INTERE$$EIRA ━ palmeiras

By ellimaac

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━━━━━ ❝Puta, vagabunda, interesseira, sem talento, forçada, sem graça.❞ 𝐈𝐒𝐀𝐁... More

𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟎 | 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎
𝟎𝟏 | 𝐏𝐀𝐂𝐈𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀
𝟎𝟐 | 𝐂𝐇𝐀𝐂𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟑 | 𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟒 | 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎𝐒
𝟎𝟓 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐍𝐎 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐎
𝟎𝟔 | 𝐁𝐄̂𝐁𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈
𝟎𝟖 | 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟗 | 𝐂𝐎𝐌 𝐎 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀?
𝟏𝟎 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙? 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟏𝟏 | 𝐔𝐌 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟏𝟐 | 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐀̃𝐄
𝟏𝟑 | 𝐋𝐈́𝐑𝐈𝐎𝐒 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐎𝐒
𝟏𝟒 | 𝐀𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟏𝟓 | 𝐃𝐎𝐑 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀
𝟏𝟔 | 𝐓𝐈𝐍𝐈, 𝐓𝐈𝐍𝐈
𝟏𝟕 | 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐀 𝐂𝐎𝐌𝐈𝐆𝐎
𝟏𝟖 | 𝐆𝐈𝐍𝐄𝐂𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐒𝐓𝐀
𝟏𝟗 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐈𝐍𝐀
𝟐𝟎 | 𝐁𝐀𝐑𝐂𝐄𝐋𝐎𝐍𝐀
𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟐𝟐 | 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟑 | 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄́𝐍𝐒
𝟐𝟒 | 𝐃𝐄𝐂𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐒
𝟐𝟓 | 𝐑𝐈𝐕𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀
𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟐𝟗 | 𝐆𝐎𝐒𝐒𝐈𝐏?
𝟑𝟎 | 𝐌𝐄 𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐀𝐈́𝐃𝐎
𝟑𝟏 | 𝐔𝐌𝐀 𝐂𝐔𝐑𝐓𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌
𝟑𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐀𝐍𝐃𝐎
𝟑𝟑 | 𝐑𝐄𝐂𝐎𝐌𝐏𝐄𝐍𝐒𝐀
𝟑𝟓 | 𝐅𝐀𝐂̧𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟑𝟔 | 𝐀𝐋𝐋𝐈́ 𝐄𝐒𝐓𝐀́
𝟑𝟕 | 𝐒𝐄𝐔 𝐅𝐀𝐕𝐎𝐑𝐈𝐓𝐎
𝟑𝟖 | 𝐃𝐈𝐒𝐓𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎
𝟑𝟗 | 𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒
𝟒𝟎 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝟒𝟏 | 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐃𝐀 𝐕𝐈𝐑𝐀𝐃𝐀
𝟒𝟐 | 𝐒𝐄𝐔 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟒𝟑 | 𝐄𝐒 𝐋𝐎𝐂𝐎
𝟒𝟒 | 𝐏𝐀𝐏𝐀𝐈𝐒
𝟒𝟓 | 𝐓𝐇𝐎𝐌𝐀𝐒 𝐂𝐑𝐀𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀
𝟒𝟔 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐀
𝟒𝟕 | "𝐏𝐎𝐑 𝐕𝐎𝐂𝐄̂"
𝟒𝟖 | 𝐍𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐂𝐎𝐑𝐃𝐎
𝟒𝟗 | 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐈𝐊𝐀𝐒
𝟓𝟎 | 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 𝐃𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐀𝐉𝐔𝐃𝐀
𝟓𝟏 | 𝐀 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀 𝐈𝐃𝐄𝐀𝐋
𝟓𝟐 | 𝐄 𝐀 𝐂𝐀𝐍𝐉𝐈𝐂𝐀
𝟓𝟑 | 𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟓𝟒 | 𝐏𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐑 𝐂𝐎𝐌 𝐄𝐋𝐀
𝟓𝟓 | 𝐅𝐈𝐍𝐆𝐈𝐑
𝟓𝟔 | 𝐍𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐑𝐒𝐀
𝟓𝟕 | 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐍𝐄𝐂𝐄𝐒𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟓𝟖 | 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐄𝐕𝐎𝐋𝐔𝐈𝐑
𝟓𝟗 | 𝐍𝐎 𝐏𝐔𝐄𝐃𝐎 𝐌𝐀́𝐒
𝟔𝟎 | 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀 𝐍𝐎 𝐋𝐔𝐆𝐀𝐑
𝟔𝟏 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐋𝐓𝐄𝐈𝐑𝐀
𝟔𝟑 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟏
𝟔𝟒 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟐

𝟑𝟒 | 𝐄𝐑𝐑𝐎𝐒

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By ellimaac

ISABELLA
São Paulo — capital
voltando pra casa

AINDA ESTOU SEM ACREDITAR mesmo ao pisar em São Paulo, pegar um Uber e voltar para minha casa.

Eu passei. Não. Não só isso. Eu fiquei em primeiro lugar. Ganhei da Suellen. E fui tão bem que precisaram fazer uma montagem de vídeo só para se ceritificarem que eu realmente combinava com o ator principal. E pasmem. Eu combinei! Porra. Eu combinei demais.

Meu Deus. Isso é um sonho. Por favor, se for, não me acorde. Por favor, me deixe dormir para continuar vivendo essa experiência maluca e única para sempre.

Só quero sentir esse gostinho de conquista até a eternidade.

Me sinto preenchida. Realizada. A vida nunca deu errado. Nunca me decepcionou. É essa a sensação.

Subo o elevador do meu prédio como se eu estivesse subindo pro céu. Estou nas nuvens, flutuando.

Deixo minha mala em casa, no hall mesmo, e decido não ficar ali. Não quero ficar aqui sozinha nesse apartamento solitário.

É meio dia agora. Tenho um dia inteiro livre. Para comemorar. Para contar ao mundo inteiro que consegui.

Mesmo que no fim eu não ganhe esse papel, eu cheguei até a final, porra. Eu fui bem até demais e isso basta.

Atravesso o corredor e toco a campainha do apartamento 23. O apartamento da minha vizinha, a melhor que eu poderia ter em toda a minha vida, a pessoa pela qual eu preciso contar essa novidade, contar esse grande feito pois sei que ficará tão orgulhosa quanto eu mesma estou.

— Minha filha!! — Minha mãe, usando um avental azul bebê com florzinhas rosa, abre os braços pra me receber. — Finalmente voltou. Eu estava com saudade. Entra, entra.

Passo pela porta e adentro o apartamento muito bem organizado e cheiroso de minha mãe.

Mesmo aqui não sendo o lugar onde cresci, é tão a cara da minha família que rapidamente dou um pulo no passado.

Minha mãe gosta de cores vivas, então a casa é toda colorida. Paredes em amarelo e azul. Móveis em madeira, estofados coloridos. Dezenas de quadros com nossas fotos. Tem um bem aqui na minha cara, bem de frente a porta, com minha fuça criança e a de Tini. Os mesmos traços em nós duas, mas em paletas diferentes. Eu, branca e loira. Tini, morena com os cabelos bem castanhos.

Contudo, o que me chama mais a atenção são os vasos de flores espalhados por todo o apartamento. Como decoração para quem não conhece o significado. Eu, por outro lado, o conheço. E sei o poder desses lírios brancos que não só deixam a casa muito mais bonita como também nos leva à momentos felizes na Argentina ao lado do papa.

Meu coração rapidamente se aperta em saudade.

— Estou preparando o almoço pro Tomzinho — minha mãe informa enquanto me conduz pela sua sala muito bem iluminada e me leva até a cozinha do outro lado, que rapidamente impregna meu nariz com o cheiro maravilhoso de comida. — Ele irá chegar daqui a pouco da escola.

— Estou morrendo de saudade daquele menino. — Fiquei três dias fora, mas parece que foram uma eternidade. — Ficar longe do meu filho é doloroso demais.

— Sei bem como é — minha mãe concorda já chegando na boca do fogão e verificando a panela. Só em retirar a tampa, meu estômago ronca de se contorcer pela fome que aquele cheiro divino me causa. — Sua irmã mal chegou e já quer voltar pra Argentina.

— Não acredito — me sento a mesa, bem pertinho de minha mãe e fico séria. — Tini não sossega nunca.

Depois que fez dezoito anos, ficar um mês aqui no Brasil é muito pra ela.

— Ela não consegue se acostumar com o Brasil, minha filha. Não dá pra criticar, né?

— Mas aconteceu alguma coisa?? Da última vez ela teve aquele rolo com o policial casado. — Que gerou tanto problema pra cabeça daquela garota que ela fugiu do país quase como se tivesse cometido um crime. — Qual foi a questão agora?

— Eu não sei. Nunca sei. Martina não conversa comigo. Há uma barreira entre eu e aquela menina que nunca existiu entre eu e você. E eu não consigo entender o porquê. — Minha mãe se vira em minha direção, apagando o fogo e cruzando os braços. — Eu criei vocês duas iguais, não criei? Por que... por que Tini gosta tanto de ficar longe de mim?

— O problema não é a senhora, mãe. — Fico sentida em vê-la se culpando assim. — Tini é uma menina cheia de questões, a senhora sabe. Ela não lida tão bem com os próprios problemas ao ponto de desabafar.

— Ela também não desabafa com você?

— Raramente. Costumo saber das coisas quando a bomba explode.

— Eu também — minha mãe leva uma mão ao peito e seus olhos se enchem de lágrimas. — Sei que a perda de Martin a afetou muito, ela era só uma criança. Mas afetou a todas nós também. Eu... eu não sei como cuidar dela do jeito que ela realmente precisa. Posso exercer o papel de pai, mas eu nunca serei o Martin.

— Há feridas que nunca se tornarão cicatrizes. Ficarão sempre abertas porque não existe cura ou cuidado necessário para tratá-la. Apenas Tini pode se curar, assim como a gente se cura a cada dia. A culpa não é sua, mãe.

— Eu só queria que ela se abrisse comigo. É tão fácil pra você, minha filha. — Minha mãe se abre. — Você simplesmente chega e me conta tudo. Já a Tini! Aquele menina olha na minha cara, diz que 'tá tudo bem e depois foge pra Argentina como se nada tivesse acontecido. Como se eu... se eu não existisse.

É então que me lembro que realmente tenho muita coisa pra contar para minha mãe. Sobre minha vida. Minha carreira. Minha saúde.

— Mãe... — sussurro, pois estou pensando por onde começar.

Minha mãe nem me escuta, apenas pega um prato de dentro do armário e começa a enchê-lo de frango cozido com legumes.

— Tome, se alimente enquanto me conta como foi seu teste — ela se senta ao meu lado, me entregando um prato de comida e saboreando o seu próprio também. — Você passou?

Decido começar por aí. Pela melhor notícia de todas. Conto tudo. Cada detalhe. Desde como foi o teste, o processo de gravação da cena e o quanto eu tive que atuar, até o resultado o qual ganhei a primeira posição. Minha mãe falta pular da cadeira de felicidade ao ouvir tudo que digo.

— Eu sabia, Isa! Sabia que você conseguiria. Uma hora a máscara daquela vaca iria cair. Forçada daquele jeito, alguém tinha que perceber! — Minha mãe não mede as palavras pra xingar Suellen. — Essa diretora aí parece ser diferente.

— E ela é, mãe. Nunca teve ninguém que me enalteceu tanto. Fui aplaudida, acredita?

— Claro que eu acredito, Isa. Você é muito talentosa. Agora me diz — minha mãe limpa o prato o colocando de lado. O tempo de eu contar como foi em Curitiba, foi o tempo dela finalizar seu almoço. Eu também. — Qual é a outra coisa que você tem para me dizer?

— Certo — respiro fundo, dou uma última garfada no meu arroz com molho e também finalizo minha refeição. — 'Tô grávida.

Minha mãe sorri sem demonstrar surpresa alguma.

— Quem te contou?

— Sua irmã não me conta sobre a própria vida, mas sobre a vida dos outros... — Tini é a maior fofoqueira, sim ou claro? — É uma coisa maravilhosa, filha. Você vai ver que o segundo filho é muito mais tranquilo. Vai tirar de letra.

— Não é a gravidez que me preocupa, mãe.

— Eu sei o que te preocupa. — Minha mãe toca em minha mão, me compreendendo como ninguém. — Não se pertube com isso, filha. Ficar pensando no que devia ou não ter feito só vai fazer mal a você e ao bebê.

— Como eu não vou pensar?? — Pergunto, sentindo meu peito doer tanto que meus olhos pesam pelas lágrimas que seguro para não derramar. — Eu fui uma idiota. Uma irresponsável. Eu não sou mais uma adolescente. Sou adulta. Uma mãe. Eu que comando a minha vida. E vou lá e cometo uma cagada dessa? Sério? Engravidar e não saber quem é o pai. Sabe como eles fazem o exame de DNA durante a gravidez?

— Sei — minha mãe assente, pressionando os lábios.

— É terrível, posso ter um aborto. E eu vou ter que me submeter a isso para que esse bebê saiba quem é o pai. Eu... — Respiro fundo, mas uma lágrima involuntária escorre pela minha bochecha. Abaixo a cabeça e coloco as duas mãos sobre o rosto. — Eu fui tão irresponsável por querer um pouco, só um pouco de carinho. Eu queria eles, mãe. Os dois. Eles me fazem bem. Mas é tão errado. E... e ao tentar consertar, eu piorei ainda mais as coisa. Eu sou uma idiota.

Estou chorando. Colocando pra fora tudo que sinto. E chorando sem parar.

— Vem aqui, filha — minha mãe abre os braços e eu vou direto para seu colo como se eu fosse mesmo uma criança outra vez sendo aninhada pelos braços quentes e reconfortantes de minha mãe. — Não fica pensando nisso. Erros são normais, faz parte da natureza humana. Não existe uma só pessoa que não errou. Está tudo bem.

— Mas eu vou ter mais um filho, mãe — as palavras escapam como facas em meu coração. Dói. — Eu permiti isso. Fui irresponsável.

— Você não fez isso de propósito, Isabella. Não engravidou porque queria essa confusão. Simplesmente aconteceu. Seus sentimentos falaram mais alto. E sabe de uma coisa? Isso é a coisa mais normal do mundo. Eu mesmo já deixei minhas emoções falarem mais alto.

— É diferente, mãe — fungo, tentando me conter. — A senhora nunca se envolveu com dois homens ao mesmo tempo.

— Quem disse?

— O quê? — Fico sem acreditar. Me ajeito e até me sento na minha cadeira outra vez pra saber se fala sério. — Vai me contar isso agora mesmo.

— Não é uma coisa pela qual eu me orgulho. Mas como eu disse, sentimentos são incrontroláveis. Eles fazem com que a gente cometa erros que nunca sequer pensamos em cometer. Só que isso não nos define. O que nos define é como iremos reagir. Como iremos consertar as coisas.

Seco as lágrimas e espero ansiosamente a história de como minha mãe consertou seu passado.

— Eu conheci o Martin quando ainda estava casada com seu pai.

Arregalo os olhos em choque.

— Seu pai e eu tinhamos uma relação bem conturbada. Ele era ciumento. Não me deixava sair de casa. Eu... — minha mãe sorri. — Eu gostava da bagunça. Mas depois que tive você, seu pai dizia que eu precisava ficar em casa enquanto ele trabalhava. Aceitei, né? Por você, não por ele. Mas odiava o fato disso ter se tornado um peso só porque ele achava que não devíamos ter mais vida. Foi aí que começamos a nos desentender.

Minha mãe apoia o cotovelo na mesa e me olha nos olhos. É a primeira vez que ela me conta qualquer coisa sobre meu pai biológico.

— A maternidade não é um fardo como seu pai me fez acreditar. E quando tomei conta disso, tentei ser livre. Eu saia com você pra tudo quanto era lugar. Viajava com minhas irmãs. Curtia a vida e você sempre do meu lado. Apenas um bebêzinho. Seu pai odiava. E nossas brigas ficaram piores. Foi quando decidi sair de casa, cansada e me vi na Argentina com uma passagem só de ida.

— Na Argentina?

— Sempre fui apaixonada por aquele país.

— Foi quando conheceu Martin?

— É — minha mãe sorri, um sorriso apaixonado. — Um completo maluco, falava português como uma criança, mas me fazia rir como ninguém nunca fez. Me apaixonei em apenas um mês. Mas... — Ela hesita. — Eu ainda estava casada e sabia que aquele sentimento era errado, por isso não dei essa brecha a Martin. E ai... descobri uma gravidez.

— O quê? — Ok, claramente essa história já devia ter sido me dita há muito tempo. — A senhora estava grávida da Tini?

— Não, Isa. — Minha mãe ri. — Você só tinha dois anos. E como eu disse, não dei brecha a Martin pois achava errado. Não fiquei com ele. Estava grávida do seu pai.

— Meu Deus, e o que a senhora fez?

— Fiquei sem chão. — É a primeira coisa que diz. — Meu casamento estava arruinado, eu tinha uma filha de apenas dois anos e outro bebê na barriga. Estava fora do meu país fazia um mês, vivendo de favores. Eu não sabia o que fazer. Mas Martin sabia. Me levou pra morar com ele e cuidou de mim. Eu sabia que havia um sentimento entre nós. Sabia que ele estava apaixonado. Mas o que eu poderia fazer? Fingir que ainda não era casada? Fingir que não tinha vida no Brasil? Eu 'tava louca. Precisava voltar pra casa. E foi o que fiz. Eu voltei. Tomei uma decisão. E escolhi seu pai.

— Mesmo com o casamento arruinado e depois de encontrar alguém perfeito, a senhora voltou pro meu pai?

— Era o certo a se fazer, não? — Minha mãe me questiona. — Eu tinha você e mais um filho na barriga. Martin não podia assumir uma responsabilidade que não era dele. E eu não podia abandonar minha vida só porque não conseguia resolver um conflito. Se for pra seguir em frente, que eu me divorcie e faça o que é certo. E não fuja como uma garotinha imatura.

— É... — isso me deixa muito reflexiva. — Você tem razão.

— Grávida de seis meses, voltei pra casa. Seu pai me recebeu como um marido deve fazer. Ouviu o que eu tinha a dizer e em momento algum duvidou do filho que eu carregava. Ele assumiu as responsalidades como pai. Mas... não tem como consertar um casamento arruinado sem uma mudança definitiva.

— Meu pai continuava te prendendo?

— Sim. E isso me sufocava. Por um tempo, aceitei quieta. O que foi pior. Fiquei doente, maluca. Eu não conseguia cuidar de você, não conseguia cuidar de mim. Estava irreconhecível. E o pior aconteceu.

— A senhora perdeu o bebê. — Adivinho. Não tenho nenhuma irmã ou irmão além de Tini, o que me faz pensar que essa gravidez que me conta não foi um sucesso.

— Um menino. — Ela informa. — Foi preciso o pior acontecer para que eu compreendesse que não estava feliz. Estar com seu pai era o certo, mas... eu não era feliz e do que adiantava, então? Me divorciei. Fui morar com minha mãe. E por dois anos, cuidei de mim e de você sozinha. Coloquei minha cabeça no lugar. Achei sossego. E... Martin brotou do nada no Brasil.

— Ele foi atrás da senhora depois de anos?

— Sim — ela sorri, orgulhosa. — Não sei como aquele maluco me achou. Mas veio até mim com um buquê de lírios brancos e disse que toparia qualquer loucura só para que estivesse do meu lado. O que fiz, né? Topei a maior loucura da minha vida. E finalmente consegui ser feliz.

— Meu Deus, mãe! — Me surpreendo com essa história. — Eu não fazia ideia que tinha passado por tudo isso.

— Fui uma jovem que soube viver, Isabella. Mesmo cometendo erros. Mesmo com medo de resolver problemas. Eu vivi. E é o que eu posso te dizer como conselho, filha. Sei que está com medo, sei que parece difícil tudo que vive e tudo que sente. Mas não faça como eu, não fuja. Resolva por mais doa. Uma hora a felicidade vai bater na sua porta com um buquê de lírios brancos.

E lá estão as lágrimas. Estou chorando de novo. Mas desse vez de emoção pela história linda, mesmo que cheio de conflitos, que minha mãe viveu.

— Não chore, se não eu vou chorar também. — Ela diz já chorando e me abraçando.

— Meu maior medo — me recomponho. — É que Tom sofra as consquencências dos meus erros.

— Eu também tinha esse medo. Mas você está aqui, né? Me diz, você sofreu com os meus erros?

— Não — nego, lembrando de tudo de bom que vivi. — Martin me criou como um pai. E ele te amava muito. Nós erámos felizes. E essa é a única coisa pela qual me lembro.

— Exato — ela seca minhas lágrimas. — Não será diferente pro Tom. Aquele menino já é feliz. E continuará sendo.

Assinto, trazendo essa confiança a meu coração e ficando mais leve.

— Ele continuará sendo — confirmo. — Agora — verifico as horas no relógio. — Está quase na hora de ele chegar. Vou tomar um banho pra poder recebê-lo.

— Vai, filha. — Minha mãe me incentiva. — Vou preparar uma surpresa pra ele ficar bem feliz.

Ótimo. Me levanto da cadeira e me despeço brevemente de minha mãe para que eu possa fazer o que lhe disse. Tomar um banho e voltar pra cá para receber meu filho com uma surpresa, afinal, ele ainda não sabe que retornei.

Essa conversa com minha mãe me fez bem demais. Me trouxe esperança. Me sinto até mais leve para enfrentar os problemas da minha vida.

Afinal, as coisas estão começando a dar certo. Minha carreira já foi a primeira parte. A próxima é saber quem é o pai do meu bebê e então organizar essa bagunça. Eu consigo.

Saio do apartamento de minha mãe e sigo pelo corredor até a porta do meu do outro lado.

Mas, de repente, ao abrir de portas do elevador daquele andar, minha atenção é rapidamente roubada.

Paro de andar imediatamente em ver quem acaba de sair do elevador, me fazendo parar de uma vez com minha caminhada pelo simples fato de não conseguir mover um músculo sequer. Em choque. Não estava esperando por isso. O que diabos ele faz aqui e como conseguiu subir?

Porra. Realmente não esperava encontrá-lo agora.

Eu estava retardando esse momento. Depois da briga, tudo que eu menos queria era encontrá-lo. Não até ajeitar as coisas primeiro. Contudo aqui está ele. E a pergunta que não quer calar: por quê?

— O que você está fazendo aqui?

Quando eu disse sobre maldição hereditária lá nos storys, eu estava falando dessa história da mãe da Isa. Ela também já esteve num triângulo amoroso. E teve que tomar decisões.

E quem vocês acham que chegou no fim do capítulo???

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