INTERE$$EIRA ━ palmeiras

By ellimaac

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━━━━━ ❝Puta, vagabunda, interesseira, sem talento, forçada, sem graça.❞ 𝐈𝐒𝐀𝐁... More

𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟎 | 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎
𝟎𝟏 | 𝐏𝐀𝐂𝐈𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀
𝟎𝟐 | 𝐂𝐇𝐀𝐂𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟑 | 𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟒 | 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎𝐒
𝟎𝟓 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐍𝐎 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐎
𝟎𝟔 | 𝐁𝐄̂𝐁𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈
𝟎𝟖 | 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟗 | 𝐂𝐎𝐌 𝐎 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀?
𝟏𝟎 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙? 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟏𝟏 | 𝐔𝐌 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟏𝟐 | 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐀̃𝐄
𝟏𝟑 | 𝐋𝐈́𝐑𝐈𝐎𝐒 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐎𝐒
𝟏𝟒 | 𝐀𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟏𝟓 | 𝐃𝐎𝐑 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀
𝟏𝟔 | 𝐓𝐈𝐍𝐈, 𝐓𝐈𝐍𝐈
𝟏𝟕 | 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐀 𝐂𝐎𝐌𝐈𝐆𝐎
𝟏𝟖 | 𝐆𝐈𝐍𝐄𝐂𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐒𝐓𝐀
𝟏𝟗 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐈𝐍𝐀
𝟐𝟎 | 𝐁𝐀𝐑𝐂𝐄𝐋𝐎𝐍𝐀
𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟐𝟐 | 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟑 | 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄́𝐍𝐒
𝟐𝟒 | 𝐃𝐄𝐂𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐒
𝟐𝟓 | 𝐑𝐈𝐕𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀
𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟐𝟗 | 𝐆𝐎𝐒𝐒𝐈𝐏?
𝟑𝟎 | 𝐌𝐄 𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐀𝐈́𝐃𝐎
𝟑𝟏 | 𝐔𝐌𝐀 𝐂𝐔𝐑𝐓𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌
𝟑𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐀𝐍𝐃𝐎
𝟑𝟑 | 𝐑𝐄𝐂𝐎𝐌𝐏𝐄𝐍𝐒𝐀
𝟑𝟒 | 𝐄𝐑𝐑𝐎𝐒
𝟑𝟓 | 𝐅𝐀𝐂̧𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟑𝟔 | 𝐀𝐋𝐋𝐈́ 𝐄𝐒𝐓𝐀́
𝟑𝟕 | 𝐒𝐄𝐔 𝐅𝐀𝐕𝐎𝐑𝐈𝐓𝐎
𝟑𝟖 | 𝐃𝐈𝐒𝐓𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎
𝟑𝟗 | 𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒
𝟒𝟎 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝟒𝟏 | 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐃𝐀 𝐕𝐈𝐑𝐀𝐃𝐀
𝟒𝟐 | 𝐒𝐄𝐔 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟒𝟒 | 𝐏𝐀𝐏𝐀𝐈𝐒
𝟒𝟓 | 𝐓𝐇𝐎𝐌𝐀𝐒 𝐂𝐑𝐀𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀
𝟒𝟔 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐀
𝟒𝟕 | "𝐏𝐎𝐑 𝐕𝐎𝐂𝐄̂"
𝟒𝟖 | 𝐍𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐂𝐎𝐑𝐃𝐎
𝟒𝟗 | 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐈𝐊𝐀𝐒
𝟓𝟎 | 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 𝐃𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐀𝐉𝐔𝐃𝐀
𝟓𝟏 | 𝐀 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀 𝐈𝐃𝐄𝐀𝐋
𝟓𝟐 | 𝐄 𝐀 𝐂𝐀𝐍𝐉𝐈𝐂𝐀
𝟓𝟑 | 𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟓𝟒 | 𝐏𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐑 𝐂𝐎𝐌 𝐄𝐋𝐀
𝟓𝟓 | 𝐅𝐈𝐍𝐆𝐈𝐑
𝟓𝟔 | 𝐍𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐑𝐒𝐀
𝟓𝟕 | 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐍𝐄𝐂𝐄𝐒𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟓𝟖 | 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐄𝐕𝐎𝐋𝐔𝐈𝐑
𝟓𝟗 | 𝐍𝐎 𝐏𝐔𝐄𝐃𝐎 𝐌𝐀́𝐒
𝟔𝟎 | 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀 𝐍𝐎 𝐋𝐔𝐆𝐀𝐑
𝟔𝟏 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐋𝐓𝐄𝐈𝐑𝐀
𝟔𝟑 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟏
𝟔𝟒 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟐

𝟒𝟑 | 𝐄𝐒 𝐋𝐎𝐂𝐎

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By ellimaac

ISABELLA
São Paulo — Allianz Parque
volte para casa, minha filha

ATRAVESSO O VESTIÁRIO pisando forte, tipo muito forte, sinto a sola do meu calçado ficar gasta e quase posso sentir o chão sobre meus pés. Estou exatamente como o Raiva em Divertidamente, pronto para entrar em combustão.

Chegar aqui não foi uma tarefa fácil, tive que driblar um monte de gente desnecessária que brotou lá em cima no camarote. A grande maioria com os celulares em pé, me gravando.

Ainda bem que as meninas estavam comigo e me livraram daquele b.o. Paula ficou de um lado, Clarisse do outro e as duas conseguiram me tirar de lá.

Entrei estádio adentro e nem pensei quando desci pra cá. Pros vestiários. Estou caçando o responsável por esse caos e só irei sossegar quando eu puder arrebentar a cara dele.

O problema é que cheguei tarde. Aqui está praticamente vazio. Parte do elenco já foi pro ônibus e a outra parte está a caminho.

O que resta aqui embaixo é apenas um pequeno grupo da comissão técnica que assim que passo me lança olhares confusos até ouço um dos caras sussurrar bem alto que eu era a ex do Veiga e estou esperando o primeiro filho do Piquerez.

É assim que serei conhecida, então?

Finjo que não os vejo e continuo minha caminhada sem ter um rumo definido. Estou aqui inutilmente soltando fumaça pelos ouvidos, procurando alguém que claramente já foi embora. Afinal, Piquerez deve estar junto dos outros no ônibus uma hora dessas.

Ou era o que eu achava, pois no momento que cruzo umas das portas, pegando o corredor que dá aos elevadores, esbarro com força meu ombro em alguém.

A pancada é tão forte que me faz xingar toda a próxima geração do imbecil que não me viu.

Ergo a cabeça pra encarar aquele cego e me deparo com ele. Não quem eu estava procurando, mas quem também faz parte de toda essa bagunça.

— Isabella? — Raphael Veiga franze o cenho ao me reconhecer. — Porra, 'tava doido atrás de você.

'Tava?

Bom, não importa. O que importa é que se Raphael Veiga ainda estão aqui, então o Piquerez também está.

— Cadê ele? — Pergunto, mudando toda a minha expressão e ficando puta da vida. — Aquele imbecil, vou acabar com ele.

— Calma, calma — Veiga agarra meus braços e me segura assim que percebe que tento caminhar não sei pra onde. Acho que minha mente está tão determinada a achá-lo que nem estou pensando direito. — Se acalma, Isabella.

— Cadê ele? — Tento me desvencilhar do aperto de Veiga, mas ele é muito mais forte do que eu. — Me fala onde ele 'tá, Veiga. Preciso falar com ele. Tentar entender porque caralho ele fez aquilo. Porra. Se ele quer acabar com a minha vida, não precisa de muito.

— Isabella — Raphael me aperta mais forte para que eu o escute com atenção. — O Piquerez foi embora. Ele foi pra casa.

— Então eu vou atrás dele!

Me desvencilho de Veiga na pressa sem que ele nem perceba e já começo a caminhar pra longe.

Ainda bem que Raphael Veiga é rápido e já está ali ao meu lado, agarrando minha mão e me puxando, de forma que me faça parar na hora e me vire perfeitamente em sua direção.

— Você precisa se acalmar.

— Me acalmar? 'Tá de sacanagem? — Isso só me deixa mais puta. — Você tem noção do que ele fez? Do que... do que isso pode me causar?

— Claro que eu tenho noção, Isabella!

E eu sei que ele tem. Mas meu coração dói pela raiva, pelo medo, que estou dizendo tudo que vem na minha cabeça. Tudo que sinto, como se isso fosse aliviar alguma coisa.

— Se minha fama de interesseira se tornar maior do que minha carreira, Veiga, EU 'TÔ FODIDA!

— Isso não vai acontecer! — Sinto o toque quente de sua mão em meu braço gelado e o calor me faz arrepiar. — Não vai acontecer, ouviu?

— Não tem como você me garantir isso. —Abaixo a cabeça, sem conseguir sustentar o olhar por muito tempo. — Ninguém pode me garantir isso a não ser o Joaquin, me jurando de pé junto que irá inventar a maior mentira do século e me livrar dessa!

— A gente vai dar um jeito.

Solto uma risada do que ouço. Ele não pode estar falando sério. Só pode ser brincadeira.

— Você vai resolver? — Debocho, completamente incrédula. — Vai fazer o quê? Falar por ele? Não dá, Veiga. Não dá. Eu 'tô... 'tô puta. Minha vida já 'tava uma bosta e agora ficou pior! Já estão sussurrando sobre mim e não faz nem uma hora que aconteceu.

— Calma.

— Não me peça para me acalmar. Por favor. Só... só... — Meu peito começa a doer do tanto que meu coração está batendo forte aqui dentro. — Por que ele fez aquilo? Por quê??

— Ele não pensou nas consequências. O Piquerez te ama, Isabella, acha mesmo que ele faria alguma coisa pra te prejudicar?

Não respondo, não consigo responder. Estou confusa. Com vontade de vomitar. De gritar. De surtar. Meu coração está batendo muito rápido e muito forte. Está doendo. E eu não sei o que fazer.

Tudo está desmoronado, dando errado. Quase como se fosse irreversível. Não consigo acreditar que algo bom venha a acontecer. Eu só consigo pensar em coisas ruins. Estou possuída de pensamentos negativos e isso está me torturando.

Veiga percebe, seu olhar fica carregado de preocupação e a forma como agarra meu rosto e acaricia minha bochecha quase me faz chorar.

— Ei, vai ficar tudo bem.

— Não vai. Você sabe que não vai.

— Vai, sim! — Sua voz fica firme. — As coisas vão melhorar. Vamos dar um jeito nisso.

— Por favor... — peço, sussurrando e quase implorando para que não me dê falsas esperanças. Não quando estamos no meio do caos e tudo que pode acontecer agora é minha vida fica muito pior. — Por favor... não minta pra mim.

— Não estou mentindo. — Ele segura meu rosto com mais intensidade e me faz olhar em seus olhos. — A gente vai te livrar dessa. Confia em mim.

Seu olhar é vivo. Cheio de confiança, determinação, e isso me traz certa paz.

Sua testa encosta na minha e estou tão sensível que praticamente me jogo em seus braços e deixo que me abrace. Um abraço forte. Acolhedor.

Mas que não dura muito tempo.

Não sei como, mas brota gente do inferno e quando olho pro lado tem umas três pessoas vindo em nossa direção com telefones erguidos.

— Isabella! Isabella! — Me afasto de Veiga na pressa e tem um flash na minha cara quando menos dou conta. — Os boatos que circulam o estádio após a comemoração do Piquerez anunciando que será pai é verdadeiro? Você está grávida?

— Está esperando um filho dele? — A mulher ao lado me pergunta, também me gravando. — Pode nos contar detalhes do relacionamento de vocês?

— Ou você está com ele? — Pergunta o terceiro, olhando para Veiga. — Com quem você está de verdade? Há boatos de que esteja vivendo um triângulo amoroso, isso é verdade?

— Já chega! — Veiga se intromete, se colocando na minha frente. — Vocês não deviam estar aqui.

— Veiga, o filho que ela espera é de seu amigo de time? Ou... — aquele filho da puta ainda tem coragem de rir, como se tivesse assistindo ao maior show de comédia da sua vida. — Ou esse filho é seu?

Vejo Veiga cerrar os punhos e meu coração erra as batidas em pensar que ele irá erguê-lo e socar o desgraçado que o atormenta. Mas ele só respira fundo, dá um passo pra frente e diz com a voz firme:

— Eu disse já chega.

Os três se calam na hora.

— Acho melhor vocês vazarem daqui antes que eu vá atrás de alguém para expulsá-los.

Eles nem pensam, apenas abaixam os celulares e caminham pra longe.

Penso que agora estaremos em paz já que estamos sozinhos de novo, mas não consigo me sentir assim.

Veiga praticamente me empurra pra dentro de um elevador e clica no botão do estacionamento.

— Ele está na sua mãe — ele avisa de de repente, segurando as portas, mas não entrando junto comigo.

— O que 'tá fazendo lá?

— Se escondendo.

— E você? O que você vai fazer?

Raphael sorri de canto.

— Vou resolver o problema.

ABRO A PORTA DO APARTAMENTO da minha mãe com uma criança capotada no meu colo, a cabeça deitada em meu ombro enquanto me abraça.

Estou exausta e o peso de Thomas não me ajuda em nada.

— Filha — minha mãe me recebe, meio sem jeito em me abraçar já que há uma criança dormindo abraçada em mim. — Você demorou.

— Sair do Allianz não foi uma tarefa fácil.

— Yo te ajudo, rubia — Joaco rapidamente se aproxima de mim e pega Tom do meu colo para me ajudar com o peso.

Fico impressionada com a facilidade que ele pega o menino nos braços e o leva até o sofá mais próximo. Eu me matei pra carregar Tom do estacionamento até aqui. Quase o acordei para que pudesse andar. Achei que eu não seria forte o suficiente para aguentá-lo, ainda bem que meus bracinhos decidiram colaborar.

— Não me fala que você 'tá aqui por causa dos seus pais?

Questiono quando ele ajeita Tom no sofá, colocando a cabeça do menino numa almofada e depois se virando em minha direção. Vejo a resposta da minha pergunta no cansaço de seu olhar.

— Mano, não acredito.

— Claudia sempre foi uma mulher muito cabeça dura — informa minha mãe. — Desde o começo, nunca foi com a minha cara.

— Mãe, ela nunca nem se deu ao trabalho de te conhecer de verdade. — Rebato.

— Você era só uma menina, Isa. Não se lembra de muita coisa. Martin sempre esteve do meu lado. Mas não adiantou muita coisa com a Claudia.

— Mi madre es realmente muy cabeza dura, tia — Joaco se coloca ao lado de minha mãe. — Ela desconta todo el luto em Isabella porque cree que te estás tornando una decepción.

É. Pode acreditar. Eu realmente sou uma decepção. Mas mantenho minha boca fechada, olhando pra cima e contando até dez para me conter.

Olhar pra cima só faz minha cabeça latejar ainda mais. Será que eu aguento o fim desse dia ou irei morrer de nervoso antes de acabar?

— Después de lo que acontecé hoje... — Joaco passa a mão pelo cabelo. — Mis padres enlouqueceram. No debí haberlo aquilo, arruiné tudo.

— Você é maluco também, né? — Digo em voz alta. — Como teve coragem de comemorar daquele jeito?

— Fue em la emoción do momento.

— Emoção do momento que vai acabar com a minha vida. Ai! — Prendo a respiração na hora assim que uma pontada perfura meu umbigo e me faz inclinar o corpo pra frente.

— O que foi?? — Joaco se assusta, colocando uma mão em minhas costas. — Rubia?

Não consigo responder, só consigo tocar onde dói e tentar não gritar.

— Filha, é o bebê?

— Ai, não... — mal consigo falar, estou mordendo a língua de dor. Uma dor intensa. Estranha. Quase como se fosse uma cólica menstrual muito forte. — Não sei.

— Senta. Pelo amor de Deus! — Minha mãe pede, começando a se desesperar e Joaco rapidamente me leva até o sofá. — 'Tá doendo onde, minha filha? Por Deus, médico! Vamos ao médico!

— Calma, mãe. Ahh. Dói aqui — aliso a região abaixo do umbigo e minha mãe arregala ainda mais os olhos. — Mas foi só uma pontada. A-agora dói menos, 'tá dolorido.

— Pode ser o estresse, ou... — Minha mãe começa a pensar no diagnóstico e isso também me desespera. — Vou esquentar uma bolsa térmica.

E no desespero, ela dispara em direção a cozinha.

Olho pra baixo, pra onde dói em minha barriga e só em pensar no pior, meus olhos pesam. Sou obrigada a jogar a cabeça pra cima e suspirar bem fundo pra ver se ajuda.

— Es mi culpa — Joaco diz, sentando ao meu lado totalmente sentido e isso parte meu coração. — Te deixei estressada. Perdoe me, rubia.

— Joaco — pego em sua mão e estou quase o abraçando. — Olha, eu sei que você não pensou nas consequências. Eu fiquei nervosa também e nem parei pra me colocar em seu lugar. Mas eu... eu te entendo, 'tá? A culpa não é sua.

— Isabella, si algo acontecer com o bebê, yo... — ele me encara e seu olhar finca uma faca em meu peito. — No voy me perdoar.

— Não vai acontecer nada com o bebê — por impulso coloco sua mão sobre minha barriga, para que ele possa sentir a vida que está ali dentro, mesmo que seja tão pequeninho que ainda não se mexe. — Nada.

Piquerez assente, balançando bem a cabeça e seus olhos estão tão marejados que vejo quando uma lágrima escorre.

— Bebê!? — Ele olha diretamente para minha barriga que ainda continua bem reta, quase como se não tivesse nada ali. Mas tem. Tem um bebê ali dentro e Joaco fala como se pudesse vê-lo. — Es tu papi. Quiero decir... Um deles.

Dou um tapa de repreensão no ombro de Piquerez que ri.

— Es loco, Joaco — digo a ele em espanhol. — Tú lo sabes, ¿no?

— Si — ele concorda. — Sei de la misma manera que sei que este bebê es una niña.

— Niña? — questiono em dúvida, o obrigando a erguer a cabeça para me encarar. — ¿Crees que tengo cara de madre de niña? No sé si puedo imaginarme teniendo una hija. 

— Enton imagínate, tendrás una hija. Una niña fuerte e saudável. ¿No es así, bebê? — Ele olho pro bebê de novo. — Prométeme que estarás bien en el vientre de tu mama, por favor.

Dou risada do que diz, mas nossa atenção é roubada quando mais alguém ali naquele cômodo decide se manifestar:

— Não, não, não, tio Piquerez! — Um Tom, completamente sonolento, se senta sobre o sofá e aponta para nós dois. — Não pode ficar abraçado assim com a minha mamãe.

O menino pula pra fora do sofá numa velocidade que nem parece que estava dormindo até agora, e se coloca no meio de nós dois só para empurrar Piquerez pra longe de mim.

— Ela é minha e do papai. Mía y de mi padre, ¿entiendes? — Ele debocha no idioma do uruguaio só para melhor compreensão do mesmo. — ¿Entiendes mi español, tío?

— Ah, viene aqui, rubito!

Piquerez puxa o menino pra seu colo e começa a fazer cócegas na barriga de Tom que falta se esgoelar de tanto rir.

A cena é incrivelmente divertida, faz meu coração se aquecer de um jeito diferente. Uma agitação esquisita paira pelo meu corpo inteiro. E um sorriso brota em meus lábios.

As risadas cessam assim que ouvimos a campainha tocar, minha mãe já está lá para abrir a porta e eu me mexo no sofá assim que o vejo.

— Você chegou, querido. — Minha mãe rapidamente muda o tom de voz ao analisar melhor o homem que acaba de chegar. — O que houve?

Raphael Veiga passa pela porta e mesmo de longe posso ver o roxo em seu olho. Estou em pé sem que eu nem perceba, caminhando na direção dele e o vendo esfregar os punhos onde há alguns machucados nas juntas do dedos.

— O que aconteceu? — Pergunto, preocupada, chega meu coração erra as batidas.

— Levei um soco enquanto brigava com um jornalista.

— Pensé que você resolveria o problema, amiguinho — zomba Piquerez, sentado no sofá com Tom em seu colo nos olhando com um grande interrogação flutuando por sua cabeça.

— Eu tentei.

— Papai, não pode bater nas pessoas.

— Não mesmo — concordo com meu filho. — Isso só vai piorar a nossa situação.

Meu Deus. Nem quero pensar nas notícias que irá sair amanhã em todos os perfis de fofoca. Incluindo os perfis de futebol. Afinal, um jogador socou um jornalista. Fodeu. Fodeu e muito.

— Eu perdi a cabeça — ele passa a mão pelo cabelo.

— Se senta um pouco, meu filho — minha mãe pede, indicando o sofá e logo se virando pra mim. — Você também, Isa! Aqui a bolsa a térmica. Fique sentada.

Só obedeço, pegando a bolsa térmica quente e colocando sobre a barriga ao me sentar outra vez.

— O que você tem? — Veiga rapidamente se preocupa.

— Um pouco de dor.

— Talvez sea o bebê — Piquerez informa.

— O bebê? — Veiga fica assustado, arregalando os olhos. — Isabella, vou te levar ao médico agora.

— Eu 'tô bem — garanto a ele. — Só um pouco de dor por causa do estresse. Nada com o que se preocupar.

— Tem certeza?

Todos eles me olham pra saber. Querendo a qualquer custo uma resposta confiável. Uma resposta que não posso dar porque realmente não tenho certeza. O que acaba fazendo com que o silêncio se estenda entre nós. Tão quieto que quase podemos ouvir os pensamentos um do outro.

Mas não dura muito tempo, porque a criança presente entre nós, rapidamente se manifesta para trazer um pouco de alívio nesse clima carregado de bomba atrás de bomba:

— Mamãe, deixa eu cuidar de você. — Tom vem em minha direção e abaixa a cabeça pra deitar em minha barriga. — João Pedro, sou eu, seu irmão mais velho. Aí deve 'tá mais quentinho do que aqui, né?

— João Pedro? — Veiga se questiona, sorrindo de canto.

— Nem tente convencê-lo a mudar de ideia.

— Shiu! — Tom nos pede. — 'Tô falando com o bebê, ele não gosta de barulho.

Damos risada e meu filho continua ali, tocando em minha barriga e falando com seu irmão.

— Irmãozinho, você precisa cuidar da mamãe, 'tá? — Ele fala como se seu irmão estivesse mesmo ouvindo e prestando atenção. — Ela é fraca e qualquer coisinha já faz ela chorar. Mas ela te ama, 'tá? Tem mais três adultos aqui fora que também te ama. Tem o tio Piquerez que 'tá aqui sorrindo que nem bobo. O papai que 'tá ali com o olho roxo. Quando você tiver maior, eu te explico. E a vovó que 'tá em pé quase chorando. Vó não chora.

— Não consigo, meu filho — minha mãe leva a mão ao rosto e seca as próprias lágrimas. — Se Martin tivesse aqui, ele ia achar essa cena tão linda.

E engraçada. Porque estou reunida com a minha família (a mais maluca que poderia existir) a qual é composta por dois caras, que não são meus namorados. Dois filhos. Um mais velho que é filho de um dos caras. E o outro ainda dentro de mim que não sabemos quem é seu pai, mas que é um dos caras. E aí temos a minha mãe que é a mãe de todos. E... Tini. A tia maluca e completamente sem noção que eu não faço ideia de onde esteja nesse exato momento.

ESSA FAMÍLIA É MUITO UNIDA.
E realmente é. E eu amo eles.

Cada dia que passa e a tarefa de decidir com quem Isabella ficará se torna ainda mais difícil.

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