Visenya ficou paralisada, se um dia já sentira medo como estava sentindo naquele momento, ela não se lembrava.
O dragão a encarava enquanto lufadas de vapor saiam de sua boca, os olhos verdes do animal era como duas esmeraldas a encarando, Visenya se sentia pequena, indefesa e insignificante perante ele.
Aproveitando a distração do dragão maior, Naeraxes saiu de seu esconderijo em um salto, e rápida como era se colocou a frente de sua montadora. Era admirável, a pequena dragão apesar de estar ferida, e até a pouco tempo assustada, se colocou diante do próprio Cannibal para defender Visenya.
A dragão chiou sacudindo as asas para Cannibal, esse que chiou em resposta, apesar de seu chiado parecer mais um rugido. De onde estava, Visenya podia ver as costas de sua dragão, um corte provavelmente feito pelas garras do dragão negro sangrava, descendo até pouco abaixo de sua asa direta.
Visenya sabia que não podia ficar ali, iria morrer com toda certeza, mas se recusava a deixar Naeraxes para trás. Mesmo se a dragão tivesse tamanho o suficiente para ser montada, nada adiantaria, se Naeraxes tentasse voar nesse momento, era certeza que Cannibal as abocanharia, devido da altura e tamanho de sua boca.
Por um momento Visenya pensou que aquela não seria uma maneira ruim de morrer, preferiria morrer pelas chamas de um dragão selvagem a ter uma morte miserável. Mas por Naeraxes ela tentou fazer o que podia, pelo menos salvaria sua dragão.
"Se afaste Naeraxas... Sai daqui, voe rápido!".
Ao dar as ordens em Valiriano, sua dragão virou a cabeça em sua direção, parecia não entender porquê a menina pedia para que fugisse.
"Por favor Naeraxes, me obedeça é uma ordem, voe!!".
Cannibal que estava atento as ações das mesmas, pareceu se irritar, soltou um rugido estridente, fazendo Visenya tapar os ouvidos e Naeraxes se encolher.
Sua boca se abriu, e Visenya pode ver sua garganta se encher em chamas esverdeadas, a única coisa que ela teve tempo de fazer foi gritar para Naeraxes voar novamente, mas ao invés disso a dragão fechou suas asas ao redor da menina.
Então as chamas as engoliram, Visenya sentia cada parte de seu corpo ficar quente, mas não sentia dor, nem incomodo algum. Pelo contrário, na verdade a sensação era confortável, como se alguém a abraçasse com carinho. Após as chamas cessarem ela abriu os olhos. Naeraxes por ser um dragão era imune ao fogo, então saiu ilesa do mesmo, já Visenya tinhas suas vestes queimadas, a maior parte delas foi desintegrada pelo fogo, apenas uma camada de tecido branco, de suas vestes de baixo a cobriam, com furos para todos do os lados e ainda queimando em alguns pedaços.
Sua pele estava intacta, sem nem uma queimadura ou machucado, começou a passar as mãos pelo rosto a procura de qualquer ferimento, até chegar em sua cabeça, sim ela ainda tinha cabelo, porém o mesmo fora queimado em várias partes, praticamente todo o comprimento de seus ombros em diante se foram.
O que sobrou de cabelo e tecido na menina fora graças a Naeraxes, que tentou protege-la das chamas.
Ao olhar para cima Visenya pode ver o dragão negro encara-la. Ele parecia curioso, não com raiva como a poucos segundos atrás, ele se abaixou em direção a Visenya, Naeraxes chiou em protesto mas fora totalmente ignorada pela grande fera.
Ao se aproximar o suficiente da garota caída no chão ele a cheirou, Visenya sentiu cada pelo restante em seu corpo se arrepiar, ela não sabia como tinha sobrevivido as chamas do mesmo, nem sabia por qual motivo ele não a atacava como era de se esperar, mas sabia que se ainda estava viva era porquê tinha que permanecer assim.
Se levantou decidida, "Naeraxes silêncio", ordenou a dragão que ainda chiava para o outro.
"Você... pode me entender não pode?... Me obedeça...".
Visenya falava enquanto se aproximava devagar da criatura, o mesmo não pareceu gostar da aproximação e soltou um barulho de descontentamento, mas não se afastou.
Visenya continuou até estar de frente a frente com os olhos do dragão, esse que mostrou os dentes como sinal de alerta. Mas quando Visenya olhou nos olhos do mesmo, ela pode se ver neles, de repente se sentira forte, grande e imponente. Era como se fosse um dragão, Naeraxes fez barulho atrás dela a tirando de seu transe. Cannibal a encarava sem as presas expostas dessa vez, ficaram assim por um tempo, era como se auto reconhecessem um no outro.
"Você é majestoso...".
Disse Visenya levantando a mão para acariciar o focinho do animal. Ele não negou o contato.
"Você será meu... Seremos um só...".
O dragão parecia entende-la, Visenya lentamente foi até a lateral do dragão e tentou subir, mas não havia nada nele para que conseguisse se segurar.
Foi quando sentiu-se ser levantada do chão, ela se assustou inicialmente, mas ao olhar para baixa pode ver que o próprio Cannibal a levantara com a cabeça, Visenya aproveitou a oportunidade e se agarrou aos espinhos das costas do mesmo.
Naeraxes observava a cena cautelosa, não parecia confiar totalmente no dragão maior.
"Naeraxes, voe ao meu comando".
Sua dragão ajeitou-se para alçar vôo, Visenya segurou firme nas costas do dragão em que estava.
"Sovēs!".
A princesa disse alto o suficiente para ambos os dragões obedecerem, e assim foi, Cannibal começou a se balançar, ergueu as asas e tomou impulso. Visenya segurou com toda força que tinha, pois o movimento do mesmo quase a fez ser jogada para trás.
Ao se dar conta, estavam nos céus, o vento batia em seu rosto gelado e fresco devido a noite, eles subiam cada vez mais alto, a menina usava os espinhos nas costas do dragão para guia-lo a onde quisesse ir. Naeraxes estava ao lado deles, acima da cabeça da garota.
"É isso, issooo!". Visenya gritava eufórica, nunca em sua vida havia voado sozinha, era seu primeiro vôo, ela havia acabado de domar um dragão, um dragão selvagem, o mais temido de todos, o comedor dos seus, e a parte mais estranha nisso tudo, é que agora a garota sentia-se ligada a dois dragões, algo que ela nunca ouvira falar ser possível.
Naeraxes parecia sentir a empolgação de garota, pois rodopiava pelo ar e chiava em animação.
Visenya nunca se sentira tão viva em toda sua vida, tão viva que ela não deixou de mandar seus dragões cuspirem fogo no ar da noite.
"Dracarys!!!"
Ao gritar chamas verdes e roxas banharam os céus, as chamas púrpuras de Naeraxes se misturavam com as esverdeadas de Cannibal, fazendo o céu noturno inundar com as cores.
Depois de um longo tempo voando Visenya pousou na praia, perto do castelo e perto das cavernas que abrigavam a maioria dos dragões da ilha.
Ao descer se deparou com sua família vindo as pressas em sua direção, provavelmente eles haviam visto as chamas no céu.
"Visenya pelos deuses, o que aconteceu com você?", Rhaenyra corria até a filha apavorada, ao vê-la com apenas trapos queimados e o cabelo curto e chamuscado os olhos da princesa se arregalaram.
Daemon vinha logo atrás apressado, os irmãos também vinham, mas não as crianças, apenas Luke, Jace, Baela e Rhaena. Todos com feições atordoadas de espanto.
"O que diabos você tinha na cabeça Visenya??", Daemon perguntou olhando para o enorme dragão a alguns metros deles. Ele esticou a mão para Jace que estava a seu lado, o garoto prontamente entendeu o pedido e entregou sua capa para o padrasto, que cobriu Visenya com a mesma, ela não estava nua, mas boa parte de seu corpo estava a mostra e não era apropriado.
"Eu domei Cannibal pai", Visenya não conseguia parar de sorrir, Rhaenyra estava ocupada verificando cada pedacinho da filha a procura de machucados.
"Nós percebemos isso, mas para que? Você já possuí um dragão, queria se matar é isso?".
Rhaenyra falou a olhando nos olhos, "Me responde Visenya porque?.
Visenya então começou a contar a história de como tudo aconteceu, de que não achava Naeraxes, que escutou seus chiados vindo da floresta, e de como o encontro com Cannibal foi acidental.
"Mas... eu não me queimei..., ele lançou suas chamas em mim, mas não me queimei...", Visenya falava enquanto olhava para a própria pele em seus braços.
Rhaenyra olhou para Daemon a procura de alguma resposta, mas nem o marido parecia ter conhecimento sobre aquilo.
"Vamos entrar e cuidar de você primeiro... depois vamos conversar sobre isso." O mesmo disse enquanto passava o braço pelos ombros da filha a guiando para dentro, Rhaenyra estava do outro lado segurando a mãos da menina. Seus irmãos e irmãs apenas observaram a cena assustados. Ouviram a história atentamente quando Visenya contava, mas não fizeram nenhum comentário.
"Espera mas e eles?", Visenya falou se referindo aos seus dragões, "Naeraxes está machucada nas costas, não parece grave mas seria melhor darmos uma olhada, e Cannibal... onde ele vai ficar?".
"Vamos mandar alguns mestres olharem Naeraxes não se preocupe, quanto a Cannibal... não acho que ele receberia bem as ordens para ficar em alguma das cavernas, é melhor deixá-lo procurar onde quer ficar... se ele realmente se vinculou a você Visenya... ele não vai ficar muito longe."
Daemon conclui, Visenya acenou com a cabeça concordando, alguns mestres de dragões como haviam no Fosso dos Dragões em Porto Real também habitavam Pedra do Dragão, para quando fosse necessário receber algum membro da casa Targaryen.
Desde que Rhaenyra se mudou para lá, muitos desses mestres ficavam em disposição aos dragões da família.
Naeraxes foi levada para dentro da caverna onde Syrax ficava, lá iria receber seu tratamento e provavelmente um bom jantar.
Visenya olhou para os mestres que tentavam se aproximar de Cannibal, o mesmo recuou mostrando os dentes.
"Tudo bem Aenibal, eles não vão te machucar, vão colocar uma sela em você, para voarmos juntos, confie em mim." O dragão se acalmou com a fala da montadora, e deixou que os homens se aproximassem.
"Aenibal?", Daemon olhou para a filha com uma sombrancelha levantada.
"Sim... esse é o nome dele agora, Cannibal é apenas um adjetivo, mas ele merece um nome de verdade."
Daemon não disse nada, apenas observou o rosto de sua filha orgulhoso.
Após banhada, trocada e alimentada devidamente, Visenya se sentou em um das poltronas da grande sala em que sua família estava reunida. Já era tarde, Viserys e Aegon estavam dormindo, e os criados já haviam sido dispensados.
Seus cabelos haviam sido cortados corretamente por sua mãe, o corte ficará simples mas melhor do que estava antes, agora os fios platinados da garota batiam acima de seu queixo.
Ela usava um vestido leve azulado, com longas mangas brancas. Visenya se permitiu relaxar na poltrona, sabia que sua família tinha muitas perguntas para lhe fazer, mas estava cansada, por isso tentou o máximo possível se manter focada.
"Então você está dizendo que não se queimou? Mesmo o fogo tendo coberto todo seu corpo?." Jace parecia incrédulo, não fazia sentido as falas da irmã.
"É exatamente isso que estou dizendo". Visenya não gostava quando não acreditavam nela, entraria no fogo novamente apena para provar o que dizia.
"Mas... você disse que Naeraxes se pôs a sua frente, as vezes ela conseguiu protege-la de fato." Rhaena argumentou.
"Não... nem mesmo se Naeraxes fosse maior, vocês viram como a irmã de vocês chegou aqui...", Daemon falou enquanto tinha o olhar fixo no chão.
"Então pelo deuses como?" Rhaenyra segurou a mão do marido e olhou para filha aflita.
"Eu não sei...," fora tudo que Visenya conseguiu dizer.
Um silêncio reinou sobre o cômodo, todos pensavam no ocorrido, ninguém queria duvidar de Visenya, até porque ela era a prova viva de que realmente aconteceu, mas como? Essa era de fato a pergunta.
"O fogo não queima um dragão...", Daemon disse ainda pensativo, olhou para filha e depois para os outros, todos na sala o encaravam esperando que o mesmo continuasse.
"Quando eu era uma criança, meu pai comentou que ouviu de seu pai o rei Jaehaerys, que também ouviu de seus antepassados, que na Antiga Valíria alguns senhores de dragões eram imunes ao fogo, por causa de toda magia de sangue usada para doma-los. Porém nunca realmente se conheceu alguém com tais dons... esse parece ser seu caso Visenya...".
Ao terminar todos encaravam a menina, ela refletiu as palavras do pai, se realmente fosse esse o caso, porque justamente com ela? Não era uma Targaryen com o sangue puro como seus antepassados, não fazia sentido.
"Visenya minha filha, isso por acaso já havia acontecido antes? Você nunca percebeu nada parecido?. Rhaenyra perguntou, dessa vez segurando uma das mãos da filha.
"Na verdade...teve apena uma vez," todos a olharam curiosos, "Quando Naeraxes chocou eu estava com seu ovo em minhas mãos, na época eu não percebi... mas eu tinha acabado de tirar o ovo da lareira, ele devia estar fervente... mas eu não senti nada...".
Mais uma vez o silêncio se fez presente na sala.
"Então... bem, então você não sente dor alguma? Nenhum fogo machuca você?. Foi a vez de Lucerys perguntar.
"Eu não sei dizer...", Visenya olhou para as próprias mãos, se levantou devagar da poltrona e foi em direção a lareira da sala.
"Visenya não...", foi tarde demais, Rhaenyra tentou impedir a filha de catar com a mãos uma das pedras de carvão na lareira. A garota olhava para a pedra em sua mão, e todos na sala observavam seus movimentos.
"Não dói...", Visenya olhou para sua família e colocou a pedra fumegante de volta a seu lugar.
Após alguns segundos encarando a filha Rhaenyra se pronunciou. " Isso não pode sair daqui ouviram bem? Vamos manter em segredo, nem mesmo as crianças devem saber sobre isso."
"Por que mãe?" Luke perguntou.
"Não acho seguro, podem usar isso contra Visenya de alguma maneira, então por enquanto apenas nós sabemos disso... e o que isso significa?", ela olhou para os filhos e as enteadas.
"Que não sabemos de nada".
Responderam todos em uníssono.
"Ótimo... Visenya"?
A mesma olhou para a mãe e para o pai por alguns segundos. "Eu não sei de nada mamãe. Isso nunca aconteceu".
Oi família, obrg pela leitura e espero que estejam gostando, eu quis que o cabelo de Visenya queimasse como os da Daenerys nos livros, já que a mesma fica careca após sair do fogo com seus dragões.
Porém como sou muito fã de penteados medievais, não deixei que o cabelo de Visenya queimasse por inteiro, me julguem se quiserem mas é a verdade.
Enfim, boa leitura pessoas♥️!
Roupas e cabelo de Visenya↓
Também vou deixar imagens de como eu imagino Cannibal/Aenibal nessa história.↓
Um neném♥️.