!Recado da autora!
• Escrevi esse capítulo dedicado as minhas meninas, Alice e Heloísa (Yuqi e Soyeon). Não sei se deveria me referir a ele como um "capítulo extra", mas queria muito mostrar a relação das minhas protegidas, e não delas como também a de Isaac (Felix) e Heloísa.
• Um detalhe bem bobo, é que escrever isso ouvindo minhas lindonas Clairo, girl in red e beabadoobee as 3 da manhã foi umas das melhores experiências que já tive como escritora, quem nunca ouviu elas recomendo fortemente 🙏🏽.
• Atualização na playlist da fic: girls - girl in red | Sofia - Clairo.
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Heloísa pov:
Como de costume, o sol preenche o vasto céu azul, seu brilho intenso e mortal rouba toda a atenção, dizendo em alto e bom tom que o dia definitivamente começou. Ultimamente, meus dias tem saído do meu habitual, Noah, Sophia e Alice vieram passar um tempo aqui em casa, mas do jeito que as coisas estão, elas já moram conosco.
Eu e as meninas decidimos que elas iriam dormir comigo, me ofereci para dormir no colchão e elas na cama, porém, as duas não concordaram nem um pouco. De vez em quando, sofi e Alice dormem comigo, mesmo que apertado, essas crianças insistem que preferem dormir nós três juntas.
Todavia, algo vem me incomodando desde que conheci Alice. Alice é uma boa pessoa, é atenciosa, cuidadosa, protetora, mãezona, talentosa, linda, seu cabelo é tão macio e brilhoso, suas unhas estão sempre pintadas e feitas. Sua voz é tão boa de escutar, seu humor é estranho, o que chega a ser engraçado, seu sorriso e o som de suas gargalhadas sinceras e barulhentas, é tudo tão perfeito, que me assusta.
Me sinto suja por ter esses pensamentos, aliás, Alice está passando por um momento difícil e sério, não se sabe se seus pais estão vivos ou não, sua mente deve ser um quarto minúsculo e bagunçado, com os lençóis jogados no chão e o vidro do espelho quebrado. Se eu revelar esses sentimentos, só vou estar causando mais confusão em sua cabeça.
Eu não sei se ela também me vê diferente, seus sorrisos ingênuos para mim, não necessariamente significam paixão, ela apenas pode se sentir confortável o suficiente com minha presença. Eu não quero estragar isso, não quero fortalecer o tornado que vêm a perseguindo, mas dói, dói saber que vejo ela dessa forma tão estúpida, dói saber que a cada dia que passa esses sentimento vão se fortificar.
Tenho medo de que chegue o fatídico dia, em que meu espírito não tenha mais força para espremer todos esses sentimentos para virarem migalhas insignificantes, e resolva explodir. Muito provavelmente isso machucaria Alice, já que essa explosão não seria da melhor forma.
- Helô? - Alice me tira dos meus pensamentos e me traz de volta a realidade - tá tudo bem?
Alice tinha seu cabelo preso em um cabo de cavalo, vestia seu simples blusão branco totalmente liso e shorts jeans escuro, em seus pés calçava uma havaiana preta.
- Ah... - coço a nunca olhando para baixo com um sorriso bobo, tentando abandonar todos os meus pensamentos - eu tô bem, por que a pergunta?
- É que você parecia tão perdida, está realmente tudo bem?
- Está sim! Eu só... só... só estava pensando em ir pro mercado!
- Mercado? Sério...?
- Sim! Quer dizer, não exatamente o mercado, mas sim a... a farmácia!
- Helô, por que está assim? - Alice cruza os braços.
- Assim? Assim como?
- Você tá muito nervosa, parece querer esconder algo.
- Isso é paranóia sua Alice! - dou leve tampinhas no ombro da loira rindo - não tem nada que eu precise esconder, entendeu?
- Então por que você anda tão perdida ultimamente? Essa não é a primeira vez que você se desconecta do nosso mundo - a loira se aproxima ainda com os braços cruzados, sem perder o contato visual - o que há de errado?
- Alice - engulo seco - eu já disse, não há nada que eu esteja escondendo... - por favor, alguém me tire daqui, ela está muito perto, Isaac me salva.
- Irmã! - Isaac chega na sala.
- Graças a Deus! Meu anjinho veio me salvar - pensei respirando fundo.
- Foi mal atrapalhar a conversa de vocês duas, mas eu preciso da minha irmãzinha emprestado Alice.
- Oh! Relaxa sac, você não atrapalhou nada - Alice me olha pela última vez antes de se retirar - bom, eu vou dar uma volta rapidinha, não vou chegar tarde.
- Tome cuidado Alice - Isaac afirma.
- Eu vou sac, não se preocupe! - a loira diz e vai em direção a porta, antes de finalmente sair se despede mais uma vez e fecha a porta.
- Temos que conversar, senhorita Heloísa - o moreno diz cruzando os braços.
- Sobre?
- Não se faça de sonsa, esqueceu que sou praticamente sua outra metade?
- "Nós somos um só, nossas almas sempre irão se completar, somos nossas "outra metade" "- era isso que sac sempre me dizia, e às vezes, ele ainda diz atualmente - sim eu sei disso...
- Que bom que se lembra disso, então você sabe muito bem do que quero conversar.
- Você realmente é meio irmão, hein...
Em grande parte dos casos, os irmãos têm papéis definidos, existe o líder, o coração de pedra, o emocionado, o piadista, etc. Entretanto, eu e Isaac não somos assim, em alguns cenários, eu sou a líder e ele o irresponsável, e em outros o inverso pode acontecer, não temos papéis definidos, aliás, nossas almas são apenas uma. Ele pode ser o chorão, assim como eu também posso, nossas "funções" constantemente variam, e amamos isso.
- Vamos pro seu quarto maninha?
- Vamos! - o moreno bagunça meu cabelo rindo tentando aliviar o clima.
Já que Noah estava assistindo tv junto com Sophia no quarto de Isaac, decidimos ir para o meu quarto. Fechamos a portae sentamos na cama.
- Desabafe sobre seus pensamentos irmã, não se preocupe com nada e com ninguém agora, ok?
- É que... desde que conheci Alice, acho que tenho criado um laço bem forte com ela, tipo, uma relação que vai além da amizade, sacó?
- Hmm, saquei!
- E isso vêm me incomodando bastante...
- Você disse isso pra ela?
- Não! Eu não poderia!
- E qual o motivo?
- Eu não quero estragar nossa relação, eu não se ela sente o mesmo, e também tem todo esse rolo dos pais dela... eu não quero machuca- lá.
- Vamos ver se entendi - Isaac suspira olhando para o teto - você está se apaixonado por Alice, mas tem medo de que não seja recíproco, e na sua percepção, esclarecer esse sentimentos podem deixar a mente de Alice ainda mais conturbada por causa do desaparecimento dos seus pais, acertei?
- Wow, você é mesmo meu irmãozinho - dou um sorriso bobo pra deixar o ar menos pesado no quarto, e Isaac ri junto - mas é isso, sabe... eu só quero que... que...
- Que as coisas permaneçam as mesmas?
- Exatamente, mas eu - lágrimas se revoltam e começam a guerriar para se libertar - eu tenho tanto ódio disso...
- Helô... - Isaac chega mais perto colocando seu braço em volta dos meus ombros.
- Eu me sinto tão... suja, sabe? - sem resquício de forças, me rendo a minha fraqueza e começo a chorar - é tão nojento que eu veja ela dessa forma, logo quando ela está passando por um momento tão difícil!
- Isso irmã, pode chorar e desabar, seu irmãozão está aqui com você - o moreno me abraça forte acariciando meus fios de cabelo.
- Eu não quero magoar ela, mas não acho que vou ser forte o bastante pra conviver com essa dor... por que dói tanto?!
- Eu não sei helô, mas vamos passar por isso juntos, eu prometo...
- Eu tô tão cansada sac...
- Então descanse irmã, pode descansar aqui, está segura agora.
Agora aqui estou eu, chorando aos prantos no braços do meu irmão. Eu odeio que ele me veja assim, mas não posso evitar, se algo está errado, Isaac é o primeiro a perceber, e mesmo odiando que ele me veja assim tão fraca e vulnerável, me sinto grata por sermos irmãos.
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Alice pov:
O que há de errado com ela? Helô anda tão perdida ultimamente, e às vezes tenho a impressão que ela evita contato visual comigo. Será que eu fiz algo que não devia? Fiquei muito folgada e atrevida na casa dela? Será que ela não está mais se agradando com tanta gente em casa?
- Que droga! - meus pensamentos acabam ficando intensos demais e saem em voz alta - aí meu Deus, que vergonha, por que pensei tão alto?!
Minha primeira impressão, a aparência de Heloísa era de uma mulher forte, porém, de certa forma "assustadora". Eu tive vergonha de falar com ela, Helô é uma pessoa muito bonita e extrovertida, então fiquei com receio de passar uma imagem errada pra ela.
Com a convivência, tenho me sentido muito mais confortável com ela, eu amo seu jeito atencioso que tem com todos, até com quem não conhece. Ela com certeza seria os príncipes encantados das histórias infantis, além de ser corajosa e uma ótima cozinheira.
Pensando melhor, sempre que ouço seu nome, tenho uma vontade incontrolável de sorrir, e eu não gosto desse sentimento. A presença dela pode ser apenas confortante, certo? Por isso me sinto tão à vontade perto dela, até porque, não posso me permitir ter esse sentimento de "amar".
Sinto como se, quando fico tempo de mais pensando nisso, pensando nela, eu acabo esquecendo que duas das pessoas mais importantes da minha vida estão desaparecidas, e eu nem sei se estão vivas ou não. Meu coração dói, eu queria falar com ela sobre isso, porém, Heloísa anda tão distante ultimamente que eu perco a coragem.
Ela pode estar do meu lado, pode estar literalmente falando comigo sobre qualquer coisa, mas seu olhar fica totalmente distante de mim, é como se dois universos distintos nos separassem. Às vezes, ela dá a impressão de que está me evitando de propósito, porém, ela nunca vai admitir isso e falar que tá tudo bem, quando claramente não está.
- Será que estamos incomodando ela? - falo comigo mesma, com meu corpo apoiado na parede de uma loja qualquer, tendo os meus braços cruzados - será que... eu estou incomodando ela?
Passamos muito tempo na casa dela, e com todo esse problema com meus pais, sua energia deve estar sendo sugada por nós, deve ser por isso que ela está tão longe, né?
- Por que tenho essa impressão Heloísa? Por que não estou conseguindo te alcançar? - falo sozinha - espera, eu tô pensando demais nela, isso não é bom.
Gostas de chuva começam a cair do céu, quando olho para o céu, vejo as nuvens cinzentas e pesadas, elas me lembram o Noah quando está com raiva, é até engraçado. Não prestei atenção no clima quando saí de casa, o que foi uma péssima ideia, tenho certeza que a chuva não vai ser fraca.
Eu queria voltar para casa, mas só de lembrar que irei encontrar Heloísa lá, meu coração acelera e meu corpo arrepia. A medida que o tempo passava, a chuva apenas se fortalecia mais e mais, e por algum motivo desconhecido, não me importava de me molhar. O frio causando pela forte ventania não me assusta e nem me incomodava, acho que, essa chuva seja um balde de água fria para mim, pra eu desistir dessa ideia tola sobre Heloísa.
Somos apenas amigas, talvez melhores amigas, ou até irmãs, não tenho que olhar para ela de outra forma, não tenho que ficar pensando sobre ela o tempo inteiro, "o que será que ela vai achar dessa roupa?" ou "o que ela está pensando de mim agora?, não posso me divertir enquanto as pessoas que me criaram estão perdidas pelo mundo, não sei se eles realmente estão mortos ou não, então por que me preocupar com algo tão trivial assim? Heloísa não é importante, certo...?
Então por que? Por que dói tanto pesar nela? Lembrar daqueles olhos distantes, que antes eram tão vivos, brilhantes, quentes e confortáveis? Por que isso tá acontecendo logo comigo, por que?!
- POR QUE COMIGO?! - sem pensar nas minhas atitudes, acabo gritando alto e me agachamento cobrindo minha cabeça com minhas mãos - eu só queria desaparecer, como vocês fizeram...
- Moça?! Por que está aqui fora?! - uma mulher segura um guarda chuva preto chama minha atenção, julgando pelas vestimentas, deveria ser funcionária da loja que eu estava em frente - vamos senhorita, entre!
- Obrigada moça, mas eu estou bem aqui fora, perdão pelo grito.
- Espera, você não é a amiga de Heloísa?
- H-Heloísa?
- Sim, eu me lembro de você, cê tava com ela no shopping a alguns dias atrás com uma outra menina!
- Outra menina? Minha irmã? - pensei - perdão, mas não me lembro de você.
- Está tudo bem! - a mulher ri aliviando o clima - eu que tenho memória boa, e também, helô sempre fala de ti, então fica difícil não lembrar.
- Ela... fala de mim?
- Claro! É até engraçado, você quer que eu a chame?
- Não! Por favor, não precisa, eu estou bem!
- Alice, certo? Está chovendo muito, não posso deixar você aqui - a mulher afirma pegando o celular do bolso - Heloísa também me mataria se te deixa-se pegar um resfriado.
Não, eu não quero ver ela, eu não posso, não quero encarar seu rosto e todos aqueles pensamentos "sujos" voltarem, eu não me permito, isso é nojento, o que minha mãe pensaria? E meu pai? Ele com certeza acharia isso nojento.
- Eu não posso ver ela, isso é errado - digo baixo e começo a correr desesperadamente.
- Ei! Alice! Espera!
- Jéssica? O que houve? - Heloísa atende a ligação.
- Ah, oi Helô! Sabe aquela sua amiga loira, Alice?
- Alice... sim, sei quem é, o que aconteceu com ela?
- Ela estava aqui parada na chuva, falei com ela pra ver se estava tudo bem, mas quando eu citei seu nome...
- Sim...?
- Ela entrou em desespero e saiu correndo.
- Quê?! Mas, onde ela está?! Você viu pra onde ela correu?!
- Parece que ela foi se esconder atrás da cafeteria que tem aqui perto da minha loja.
- Beleza, obrigada Jéssica.
- Espera! Algo aconteceu entre vocês? Ela parecia tão assustada.
- Não tenho tempo agora, mas prometo que mais tarde eu te explico, tenho que ir amiga.
- Venha rápido, ela parece estar tudo, menos bem - Helô desliga a ligação - o que será que tá rolando?
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Heloísa pov:
- Helô? O que aconteceu com Alice? - Isaac pergunta enquanto visto meu moletom roxo escuro.
- De acordo com Jéssica, ela estava na chuva, sozinha, e quando ouviu meu nome e saiu correndo - digo saindo do quarto, e Isaac me seguia.
- E você sabe onde ela pode estar?
- Parece que se escondou atrás de cafeteria perto da loja que Jéssica trabalha.
- Irmã! - Isaac puxa meu braço e coloca suas duas mãos em meus ombros.
- O QUE FOI?! - grito pela adrenalina, logo volto pra realidade com o olhar sério de Isaac - irmão, desculpa...
- Heloísa, foco! Não saia por aí igual uma maluca sem rumo, o que vai fazer se ela não estiver lá?!
- Eu... - respiro fundo olhando para meu irmão - eu vou ligar pra ti, e pedir ajuda pra procurar ela, né...?
- Isso, respira, pense exatamente o que vai fazer assim que pisar seus pés fora dessa casa - Isaac fecha seus olhos e abaixa a cabeça por um momento, depois volta a falar comigo - lembre-se Heloísa, você quer encontrar Alice, não ficar perdida e sofrer algum acidente no caminho.
- Eu entendi sac, eu vou ficar bem, e vou me resolver com ela, eu prometo!
- Eu sei que vai - o moreno transferi tapinhas suaves em meus ombros - eu confio em você maninha, vai lá.
- Valeu, irmão - pego meu guarda chuva transparente, saio de casa e fecho a porta.
A cafeteria não fica muito longe de casa, então não preciso ir de carro, posso ir correndo até lá e consigo chegar rápido. Com certeza sou culpada desse medo, minha bagunça e pensamentos tão nojentos que assustaram Alice, tenho que achar ela o mais rápido e esclarecer tudo. Não quero que ela me odeie, eu quero que ela esteja do meu lado, mas acima dos meus desejos, ela está em primeiro lugar, a paz e felicidade dela é mais importante que qualquer sentimento meu.
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As gotas de água que despencam das vastas nuvens pesadas ganhavam muita força, o vento ficava mais violento, chegando ao um ponto de me obrigar a desistir do guarda chuva e não usá-lo mais. Quando avistei a cafeteria, meu corpo se arrepiou por completo, não pela chuva, mas por lembrar da hipótese de que Alice estaria escondida lá, escondida de mim.
Mesmo sem coragem e me sentindo um monstro assustando uma criança, corri até o local e procurei por ela. Chegando nos fundos, lá estava a loira, sentada no chão toda encolhida, seu corpo encostado na parede e ela completamente encharcada pela chuva. Eu sou tão assustadora assim? Ela... me vê como um monstro?
- Alice! - a loira me olha surpresa, com seus olhos arregalados e seu cabelo molhado cobrindo parte de seus rosto - Alice o que está fazendo aqui?! Vamos pra casa! Você vai pegar um resfriado se continuar desse jeito!
- Seus olhos...
- O quê?! - estava difícil ouvir sua voz, além da forte chuva ela estava bem rouca e fraca.
- Seus olhos não estão tão longe... - a loira coloca suas duas mãos em meu rosto se aproximando - por que só agora?!
- Alice...? - de novo, meus desejos vêm a tona de novo, ela está tão perto, eu sou extremamente nojenta.
- Por que só agora você está tão perto?! POR QUÊ?!
- Alice eu não consigo te entender! Por que está gritando?!
- Heloísa, você tem andado tão afastada, eu tô te incomodando?! Eu sou o problema?! ME FALA!
- ALICE O QUE TÁ ACONTECENDO COM VOCÊ?! - seguro seu rosto com minhas mãos assim como ela, aproximando ainda mais nossas faces.
- Eu...? O que tá acontecendo comigo? SÉRIO HELOÍSA?! - Alice me empurra e levanta - vai se fuder Heloísa!
- Ei! Alice! - me levanto rapidamente vendo a loira começar a correr - por que está fugindo?! ALICE!
- NÃO CORRA ATRÁS DE MIM! - Alice grita enquanto corre olhando para trás, me vendo correr para alcança-la.
- EU VOU TE ALCANÇAR ALICE! NEM QUE ISSO SEJA A ÚLTIMA COISA QUE EU FAÇA!
Alice não é uma pessoa esportiva, então a loira não consegui correr muito rápido, é fácil de chegar até ela. Mesmo que ela me odeie, não me permito deixar ela escapar tão facilmente, eu quero explicar tudo, dizer tudo o teu sinto, tirar esse peso das minhas costas, parar de pensar nela e deixar ela livre, assim talvez, minha alma se liberte também, né? É o único jeito que consigo pensar no momento, não tenho tempo pra pensar em outra coisa, é tudo ou nada agora.
- ALICE! - puxo a loira pelo braço assim que consigo alcança-la e prendo ela em meus braços - por favor, não fuja! Não vá embora agora, por favor, eu imploro!
- Helô... Helô eu...!
- Me desculpa! - interrompo Alice ainda abraçada com ela - mesmo que tenha nojo de mim, eu preciso me explicar!
- Quê? - a loira afasta nossos corpos - como eu teria nojo de você?
- Alice... de uns tempos pra cá, talvez, você tenha mudado em meus olhos.
- Eu... mudei?
- Sim, não consigo parar de pensar em como você pensa sobre mim, em como seu sorriso é tão gostoso de ouvir, em como você fica irritada quando não acha a roupa perfeita pra sair, em como você não tem medo em assistir filmes de terror de madrugada...
- Heloísa, o que está querendo dizer?
- Eu não consigo parar de pensar em você!
- Impossível...
- É por isso que não consigo falar com você normalmente, eu sei que estão passando por um momento tão delicado, e que eu não deveria ter esses pensamentos tão imundos!
- Mas Helô...
- Por favor, me deixa terminar! - apoio minhas mãos nos ombros de Alice - me perdoe por ver você dessa forma, se não quiser mais falar comigo, eu não me importo! Eu só quero que você saiba, que eu nunca quis te fazer nenhum mal! Mas eu... - como eu vou falar isso?
- Mas você...?
- Eu não quero ser sua amiga!
- Hã?
- Eu não quero ser sua amiga... eu quero beijar seus lábios! Quero te beijar até quando não houver mais fôlego! Eu sei que isso é nojento e medonho, mas eu preciso confessar isso! Eu não consigo mais me suicidar...
- HELOÍSA! - Alice grita meu nome me assustando, embaralhando todos os meus pensamentos que já não estavam organizados - cala a boca.
Alice segura meu rosto e aprisiona meus lábios nos dela, em meio a chuva e ao frio, ela consegue me aquecer apenas com um beijo. Isso é um sonho? Não tem possibilidade de ser real, porém, seu toque, sua voz, seus lábios, tudo é tão realista, como isso pode estar acontecendo? Era pra ela ter medo de mim, ter remorso, nojo, se sentir suja só de estar ao meu lado, mas não é isso que estou acontecendo.
Seu beijo possui uma áurea de alívio, de aceitação e negação, é tão estranho, mas não quero me separar. Algumas pessoas ignorando, outras nos encarando, elas sim estão apavoradas com o que estão vendo, mas isso estranhamente não me afeta, não quando estou com essa loirinha.
- Heloísa - Alice diz encerrando o beijo e olhando em meus olhos ainda segurando meu rosto - eu nunca vou ter nojo de você, por que pensa assim?
- Alice, você tá chorando?
- É claro! Como não vou chorar sabendo que você está se sentindo um monstro?!
- Mas você estava fugindo de mim...
- Eu estava com medo! Mas não de você, e sim de mim.
- De... você?!
- Sim, eu não sabia que você se sentia assim, eu também comecei a pensar muito em cada coisa que você faz, eu pensava que estava te incomodando, por isso eu fugi porra!
- Loirinha...
- Se você é um monstro por me amar, então somos dois demônios!
Uma corda com espinhos que prendia meu coração, com um nó potente, foi desamarrada facilmente pelas simples palavras de Alice. Uma vontade imensa de chorar veio à tona, e como estava sem forçar, desabei em frente a uma multidão junto com Alice.
- Eu também me senti suja helô, não sei se meus pais ficariam felizes com minhas atitudes e pensamentos, mas eu não consigo mais ignorar você, ignorar seu olhar que eu não conseguia mais alcançar!
- Eu te amo Alice! - abraço a loira, soluçando e tremendo, com uma forte sensação de alívio e felicidade.
- Eu também helô, eu também... - a loira retribui meu abraço, seu corpo também estava tremendo e suas lágrimas deixavam sua voz falha.
- Vamos pra casa, loirinha.
- Vamos!
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Eu e Alice já tínhamos tomado banho, nós duas nos encontramos em meu quarto, a loira estava sentada no chão perto da cama, onde eu estava sentada secando seu cabelo com meu secador vermelho escuro. Noah e Sophia estavam dormindo no quarto do meu irmão, e o moreno estava com eles assistindo tv.
No caminho até aqui, não trocamos uma sílaba se quer, demos as mãos e corremos para chegar em casa. Quando chegamos, Isaac nos recebeu preocupado olhando para nosso terrível estado, meu irmão foi depressa pegar duas toalhas e nos entregar, nós definitivamente "trocamos de lugar" agora.
- Helô - Alice me chama enquanto seco o cabelo dela.
- Estou ouvindo.
- Não se sinta suja, ou pense que tem algo de errado em você.
- Você também deveria seguir seu conselho, não acha? - desligo o secador e pego meu pente que estava ao meu lado.
- Você acha? - a loira dá pequenas risadas, tentando aliviar a tensão.
- Eu acho!
- Mas você tem razão, eu me senti muito suja pensando em como meus pais reagiriam, mais especificamente meu pai.
- Posso... perguntar o motivo?
- Minha mãe nunca conversou comigo e com meus irmãos sobre sexualidade, mas acredito que talvez ela vá me entender, já meu pai - suspiro antes de prosseguir - ele não me passa confiança nesse assunto. Eu não quero falar mal dele! Ele é um ótimo pai, mas... ele não parece ser o tipo de pessoa que me entenderia.
- Eu entendo loirinha, eu e Isaac nos sentimos da mesma forma com nossos pais, que inclusive não sabem da nossa sexualidade.
- Espera, sério?!
- Sim, desde que saímos de casa, nunca conversamos com eles sobre isso.
- Wow...
- Pra gente, é como se... esse sentimento fosse um crime, sabe? É estranho falar sobre.
- Helô - Alice vira seu corpo para olhar para mim - vocês não deveriam se sentir como um crime, vocês não são pecados, são apenas humanos com órgãos.
- Então, nós não somos demônios?
- Não Helô - Alice levanta e me abraça - nós duas e Isaac, não deveríamos se sentir como monstros sem rumo.
- Exatamente, não deveríamos... - então por que eles nos olham daquele jeito tão podre?
- Chega! - Alice separa o abraço.
- Chega do quê?
- Dessa melancólica toda! Que tal fazermos um brigadeiro, hein?
- Brigadeiro? - pergunto rindo.
- Sim! Vamos lá, eu quero comer algum doce, e eu aposto que os meninos também vão querer.
- Ok, ok, vamos nessa loirinha - bagunço as linhas madeixas da loira.
Mesmo ainda com medo do futuro, do que pode acontecer conosco daqui pra frente, só de conseguir ouvir sua gentil risada e ver seu inocente sorriso, já é mais que o suficiente para mim. Eu espero que seus pais estejam vivos Alice, quero conhecê-los e me tornar amiga deles, assim, vou conseguir ser ainda mais importante pra você, certo? Minha doce loirinha.
- Acordem dorminhocos! Eu e Helô vamos fazer brigadeiro!
- Quê? O quê que tá acontecendo? - Sophia acorda atordoada com os gritos de Alice - Noah o quê que tá acontecendo?
- Eu também não sei, eu só ouvi a palavra brigadeiro - o loiro responde coçando seus olhos.
- Vocês são lerdos mesmos, hein? - Isaac se diverti com a confusão dos irmãos - acordem logo!
- Não fode moreninho! A gente tá acordando - Noah diz abrindo seus olhos.
- Isaac, eu sonhei que o Noah era um peixe e você era o megamente - Sophia diz sentando com os olhos fechados.
- A gente era o quê?! - risadas tomam conta do quarto, os sonhos de Sophia com certeza mereciam o Oscar pelas suas altas bizarrices.
- Eu e Helô vamos comer o brigadeiro inteiro seus panacas!
- Alice! - os três gritam o nome da loira.
- Que tal geral assitir algum filme de comédia Helô? Tem refrigerante ainda?
- Claro loirinha - digo pegando o leite condensado - a coca tá na geladeira, que filme seria?
- Eu queria um brasileiro, mas não sei qual agradaria os meninos.
- Bom, eu não me importo com a escolha do filme, então pode ir decidir com o pessoal.
- Sério? - Alice me encara com as mãos para trás, como se quisesse fazer algo - Helô!
- O que foi? - a loira puxa gentilmente meu rosto e me presenteia com um selinho.
- Trate de não queimar o brigadeiro!
- Eu não vou - sorrimos uma para outra, mesmo com vergonha, nossos olhos não paravam de se encontrar.
- Pessoal! Temos que decidir algo!
- Essa garota... espero que você não fuja mais. Por favor Alice, não vá onde eu não consiga te alcançar - pensei vendo a loira se distanciar e entrar no quarto de Isaac.
Uma fotinha das minhas meninas porque sim, sou protetora oficial dessas duas.
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