🖇
━━━━━━━━━━━━━━━
Sinto minha visão ficar turva e me seguro com força na barra em frente a minha confeitaria. Eu tô sem comer tem um tempo, eu tô cem por cento focada em ficar magra, eu preciso disso e depois da conversa com a minha tia ontem, me sentir tonta.
Como ela pode ser tão preconceituosa?
Entro dentro do meu estabelecimento chamando atenção de algumas pessoas, caminho com cuidado até o balcão e Chloe me olhou preocupada
— Ava, você tá branca. O que tá acontecendo?
— Não se preocupe, amiga.
A única coisa que eu colocava na boca era água, suco, café e vitamina. Desde o dia em que fiquei nervosa pra ir no jogo por sentir inferior estou seguindo essa dieta que vi na internet. Ao ver aqueles comentários maldosos sobre o meu corpo me sentir tão mal.
— Você tá passando mal, Ava. — ela disse passando a mão na minha cintura me guiando até uma mesa e percebo Gabriel me olhando preocupado
— Você tá bem, docinho? — ele tocou na minha mão.
— Tô sim — forço um sorriso e pego a água que Isabele veio me entregar — obrigada — a agradeço
— Vou atender ali a mesa, olha ela pra mim por favor, Gabi — Chloe disse saindo
— Não parece, você tá muito pálida.
— Eu tô bem, Gabi — solto um suspiro
— Eu queria me desculpar por não ter vindo te ajudar aqui ontem.
— Não tem problemas Gabriel, você tava ocupado com uma mulher. — digo brava.
Porque merda eu tô brava?
— Como sabe? — cruzou o cenho
— Eu ouvir a voz de uma mulher no fundo da chamada
— E...era a Júlia, me desculpe. É que ela já tava lá e a gente ia almoçar então não queria deixar ela na mão.
— Gabriel, não tem problema nenhum! — meu tom de voz sai ignorante. — eu achei uma pessoa pra resolver o problema e deu tudo certo — tento falar no meu tom de voz mais doce.
— Me desculpa mesmo.
Não tem problema se você preferiu transar ao invés de me ajudar.
Merda, por que isso tá me irritando tanto assim?
— Tá — sinto tudo balançar e aperto a mesa com força
— Ei, você tá bem? — segurou na minha mão mais uma vez
— Eu tô
— Você comeu alguma coisa hoje? — ele questionou me olhando atento
— Não. — sou sincera
— Tem que se alimentar, Docinho. — me entregou um pedaço de bolo
— Não quero comer isso.
— o que quer comer?
— Nada.
— Nada? Tá maluca, Ava? Tem que comer bem.
— Gabriel, eu não quero comer.
— Você vai comer sim. — ele tirou um pedaço e me ofereceu
— Não — viro o rosto pro lado
— Ava! — apertou minha mão com força — Precisa comer, docinho.
— Eu não quero, Gabriel.
— Por que não quer?
— Eu tô sem fome.
— Qual foi a última vez que comeu? — olho pro chão cabisbaixa — Tá sem comer a dias, Ava? — arregalou os olhos
— Preciso emagrecer.
— Ava, para com essa paranoia. Você é linda assim, eu gosto do seu corpo e você também devia gostar.
Sinto o meu coração errar uma batida com a sua fala e fico nervosa com isso. Como assim ele gosta do meu corpo? Ele é tão feio e gordo.
— Eu odeio o meu corpo — sinto os meus olhos lacrimejar e fecho os olhos com força tentando controlar a tontura
— Coma isso — ele colocou um pedaço de bolo na minha boca e acabo comendo — O seu corpo é lindo, eu não tô mentindo. Coma mais — ele disse me dando mais outro pedaço na boca e olho dentro dos seus olhos sentindo um arrepio na alma.
Depois de comer o bolo todo e ele pedir mais dois pra mim com um copo de suco de goiaba me sinto bem melhor mesmo que minha mente me torture por ter comido algo.
— Obrigada — limpo minha boca no guardanapo — Você me ajudou.
— Docinho, você não pode ficar sem se alimentar, você passou mal e pode até desmaiar e estar sozinha nesse momento, gosto nem de pensar nisso. — ele passou a mão no rosto nervoso
— Eu só quero ficar magra — sinto um nó na garganta
— Você quer ficar magra do jeito errado, se quer realmente fazer isso tem que ser de forma saudável que não prejudique sua saúde mas pra mim o seu corpo tá maravilhoso.
— Mais é que sem comer é o caminho mais rápido.
— Mas não é o melhor caminho. Eu posso te ajudar, podemos treinar juntos, fazer caminhada, não sei. — acariciou minha mão.
— Sério? — arqueio a sobrancelha surpresa
— Sério.
— Tudo bem, a gente pode correr? Eu sempre quis correr mas por ser mulher é perigoso sair cedinho pra fazer isso sozinha.
— Podemos sim, Ava. Toda manhã, 5 horas?
— Certo.
— Eu passo na sua casa, a gente começa no domingo pela manhã ok?
— tudo bem — abro um sorriso largo – mas me conta como foi com a Júlia.
Eu tô muito curiosa pra fazer o que fizeram e ao mesmo tempo com o medo do que posso ouvir.
— A gente almoçou juntos e depois transamos. — coçou a nuca nervoso
— foi bom?
— Sim.
Ok, isso doeu mais que a tontura que estava sentindo no meu corpo.
— Você tá gostando dela? – arqueio a sobrancelha
— Não, aquela outra mulher ainda tá na minha mente.
— Por que você não chega nessa outra mulher?
— Docinho, ela é muito legal e tenho medo de estragar minha amizade com ela caso eu leve um fora.
— Entendi e por isso tá pegando a outra? Pra tapar o buraco?
— Não, a Júlia não é tapa buraco. A gente gosta de da prazer um pro outro, não tem sentimento de nenhuma das partes mas também ninguém vai machucar um ao outro. Ela sabe que não a vejo como o amor da minha vida.
— Pensou na outra mulher ontem?
— Sim, acho que foi por isso que foi bom. Porque eu transei com a Júlia como se tivesse transando com ela.
— Isso não é certo, Gabriel — nego rapidamente
— Eu sei mas a mulher que eu quero não vou ter.
— sinto muito – toco em sua mão
Encaro os seus olhos escuros que desviam o olhar pra minha boca. Por que Gabriel Barbosa sempre faz isso?