(espanhol levemente alterado para melhor compreensão de vcs)
🇦🇷 setembro de 2012
🥀 ISABELLA
SENTO NA CALÇADA e solto um suspiro tão cansado que meus ombros encolhem e minha cabeça automaticamente despenca pra frente. Todo o meu ser se entristece e o peso terrível em meu peito é tão forte que não consigo controlar a dor avassaladora que me faz chorar.
Ele se foi... meu papa.
— Mis condolencias, rubia. — Um garoto de catorze anos, que cresceu tanto nesse último ano que nem parece que um dia eu já fui maior do que ele, se senta ao meu lado naquela calçada. — Siento mucho que ustedes estén pasando por esto. Tío Martin fue tan fuerte. Pensé...
Viro a cabeça brevemente na direção de Joaco, compreendendo o que ele quer dizer mesmo tendo hesitado. Todos nós pensamos que ele conseguiria.
— Todos creímos que lo soportaría. Que ganaría.
Joaco pressiona os lábios realmente sentido com a minha dor. Eu acredito que seja a mesma dor para ele também. Não com a mesma intensidade, afinal foi meu pai que partiu e não o dele. Mas meu pai amava Joaco, como um filho. Assim como Joaco o amava e, às vezes, até o chamava de papi na esportiva, só para que eles pudessem se zoar depois.
Virou uma piada interna. Joaquin Piquerez, o filho de Martin Benitez, pois está prometido a uma de suas filhas. Ele só precisa escolher qual das duas ficará. A loirinha mandona ou a moreninha emburrada.
Eu tinha que me controlar tanto para não xingar esses vizinhos desnecessários, que uma vez cheguei a socar a parede para não socar a cara da mal amada da Dolores. Eu odeio tanto aquela vizinha. Ela devia se preocupar mais com o marido que mete gaia nela com as tias da nossa escola do que com as pretendentes de meu melhor amigo.
— Ahora ele está en un lugar mejor, rubia. Sin dor. ¿Crees nisso?
— Si. Claro que sí. — Balanço bem a cabeça. Acreditando no que diz. — Me apego a cualquier hilo de esperanza, que até me siento una religiosa en creer en un pós vida cheio de calma. Mi padre merece tanto un poco de paz. Ele.. ele sofreu tanto...
Quando menos me dou conta há lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas. Lágrimas involuntárias.
— Ei, rubia — Piquerez rapidamente passa o braço por trás de minhas costas e me puxa pra perto. Me acolhendo em seu calor enquanto tenta aquecer meu coração com um pouco de consolo. — Sei que parece difícil, pero logo irá superar essa dor. Y la memoria de tu padre te traerá tanta fuerza que és así como se recordarás dele. Fuerte. Vivo.
— Mi madre no aguenta más, Joaco. Ela quebrou todos los vasos de nuestra casa cuando llevaron el cuerpo dele. — Respiro fundo, tentando não me lembrar daquela cena horrível. Ou de ouvir o vidro quebrando. — Esa mujer ahí, mirando el caixão, no es mi madre.
— Tía Lucía lo amaba de verdad. Va a ser difícil para ella. Para Tini tambien — ele me lembra de minha irmãzinha, a qual esteve abraçada com sua tia o enterro inteiro pois tanto eu quanto minha mãe não conseguimos dizer uma só palavra de consolo a caçula.
— Mi madre compró los pasajes hoy quando velaban el cuerpo de mi padre.
— ¿Pasajes para dónde?
— Para Brasil. — Informo o óbvio, afinal é o único lugar que temos para ir. — No ficaremos aquí. No... Ela no vai aguentar en casa sin el papa. Volver a Brasil será lo mejor para mi madre. Para... para mi tambien.
— Isabella — Piquerez segura minhas duas mãos e me faz olhar para ele. — Estamos aquí. Yo... yo soy tu familia.
Balanço a cabeça, sentindo o peso de suas palavras, mas não podendo dar a ele o que tanto quer pois já está decidido e não terá mais volta.
— Yo no pertenezco a ese lugar, Joaco. — As palavras vem do fundo do meu coração. — Yo nunca pertenecí. Papa que me incluía pues me amaba. Pero... su hija es Tini y todos só se lembrarão de ella. Mi madre también está pensando en mí. Afinal... mi sangre es brasileño.
Joaco nega com a cabeça, mas no fundo ele está concordando. Não há muito o que fazer a não ser concordar.
— ¿Van começar de nuevo?
Assinto como resposta.
— Mi madre tiene casa lá, y familia. Estaremos en buenas mãos.
— Aquí también — ele me lembra. — Mis padres pueden ofrecerte todo apoio y consolo necesario, lo sabes.
— Pero ainda seremos atormentadas por el fantasma de mi papa. Aquí la presencia dele estás muy viva. Las lembranças...
— Las lembranças están en ustedes. — Suas palavras são convictas e invadem meu peito com força. "Nós carregaremos as lembranças". — La llevarán para siempre. Sea aquí ou en Brasil.
Assinto mais uma vez, não conseguindo discordar.
— Talvez essa sea mi maldición.
— ¿De qué estás hablando? — Joaco fica desentendido, sem compreender a quê me refiro.
— Llevar memórias de un pasado feliz enquanto vivo un presente infeliz. Así era al principio, cuando me mudé pra cá. Me agarrava a todas mis lembranças de mi casa en Brasil, de mi padre biólogo y... nisso creía en un futuro mejor. Yo lo tive finalmente, pero lo perdí de nuevo. ¿Será ese el ciclo?
— Rubia, no puedes pensar así. Lo que sucedió hoy fue una fatalidad. No había forma de evitarlo. Isso no torna tu vida un ciclo doentio. Usted todavía será muy feliz y así permanecerá durante años y años.
— Ele era mi felicidad — digo com lágrimas nos olhos. — Miraba a Martin y lo via como el padre que yo no tenía. Y ahora, lo perdí también.
— Isa... — Piquerez me abraça de novo, pois não há nada que possa dizer que irá curar essa ferida em meu coração. A ferida de sempre ter um pai tirado de mim. Seja em vida ou seja em morte. Eles sempre vão embora. — Serás feliz.
Como? Como serei feliz se eu perco tudo que me enche os olhos de alegria? Nada dura para sempre comigo. Tudo que vem, uma hora vai embora. E eu já aceitei que essa é a minha maldição. Se nem os lírios brancos mantiveram sua beleza para sempre. Não será diferente para mim.
dias atuais (JUNHO)
🍂ISABELLA
🇧🇷Curitiba — Paraná
uma semana após a discussão
JÁ SE FAZ UMA SEMANA QUE sei sobre a gravidez.
Uma semana que os perdi. Sim, perdi os dois.
Perdi os encontros com Joaco e perdi toda a interação positiva que eu vinha tendo com o Raphael.
Individualmente os dois me faziam bem e agora não os tenho mais. Não como eu tinha antes. Nunca mais me olharão com a mesma admiração e amor. Agora eu sou uma decepção completa. Uma mentirosa.
Talvez eu mereça isso.
Mereça viver sozinha. Mereça enfrentar meus problemas sozinha. É assim que a vida me ensina. "Não dependa de ninguém. As consequências de seus erros são essas. Se vire sem ninguém para te socorrer".
E tudo bem, né?
Uma hora eu me acostumo com os baques da vida.
Sempre me tirando da minha zona de conforto e me deixando apenas com as recordações. Seja uma menininha que saiu de seu país aos quatros anos, perdendo o contato com seu pai biólogico. Seja uma adolescente que encontrou conforto num novo lar e num novo pai que acaba de morrer. Seja uma jovem adulta que perde o vinculo com o pai de seu bebê. E agora, seja uma mulher, uma mãe, que perde a paz de sua nova vida ao se permitir viver loucuras movidas pela emoção.
Esse é o meu destino. Paz e inferno, respectivamente.
Tudo que eu queria agora era um pouquinho de paz, sabe? Que aquieta a alma e acalma o coração. Que renova minhas forças. Que me abraça como o Piquerez e que me ouve como o Veiga.
Eu não estou correndo atrás deles. Nunca fui a melhor pessoa de bater de frente e resolver conflito. Sempre fui a medrosa que abaixa a cabeça e espera a poeira baixar.
Ambos estão respeitando minha decisão de me afastar, respeitando o meu momento "sozinha". O tempo que não pedi para ter, mas que entendem que é o melhor para mim e para... o bebê que cresce dentro de mim.
Rapidamente desvio o olhar para minha barriga.
Está lisa. Sem volume. Acredito até que eu esteja mais magra que o normal porque não vinha me alimentando direito até saber sobre esse bebê. Mas... mesmo não parecendo, tem um bebê aqui dentro. Um bebê meu. Meu filho.
Automaticamente levo uma mão até ali e faço um carinho necessário. Sentindo meus olhos pesarem enquanto me encaro. É como se eu pudesse ver meu filho agora. Estou olhando para ele. Observando minha criança.
— Você não tem culpa de nada, meu bebê. — Desabafo, sentindo as lágrimas escorrerem enquanto dou carinho a meu filho. — Nada mesmo. A vida da mamãe saiu um pouco do controle, mas eu vou deixar as coisas no eixo de novo.
Minha vida está uma bagunça sem fim, mas meu bebê não precisa sentir minhas dores. Tudo que menos quero é que meus problemas aqui fora reflitam no meu filho. Assim como cuido do Tom e o protejo de todo mal, farei com seu irmãozinho.
Ah, Deus. Eu nem contei a ele ainda. Não parei pra contar a ninguém na verdade. Tini foi uma excessão porque ela sacou de cara. Todo o resto ainda não sabe.
E ficará assim. Por enquanto. Minha vida já é uma fofoca das boas, não preciso incrementar a história com mais esse escândalo.
"A atriz interesseira que vive um triângulo amoroso acaba de descobrir uma gravidez. MAS QUEM é o pai desse bebê?"
Me sinto enjoada só em pensar nisso. Porra. Que confusão.
Já passei por uma gravidez antes, sei como funciona e vou tirar de letra. Só que não é como se eu não fosse ficar preocupada. Eu já sou uma mulher preocupada de natureza, grávida então. A preocupação se multiplica por cem.
Contudo, tenho que dar um jeito na minha vida. Eu preciso tomar uma atitude e mudar o rumo das coisas.
Seco as lágrimas e me olho no espelho à frente. Vou mudar meu destino e isso começa hoje.
Saio daquele banheiro minúsculo e caminho pelo corredor em direção a minha poltrona. Hoje embarquei numa viagem com a equipe do estúdio pra Curitiba a fim de realizar a gravação daquele segundo teste para a personagem que busco ganhar o papel.
Ficarei três dias fora do meu estado. Três dias para me preparar e para gravar a tal cena que garantirá minha vaga no teste final. Então... não posso deixar as emoções dos acontecimentos recentes interferirem.
Ainda bem que o voo não era longo. Quarenta minutos e já pousamos. Desço do avião, vou até a esteira e busco minha mala junto da equipe e os sigo pelo aeroporto até o ônibus que nos espera do lado de fora.
Mas mal puxei o cabo da minha mala e uma morena esbelta já aparece na minha cola pra me infernizar.
— Aí, amiga — Suellen fica ao meu lado e entrelaça o braço no meu como se fosse uma grande amiga. — Sinto muito.
— Pelo quê? — Puxo minha mala junto comigo enquanto caminho (de braços dados com a insuportável, infelizmente).
— Pelas fofocas recentes, querida. — Ela fala numa naturalidade que eu tenho que ser muito forte para não mandá-la pra casa do caralho. — Deve ser difícil lidar com uma mídia tão hostil.
— Eu não tenho o que temer — ajo normalmente. Usando meu talento para mentir sem esbanjar falsidade. — É apenas mais uma confusão que interpretam como querem. A verdade é apenas uma.
— Ah, para. Não precisa mentir pra mim.
— Não estou mentindo. — Deixo a voz firme. — Não é de hoje que eu enfrento comentários ofensivos na internet. Se lembra? Interesseira. Puta.
— Mas agora é diferente, não?
— Diferente no que?
— Porque tem fotos. Provas. E tudo bem, Bellinha. Sério. Eu te entendo — Suellen diz com a voz melosa de uma piranha —, sabe?? Se eu posso ter os dois, eu sentaria nos dois e foda-se.
Me viro na direção dela com pressa, me soltando de seu braço.
— Eu não estou com os dois.
Suellen sorri, debochando.
— Me conta outra. É claro que está!
— Não, não estou. E não vou aceitar que fique falando esse monte de merda sobre mim. — Jesus de Nazaré, meu rosto está queimando. Estou ficando nervosa e eu não posso perder a razão aqui. — Vai ficar acreditando em fofoquinha agora, Suellen? Pensei que você fosse melhor do que isso.
Suellen ri do que digo, achando muito divertido essa situação. Filha da puta.
— Seu filho já está próximo dele, né?
Franzo meu cenho em choque por estar falando do Tom.
— Não inclua meu filho nessa conversa.
— Talvez seja por ele que você aceite toda essa humilhação. — Suellen de repente fica séria, me medindo dos pés a cabeça. — Coitado do menininho por ter uma mãe que nem você. Não para com macho e os usa pra ter dinheiro. E... bom, é entendível já que seu sustento como atriz não te levará a lugar algum.
— Você só pode estar de brincadeira comigo, né!?
— Não, Bella. — Ela ri, entrando na personagem de adorável. É uma cobra venenosa. Estou doida pra pisar na cabeça dessa serpente. — Nunca brincaria com você. Vamos torcer pro seu pivete não herdar seu lado interesseiro. Aquele menino tem muito na vida pra ficar se aproveitando dos outros que nem a mãe.
— O que foi que você disse? — Dou um passo pra frente completamente possuída por estar falando desse jeito do meu filho. Uso as mãos e empurro Suellen pra longe. — Meça suas palavras, porra.
— Você é uma vadia. — Ela se equilibra de novo, olhando ao redor naquele aeroporto antes de continuar falando. — Aceite sua vida de merda porque todos nós sabemos pra quem irá a vaga do teste de hoje.
— Olha aqui! — Tento me aproximar, mas ela rapidamente dá um passo pra trás assustada. — Me provoque mais uma vez, Suellen, e eu juro por Deus que acabo com a porra dessa sua vida!!
— O que está acontecendo aqui? — Camilla, a diretora executiva, se aproxima de nós de repente, rapidamente apartando a briga ao se colocar em nosso meio.
— Nada, Camis. — Suellen finge naturalidade, sorrindo com uma simpatia doentia à mulher que veio conter a briga. — Apenas uma... pequena discussão. Não é, Bella?
Não respondo, estou cerrando os punhos para me conter. Mais um pouco e vou voar na cara dela que nem uma tigresa faminta.
— É verdade, senhorita Machado? — Camilla olha para mim. — É apenas uma pequena discussão?
Faço uma careta olhando da vadia para a diretora e respiro fundo. Não posso queimar meu filme. Preciso ser calma.
— É — é o que consigo responder.
— Ótimo. — Camilla olha pra Suellen. — O ônibus já está lá na saída do aeroporto à nossa espera. Você pode ir na frente, Su? Guarde meu lugar ao lado do Pablo, por favor. Ficarei grata.
— Com todo o prazer, Camis.
E sorrindo Suellen se afasta como se não fosse a maior filha da puta que eu já conheci.
— Deixa que eu te ajudo — Camilla se oferece assim que puxo a alça da minha mala.
Nem ouso em questionar. Ela é a superior aqui e acabou de me salvar. Se quiser sentar na minha cara, eu deixo. Vai saber ela me dá uma ajudinha e me passa nesse teste sem muito sofrimento.
— Me fala uma coisa — ela continua, enquanto carrega minha mala e caminhamos para longe daquela área do aeroporto —, por que Suellen tem tanta implicância com você? Não é de hoje que eu reparo nessa falsidade excessiva.
— Eu também não sei. Nem sou uma ameaça pra ela ficar me atormentando tanto. Eu... — Se eu pudesse até desabafava e dizia que a odeio. Mas manterei minha boca fechada. — Eu só respiro fundo e tento não me abalar com ela.
— Faz certo. — Camilla me parabeniza. — Mas tome cuidado com ela, já ouvi muita coisa ruim sobre você da boca dela.
Por que isso nem me surpreende?
— Ela deve espalhar muitas mentiras sobre eu ser interesseira e agora uma completa puta por me envolver com dois caras. Os perfis de fofoca também não medem as palavras.
Camilla para de andar de repente e vira o rosto em minha direção, onde posso analisá-la perfeitamente. Seus olhos são verdes. Um estranho tom esverdeado que me é muito familiar.
— Sua reputação não é algo pelo qual tem zelo, não é, Isabella? — Camilla olha no fundo dos meus olhos e através de minha alma. — Deveria se preservar mais.
— Eu tenho zelo minha reputação, sim.
— Não, não tem. — Ela ajeita a postura e olha ao redor brevemente antes de sussurrar. — Dê um jeito de limpar a sua imagem o mais rápido possível. Não deixe que eles pensem demais sobre você. Seja transparente e verdadeira, mesmo que a verdade que você viva não seja a que eles assistem. Então se tem problemas com dois caras, escolha um deles. Se case. E cumpra os protocolos.
Suas palavras são tão convictas que ganham um espaço novo em meu coração.
— Mas nunca deixe que tirem proveito de sua vulnerabilidade.
E me dando uma olhada breve, demorando em minha barriga, ela se retira e me deixa ali sozinha com suas palavras martelando na minha cabeça.
Só digo uma coisa. Tem caroço nesse angu.
A interação dos Team virá em breve.
Cadê as teorias?? Quero teorias viu??