"Porque quanto mais você espera de alguém, mais ela irá te decepcionar, trazendo a tona seu maior medo e te obrigando a viver, outra vez, uma dor que ela mesma lhe causou."
ISABELLA
São Paulo — Allianz Parque
dois meses depois 🚨‼️
RESPIRO FUNDO. Conto até dez. Depois respiro fundo de novo. Massageio a têmpora, evitando massagear outro lugar ou as pessoas que me cercam irão perceber que estou mal. E estou porque estou grávida. E minha barriga... bom, está pequena ainda, mas tem um volume perceptível ali. Não é atoa que estou usando uma camiseta enorme do Raphael (pois é, o que não era oficial, se tornou até demais).
Como eu não quero que eles saibam sobre a gravidez (que se manterá em segredo por não sei quanto tempo ainda), é melhor não dar na cara.
Por isso, para disfarçar o mal estar causado pela quantidade de gente e o barulho excessivo, apenas toco em minha cabeça bem perto do canto do olho, bebo um pouco de água e controlo a respiração, rezando pra ficar bem logo. Tipo agora.
— Quer uma barrinha de chocolate? — Pilar me pergunta, tocando calmamente em minhas costas e sabendo o remédio certo pra me deixar melhor, um simples docinho. — Eu tenho Bis e Hershey's na bolsa.
— Ah, eu vou querer o Bis — não tem como recusar chocolate, sendo o meu favorito então. — Obrigada.
— Que isso — ela sorri ao me entregar o pacotinho azul e depois se concentra no jogo de novo, disfarçando perfeitamente o momento que acabamos de ter e voltando a atuar como estamos fazendo já faz uns dois meses. Principalmente quando estamos no estádio do time que jogam nossos namorados.
Já estou com um pouco mais de três meses de gestação, a barriga está começando a crescer, o que me obriga a agilizar as coisas. Por isso, ambos nossos relacionamentos falsos se tornaram oficiais.
Pilar está usando uma aliança de prata na mão direita e passa a mão pela barriga de cinco em cinco minutos enquanto assiste o jogo sentada, sorrindo pra cá e rindo pra lá. Atuando tão bem que até me pergunto se ela já fez curso de teatro.
Sua gravidez, perante os outros, caminha bem. Ela e o Joaco posam para fotos, alimentam a mentira pelas redes sociais com jantares caros, reuniões em família e planejamento de futuro pra vinda do tão esperado "bebê".
Eu faço o mesmo com meu noivado de mentira com Veiga.
Quando ele postou as fotos do pedido em seu perfil, ganhei cem mil seguidores fácil. A maioria fã que não aprova a relação, mas não deixa de me seguir e me atormentar. Parece que os fãs recentes são piores do que aqueles do passado quando engravidei do Tom e tive uma quantidade significativa de hate.
Mas isso é o de menos. Só precisamos que as pessoas fujam do foco de Piquerez ter qualquer tipo de envolvimento romântico comigo. E estamos conseguindo.
Pilar está sendo muito bem aceita, "o bebê" está sendo aguardado com expectativa e todos seguem felizes e em paz.
Me preocupa pensar que essa tal paz almejada não durará por muito tempo já que estamos mentindo e mentira tem perna curta.
Quero só ver como irão se livrar do problema em não haver bebê de verdade na barriga da Pilar e sim na minha.
Mas, bem, isso é questão para ser discutida mais à frente. Agora só precisamos convencer as pessoas sobre nossos relacionamentos. Tem que haver romance e muito, repito, MUITO AMOR e química.
Lembro disso enquanto observo Pilar e até amplio meu sorriso, colocando o cabelo pra frente e gritando o nome de Veiga na hora de um escanteio.
Tenho que atuar, tenho que convencê-los.
Ah, isso me faz lembrar que também uso um anel. Uma solitária na mão esquerda. Um anel de ouro com uma pedrinha de diamante. Um anel de noivado.
Confesso que o achei lindo demais e me pego admirando-o a cada segundo que olho para minha mão esquerda.
Entretanto, o noivado foi visto como apressado.
E realmente foi. Assim como a festa que vai acontecer na semana que vem. Porque não temos tempo pra preparar uma festa rica em detalhes e com coisas especiais. Precisamos agilizar. Tem um bebê crescendo.
Então, daqui uma semana estarei definitivamente casada. Porra. Tudo isso por causa de um escândalo. Tudo isso por causa de um bebê que não sabemos quem é o pai.
Ai, nem gosto de lembrar como anda minha relação com Piquerez ou Veiga. Estamos tão distantes.
Joaco está focado no novo relacionamento, está sendo obrigado a atuar. Assim como eu. Mas isso me desgasta e ficar longe dele me dói.
E Veiga... agimos o tempo todo como um casal que se ama. Nos beijamos na frente dos outros, somos os pais perfeitos para o pequeno Thomas.
Mas quando estamos a sós, mal nos olhamos. E isso também está me desgastando.
O que posso fazer, né? Coloquei os dois nessa situação. Agora tenho que lidar com as consequências.
É por uma boa causa, me lembro toda vez. Tento acreditar nisso. E eu acredito, eu acho.
Pelo menos, no meio dessa bagunça, ganhei uma amiga.
Pilar se tornou íntima. Próxima demais da família. Ela está na minha casa quase todo santo dia. E tudo isso porque precisamos sempre organizar as mentiras, nos programar com os eventos e aparições em público. Sempre calculando cada mísero passo. Só para que os fanfiqueiros de plantão não fanfiquem demais e acabem acertando em cheio no que tentamos a todo custo esconder.
Estamos dando pano pra manga. Os perfis de fofoca terão bastante coisa pra comentar. E nós esperamos que eles comentem. Assim como fizeram nas últimas semanas. Comentem o que estão vendo. Piquerez feliz com a namorada grávida. Veiga e eu realizados em nosso casamento e com nosso filho. E assim seguiremos até...
Tenho que parar de pensar no pior.
— Puta que pariu! — Uma garota bufa ao se sentar ao meu lado puta da vida. Tini havia sumido em busca de comida. — Vocês não vão acreditar no que eu acabei de ver!
— Pela sua cara — Pilar fala, franzindo o cenho em preocupação ao que irá ouvir —, já posso adivinhar que coisa boa não é.
— Mas não é mesmo! — Tini enfatiza, virando melhor o corpo para conseguir nos encarar nos olhos. — É uma puta coisa horrível do caralho!
— Misericórdia — levo uma mão ao peito, bem onde sinto uma pontada de medo. Ela falando assim até me deixa arrepiada. — Então conta logo.
— Vou contar, mas — minha irmã olha brevemente ao redor, verificando o lugar, os olhares, as câmeras que andam nos flagrando muito ultimamente. Não importa com quem seja, sempre vaza alguma foto. Num jogo no Allianz como agora, é onde mais vaza — prefiro que seja lá dentro. Só nós três.
Concordamos e eu peço para Clarisse ficar de olho em Tom enquanto eu dou uma saidinha. Minha amiga aceita sem reclamar e lá estamos nós, dentro do estádio num lugar deserto o suficiente para nossa conversa.
Quando, enfim, estamos finalmente sozinhas e verificamos dez vezes em volta, Tini desembucha:
— A Bruna está no camarote ao lado do nosso.
— Quem? — Pilar fica sem entender.
— A Bruna Santana? — Pergunto só pra ter certeza e Tini confirma. — Okay. E daí?
— E daí? — Tini debocha, abafando uma risada incrédula da minha sonsice. — Isabella, porra! Você já foi mais esperta.
Não concordo e nem discordo, isso faz com que minha irmã continue com sua fala:
— Sabe quando foi a última vez que aquela vadia esteve aqui? — Nego com a cabeça sem saber a resposta. — Ano passado, quando ainda namorava o Veiga. Ou devo dizer, seu noivo.
— Isso não quer dizer absolutamente nada. — Minha voz sai mais convicta do que meu coração pode confirmar através desses batimentos descompassados.
Só em ouvir o nome dessa daí e lembrar que ela infelizmente existe e mora no mesmo planeta que eu, já fico arrepiada e o bile sobe na garganta.
— Isso quer dizer — Tini aponta pro chão, ficando ainda mais séria — exatamente tudo. Porra, Isabella! Você não vai com a cara dela por um motivo, não é?
— Tini, sério. — Passo a mão pelo cabelo, olhando calmamente para o teto acima de nós. — Eu tenho dor de cabeça suficiente para ter que me preocupar com a ex do meu noivo.
— Não é com ela que você deve se preocupar. É com ele!
— Com o Veiga? — Tini arregala os olhos quase como se tivesse gritando "não é óbvio!?". — Tu acha que ela veio a convite dele?
— De quem mais seria?
— Sei lá, qualquer um. — Fico nervosa em pensar que possa ter sido o próprio Veiga que a convidou e rapidamente busco uma justificativa que prove o contrário. — Essa mina é meio noiada, talvez tenha vindo só para provocar.
— Você que pensa, sua sonsa. Ai Deus. — Minha irmã solta uma risada incrédula. — Isso que dá confiar em macho.
— Tini, você 'tá supondo as coisas. — Continuo séria, sem me abalar com o que diz ou acreditar nessas fanfics. — Eu não posso viver de suposições, 'tá legal? A realidade é que eu estou noiva do Veiga e pronto. É o que todos precisam saber.
— Sabe quem vive de suposições? — Tini faz uma pergunta retórica. — Todos. Eles vão ver a ex no camarote e vão supor qualquer merda. E talvez essa merda tenha um mísero de fundamento se a gente parar pra pensar que tudo isso que vocês estão vivendo é uma mentira!
— 'Tá querendo dizer o quê?
— Ela não pode ter vindo aqui a convite do Veiga porque... — Pilar começa a falar, decifrando a charada. — 'Cê não acha que eles estão juntos, acha?
— Ô se acho. — Tini cruza os braços. — Se tem um motivo pelo qual eu nunca fui com a cara daquele mauricinho, o motivo é esse. Ele é obcecado naquela loira sem graça e trocou a minha irmã por ela.
— Para com isso. — Peço em voz baixa, quase suplicando. Esse assunto me embrulha o estômago e me causa uma dor de cabeça indesejada. — Não me encha de paranoia agora. Não 'tô com cabeça pra isso, Tini.
— Me perdoe — ela pede. — É que 'tô realmente preocupada. Vocês estão dando tão duro com isso tudo. Inventando mentiras, afastando-se uns dos outros. Para no fim aquele imbecil estragar tudo por causa de boceta!?
— Ele não pode ter sido tão burro — Pilar tenta defender. — Não poderia convidar a Bruna sabendo que está noivo de outra, da mãe de seu filho, e que isso arruinaria tudo.
— Você quer mesmo que eu diga minha opinião? — Tini balança a cabeça enquanto fala. — Veiga é sonhador. Se abraça a primeira oportunidade que venha realizar seus sonhos. A Bruna tem essa capacidade. Não sei se é algo que ela realmente sinta e queira. Mas ela transmite esse sentimento a ele. Que poderão ser algo que nunca conseguiram ser. Dá pra entender? Ele acha que com ela, vai conseguir ser o pai, o marido e o cara perfeito porque ela provavelmente fica o lembrando de seus sonhos e dando esperança.
— Se ele cair nesse papinho, vai ser um desastre.
— 'Cê acha que homem pensa?
Isso me desperta um gatilho que há tempos havia sido adormecido dentro de mim. Me faz voltar para 2017 e 2018 quando eu vivia com esse mesmo medo de agora. De estar sendo substituída.
— Ai que merda. O Veiga convidou a Bruna pro jogo — boto pra fora esse pensamento que está começando a se tornar real na minha cabeça. Meu coração se apertando e se dilacerando com esse fato. — Eles estão juntos.
PRÓXIMO CAPÍTULO JÁ ESTÁ PRONTO, dependendo da interação de vocês aqui e a quantidade de comentários, eu posto ainda hoje!!
Dei uma sumidinha pq não estou tão bem psicologicamente. Mas já marquei minha terapia e espero ficar zero bala pra poder trazer o máximo de fanfics pra vocês.