INTERE$$EIRA ━ palmeiras

By ellimaac

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━━━━━ ❝Puta, vagabunda, interesseira, sem talento, forçada, sem graça.❞ 𝐈𝐒𝐀𝐁... More

𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟎 | 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎
𝟎𝟏 | 𝐏𝐀𝐂𝐈𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀
𝟎𝟐 | 𝐂𝐇𝐀𝐂𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟑 | 𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟒 | 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎𝐒
𝟎𝟓 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐍𝐎 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐎
𝟎𝟔 | 𝐁𝐄̂𝐁𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈
𝟎𝟖 | 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟗 | 𝐂𝐎𝐌 𝐎 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀?
𝟏𝟎 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙? 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟏𝟏 | 𝐔𝐌 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟏𝟐 | 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐀̃𝐄
𝟏𝟑 | 𝐋𝐈́𝐑𝐈𝐎𝐒 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐎𝐒
𝟏𝟒 | 𝐀𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟏𝟓 | 𝐃𝐎𝐑 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀
𝟏𝟔 | 𝐓𝐈𝐍𝐈, 𝐓𝐈𝐍𝐈
𝟏𝟕 | 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐀 𝐂𝐎𝐌𝐈𝐆𝐎
𝟏𝟖 | 𝐆𝐈𝐍𝐄𝐂𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐒𝐓𝐀
𝟏𝟗 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐈𝐍𝐀
𝟐𝟎 | 𝐁𝐀𝐑𝐂𝐄𝐋𝐎𝐍𝐀
𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟐𝟐 | 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟑 | 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄́𝐍𝐒
𝟐𝟒 | 𝐃𝐄𝐂𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐒
𝟐𝟓 | 𝐑𝐈𝐕𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀
𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟐𝟗 | 𝐆𝐎𝐒𝐒𝐈𝐏?
𝟑𝟎 | 𝐌𝐄 𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐀𝐈́𝐃𝐎
𝟑𝟏 | 𝐔𝐌𝐀 𝐂𝐔𝐑𝐓𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌
𝟑𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐀𝐍𝐃𝐎
𝟑𝟑 | 𝐑𝐄𝐂𝐎𝐌𝐏𝐄𝐍𝐒𝐀
𝟑𝟒 | 𝐄𝐑𝐑𝐎𝐒
𝟑𝟓 | 𝐅𝐀𝐂̧𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟑𝟔 | 𝐀𝐋𝐋𝐈́ 𝐄𝐒𝐓𝐀́
𝟑𝟕 | 𝐒𝐄𝐔 𝐅𝐀𝐕𝐎𝐑𝐈𝐓𝐎
𝟑𝟖 | 𝐃𝐈𝐒𝐓𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎
𝟑𝟗 | 𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒
𝟒𝟎 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝟒𝟏 | 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐃𝐀 𝐕𝐈𝐑𝐀𝐃𝐀
𝟒𝟐 | 𝐒𝐄𝐔 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟒𝟑 | 𝐄𝐒 𝐋𝐎𝐂𝐎
𝟒𝟓 | 𝐓𝐇𝐎𝐌𝐀𝐒 𝐂𝐑𝐀𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀
𝟒𝟔 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐀
𝟒𝟕 | "𝐏𝐎𝐑 𝐕𝐎𝐂𝐄̂"
𝟒𝟖 | 𝐍𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐂𝐎𝐑𝐃𝐎
𝟒𝟗 | 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐈𝐊𝐀𝐒
𝟓𝟎 | 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 𝐃𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐀𝐉𝐔𝐃𝐀
𝟓𝟏 | 𝐀 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀 𝐈𝐃𝐄𝐀𝐋
𝟓𝟐 | 𝐄 𝐀 𝐂𝐀𝐍𝐉𝐈𝐂𝐀
𝟓𝟑 | 𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟓𝟒 | 𝐏𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐑 𝐂𝐎𝐌 𝐄𝐋𝐀
𝟓𝟓 | 𝐅𝐈𝐍𝐆𝐈𝐑
𝟓𝟔 | 𝐍𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐑𝐒𝐀
𝟓𝟕 | 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐍𝐄𝐂𝐄𝐒𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟓𝟖 | 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐄𝐕𝐎𝐋𝐔𝐈𝐑
𝟓𝟗 | 𝐍𝐎 𝐏𝐔𝐄𝐃𝐎 𝐌𝐀́𝐒
𝟔𝟎 | 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀 𝐍𝐎 𝐋𝐔𝐆𝐀𝐑
𝟔𝟏 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐋𝐓𝐄𝐈𝐑𝐀
𝟔𝟑 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟏
𝟔𝟒 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟐

𝟒𝟒 | 𝐏𝐀𝐏𝐀𝐈𝐒

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By ellimaac

ISABELLA
São Paulo — Capital
pela manhã do dia seguinte

LEVANTO DA CAMA, sentindo uma dor terrível na lombar, tão ruim que vou toda torta em direção ao banheiro. Praticamente me jogo sobre o assento do vaso sanitário e faço tanto xixi que me pergunto se é possível eu já estar parindo com só oito semanas. Me lembro que a última vez que mijei tanto, Tom ainda estava dentro de mim.

Efeito da quantidade de calmante e água que bebi ontem antes de dormir. Eu estava muito estressada e o único jeito de pregar os olhos seria sob efeito de drogas. Leves, né? Porque meu bebê não pode ser afetado pelos remédios.

Capotei logo em seguida. Na casa da minha mãe mesmo porque eu estava aqui e ficamos conversando até tarde.

Lavo o rosto e me olho no espelho. Estou destruída. Meus olhos fundos pelo sono, as pálpebras inchadas, olheiras escuras. Meu cabelo está horrível também, oleoso. Por isso faço um coque alto antes de sair do banheiro.

Dou uma ajeitada na cama da Tini que usei, e me faço uma pergunta mentalmente: onde essa menina se meteu? Não voltou ontem e pelo visto ainda não voltou hoje também.

Pego meu celular debaixo do travesseiro e envio uma mensagem a ela, perguntando se 'tá tudo bem. Espero que esteja, não sei se aguento mais problemas.

Mal pisei fora do quarto e o cheiro de pão na chapa rapidamente invade minhas narinas, fazendo minha barriga roncar tão alto que tenho certeza que é o bebê chorando por comida. Não só ele. Eu estou faminta.

Pra chegar na cozinha, preciso passar pela sala. E eu me surpreendo com a cena assim que a vejo.

Tem um Piquerez completamente adormecido no sofá, com o pés pra fora pois é um poste de tão grande e não coube por inteiro no sofázinho da minha mãe. Um lençol o cobre da cintura pra baixo e ele dorme de barriga pra cima com uma mão embaixo da cabeça.

Ele não queria voltar pra casa ontem. Disse que estava de saco cheio e que teria que ouvir uma par da mãe dele. Por isso decidiu ficar.

Assim como seu amigo de time que dorme num colchão improvisado no chão com nosso filho embrulhado na mesma coberta que ele.

Os dois estão dormindo na mesma posição. De barriga pra cima com a mão esquerda no peito. A diferença é que Veiga dorme sobre a almofada e Tom usa o peito do pai como travesseiro.

Abafo uma risada. Tal pai, tal filho. Dormem do mesmo jeito, vai entender.

Sigo caminho e chego na cozinha.

— Bença, mãe — peço a mulher ao fogão, usando um avental florido, que vira em minha direção assim que me ouve e me recebe com um beijo na bochecha.

— Deus te abençoe, filha. Como você está? Melhorou da dor?

— 'Tô só com um pouco de dor nas costas.

Minha mãe muda completamente sua expressão, ficando tão preocupada que seus olhos ficam fundos.

— Você já usou o banheiro? — Assinto como resposta. — E teve sangramento?

— Não.

— Ah! — Ela suspira aliviada. — Menos mal. Foi só o estresse mesmo. Quer pão na chapa ou você vai querer uma salada de fruta?

— Não pode ser os dois? — Estou com tanta fome que vou devorar as duas coisas sem nem sentir.

— Claro que pode — me sento na mesa e minha mãe coloca um prato com vários pães que preparou na chapa, e uma cumbuca com diversas frutas. Além do leite e do suco de laranja. — Vamos alimentar meu netinho, né? Essa criança nem nasceu e já está passando por muita coisa.

— Nem me diga — dou duas mordidas seguidas no pão sem nem respirar e falto revirar os olhos pelo sabor da manteiga explodindo na minha boca. — Eu não sei o que vai ser do nosso futuro.

— Vai ser maravilhoso, filha, não acredite no contrário.

— Meio difícil.

— Ah, Isabella. Você é muito pessimista. Deus me livre. O Rapha disse que vai marcar uma reunião com o empresário. E ele vai resolver.

— A não ser que ele consiga mudar o passado, não há literalmente nada que possa ser feito que seja suficiente pra me livrar disso. Pra livrar a nossa família dessa opressão.

— Ai, Deus! — Minha mãe retira o óculos, o colocando sobre o cabelo só para conseguir esfregar os olhos. — Acho que a gente vai ter que te casar.

— O quê? — Fico confusa com essa fala inusitada. — Me casar com quem??

— É o único jeito, não acha? Como fazer as pessoas calarem a boca, e pararem com as fofocas? Casamento. Eles querem demonstração de amor, nada de promiscuidade. A monogamia é a solução. Se case.

— Isso... — fico pensativa sobre. — Isso seria um...

— Bom dia — um homem ainda meio sonolento atravessa a cozinha, passando a mão pelo cabelo. — O cheirinho de pão na chapa 'tá me matando.

— Chegou na hora certo, filho. Senta aqui — minha mãe convida Raphael a se juntar a gente na mesa. — Cadê o Tomzinho?

— Ficou na cama... é, no colchão, na verdade.

— Tem que acordar ele pra ir pra escola — aviso, o vendo se sentar ao meu lado. — Você consegue levar? Eu vou ter que chegar mais cedo no estúdio hoje.

— Levo — ele diz sem hesitar, pegando um pão e dando uma mordida. — Você 'tá melhor?

— 'Tô. 'Tô melhor.

— Se você quiser, te levo no médico depois do seu serviço. Pra gente saber se o bebê 'tá bem.

Sorrio de canto, feliz de sua preocupação não só comigo, mas com esse bebê.

— Seria ótimo — minha mãe responde por mim, colocando a garrafa de café na mesa e mais alguns pães. — Estresse na gravidez nunca é algo bom. O que você acha que o seu empresário vai fazer pra resolver o problema, filho?

Olho com curiosidade pra Veiga pois essa é uma das minhas dúvidas também.

— De verdade? — Veiga dá outra mordida enquanto pensa numa resposta. — Sei não.

Ah, que maravilha.

— Mas eu acho que ele vai nos obrigar a fazer alguma coisa. Nem que a gente tenha que postar um vídeo. Sei lá. — Me surpreendo quando ele toca brevemente em meu joelho ao lado do dele e faz um carinho. — Não pensa muito nisso. Vai dar tudo certo.

Sorrio para ele e depois sorrio para minha mãe. Os dois são mais parecidos do que eu imaginava com esse otimismo exagerado.

— Quero ter o otimismo de vocês quando eu crescer — digo a eles.

— Eres una chica muy hermosa y copada. — Escuto alguém dizer em espanhol e nem preciso olhar duas vezes para saber quem fala. — Intenta decirlo ahora, rubito.

— Es una chica... — Tom segue seu tio pra dentro da cozinha.

— Eres — Piquerez corrige.

— Ah, sim. Eres una chica muy hermosa y... E o quê mesmo, tio? Esqueci.

— Copada, rubito. Co-pa-da.

— Copada — Tom repete. — Essa palavra é muito estranha, não tem uma mais fácil?

— Tienes. Pode dicer inteligente ou legal.

— Mas essas palavras são brasileiras demais pra conseguir impressionar alguém, tio.

— Impressionar quem? — Me intrometo na conversa, porque minha curiosidade de mãe é maior do que eu.

Tom vira a cabeça pra me encarar e sou surpreendida quando ele corre em minha direção e me dá um abraço.

— Bom dia, mamãe. Tio Piquerez estava me ensinando a falar algumas palavras em espanhol pra impressionar a Cecília.

Lanço um olhar preocupante ao uruguaio que pega um pão na chapa também, me olhando com seu olhar maroto de quem estava ensinando coisa errada pro meu filho.

— Devo me preocupar com seus conselhos, Joaco?

— Siempre, rubia — ele me lança uma piscadela e acaba roubando de mim um sorrisinho bobo.

— Eu não ganho abraço de bom dia? — Veiga se questiona a seu filho em meu colo que praticamente se joga nos braços do pai, quase que me derrubando da cadeira.

— E eu? — Minha mãe entra na onda, fazendo o menino se levantar para ir até ela.

— Desculpa, vovó. — Ele pede enquanto a abraça e beija sua bochecha. — A senhora devia ter sido a primeira. Aliás, bença.

— Deus te abençoe, meu amor. — Adoro ver minha mãe feliz, principalmente com meu filho. Sinto meu coração aquecer com qualquer demonstração de amor entre os dois. Quase como se eu tivesse tendo a certeza de que deu certo. E continuo fazendo o certo na educação do meu filho. — Joaco, querido, sente-se. Você não cresce mais.

Frase clássica de uma mãe em ver o filho comendo em pé.

— Gracias, tia. — Joaco sorri, se sentando e olhando pra Veiga em seguida. — Cury confirmó la reunión para mañana às oito.

— Ótimo. — Veiga dá um gole no café depois de devorar dois pães. — Você consegue?

Se ele não estivesse me olhando, eu nem ia me tocar que estava perguntando a mim.

— Consigo.

— Mas que merda está acontecendo aqui?? — Olhamos em direção ao vão da cozinha imediatamente ao ouvir a voz de mais uma pessoa. Uma Martina completamente arrumada de quem passou a noite na gandaia, acaba de chegar. — Reunião de família??

— E agora a família 'tá completa — avisa Veiga, com a xícara de café cheia de novo. Ele não consegue parar a boca.

— Completíssima! — Ela sorri amarelo e olha para cada um de nós demoradamente. — Chega o ambiente 'tá carregado.

— Claro. Você acabas de llegar. — Piquerez retruca, afiado como sempre.

— Olha, você deve agradecer por estarmos na casa da minha mãe. Porque minha vontade agora é de... — ela ergue o punho, mas decide não completar a frase, fechando bem a boca pois tem uma adulta bem experiente nesse recinto a encarando com toda raiva que sente, mas decidindo se conter porque não estamos sozinhas e não quer que sua caçula passe vergonha.

Repito, minha mãe está se contendo pra não surtar em ver a filha chegando uma hora dessas sem nem dar sinal de vida durante a madrugada. Sei que minha mãe está em seu limite quando seu pescoço começa a mudar de cor.

— Quién deberias agradecerte eres tú! Por llegar viva em casa depues de passar la noche toda fora. — Piquerez bota lenha na fogueira, porque sabe que minha mãe está nervosa com minha irmã. E ele quer vê o circo pegar fogo. Sorrindo, ele não deixa de acrescentar: — Dónde estava, docinho? Tía Lucía estaba preocupada.

É a gota d'água, minha mãe se possui de seus pensamentos, coloca Tom no chão e rapidamente muda o foco para Martina.

— Fiquei preocupada mesmo! — Minha mãe respira fundo, já tentando conter o nervoso que aflora suas veias. — Onde você esteve a noite inteira, Martina?

Tini já arregala os olhos, temente daquele tom de minha mãe em específico.

— Eu 'tava na casa da Pilar, mãe.

— Con'esta roupa? — Piquerez se questiona e eu posso ver um sorrisinho no rosto dele, de quem está amando poder ver a Martina se foder. — 'Tá com más cara de si fue ido a una fiesta e despues dormido em casa de alguien.

— Na casa de quem, Martina? — Minha mãe cai na pilha. — E não minta pra mim.

— Eu estive na Pilar! — Ela mantém sua desculpa. — A senhora vai acreditar nesse Mula em forma de gente que faz muita mais merda do que eu?? Sério?

— Eu acredito em qualquer um que se preze a me contar a verdade, Martina, uma coisa que você não anda fazendo, né?

— Eu estive na Pilar, acredite se quiser.

— Tienes certeza? — Joaco pergunta, debochando e não deixa de acrescentar com puro desdém em seu tom. — Docinho.

— Você sabe onde ela esteve, Joaco? Por favor, conte para mim. — Minha mãe falta implorar enquanto Veiga e eu lançamos um olhar ao outro de que a coisa está feia. Tom, por outro lado, baixou seu pai nele e agora está devorando tudo que tem na mesa. — Estou cansada de tantas mentiras e histórias mal contadas.

— Piquerez! — Minha irmã fica tensa, e com os olhos arregalados a vejo quase implorar pra que ele não abra a boca. — Você não se atreveria.

Joaco simplesmente a ignora e diz a minha mãe com a maior facilidade do mundo:

— Na casa do Zé Rafael, tia.

— Desgraçado! — Minha irmã bufa, olhando pra cima e já esperando a reação da minha mãe.

— Eu não acredito que você ainda mantém contato com esse homem, Martina!!! — Minha mãe falta explodir de choque e raiva. — Será que eu vou ter que desenhar pra você entender que ele é casado?? CA-SA-DO! Cacete!

— Eu já te expliquei a história, mãe...

Quando menos percebo as duas entram numa discussão. Uma fala daqui, outra retruca dali. Piquerez está se divertindo, assistindo a discussão como se fosse o maior entretenimento do mundo. Ele está até com as pernas cruzadas, tomando um cafézinho de leve enquanto aproveita o show.

Veiga e eu apenas fingimos que não ouvimos nada. Já o Tom...

— Mamãe — ele senta no meu colo e sussurra pra não atrapalhar a bronca da vovó em sua tia —, tia Tini 'tava na casa do tio Zé?

Veiga se engasga com o café e olha em choque pro filho, surpreso da esperteza do menino. Não dá pra conversar nada na frente dele que ele já pega as coisas no ar e entende perfeitamente.

— Sim — respondo, também sussurrando. — Mas eles não estão namorando, estão só...

— Ficando — ele completa a fala por mim, entendendo sem que eu nem precise dizer. — Heitor me disse que a mãe dele não dorme mais em casa, estão ficando na casa da avó. Então o tio Zé é solteiro, né??

— Solteiríssimo! — Veiga responde por mim. — Mas você não pode contar pra ninguém, 'tá bom, filho? É um segredo da sua tia.

— Segredo! — Ele repete, passando o zíper na boca.

— Eu nunca te proibi de sair, Martina! — A voz da minha mãe se eleva. — Você já é adulta e toma suas próprias decisões. Mas você mora comigo e eu sou sua mãe. O mínimo que você pode fazer é me avisar onde está pra que eu não fique que nem uma maluca procurando por você, achando que foi sequestrada!

— Tem razão, mãe — Tini finalmente cede, reconhecendo a cagada. — Me perdoa. Não pensei na senhora, fui uma idiota.

— No costuma pensar miesmo — Joaco debocha e por um segundo penso que minha irmã irá voar no pescoço dele, mas ela cerra os dentes e respira fundo.

— Eu te perdoo, minha filha — minha mãe diz pra esfriar o momento. — Mesmo com tanta dor de cabeça que você me causa.

Tini sorri e abre os braços pra poder abraçar a minha mãe. E simples assim, a discussão se encerra. Costuma funcionar desse jeito aqui em casa com essas duas. Tini sendo rebelde causando dor de cabeça em minha mãe que briga e briga e minutos depois se acertam. Às vezes acho que minha mãe devia ser mais dura com Martina, ela não anda pensando direito nas coisas que faz.

— Agora eu posso comer? — Ela pergunta, olhando pra mesa de café da manhã. — Estou faminta.

Minha mãe deixa que ela venha até aqui.

— Zé não preparou um café pra você, parça? — Veiga pergunta, observando a garota pegar o leite quente e encher um copo. — Ele já foi mais romântico.

— Eu sai antes dele acordar.

— Miesmo se ficasse, Zé no poderia ser romántico. — Piquerez se diverte em zombar da coitada da minha irmã. — Martina es tan insoportable que no le da o prazer de preparar um cafézito.

— Você não deveria estar tão preocupado com a minha vida quando a sua está na merda. — Martina olha pra mim pra me avisar: — Não se fala de outra coisa na internet. Você confiou nesse imbecil e na primeira oportunidade ele gritou pro mundo o que agora se tornou a FOFOCA DO ANO. O que você vai fazer?

— Ainda não sei — desabafo pra ela. — Mas vamos dar um jeito.

— É — Piquerez não para de alfinetar. — Los adultos saben cómo resolver sus propios problemas. Quieres unas dicas?

— Eu quero que você vai pra aquele lugar, sabe? Aquele que não posso dizer pois não quero contaminar os ouvidinhos do meu sobrinho. Que tal você ir tomar lá e me deixar em paz?

— Hum — Piquerez dá de ombros, sem ter mais ideias para alfinetar a menina.

— Bom — bato minhas mãos e coloco Tom no chão para que eu possa me levantar. — Preciso trabalhar. Você — aponto para Veiga — tem que levar o Tom pra escola, não esquece.

— Nem tem como esquecer, né? — Ele sorri pra mim. Abandonando finalmente aquela xícara. — Vai deixar a chave da sua casa pra que eu possa dar banho nele?

— Tengo una cópia — Piquerez informa.

Veiga vira a cabeça com tanta pressa na direção de Piquerez que por um momento penso que quebrou o pescoço.

— Você tem? — A voz dele sai diferente pela raiva que começa a esquentar seu corpo.

Piquerez e essa língua grande. Dei a chave pra ele na última vez que dormiu lá em casa. Ele estava praticamente morando lá que achei quase válido que tivesse uma cópia. Agora não sei mais o porquê de ter feito isso.

— No es momento para brigas, irmãozinho. — Piquerez tenta se livrar da bronca. — Yo te ayudo a arrumar o Tom e tú me dá una carona, ¿qué tal?

— Isso! — Concordo pelo Veiga pois ele parece irritado demais para fazer tal coisa. — Tom vai ficar o dia inteiro na escola hoje porque tem campeonato a tarde. Como hoje vocês estão de folga, podem aparecer por lá pra incentivar o menino. Então... — Abro um sorriso de mãe pra eles que faz minha própria mãe rir da situação — boa sorte, papais.

Vi um comentário no tiktok pra eu abandonar a ideia de deixar a Isabella com um dos dois e abraçar o trisal, que eu seria defendida. Vocês me defenderiam? Ou eu seria ainda mais criticada?

Porque pelo andar da carruagem serei morta no fim da fanfic pelo time não escolhido 🥲

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