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Eu odeio o meu corpo, meu ex namorado sempre deixou claro o quão feia eu ficava de biquíni e mesmo Gabriel dizendo que eu ficaria linda, eu não conseguia acreditar. Por isso vim a praia com um short jeans um cropped florido soltinho.
— Chegamos! — Seu Valdemir disse animado e saímos do carro.
Solto um suspiro profundo quando toco os meus pés já descalços na areia quente
— Eu adoro esse lugar — Dhiovanna disse me puxando até um quiosque. — Quer água de coco, Ava?
— Quero — abro um sorriso simpático
— Mulher bonita não paga mas também não leva — o senhor brincou e sinto os braços grossos de Gabriel na minha cintura.
— Essa cantada tá batida, não acha? — Gabi cruzou o cenho
— Gabriel, para disso, é só uma brincadeira — Digo vendo sua expressão de raiva
— Tô de boa, pô. — deu de ombros ainda com a cara emburrada — Deixa que eu pago a água da minha namorada e da minha irmã.
Minha namorada? Como assim, o Gabriel pensa nisso comigo? Por que ele me referiu dessa forma? Somos namorados? Ele nunca me pediu.
Gabriel tem sido incrível comigo e acho que ele não me machucaria. Eu amaria namorar com ele.
— Nem é ciumento — Dhio debochou me tirando do transe
— Não tô com ciúmes, não posso pagar nada pra vocês? — arqueou a sobrancelha
— Pode, Gabi. — abro um sorriso fraco
— Eu vou entrar na água — Dhiovanna disse saindo em direção ao mar
— Tem certeza que você não quer entrar? — Gabriel perguntou me olhando atento — Seu corpo é lindo.
No momento que eu iria responder um menino pequeno agarrou os pés do Gabriel chorando alto
— Gabigol — ele disse entre soluços.
O jogador pegou ele no colo e o abraçou com força, olho com carinho pra criança que abriu um sorriso tímido.
— Qual o seu nome?
— Guilherme mas pode me chamar de Gui, tia — ele disse colocando os braços em volta do pescoço do Gabi
— Você é o meu fã? — Gabriel perguntou limpando as lágrimas dele — Chora não, carinha.
— Demais, eu te amo. — disse soluçando e sinto um nó na garganta emocionada vendo a cena
— Eu também te amo — ele disse o apertando — Sabe jogar? — concordou envergonhado — bora, jogar?
— Eba! — disse animado e Gabriel o soltou pegando na sua mão
— Guilherme, você não pode pular assim em cima das pessoas, menino! — Uma mulher reclamou aparecendo ao nosso lado — Desculpe por isso, casal.
— Não tem problemas, a senhora é a mãe dele? — concordou — Podemos jogar uma bolinha ali? — Gabriel apontou pro lado esquerdo
— Claro. — ela disse sorrindo largo — Olha, você conheceu o seu ídolo, filho.
— Sim, mamãe! — ele pulou animado nos fazendo rir
— Eu sou a Carmen, qual o seu nome? — ela perguntou assim que nos sentamos na areia observando os meninos jogarem bola
— Ava, prazer — a cumprimento
— Ele tem jeito pra ser pai, pensam em ter filhos? — olho pra Gabriel rindo ao lado de Gui e sinto o meu coração se aquecer.
– A gente não namora – digo envergonhada
— Ainda, ele parece gostar muito de você.
— E eu gosto muito dele.
Muito mais do que eu conseguia imaginar, talvez eu esteja cada vez mais encantada com Gabriel Barbosa, o jeito que esse homem me trata é tão diferente, me faz me sentir especial.
Sinto uma bola atingir a minha perna e me levanto para fazer embaixadinhas.
— Pique jogadora ela, pô. – Gabigol debochou e dou risada
— Melhor que tu, pô. — imito o seu jeito de falar
— Com certeza — debochou piscando em minha direção
— O senhor tem uma namorada muito bonita, tio. — Guilherme disse me encarando
— Também acho, rapaizinho — bagunçou os cabelos da criança — Eu tenho uma namorada muito bonita.
— Pelo o que eu sei, eu tô solteira, Gabigol — dou de ombros
— Eita tio, vai deixar assim?
— Ainda não é a minha namorada — piscou convencido
— Ainda, tia — Gui disse imitando o gesto de Gabi me fazendo rir — Então vocês ficam?
— Isso não é assunto de criança
— Eu já sou um homem. — ele rebateu me fazendo revirar os olhos
Me afasto deles rindo e vou em direção ao carrinho do picolé pegando alguns.
— Obrigada — Carmen agradeceu quando a entreguei e vou até os meninos
— Eu espero que o senhor nunca magoe a tia, porque ela é muito legal — ele disse dando uma mordida no picolé
Vejo Gabriel ficar pensativo e desviar o olhar em direção a sua irmã que nadava junto com seus pais, solto um suspiro fundo querendo estar lá dentro.
Droga de insegurança.
— Isso só porque ela te deu um picolé? — ele brincou
— Também mas tio, garotas não merecem chorar. — ele piscou e fico surpreso com sua esperteza — Nunca ouviu Luan Santana?
— Eu não curto muito — deu de ombros
— Eu amo Luan Santana — digo animada
— O senhor é lerdo? — indagou em direção a Gabriel que cruzou o cenho confuso — Se a sua garota gosta de algo então automaticamente o senhor também curte.
— Você tá muito esperto, pô — Gabi disse cruzando os braços e nego rindo
— Desse jeito o senhor vai acabar perdendo ela – me afasto deles vendo os dois conversarem sobre o assunto e fico reflexiva.
O que eu e Gabriel somos afinal?
Não gosto de pensar que eu e ele somos meros ficantes e sentem prazer um com o outro e só isso. Eu e Gabriel temos algo a mais, pelo menos eu sinto algo a mais aqui dentro do meu coração, eu só preciso descobrir o que é.
Observando a água bater nas pedras formando ondas e solto um suspiro profundo quando sinto a presença de alguém sentado do meu lado, não preciso olhar pra saber que era Gabriel Barbosa.
— Eu preciso te contar uma coisa porque eu sinto que preciso ser sincero com você, docinho. Eu sei que eu e você não temos nada mas eu preciso te contar e vou te entender se depois do que eu falar, você quiser terminar o nosso lance, pô.
— Do que tá falando, Gabriel? — olho o horizonte com medo da sua resposta
— Eu beijei a Letícia na quinta feira e eu tô confuso sobre os meus sentimentos.
— Você beijou outra mulher? — nego rindo com deboche — e a gente é só um lance? — sinto um nó na garganta
— Eu gosto dela mas também gosto de você. A gente não tem nada, Ava. Somos só...— ele para de falar pensativo
— o que a gente é Gabriel? — indagado nervosa observando mais uma onda se quebrar — Eu já devia saber que isso aconteceria, afinal de contas, é o Gabigol e o Gabigol ele é um mulherengo.
— Mas que droga, Ava! Por que merda você tá falando como se eu tivesse te traído?
— Porque foi isso o que aconteceu, você meio que me traiu. — sinto uma lagrima solitária escorrer e tomo coragem de virar o meu rosto e encarar o seu — Fomos só um lance? Ela é melhor que eu né?
— Eu gosto de você, cê sabe disso, pô.
— Quem gosta não faz o que você fez. Mas eu te entendo, deve ser difícil pra um cara como você se envolver como uma mulher feito eu.
— Isso não é sobre você, Ava.
— Claro, isso é sobre a outra. — mordo o lábio que tremia — Não é? — ele concordou
— Você não vai me perdoar? — uma lágrima escorreu dos seus olhos
— Você disse que gosta dela porque eu te perdoaria? – nego rapidamente — Não, a pergunta não é essa — limpo a garganta — Você disse que gosta dela então porque eu tô aqui? Sou tipo uma brincadeira pra você?
— Porque você também mexe comigo, Ava. — ele disse com a voz trêmula como se quisesse chorar
— Mas eu não posso ter metade de você, Ga..Briel. — gaguejo
— Eu sei que não, me desculpa.
— Eu te entendo, sabe? Eu não sou mulher o suficiente pra você.
— De novo essa maldita insegurança, Ava? — arqueou a sobrancelha — Parece uma idiota falando isso
— Mas foi você quem escolheu ser um otário, Gabriel, não eu.
Ficamos em silêncio e olho em direção ao mar que formava outras ondas.
Choro baixinho e ouço também o seu choro, minha boca tremia e minhas mãos suavam.
— Se a sua insegurança é maior que o que você sente por mim, então é melhor a gente se afastar.
— Eu concordo com você — limpo o meu rosto — Eu acho melhor a gente se afastar mas não por conta da minha insegurança mas pelo o que você fez.
— Somos pessoas feridas, Ava. Você com a sua insegurança e eu com o amor.
— Você mesmo se feriu sozinho, Gabigol.
— Você mesma se feriu sozinha, Ava.
— Do que tá falando? — sinto vontade de soluçar
— O mundo não pode falar se você é bonita ou não, eu não posso te fazer enxergar isso mas você, você pode, Docinho. Se quiser terminar o que a gente tinha aqui, eu te respeito.
— A gente acaba aqui, Gabriel.
— A gente pode continuar como amigos?
— Da pra ser amigo da pessoa por qual você tá apaixonada?
— Só você sabe das minhas crises, Ava. Eu ainda não te disse isso antes mas você é o meu abrigo, quando eu tô mal é você quem eu procuro. Com você tudo é doce, docinho.
— Acho que a gente tem que seguir em frente, pelo menos a gente tentou mas não era pra ser.
— Eu queria te dizer que eu tô arrependido de beijar a Letícia mas eu se eu falar isso eu vou estar sendo um mentiroso.
— Claro que você não se arrepende, Gabriel.
— E eu tô sendo o mais sincero que eu consigo ser aqui e agora porque eu não quero continuar com algo pra depois te magoar. Eu não posso fazer isso, posso ser um otario, um idiota ou um babaca mas um traidor eu não sou.
— Mas você já é um traídor, Gabriel. – digo com um nó entalado na garganta e os olhos lacrimejados
— Como eu posso ter te traído se a gente nunca namorou?
— A gente foi só um lance, pô — imito ele — Não foi?
— Você fala como se eu fosse uma pessoa ruim. Como se eu fosse um grande otário.
— Deve ser porque você foi um grande otário. Um otário cheio de ego, de orgulho, que só pensa em sexo, balada e em você mesmo, porque em momento nenhum enquanto você beijava outra você pensou em mim, em como me sentiria.
— Eu penso em você toda hora mas é que com a Letícia, as coisas são diferentes.
— Lógico que é — minha voz sai rouca — Diferente — debocho — Assim como foi com todas as outras, eu devia ter ouvido a minha tia. Você não serve pra mim.
— sua tia tá certa, eu não sirvo pra você, Docinho.
Me levanto da areia cansada dessa historinha sentindo o meu peito pesar por dentro. É Gabigol, a gente não serve um pro outro, não agora. No fundo, não era nada doce, nem mesmo o amor.