Cupido Reverso [CONCLUÍDO]

By autoralynxine

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Alicia e Christopher são melhores amigos inseparáveis desde o ensino médio. Desde então, nenhum tipo de desaf... More

➳ AESTHETIC & DISCLAIMER
[01] Cafés amargos para noites sem sabor
[02] Como irmãos
[03] Dia dos namorados e Freddy Krueger
[04] Poemas, bíceps e o clube de debate
[05] Advogado bonitão X Robin
[06] Lábios, línguas, dentes e lágrimas
[07] Noite com final feliz
[08] AMOR FATI
[09] Sobre escadarias e australianos
[10] Reconciliação e pizza
[11] Aquele que partiu
[12] Sacrifícios e panini com cappuccino
[13] Chocolate quente e Andrew Byrnes
[14] Um artigo em dupla e um almoço caótico
[15] Todo mundo ama Crystal Banks - Pt. 1
[16] Todo mundo ama Crystal Banks - Pt. 2
[17] Beerpong, tacos e o fim da minha sanidade
[18] Aquele em que eles dormem na mesma cama
[19] Um poema, um professor, uma vitória
[20] Guitarras, duetos e o melhor beijo de todos
[21] Mente suja, coração puro
✧・゚: *✧・゚:* ILUSTRAÇÃO ✧・゚: *✧・゚:*
[22] Croissants, café e uma dose de medo
[23] Velas, vinho e veludo
[24] Crepúsculo e então escuridão total
[25] Patty Brown é assim mesmo
[26] Um trem e um bicho papão
[27] Um ciclo se fecha em Vermont
[28] Irmãos, patos e traumas
[29] Verdade ou Consequência

[30] Cinco anos depois...

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By autoralynxine

Christopher Perry

5 ANOS DEPOIS

Abro os olhos com dificuldade, sentindo a luz forte que vem das janelas invadir minha mente sonolenta sem pedir licença. Eu não dormi bem a noite passada. Estou terrivelmente nervoso, com enxaqueca e falta de apetite, porque hoje é um dia tão importante que mal sobra espaço para respirar.

Tenho certeza de que Alicia já acordou e saiu pelo vazio ao meu lado e sei que o dia dela será uma loucura hoje, mas desejo por um momento que ela ainda estivesse aqui para que eu pudesse abraçá-la e já me desculpar de antemão caso eu acabe gaguejando bem no meio dos meus votos. Sei de cor o que ela diria: "Chris, não tem como você deixar esse dia menos perfeito. Você é a razão dele ser perfeito para mim". Ela tem repetido isso há dias, mas ainda assim morro de medo de ficar tão emocionado com a ocasião e simplesmente não conseguir falar nada.

Temos trabalhado feito loucos para que esse dia seja exatamente da maneira que sonhamos. Ou melhor, em grande parte, da maneira que Ali sonhou. Não que eu faça o tipo indiferente que não dá a mínima pro dia do próprio casamento. Não é isso mesmo. É só que eu tenho sonhado há tanto tempo em pedi-la em casamento e ser casado com ela, que esqueci de pensar em como seria a cerimônia de fato. Mas já ela, em compensação, começou a montar todo o planejamento em detalhes no dia seguinte ao pedido.

Eu jamais havia conseguido visualizar como seria a Alicia noiva. Se ela seria do tipo que considera tudo uma grande estratégia do patriarcado e iria desprezar um pedido de casamento, ou se faria o tipo doida romântica que sai mostrando o anel de noivado para todo mundo que passa na rua. Surpreendentemente, ela era algo entre os dois.

Na noite em que a pedi em casamento, meu primeiro livro havia sido lançado. Eu já tinha lançado uma coletânea de contos antes, com as aventuras paranormais do meu amado personagem detetive Carson, mas "Cupido Reverso" era meu primeiro romance legítimo, com começo, meio e fim, e eu tinha um contrato justo com uma editora de respeito pela primeira vez na vida. Era quase uma autobiografia sobre meu relacionamento com Alicia, remontando desde a época do colegial até o dia em que finalizamos a faculdade. Quando o escrevi, contei com a ajuda e o consentimento constantes dela em cada capítulo. Alguns eram até escritos pelo ponto de vista da Ali, e eu sempre coletava seus relatos antes de começar para escrevê-los em cima disso.

Quando o finalizei, ela foi a primeira pessoa a ler e aprová-lo. Aliás, a ideia de escrever sobre nós partiu dela. Quando, quase ao fim da graduação, meu orientador me pediu para que apresentasse algo que fugisse da fantasia e fosse mais realista porque eu precisava me desafiar como autor, lembrei-me das palavras do querido e saudoso professor Antunes, que aconselhava constantemente que eu utilizasse mais emoção e menos racionalidade em minhas obras.

Após o lançamento muito bem sucedido do livro na livraria Strand, próxima à Union Square, eu não via maneira melhor de agradecê-la pelo apoio, inspiração e amor que ela me ofertava diariamente do que demonstrando que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.

Eu já tinha o anel há meses. Passava e repassava a cena na cabeça quase diariamente e, toda noite, quando chegava ao nosso apartamento e a encontrava lá, tinha a certeza de que queria vê-la todos os dias, para sempre. Mas parecia nunca encontrar o momento certo para isso. Então, assim que saímos da livraria e ela se jogou em meus braços, me parabenizando e beijando meu rosto inteiro, repetindo como estava orgulhosa de mim, me encontrei de joelhos, na calçada, tirando a caixinha vermelha do bolso traseiro da calça, e perguntando:

— Ali, você quer casar comigo?

Lembro-me claramente dos olhos arregalados e expressão apavorada em seu rosto quando ela respondeu:

— O quê?

— Eu sei que não estamos em um restaurante chique, e eu não consegui planejar isso de uma maneira que faça uma dúzia de rosas cair do teto e borboletas voarem no céu, mas eu estou aqui, no melhor momento da minha vida, só porque você esteve ao meu lado quando não era o melhor. E eu gostaria de continuar passando todos os tipos de momentos ao seu lado, se você quiser. Eu também sei que não precisamos desse compromisso formal para passar o resto da vida juntos, e que é só uma invenção da sociedade e...

— Sim. - Ela me interrompeu, passando do completo pavor para uma expressão sorridente e emocionada. — Eu quero, sim, seu maluco. Desde que faça você parar de falar tão rápido. - Ela riu, levando as mãos à boca, em choque, e deixando algumas lágrimas caírem.

Eu acho que não estava preparado para receber um sim. Acho que não estava em sã consciência quando fiz o pedido, mas estava bastante consciente quando a girei umas mil vezes pela calçada, a beijando e sorrindo, e repetindo que a amava. Era uma noite fria daquelas que deixa o nariz vermelho, mas eu juro que mal lembro do frio.

Então agora, um ano depois do noivado e há apenas algumas horas do casamento, eu só conseguia pensar nela em um vestido de noiva. Quão linda ela podia ficar em um vestido de noiva? Quão emocionantes seriam seus votos? Será que os meus seriam tão bons? Será que a decoração, a comida, a música seriam exatamente como ela imaginou? Será que sua mãe viria? Ali havia comentado que essa decisão era pauta frequente em sua terapia. Convidar ou não convidar a mãe ausente para o casamento? No final, a terapeuta havia lhe dito que nenhuma das opções era errada ou certa. O que importava era que aquele dia fosse tão especial quanto ela imaginava, e que para isso deveria fazer aquilo que mais lhe soava correto. Então Ali a convidou.

E agora cá estou eu, pensando em todo tipo de coisa possível antes de conseguir levantar da cama. Por fim, tomo o último gole de coragem que tenho e vou até a cozinha. Bebo um café preto, como uma avocado toast e envio uma mensagem para Alicia.

"Apenas checando se a lei de não ver a noiva de

vestido antes do casamento continua de pé."

"Infelizmente sim, mas em poucas horas

você poderá ver a noiva sem vestido algum.

Te amo."

Sorrio ao ler a mensagem. O humor da debochada e maliciosa Alicia se mantém o mesmo com o passar dos anos, o que às vezes pode ser irônico, considerando que agora ela tem um emprego sério de gente grande no gabinete do Prefeito.

Imagino como ela deve estar se sentindo agora; fazendo as unhas, hidratação na pele e todo tipo de coisa que uma noiva faz no dia do casamento. Minha mãe, Jessie e Crystal vêm auxiliando-a em todos os preparativos. Era simplesmente adorável como Alicia tinha saído de um estado profundo de ciúmes em relação à Crystal e se tornado uma das amigas mais próximas dela. Eu sou suspeito para falar: sempre a considerei uma pessoa doce, daquelas que não se pode odiar sem ter algum desvio de caráter. Mas também, ela me chama de "mano", e eu a chamo de "maninha do meio". Até Adam começou a chamá-la assim.

Enquanto eu penso, lembro, divago e imagino, o dia não para de passar. Quando me dou por conta, a hora chega e meu coração não está muito distante de sair pulando sozinho. Quando caio em mim, eu já estou vestido em minhas calças sociais pretas, camisa branca de linho e gravata verde-escuro (sem paletó porque decidimos casar ao ar livre no verão). Estou parado, bem abaixo de um arco repleto de ramos verdes e margaridas. O cerimonialista está pronto para iniciar; nossos padrinhos e madrinhas perfeitamente posicionados; até os convidados todos já chegaram (inclusive a mãe de Alicia e Andrew Byrnes, que decidimos convidar para não perder a piada). Só falta a noiva. Será que ela vem?

Alicia nunca mais descumpriu nenhum combinado desde aquela vez cinco anos atrás, nas férias de primavera, mas um casamento é um evento realmente grande e ela pode estar assustada, tendo um ataque de pânico no canto de um armário, em um belo vestido branco. Minhas mãos estão suando friamente e minha cabeça gira. Estou prestes a sair correndo para descobrir onde ela está, até que ouço a marcha nupcial tocando.

É claro. As noivas sempre se atrasam.

É a visão mais bela que já tive em toda minha vida. Esse momento só pode perder um dia, talvez, para a visão de um filho nascendo, mas até o momento, não vi nada mais bonito do que Alicia Brown caminhando lentamente até mim vestida de noiva. Seus cabelos castanhos sempre volumosos estão enrolados em cachos delicados, com pequenas presilhas brancas brilhantes de cada lado. Seu vestido (é a primeira vez que o vejo!) parece ter saído de um conto de fadas só nosso, e digo isso porque nós dois temos nosso próprio sistema; um cara clichê demais para uma garota contemporânea demais. Um cara que ainda usa gravata borboleta para uma garota gostosa que usa um vestido de noiva que acaba no meio das coxas; ele tem mangas bufantes e é tão delicado quanto é sexy. Uma linda gargantilha branca decora seu pescoço e sapatos dourados, seus pés. As curvas de seu corpo estão evidentes e ela consegue, como sempre, despertar meu lado mais selvagem na ocasião menos propícia.

Ela está tão linda, tão sensual, tão hipnotizante, mas parece nem notar porque quando miro seus olhos, eles estão vermelhos de tanto chorar e continuam produzindo mais lágrimas. Ela carrega um sorriso apaixonado quando me vê, mas está emocionada demais para evitar as lágrimas. De repente, o mesmo acontece comigo e meu rosto se torna uma confusão efervescente de lágrimas, nervosismo e alegria. Quando ela chega até mim e segura minhas mãos tão trêmulas quanto as dela, sinto que posso desmaiar.

O ritual padrão de casamento se inicia. A beleza da união, a saúde e a doença, a alegria e a tristeza, o sim e o não, e é claro, os votos. Ali é a primeira.

— Chris. Esse é um daqueles momentos em que eu espero que você consiga decifrar o que estou dizendo no meio de todo o choro humilhante que sai de mim. - Ela ri e chora ao mesmo tempo, e eu faço o mesmo. — Até eu te conhecer, minha vida tinha sido o tipo de filme deprimente que ninguém gosta de ver. Você só esbarra sem querer no meio da madrugada. Quando te conheci e nos tornamos amigos, ela passou a ser mais uma comédia do que um drama. Depois de alguns anos, se tornou um romance digno de horário nobre, e só aí eu entendi o que era aquela coisa da qual eu sempre senti falta, mesmo sem conhecer: amor, parceria, confiança, perdão. Eu não conhecia nenhum desses sentimentos antes de te conhecer e hoje acho engraçado a maneira como eu temia que te namorar pudesse me levar a te perder, quando na verdade, a cada ano que passa, sinto que te tenho mais. Nem sei quem seria Alicia sem Christopher. E eu não quero, nem por um minuto, descobrir. Você era minha pessoa favorita dez anos atrás, e continua sendo hoje. Eu te amo, Perry. Te amo demais. - Sua voz está completamente embargada nas últimas palavras, mas ainda assim ela sorri, certa do que diz.

Na minha vez, eu só tenho vontade de agarrá-la, gritar que eu a amo e que conseguimos, que chegamos lá! Mas decido seguir o plano.

— Vou tentar fazer isso sem chorar muito. - Digo, fazendo nossos convidados e Alicia rirem. — Como um escritor, eu sempre imaginei que devia ser justo: escrever apenas sobre aquilo que conhecia. Por isso, eu escrevia muito sobre fantasia (um gênero que eu lia com frequência), comédia e ação, mas jamais sobre o amor romântico, pois nunca havia experimentado isso para valer. Hoje em dia, eu sinto que poderia escrever mil livros românticos e ainda assim não saberia descrever o que sinto toda vez que acordo ao seu lado e tenho a oportunidade de dizer que te amo em voz alta, e receber o mesmo de volta. Ter a chance de se apaixonar pela melhor amiga é uma coisa para poucos; eu imaginava que só existia tal sorte para o Chandler de Friends. Mas, no fim das contas, o universo me deu essa sorte. A sorte de amar a pessoa na qual eu mais confio no mundo, a pessoa que eu admiro, que me faz rir como ninguém. A menina inteligente que me deixou de joelhos lá no ensino médio, com seus ótimos argumentos, hoje está aqui se casando comigo. Não existe final feliz melhor que esse.

Apenas alguns minutos se passam e o esperado momento de "você pode beijar a noiva" chega. Beijo Alicia como se fosse a primeira vez naquela noite na faculdade cinco anos atrás, quando não tínhamos certeza sobre nada. Hoje, sei que temos certeza de apenas duas coisas: 1) nós funcionamos perfeitamente bem juntos e 2) não vamos dormir nem um pouco essa noite. 

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