minha família e, especialmente, sobre Barber, que fizeram meu sangue ferver. Eu peguei a primeira coisa que vi. Estava... Ensandecido. Fora de mim, completamente. E com um ódio doentio dele pelo que havia me dito.

— O que você pegou para se defender, Sanders?

— Era... Era o refeitório do prédio B e... Havia um monte de garrafas sobre a mesa, garrafas de suco... Não era para a gente ter acesso a elas, mas eu tive... Eu... Agarrei a primeira que vi pela frente, e... Antes que me desse conta, antes que pudesse controlar meus atos, quebrei a garrafa sobre a cabeça dele e... O ódio era tanto que eu não me dei por satisfeito e... A garrafa quebrada se tornou uma arma e eu... – ele engoliu em seco, finalmente levantando os olhos estranhamente sofridos para os de Melissa outra vez. O baque que ela recebeu a deixou abalada por um instante, sendo recuperada quando ele voltou a relatar: — Desfigurei completamente o rosto dele. Rasguei do início da testa até o queixo. A vida dele nunca mais foi a mesma e a culpa é somente minha.

Melissa encolheu instintivamente em sua cadeira, sentindo o estômago enjoar.

— Eu estava revoltado com tudo e todos naquela época, Melissa... Não tinha medo das consequências dos meus atos. Na minha cabeça, estava tudo perdido, e se havia sido condenado por um assassinato, que mal teria machucar só um pouquinho um sádico de merda como aquele cara? — Corey Sanders confessou, após todos os segundos intensos de silêncio.

— E você continua pensando assim? Até hoje?

— As circunstâncias mudam, as pessoas mudam... Não tenho mais acessos de raiva desde então.

A doutora assentiu, tentando assimilar a história que ele tinha contado, o fato de que ferira uma pessoa deliberadamente, e que, mesmo depois de derrubá-lo, não parou. Prosseguiu com sua agressão.

— Próxima pergunta? — Corey Sanders perguntou, na clara tentativa de descontrair o ambiente que havia se tornado pesado de uma hora para outra.

Melissa ajeitou-se em sua cadeira e pigarreou duas vezes, antes de falar novamente:

— Eu queria saber se... Conhece alguém de nome Danny Langdon?

Corey Sanders abriu um pequeno sorriso, porém demonstrando certa confusão em seus traços. Seu cenho franziu e ele coçou a cabeça, antes de responder:

— Eu te falei dele antes! É meu melhor amigo. Veio me visitar alguns dias atrás, inclusive.

Melissa apertou os olhos, tentando se recordar... Não demorou muito para ligar o nome à pessoa. Sabia quem era Danny Langdon o tempo todo, era claro! Sanders tinha mesmo falado dele! E ela, estúpida e péssima profissional, havia se esquecido desse pequeno, mas significativo, detalhe. Também havia o fato de que o nome dele constava nos arquivos de Corey Sanders, era o amigo que o visitava de vez em quando. Ainda, Melissa já havia visto Danny Langdon. A descrição da avó de Kate batia com a daquele rapaz que lhe lançou estranhos olhares de pânico nas escadas do prédio administrativo. Melissa preferiu omitir tal incidente naquela conversa, contudo, pois não parecia importante. Ou ela queria que não parecesse.

— Lembro-me agora, que você está falando... Na nossa segunda conversa, não foi?

Corey cerrou os olhos, olhando-a de forma desconfiada. Mas assentiu, por fim.

— Isso. Éramos amigos de infância, ele cursava Medicina. O senhor Paay pagava pelos estudos dele. O pai de Danny é o motorista da família Paay até hoje, pelo que sei. — ele deu de ombros.

Então Melissa fez uma pergunta que não tinha feito antes, tinha certeza:

— Sabe de algum relacionamento entre os dois?

— Relacionamento... Amoroso, você quer dizer? — Sanders riu.

— Sim.

— Não. — Ele balançou a cabeça com veemência. — Ele é meu melhor amigo, não faria isso. Por mais que Barber andasse bastante aberta a novos relacionamentos naquela época... Sem contar que ela jamais se envolveria com o filho do motorista. Ela era... Seletiva demais.

— Você nunca desconfiou de nenhuma traição dos dois? Seres humanos são egoístas e falham com frequência. Não é difícil ver uma garota traindo o namorado com o melhor amigo dele.

— Barber me traía com metade do campus Cambridge, doutora. — Corey Sanders rolou os olhos, quase demonstrando indignação. — Mas acho que Danny não estava na lista dela...

— Você acha, mas não tem certeza.

— Não, não tenho certeza, mas eu tenho o direito de confiar na fidelidade do meu melhor amigo, não tenho?

— Claro. — Melissa assentiu — Só estou supondo uma situação... Tenho que levar em conta todas as possibilidades aqui. Ele pode ter sido apaixonado por Barber, ela por ele, e você nunca soube... Eles eram amigos de infância também. E pelo que você me contou, nunca houve muita escolha no relacionamento de vocês dois...

Corey Sanders bufou, parecendo impaciente. Melissa foi tomada de nervosismo. Sabia estar tocando em uma ferida ainda aberta, sabia estar caminhando por campos perigosos... Mas precisava saber o que Danny Langdon tinha a ver com o assassinato de Barber Paay.

— Como eu disse, a seletividade de Barber era importante demais para ser ignorada. — Corey Sanders sentenciou, por fim. – Sem contar que eu já disse que Danny tinha namorada naquela época, não acho que tenha sido secretamente apaixonado por Barber.

— Você acha que Danny Langdon tinha motivos para machucar Barber?

— Por que está perguntando essas coisas, doutora? — Corey cerrou os olhos, remexendo impaciente as mãos presas entre as algemas.

— Apenas... Tentando entender melhor seu caso. — Melissa deu de ombros, tentando disfarçar.

Não conseguiu.

-Sei quando mente para mim, Melissa. E sei que está mentindo descaradamente agora.

Ao som de seu nome na voz dele, Melissa estremeceu. Principalmente pela seriedade com que foi dito. Ela respirou fundo, e engoliu em seco, optando por continuar com seu papo dissimulado, a contar a verdade a Corey Sanders. Ele não acreditaria.

— Juro que é apenas curiosidade. Eu vi o nome de Danny Langdon na sua ficha e lembrei-me de que tinha falado sobre ele, então quis saber mais... Criei uma própria teoria da conspiração na minha cabeça, desculpe. — Melissa sorriu, em um gesto singelo que acabou por derreter parcialmente a carranca desconfiada de Sanders.

— Não... — ele respondeu, após alguns segundos de observação — Não acho que ele tinha motivos para machucar Barber. Eu já disse, ele não era apaixonado por ela, tinha uma namorada de quem aparentemente gostava muito...

— Barber conhecia a namorada dele?

— Também não. – Corey balançou a cabeça – Mas lembro de vê-la reclamando que Danny não lhe dava mais atenção por causa da namorada nova... E que ele andava estranho... Mas eu não percebi nenhuma mudança naquela época.

— Então Barber tinha ciúmes de Danny Langdon?

— Ciúmes de amigo, doutora. — Corey Sanders rolou os olhos — Olhe, eu não matei Barber, mas Danny também não a matou.

— Você percebe uma mudança de comportamento dele agora?

— Sim, mas... Apenas porque eu não acho que se sinta bem vindo me visitar nesse lugar. Acho que do lado de fora, no mundo real, ele deve continuar a mesma pessoa...

— Tudo bem. — Melissa deu-se por vencida, assentindo com a cabeça — Se você está dizendo... Há alguma possibilidade de ele ter sido testemunha do assassinato?

— Se ele tivesse testemunhado alguma coisa, teria contado à polícia e me inocentado, não acha?

— Talvez... — Melissa meneou a cabeça — Não sei se essa conversa me esclareceu alguma coisa... — concluiu, pondo-se em pé.

Precisava de um tempo sozinha, para que pudesse colocar todas as informações que recebeu no lugar.

Danny Langdon talvez fosse apaixonado por Barber. Ou talvez não fosse. Barber talvez nunca tenha dado valor aos sentimentos dele, o que poderia ter levado Danny Langdon a matá-la. Ou talvez ela tenha dado valor aos sentimentos dele, Corey Sanders pode ter descoberto um romance secreto entre os dois, e matado a namorada... O que não faria sentido, uma vez que Sanders ainda mantinha a amizade de infância com Danny Langdon. Ou talvez Barber tenha se envolvido com ele, mas ele era ciumento demais para dividi-la com outros. Para dividi-la com Corey Sanders. Ele se cansou, revoltou-se, e resolveu esfaqueá-la e pendurá-la em uma árvore. Ou Danny Langdon – e era o que tudo indicava – talvez fosse apenas uma testemunha do assassinato de Barber. Mas se fosse mesmo isso, por que não contou a verdade à polícia? Por que não inocentou o melhor amigo quando teve chance? Talvez... Talvez porque Corey Sanders era realmente o assassino de Barber Paay, e Danny Langdon não poderia fazer nada para mudar isso. Mas... Se Corey Sanders era culpado, de que se tratava todas aquelas mensagens de Barber Paay sobre inocência? Por que ela disse o nome de Danny Langdon naquela aterrorizante sessão espírita?

Melissa não queria tirar conclusões precipitadas. Afinal de contas, quem estava preso era Corey Sanders, não Danny Langdon. Danny Langdon talvez tivesse mais respostas do que Corey Sanders. Ademais, se Corey Sanders não havia matado Barber Paay como jurava por todos os cantos, e se Danny Langdon, que era o melhor amigo dela, também não a havia matado...

Quem foi o responsável por toda aquela confusão?

Os planos de Melissa de montar uma teoria da conspiração sobre o assassinato de Barber Paay foram por água abaixo antes que chegasse à porta e tocasse sua maçaneta fria. Mandar Corey Sanders embora não era uma opção naquele momento, ela percebeu, assim que ele se levantou de sua cadeira e deixou que seu sorriso mais maldoso figurasse os lábios cheios e avermelhados.

— Aonde pensa que vai, doutora?

Melissa mordeu o lábio inferior instintivamente, e, sem querer, atraiu o olhar interessado de Corey Sanders. Ele mordeu seu próprio lábio, arqueando a sobrancelha esquerda em questionamento.

— Abrir a porta para você. Estou encerrando a sessão. — Melissa respondeu, no tom mais dissimulado que conseguiu impor a sua voz.

— Eu acho que não, doutora. — Corey Sanders meneou a cabeça com uma calma cirúrgica.

— Já fiz minhas duas perguntas. — Melissa teve a brilhante ideia de responder.

E ganhou um estalar de lábios em repreensão.

— Não está esquecendo de alguma coisa? — ele deu um passo à frente.

O fato de sorrir maliciosamente de canto de lábio o tempo todo deixava Melissa tão irritada, que chegava a ser excitante. E era absolutamente ridículo. Os olhos de Corey Sanders brilhavam como os de uma criança marota que mexia em algo que os adultos probiram. E Melissa só era capaz de sentir o suor tomar conta das mãos, do coração acelerar dentro do peito, a boca salivar, o corpo arrepiar por inteiro. Era automático.

— O que você quer, Sanders? — perguntou, fechando os olhos.

Arrependeu-se de perguntar antes que a última sílaba escapasse de seus lábios.

Melissa sabia o que ele queria. Não era necessário perguntar. O olhar arrebatador e sorriso malicioso dele lhe diziam com todas as letras.

— Achei que estivesse bastante explícito desde o começo... — a voz de Corey Sanders saiu mansa e aveludada. — Você sabe o que eu quero. E sabe que também quer.

— Eu sei, mas... Já disse que não pode acontecer de novo. É absurdo! — protestou.

O corpo reagindo da maneira ridícula de sempre... Corey Sanders se aproximava um passo, Melissa perdia os movimentos da perna. Estava paralisada. Perigosamente paralisada e a três passos dele.

— Por favor, doutora, vamos poupar tempo por aqui, sim? Pule a parte em que você finge que não me quer e eu finjo que a obrigo a se entregar a mim. Nós dois sabemos que você está louca para que eu te pegue com força. — Corey Sanders piscou.

E pareceu a Melissa uma personificação do próprio Don Juan. Ela achou ter perdido o chão por um breve instante. Seu estômago girou 360 graus, dominado pelo frio que o bater das asas das borboletas provocaram.

— Eu... — ela começou. Os olhos se fecharam mais uma vez.

Melissa não viu, portanto, quando Corey Sanders deu os três torturantes passos finais que os separavam e tomou sua mão. A áspera e forte dele a puxou e Melissa não viu jeito de se esquivar. Antes que se desse conta, seu corpo era prensado contra sua própria escrivaninha. Poderia contar as pintinhas azuis que formavam a beleza reluzente e intensa dos olhos de Corey Sanders, tamanha a proximidade. As maçãs do rosto dele, firmes e retas, estavam marcadas por uma leve vermelhidão, que lhe dava um estranho, porém sedutor, ar selvagem. A respiração quente de Corey Sanders batia contra o rosto de Melissa, trazendo-lhe uma estranha sensação de conforto. Ele sorriu, atraindo o olhar de Melissa a seus lábios que ela, de repente, sentiu uma necessidade sufocante de beijar. Então as mãos de Corey Sanders apertaram seus quadris, com força, na necessidade desesperada de sempre, e a colocaram sentada sobre a mesa. A corrente de suas algemas pesava sobre o colo de Melissa, enquanto descia as mãos atrevidas para os glúteos dela, apertando-os entre seus dedos. Melissa reprimiu um suspiro de deleite.

Corey Sanders sorriu quando Melissa mordeu os lábios, em um claro sinal de contenção. E forçou seus quadris contra os dela, que passou a envolver com as pernas. O contato de suas intimidades, que iniciavam um processo preocupante de excitação, foi maior. Dessa vez Melissa não conteve o suspiro. E Corey Sanders soltou o ar pesadamente pelo nariz.

Seus olhos fecharam por um instante único, deixando Melissa privada da intensidade de seu mar azul. Ela sentiu-se vazia durante esse instante. Como se seu coração tivesse sido arrancado de seu peito, como se o seu mundo tivesse acabado de desabar sobre sua cabeça. Quando Corey Sanders abriu os olhos mais uma vez, o peito de Melissa inflou de algo que não sabia descrever o que era. Iria explodir, tamanha a velocidade com que seu coração passou a bater.

Corey Sanders levou as duas mãos ao rosto dela, acariciando suas bochechas com uma ternura tão inesperada, que poderia jurar que, naquele instante, estava perdida e completamente apaixonada por ele.

Era assim que batia um coração apaixonado, não era? Rápido, forte, desesperado.

Era assim que funcionava uma cabeça apaixonada, não era? Perdida, confusa, completamente tomada de ansiedade e de uma felicidade tão grande, que poderia dividir com o resto do mundo.

Quando Corey Sanders fechou os olhos, Melissa fez o mesmo. As mãos foram imediatamente agarrar a camiseta dele, puxando-o para mais perto, quase em desespero. Seu corpo pedia pelo dele com tanto fervor, que se eles se fundissem, não seria o suficiente.

Ao sentir o nariz gelado dele roçar contra o dela, Melissa não conteve um sorriso tímido e singelo.

— Que bom que nos entendemos rápido dessa vez, doutora. — ele sussurrou contra seu rosto, fazendo seu hálito de menta bater nos lábios dela e os instigarem ao beijo que tanto ansiavam.

— Cale a boca e me beije logo, antes que eu mude de ideia. — foi o que Melissa respondeu, abrindo os olhos para encontrar os surpresos e divertidos dele.

Corey Sanders sorriu verdadeiramente, sem qualquer tipo de segunda intenção. Uma sensação de que o mundo era um lugar melhor quando ele estava por perto arrebatou Melissa tão repentinamente, que sentiu-se zonza. Talvez fosse mesmo a paixão dando as caras em sua vida. Todos os sintomas estavam ali, marcando presença, apenas para lembrá-la do quão ridiculamente perdida uma pessoa apaixonada poderia ser.

Batimento cardíaco acelerado: conferia.

Mãos trêmulas: conferia.

Rubor na face: tinha quase certeza de que conferia.

Euforia desenfreada: estava mais do que óbvia em suas atitudes desesperadas para se aproximar dele e ter o que seus hormônios gritavam tanto por querer.

— Doutora Melissa Parker se revelando uma mulher decidida... — Sanders falou, e então ela voltou ao mundo real.

Já era rotina Corey Sanders recuperá-la do mundo paralelo em que ia parar a qualquer mínimo gesto dele.

— Sanders, você vai ver o quão decidida eu posso ser se não fizer o que tem que fazer de uma vez. — Melissa disse entre dentes, e então levou as mãos que agarravam sua camiseta até sua nuca, arranhando a pele sensível que formava aquela área.

O sorriso sumiu dos lábios de Corey Sanders, e a intensidade necessitada passou a dominar suas feições. Suas mãos voltaram aos glúteos de Melissa, quando seus lábios finalmente se chocaram. A princípio, nenhum dos dois moveu um músculo. Apenas sentiram, por alguns preciosos instantes, as texturas macias de seus lábios acariciando-se. Os olhos estavam fechados, apertados, como se suas vidas dependessem daquele pequeno, mas significativo, momento de intimidade.

Sanders roçou os lábios nos de Melissa logo em seguida. Uma, duas vezes. Então passou sua língua por eles. Primeiro o inferior, depois o superior, e abriu o espaço necessário para juntar-se à dela, que esperava sedenta por tal momento. Seus lábios grudaram como se ímãs poderosos os atraíssem um na direção do outro. As línguas brincavam naquele úmido gesto, entrelaçando, buscando explorar a máxima parte da outra. As cabeças se movimentavam na dança do singelo e bonito gesto do beijo que se consumava com tanto fervor e entrega.

Sentir o gosto de Corey Sanders mais uma vez espalhando-se por sua boca era um deleite para Melissa. Ela não continha a força com que agarrava os fios de cabelo, puxando-o em sua direção na crescente necessidade que seus hormônios impunham. O passear das mãos sempre precisas de Corey Sanders por seu corpo a deixava mais instigada. Ia de seus glúteos, onde apertava com força, a seus quadris, sua cintura. E faziam o caminho inverso, indo até aonde suas malditas e inconvenientes algemas permitiam.

Quando o ar faltou, Corey Sanders libertou os lábios de Melissa daquela prisão da qual, na verdade, ela não queria a liberdade. Poderia beijá-lo pelo resto de sua vida, então teria vivido tudo o que sempre sonhou, mas nunca soube.

Corey Sanders tomou os lábios molhados de Melissa entre seus dentes, mordiscando-os com leveza, puxando-os enquanto afastava-se dela. Até que se afastou de vez. Suas mãos quentes já não a tocavam mais e Melissa sentiu falta daquele toque, como do ar para respirar e se manter viva quando sufocada. A proximidade voltou a ficar perigosa quando perfume dele a dopou outra vez.

Os lábios quentes e molhados de Corey Sanders roçaram o lóbulo da orelha quando ele falou:

— Não poderia ter tido melhor recompensa, doutora. — sussurrou.

A última coisa que Melissa vislumbrou antes que se perdesse foi o sorriso malicioso dele, faiscando... Então os olhos que enxergavam sua alma.

E ele se foi, deixando-a completamente desejosa de tê-lo mais. 

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