Além da Neve

By m_sous8

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Nas misteriosas terras de Celestria, haviam onze reinos que eram únicos a sua maneira. Quatro deles, eram os... More

Prefácio
Dedicatória
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44

Capítulo 23

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By m_sous8

— Está gostando do que vê? — Hendry falou abrindo os olhos lentamente, acompanhado do seu típico sorriso brincalhão. — Não sabia que só poderia me ver dormindo depois de casarmos, princesa Kaalyndra?

Eu estava parada à porta do quarto, observando-o. Ele dormia tão tranquilamente que não quis acordá-lo. Estava apenas de calça, mas todo o seu abdômen estava enfaixado. Ele se sentou em seguida. Aproximei-me lentamente, com receio de machucá-lo apenas por estar próxima, e sentei ao seu lado na cama.

— Dizem que os Solarianos são bonitos até quando dormem — entrei na brincadeira. — Acabei de descobrir que é uma grande lorota.

Ele gargalhou, fazendo algo atingir meu coração. Eu abri um sorriso contido. Não parecia haver nem uma sombra de dor nele. Sentei-me em sua cama, ficando de frente um para o outro. Ao olhar seu abdômen enfaixado, meu pequeno sorriso se desfez ao recordar o que aconteceu com ele. Desviei o olhar.

— Como está se sentindo? — perguntei, com os olhos fixos em minha mão.

— Eu estou bem. Elowen e Faeryn fizeram um bom trabalho curando todas as minhas feridas — respondeu.

— Que bom... — minha voz saiu vacilante.

Ele me olhou por um tempo, como se tentasse decifrar algo em minha expressão.

— A pergunta que realmente deveria ser feita é: como você está?

— Não fui eu quem fiquei entre a vida e a morte.

— Mas foi você quem lidou com tudo depois — Hendry falou, segurando a minha mão. 

Um nó apertou minha garganta. Ele mandou pelos ares a minha regra de não chorar na frente de ninguém, desde o inicio da nossa aventura. Quando percebi, lágrimas escorriam e soluços escapavam de mim.

— Kaly, nada do que aconteceu foi culpa sua — ele me consolou, acariciando a minha mão.

— A culpa é minha por você ter se machucado — confessei entre soluços. — Não defendi meus pontos fracos como você me orientou. O Marcado deixou claro que só estavam ali por minha causa; fui fraca demais para derrotá-lo e ainda o deixei escapar... — meu peito apertou ao imaginar sua possível volta e o impacto que isso poderia ter em todos no reino das fadas.

Hendry me puxou para seu peito, envolvendo-me em um abraço enquanto acariciava meu cabelo. A lembrança de todas as coisas terríveis que aconteceram fez com que eu chorasse ainda mais. Ficamos assim por um tempo, até que me desvencilhei do seu abraço, enxugando o rosto. Eu não conseguia encará-lo.

— Nada disso que você citou foi culpa sua.

— Você não sabe o...

— Eu sei sim — me interrompeu. O encarei. — Faeryn me contou tudo; era como ele me mantinha acordado enquanto cuidava do meu ferimento. Sei que derrotou sozinha todos os Trovarghouls escuros com uma força e poder absurdos. Na nossa primeira luta contra aquelas criaturas, você liderou a batalha, nos dizendo o que fazer. Foi graças a você que todos saíram vivos, Kaalyndra — ele acariciou minha bochecha. — Se não tivesse esgotado suas forças lutando contra todos aqueles monstros, teria aniquilado aquele caçador. E você me salvou. Não aceitaria ter minha vida ligada a mais ninguém, além de você.

Fiquei olhando-o, sem saber o que dizer. Hendry sempre soube como acalmar qualquer tempestade emocional. Nos últimos meses, eu acordava assustada com o mesmo sonho recorrente, e ele sempre aparecia, ficando comigo até eu conseguir pegar no sono novamente. Sem perceber ou forçar, ele se tornou uma parte importante da minha vida.

— Obrigada — agradeci, quase em um sussurro.

— Eu quem te devo agradecimento — ele sussurrou. Assenti.

— Tem algo que precisamos conversar — falei, deixando a seriedade assumir.

— Aconteceu algo?

— Quero voltar ainda hoje para Frosthaven — falei cabisbaixa. — Há coisas que preciso saber o mais urgente possível.

— Que coisas seriam essas?

Pressionei os lábios, recordando da conversa que tive com Éry e das informações que Valandriel havia compartilhado.

— Tem a possibilidade de eu... não ser filha dos meus pais.

Hendry ergueu as sobrancelhas, surpreso. Piscou algumas vezes, antes de questionar:

— Como assim?

— Éry costuma me chamar de "filha de Dracária", certo? — ele assentiu. — Ele me explicou a razão, e, sinceramente, faz todo sentido. Mas, ao mesmo tempo, acho que não quero que seja verdade, sabe? Seria incrível ter o sangue das pessoas que viveram nesse lugar, mas não consigo abrir mão de Frosthaven assim. É o meu lar há quase dezenove anos — baixei o olhar. — Aceitar isso não está sendo tão fácil quanto eu imaginava.

Hendry franziu o cenho, parecia ponderar sobre.

— Como se sente com isso? — perguntou.

— Confusa... mas se realmente tiver possibilidade, tenho que descobrir.

— E quais informações Valandriel passou para você?

— Está acontecendo algo em Frosthaven. Valandriel falou que tem a ver com as minas.

— Foram atacadas?! — indagou, tenso.

— Ele garantiu que não. Mas eu preciso saber se está tudo bem.

Ele abaixou o olhar, parecendo se entristecer; eu conhecia bem o motivo. Hendry também tinha uma ligação profunda com Dracária. Ficamos em silêncio por alguns minutos.

— Tudo bem. Voltaremos hoje a noite, então — assenti, com um sorriso amarelo.

— Você deve estar com saudades de casa, não? — perguntei, sentido uma tristeza súbita em meu coração.

— Kaly, — ele falou com firmeza, sua expressão tornando-se séria. — Este é o meu lar agora. Não sei se Éryagonn me expulsaria por dizer isso, mas este lugar se tornou a minha casa. E não me refiro apenas ao palácio; eu poderia viver entre árvores, se necessário... — suspirou. — Dracária se tornou o meu lar.

Abri um largo sorriso. Sentia-me exatamente como ele; em casa. No entanto, havia muitas questões para resolver, e não adiantava mais adiá-las.

— Bom, então somos Dracárianos honorários — cruzei os dedos. Hendry sorriu.

— Dracárianos honorários — repetiu o gesto.

Baixei o olhar. Lembrei do que precisava pedir. Mesmo com ele dizendo o contrário, ainda não estava convencida de que tudo o que aconteceu não foi por minha causa, e senti que aquele era apenas o começo de muitos problemas.

— Preciso que faça algo por mim.

— E o que seria? — ele franziu o cenho ao ver minha expressão. Hesitei.

Mordi o lábio inferior, consciente de que o deixaria, no mínimo, chateado com o que eu iria pedir. No entanto, não suportava vê-lo se machucar para salvar a minha vida.

— Se algo perigoso acontecer de novo, por favor — suspirei —, não tente...

— Salvar você?

— Sim...

Seu olhar se fixou no meu pulso esquerdo, onde a pulseira de Eldric repousava. Além da chateação, parecia haver algo mais. Ele demonstrava... culpa.

— Eu sei que não fiz um bom trabalho, Kaly. Cometi um erro e a deixei lutando sozinha — sua voz estava carregada de chateação. — Mas não pode me pedir isso. Não é justo.

— Não estou pedindo isso porque acho que você cometeu um erro, ao contrário. Mas você sempre arrisca a sua vida por mim — Hendry suspirou.

— Pensei que você apreciava coisas assim — interrompeu-me.

— E aprecio... — fechei os olhos. — Mas não vale a pena você tentar me salvar e morrer no processo. Foi o que quase aconteceu dessa vez. Não vou ficar parada enquanto você se atira à por mim. Então, me prometa que...

 Não! — ele falou com firmeza. — Eu é que não vou ficar parado enquanto vejo você se machucar. Então, vou adotar a política que você e sua irmã têm, — revirei os olhos. — não vou prometer algo que não vou cumprir.

— Dry...

— Não, Kaalyndra! — olhei surpresa para ele. Raramente ele usava meu nome, o que me causou uma sensação estranha. — Você realmente quer que eu a deixe morrer se algo acontecer? Está me pedindo para fazer uma promessa que nem mesmo você cumpriria!

Seus olhos verdes agora transbordavam raiva. Revisei mentalmente suas palavras. Ele não estava totalmente errado, mas eu não suportaria vê-lo machucado por minha causa novamente.

— Não é justo você me pedir isso depois de tudo o que passamos juntos! — ele disparou. Uma expressão de mágoa marcava seu rosto.

— Eu só estou pedindo para você pensar duas vezes antes de se jogar no perigo por mim! — rebati.

— E você faria isso por mim? Se me visse quase morrendo, iria simplesmente ignorar?! — sua voz soou alta.

— SÓ QUE EU JÁ TE VI À BEIRA DA MORTE, HENDRY! — bradei.

Um nó se apertou em minha garganta, lágrimas começaram a se formar, embaçando levemente minha visão. Eu sabia que estava pedindo algo quase impossível de ser feito. Ele tinha razão, eu não faria. Percebi que minha tentativa desesperada não passava disso: desespero.

— Eu só não quero sentir novamente o que senti naquele momento... — minha voz saiu embargada. Baixei o olhar. — Só em pensar nessa possibilidade o meu corpo inteiro se estremece. Eu sei que você não irá cumprir, mas poderia prometer assim mesmo?

Ele levantou meu rosto pelo queixo, fazendo-me fixar em seus olhos, que sempre me traziam calma. Sua expressão agora era de compreensão. Ele entendia o significado do meu último pedido: eu iria manter a crença de que ele não se machucaria mais, mesmo que não fosse verdade.

— Tudo bem... eu prometo.

— Obrigada — sussurrei.

Seu rosto ficou sério.

— Há algo que preciso falar também — ele falou. — Precisamos de um plano.

— Um plano? — indaguei. — Como assim um plano? Um plano para quê?

— Para quando voltarmos. Conhecendo meu pai, enfrentaremos um pequeno inferno de interrogatórios ao retornar — assenti.

— E o que tem em mente?

Passamos vários minutos discutindo como prosseguiríamos com o plano de Hendry. Em seguida, ele vestiu uma camisa preta de manga longa, e descemos para falar com os outros. Enquanto descíamos, olhei ao redor, e o aperto no peito se instalou sem permissão. Eu não estava verdadeiramente feliz em voltar a Frosthaven, mas era necessário. Apenas teria que encontrar uma maneira de dizer adeus ao que tinha sido meu lar por quase cinco meses.

Passamos pela sala do trono e descemos a escada em direção às vozes que conversavam animadamente.

— ELES ACORDARAM! — Ýüny gritou tão alto que ecoou por todo o salão assim que nos viu.

Ela voou até mim, envolvendo-me em um abraço apertado. Senti suas lágrimas caírem em meu braço, e não consegui deter as minhas. Estava imensamente aliviada por vê-la bem. Ýüny se afastou do abraço, colocando a mão em meu rosto, encarando-me com seu sorriso largo. Começamos a sorrir e chorar ao mesmo tempo.

— Fiquei tão apreensiva de vocês não acordarem! — ela exclamou entre soluços, abraçando Hendry em seguida.

— Todos nós estávamos — Valandriel se aproximou. — Como se sentem?

— Bem. Agradeço por ficarem! — respondi, abraçando-o.

— Era o mínimo que podíamos fazer — falou, retribuindo o abraço.

Em seguida, estendeu a mão para Hendry, que hesitou um pouco antes de aceitar o aperto de mão.

— Mas o que querem dizer sobre não acordarmos? — indaguei.

Ýüny e Valandriel trocaram olhares; franzi o cenho, preocupada.

— Bom, por causa de toda a luta, vocês estavam bem cansados — Valandriel começou a explicação. — O feitiço de ligação drenou o resto de suas energias, então vocês apagaram.

— Vocês dormiram por quinze dias. Apesar do rei Elowen afirmar que era normal, ficamos com medo — Ýüny concluiu.

Levantei as sobrancelhas, completamente estarrecida. Encarei Hendry, que passou a mão pelos cabelos. Quinze dias desacordados! Isso significava...

— Espera, então já se passaram cinco meses desde que chegamos aqui! — exclamei, atônita.

— Sim, hoje — Ýüny afirmou. — Mas vamos deixar isso para lá. Vocês acordaram, e é isso que importa; devem estar famintos. Venham comer!

Ela começou a nos puxar pelo braço, mas Hendry parou.

— Podem ir, eu logo me juntarei a vocês — ele disse, com um sorriso que parecia forçado. — Valandriel, posso falar com você por um instante?

Valandriel assentiu, e eles subiram a escada que conduzia à sala do trono. Eu os observei com o cenho franzido. Ýüny mais uma vez segurou meu braço, impedindo-me de ponderar sobre o assunto, e praticamente me arrastou até a mesa redonda.

— Princesa Kaalyndra, que bom vê-la acordada e bem — Faeryn me envolveu em um abraço assim que me aproximei da mesa.

— Eu agradeço por tudo, Faeryn! — respondi, retribuindo o abraço.

O Magifey dirigiu-me um olhar paternal. Me senti culpada por ter sido áspera com ele quando Hendry estava naquela situação.

— Fico feliz que estejam bem, princesa — Elowen aproximou-se e pôs a mão em meu ombro.

— Obrigada, Majestade — respondi, esboçando um sorriso contido. — Gostaria de pedir desculpas por ter sido tão desagradável com vocês dois. Mesmo com toda a situação maluca, eu não tinha o direito de agir daquela forma.

Faeryn explodiu em uma gargalhada. Elowen manteve um meio sorriso; senti meu rosto corar.

— Minha querida, você agiu como qualquer um de nós agiria se alguém importante para nós estivesse na mesma situação que o jovem Hendry — a expressão de Faeryn era reconfortante, algo semelhante ao que minha mãe costumava fazer para me consolar. — Não se preocupe com isso.

— Obrigada — foi o que consegui dizer.

"Muito bem, agora é a minha vez", brincou Éry.

Corri até ele, abraçando seu focinho com toda a força que pude reunir. Eu o amava profundamente e não tinha certeza se conseguiria suportar a ideia de ficar sem ele. Não conseguia conceber minha vida sem aquele dragão que, mesmo sendo rabugento às vezes, era parte essencial de mim. Senti um nó apertar minha garganta só de imaginar nunca mais vê-lo.

"Podemos conversar?", ele falou, sério.

Assenti. Ele estendeu sua asa para mim. Avisei aos outros que voltaria depois e, em seguida, subi em suas costas. Voamos para fora, e me peguei pensando em outra coisa que sentiria falta: a sensação da brisa renovadora de Dracária sobre minha pele, enquanto voava com Éry.

***


Olá, lindo mortal.

Espero que tenha gostado do capítulo!

Queria pedir-lhe, com todo o meu coraçãozinho, que vote, comente e compartilhe o livro. Isso me ajuda por demais.

Obrigada por ter lido até aqui. Até o próximo capítulo que se encontra nessa direção:

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V

Ou nessa:

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Aha! Eu vi você passando sem votar ou comentar!

Meus parabéns! Você ganhou um prêmio🏆

🧑🏻‍💼: .........

Mesmo? Poxa que situação constrangedora.

Sinto muito informar, mas você não votou no capítulo. Então terei que passar para o próximo leitor. Sinto muito mesmo.

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