INTERE$$EIRA ━ palmeiras

By ellimaac

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━━━━━ ❝Puta, vagabunda, interesseira, sem talento, forçada, sem graça.❞ 𝐈𝐒𝐀𝐁... More

𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟎 | 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎
𝟎𝟏 | 𝐏𝐀𝐂𝐈𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀
𝟎𝟐 | 𝐂𝐇𝐀𝐂𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟑 | 𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟒 | 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎𝐒
𝟎𝟓 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐍𝐎 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐎
𝟎𝟔 | 𝐁𝐄̂𝐁𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈
𝟎𝟖 | 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟗 | 𝐂𝐎𝐌 𝐎 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀?
𝟏𝟎 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙? 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟏𝟏 | 𝐔𝐌 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟏𝟐 | 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐀̃𝐄
𝟏𝟑 | 𝐋𝐈́𝐑𝐈𝐎𝐒 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐎𝐒
𝟏𝟒 | 𝐀𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟏𝟓 | 𝐃𝐎𝐑 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀
𝟏𝟔 | 𝐓𝐈𝐍𝐈, 𝐓𝐈𝐍𝐈
𝟏𝟖 | 𝐆𝐈𝐍𝐄𝐂𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐒𝐓𝐀
𝟏𝟗 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐈𝐍𝐀
𝟐𝟎 | 𝐁𝐀𝐑𝐂𝐄𝐋𝐎𝐍𝐀
𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟐𝟐 | 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟑 | 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄́𝐍𝐒
𝟐𝟒 | 𝐃𝐄𝐂𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐒
𝟐𝟓 | 𝐑𝐈𝐕𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀
𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟐𝟗 | 𝐆𝐎𝐒𝐒𝐈𝐏?
𝟑𝟎 | 𝐌𝐄 𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐀𝐈́𝐃𝐎
𝟑𝟏 | 𝐔𝐌𝐀 𝐂𝐔𝐑𝐓𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌
𝟑𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐀𝐍𝐃𝐎
𝟑𝟑 | 𝐑𝐄𝐂𝐎𝐌𝐏𝐄𝐍𝐒𝐀
𝟑𝟒 | 𝐄𝐑𝐑𝐎𝐒
𝟑𝟓 | 𝐅𝐀𝐂̧𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟑𝟔 | 𝐀𝐋𝐋𝐈́ 𝐄𝐒𝐓𝐀́
𝟑𝟕 | 𝐒𝐄𝐔 𝐅𝐀𝐕𝐎𝐑𝐈𝐓𝐎
𝟑𝟖 | 𝐃𝐈𝐒𝐓𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎
𝟑𝟗 | 𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒
𝟒𝟎 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝟒𝟏 | 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐃𝐀 𝐕𝐈𝐑𝐀𝐃𝐀
𝟒𝟐 | 𝐒𝐄𝐔 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟒𝟑 | 𝐄𝐒 𝐋𝐎𝐂𝐎
𝟒𝟒 | 𝐏𝐀𝐏𝐀𝐈𝐒
𝟒𝟓 | 𝐓𝐇𝐎𝐌𝐀𝐒 𝐂𝐑𝐀𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀
𝟒𝟔 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐀
𝟒𝟕 | "𝐏𝐎𝐑 𝐕𝐎𝐂𝐄̂"
𝟒𝟖 | 𝐍𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐂𝐎𝐑𝐃𝐎
𝟒𝟗 | 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐈𝐊𝐀𝐒
𝟓𝟎 | 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 𝐃𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐀𝐉𝐔𝐃𝐀
𝟓𝟏 | 𝐀 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀 𝐈𝐃𝐄𝐀𝐋
𝟓𝟐 | 𝐄 𝐀 𝐂𝐀𝐍𝐉𝐈𝐂𝐀
𝟓𝟑 | 𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟓𝟒 | 𝐏𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐑 𝐂𝐎𝐌 𝐄𝐋𝐀
𝟓𝟓 | 𝐅𝐈𝐍𝐆𝐈𝐑
𝟓𝟔 | 𝐍𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐑𝐒𝐀
𝟓𝟕 | 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐍𝐄𝐂𝐄𝐒𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟓𝟖 | 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐄𝐕𝐎𝐋𝐔𝐈𝐑
𝟓𝟗 | 𝐍𝐎 𝐏𝐔𝐄𝐃𝐎 𝐌𝐀́𝐒
𝟔𝟎 | 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀 𝐍𝐎 𝐋𝐔𝐆𝐀𝐑
𝟔𝟏 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐋𝐓𝐄𝐈𝐑𝐀
𝟔𝟑 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟏
𝟔𝟒 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟐

𝟏𝟕 | 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐀 𝐂𝐎𝐌𝐈𝐆𝐎

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By ellimaac

ISABELLA
São Paulo - Capital
uma semana depois

SE REALMENTE HAVIA paparazzi na frente do meu prédio aquele dia, eu nunca irei saber pois já se passaram oito dias e nenhuma fofoca saiu sobre mim. Graças a Deus, né? Afinal não terei problemas com a minha imagem devido a um escândalo.

Isso é uma coisa maravilhosamente boa. O que não é bom é o que está acontecendo com meu corpo nesse exato momento.

Estou tendo uma crise de ansiedade. E isso por diversos motivos que se acumularam e decidiram me maltratar de uma só vez.

Estou acordada desde às quatro da matina e agora já deve passar das seis. Duas horas em claro, parada na mesma posição, com o corpo tremendo e com a cabeça doendo pela quantidade de pensamentos.

— Merda — sussurro pra mim mesma enquanto passo a mão pela testa, sentindo o suor frio escorrer.

Não aconteceu nada de bom nessa semana.

Isso começou com meu desentendimento com Piquerez. Desde aquele dia, eu venho pensando muito na minha conversa com ele. Na forma como ele surtou e na forma como eu lidei com aquilo. Acho que aconteceu o que eu mais temia nessa nossa brincadeirinha de amizade colorida: os sentimentos se confundiram.

E tudo por causa do Veiga. Eu não sei exatamente o que Joaco sente em relação a isso, mas sei que ele não aprova.

Não acho que signifique que Joaco criou sentimentos por mim. Isso não vai surgir de repente. Se ele nunca sentiu ciúmes antes e está sentindo agora, significa que ele se sente ameaçado com a presença do Veiga, o que é totalmente diferente de ele estar apaixonado por mim.

Joaco acredita que se eu manter qualquer tipo de contato com o Veiga, consequentemente eu perderei o contato com ele, afinal eles são amigos de time. E as coisas vão ficar estranhas pra nós três.

Por isso, quando refleti que as coisas saíram do controle na minha relação com o Piquerez, tentei dar uma esfriada. Pra gente ter um tempinho pra pensar, se organizar e ver o que a gente pode fazer.

Foi aí que eu percebi que deu ruim.

A gente não se fala a uma semana. Ele não me manda mensagem, não me procura. Eu também não faço o mesmo. E beleza. Afinal é assim que funciona quando se dá um tempo.

Mas isso é uma merda pra mim porque as coisas não saíram como eu queria.

Se o Piquerez se tornou ciumento, eu também me tornei. Porque eu vi umas fotos vazada dele num evento de sertanejo e... ele estava com uma menina.

Okay. Tudo bem. Isso é normal. Ele sempre pegou outras pessoas, e eu nunca me incomodei com isso. Nada muda. Até agora.

Com o nosso afastamento, pareceu tanto que ele quis provar alguma coisa. Tipo: "querida, eu estou livre e faço o que eu quiser mesmo se você não estiver fazendo".

No nosso acordo de amizade colorida, estaríamos livres pra nos relacionarmos com outras pessoas. Piquerez sempre teve mais facilidade pra isso. Eu já não.

Não tenho costume de sair pegando quem eu quiser. Eu tenho todo um processo até conseguir enfim ficar com a pessoa. Não é atoa que eu tenho problemas e recaídas com meu ex e um caso secreto com meu melhor amigo. É mais fácil.

Mas com o Piquerez é diferente. Ele consegue a mulher que ele quer e não tem limite algum em pegá-la. Faz uni-duni-tê e pega.

Eu nunca cheguei nele e falei que não gostava que ele ficasse com outras pessoas. Realmente não era um problema. Até hoje. Até eu me sentir confusa pra caralho e achar que me afastar era a melhor opção.

Ele está com ciúmes de mim e eu estou com ciúmes dele. Mas agora estamos "afastados".

Não sei o que fazer.

E isso está me estressando. Ao ponto de eu não conseguir dormir.

E, bom, FODA-SE todo esse mar de merda e confusões emocionais. Eu tenho que me dedicar no que importa. Minha carreira.

Hoje eu tenho um teste muito importante. E estou ansiosa pra isso também. Ansiosa pra cacete.

Me preparei por um mês. Estou treinando, ensaiando. E sentindo a cada dia a competição que me cerca. Tenho o dever de passar e isso está acabando com minha cabeça. Também.

É um problema atrás do outro.

E estou tão estressada, com tanta emoção acumulada, que até a minha menstruação atrasou. Era pra ter descido ontem. Mas tudo bem, atrasos são comuns. E esse é o primeiro dia. Devo me preocupar com a menstruação daqui quinze ou vinte dias. Se não descer até lá, está carimbado a minha derrota como mulher.

O que acontece com meu corpo é um reflexo de como anda minha cabeça, não tem nem como discordar, né?

Marquei minha ginecologista pra amanhã e vou aproveitar pra marcar com a psicóloga também. Preciso conversar e entender o que sinto. Colocar minha cabeça no lugar e cuidar da minha saúde mental um pouco. Olha só como estou hoje. Duas horas em claro.

Não dá pra continuar assim, né? Com problemas com as duas únicas pessoas que me relaciono. Ansiosa pra um teste. Conflitos com a minha rival no serviço que é super talentosa. E todas as outras coisas que me cercam.

Preciso seguir minha vida. Tenho que sair daqui e tomar uma atitude. Eu sou adulta, mãe, tenho muitas coisas com que me preocupar. É comum que minha cabeça esteja cheia de afazeres e deveres. Só não posso me permitir ficar nessa cama para sempre.

Por isso, rapidamente me levanto, forçando meu corpo a fazer algo que preste.

Caminho até o outro lado só para acordar o pequeno ser humano que dorme tranquilamente em minha cama. Tom teve pesadelos e quis dormir comigo essa noite. Não reclamei. Muito pelo contrário, eu até prefiro ter o calor de uma companhia do que ficar sozinha a noite inteira.

— Filho — dou um beijo no alto de sua cabeça, acariciando seu bracinho e o despertando. — 'Tá na hora de acordar.

— Hum, eu 'tô convetandomeladoci... — ele resmunga, falando diversas coisas impossiveis de entender por causa do sono.

Tom pisca diversas vezes, depois esfrega os olhos e eu o ajudo a se sentar. Isso aqui virou costume. É um processo até que ele esteja cem por cento despertado. Eu o espero sem apressar.

— Bom dia, mamãe — ele sorri assim que entende que não está mais no mundinho dos sonhos e me dá um beijo na bochecha.

Meu coração fica quentinho só com essa demonstração de amor. Levo Tom pro banheiro e o ajudo a tomar banho. Ele já sabe se ensaboar, mas ainda precisa da minha orientação para ficar totalmente limpo. Depois disso, eu o ajudo a se trocar, arrumo os cachinhos e preparo o leite com nescau pra ele que toma assistindo um pouco de desenho na tv enquanto eu aproveito o momento livre e vou me aprontar.

Me arrumo mais rápido do que o normal porque quero chegar mais cedo no estúdio pra me preparar devidamente pro teste.

Percebo que a tremedeira continua enquanto ergo minha calça. Meus dedos estão trêmulos pra um cacete. Não sei se devo tomar um remédio ou me encher de comida. O que seria bom pra ansiedade? Camomila?

— Mamãe, meu dente 'tá mole — Tom vem até meu quarto correndo com um dedo na boca. — Acho que vai cair.

— Mentira!!! — Arregalo os olhos e me ajoelho na frente dele. — Deixa eu ver.

Toco no dentinho de baixo que ele indica e mexe pra frente pra trás, notando que realmente está ficando mole.

— É, 'tá começando a ficar.

— Vai cair quando?? — Ele se anima, ansioso. — Hoje?

— Não. Vai demorar um pouco ainda. Ele vai amolecer mais, 'cê vai sentir. Só não fica o tempo inteiro tocando. — Já dou o aviso pois percebo que agora ele mal consegue tirar o dedo da boca.

— Pode cair enquanto eu como?

— Dependendo do que você comer. Uma vez meu dente caiu enquanto eu comia maçã.

— Vou comer bastante maçã pra ele cair, então. Quero ter uma janelinha que nem o Matteo.

Meus olhos se enchem de lágrimas só de imaginar Tom com uma janelinha. Jesus, passou tão rápido. Parece que foi ontem que ele nasceu. Que aprendeu a andar, depois a falar. Ou até quando o primeiro dentinho nasceu. Agora já está até trocando a dentição. Meu menino está crescendo tão rápido.

— Vai ficar uma janelinha muito linda, Tom — deixo as emoções falarem mais alta

— Nossa, mamãe. Não precisa chorar. — Ele nota meus olhos marejados. — Quer um abraço?

Sorrio, aceito o abraço do meu filho e me esforço dez vezes mais para não cair no choro. Hoje eu estou muito mais sensível do que o normal e qualquer demonstração de carinho, principalmente do meu filho, me deixará muito mais emotiva.

— Preciso falar pro papai. — Ele diz ao se afastar do meus braços. — Deixa eu ligar pra ele?

Pego o celular e entrego a meu filho que rapidamente sai do meu quarto para falar com o pai na chamada de vídeo.

Aproveito a breve solidão e termino de me arrumar. Depois vou até a cozinha e tomo um caprichoso café com pão e ovos.

— Olha — Tom aparece na cozinha minutos depois, me estendendo o celular. — Meu pai quer falar com você.

Franzo o cenho, estranhando, mas apoio o celular no caneca de vidro e vejo a fuça do Veiga na tela logo em seguida. Tom, sem curiosidade dessa vez, volta pra sala e me deixa ali sozinha com seu pai.

— 'Cê 'tá bem? — É a primeira coisa que Raphael Veiga pergunta.

— 'T-tô.— Só Deus pra explicar o quanto ouvir a voz dele e ver o rosto dele está fazendo meu coração palpitar diferente. — Que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Eu que te pergunto, Isabella. Seus olhos estão fundos pra cacete.

— 'Tá tão perceptível assim?? — Clico na tela e deixo minha cara em evidência na câmera, notando como minha expressão aparenta cansaço. — Merda, não posso ficar com essa cara de sono.

— Não dormiu direito?

— 'Tô ansiosa — deixo escapar. — Lembra do teste que eu disse? Então, é hoje.

— Você vai conseguir — ele tenta me motivar. — Você é talentosa, sabe disso.

Tento não me abalar muito com as palavras de Veiga e nem com o efeito que me causa. Mas é difícil. Ele me olhando assim e essa maldita voz está me levando pra aquele dia na casa dele. Na cozinha dele. Ele me colocando na bancada e... Chega.

— Se Deus quiser — respiro fundo e mudo o foco do assunto rapidamente para poder encerrar essa conversa rapidamente. — Mas o que você quer falar comigo?

— Tom 'tá querendo dormir aqui. Não quer vir também?

Minha cara inteira franze diante dessa pergunta.

— Dormir na sua casa, Veiga? Eu?

— É — olho bem pra expressão dele e vejo que está falando sério. — Não acha que a gente precisa conversar, Isabella? Eu... o que aconteceu naquele dia...

— Não relembre esse dia, Veiga — ordeno com a voz firme. — Esqueça. Foi um erro. Finja que nada aconteceu.

— Eu não sou tão bom quanto você.

— Se vira, não 'tô nem aí. Foi um erro.

— Porra, Isabella. — Ele fica meio nervoso, sem saber como se explicar. — Isso não pode estar só me perturbando. Está te atormentando também, eu sei. Eu só quero conversar.

— Veiga, pelo amor de Deus, esqueça isso e...

Sou interrompida pelo som da minha campainha.

— Mãe!? É a tia Tini!

— Esqueça, Veiga! — É a última coisa que digo antes de desligar a chamada, guardar o celular e abrir a porta para minha irmã.

— Oi, Isa — Tini passa pela porta da minha casa correndo em direção a cozinha e volta de lá com uma maçã na mão. — Nunca pensei que você se tornaria mais saudável do que a mamãe. Acredita que na casa da velha não tem uma fruta gostosa?

— Mãe ainda 'tá viciada em jaca, é? — O cara da feira fez uma promoção pra minha mãe que deve ter jaca pra uma semana.

— Só de sentir o cheiro já me dá vontade de vomitar.

— Eu odeio jaca — Tom informa, com uma careta, saindo do sofá e ficando ao meu lado.

— Somos do mesmo time, loirinho. Bate aqui — Tini ergue a mão pro meu filho que bate logo em seguida. — Agora vamos, que vou aproveitar sua carona pra ficar lá no Plaza.

— Vai fazer o que no Plaza Shopping essas horas, Martina?

— Credo, Isabella — minha irmã se indigna com meu tom. — 'Tá falando que nem a mamãe. Cruzes. Eu vou me encontrar com a Pilar. Vamos gravar uns conteúdos pro YouTube.

— Virou youtuber agora?

— Não, hermana. Eu sou fotógrafa, filmmaker e tudo que você imaginar que fica atrás das câmeras. Pilar é minha ajudante. — Ela me lembra. Tini embarcou nessa profissão enquanto ainda estava na Argentina, não sei muito sobre como anda sua vida. — Mas talvez você conheça a menina que me contratou.

— Quem?

— Juliane Castello.

— Nunca ouvi falar.

— Ela é tiktoker, influencer. É bem famosa até. Pensei que você conheceria por... sabe, meio que estarem no mesmo ramo da fama.

— Ah não — balanço a cabeça em negação. — Surgem subcelebridades o tempo inteiro, Tini. Principalmente através do TikTok. Agora vamos que estou atrasada. Tenho que deixar Tom na escola ainda e preciso chegar uns vinte minutos antes do teste.

Deixo Tini e Tom no shopping e na escola respectivamente e depois dirijo mais alguns minutos até enfim chegar no estúdio.

Respiro fundo enquanto espero ser chamada. Nos reuniram numa única sala de espera.

Há umas vinte mulheres aqui, pelas minha contas, umas mais velhas, outras mais novas. Algumas até bem conhecidas.

Um arrepio gelado faz minha coluna ficar ereta naquele assento. A concorrência é tenebrosa, porra. Pensei que a Suellen seria minha maior rival, mas talvez eu esteja enganada.

Falando em Suellen, ela está ali, numa das primeiras cadeiras perto da porta onde faremos o teste. Ela está sorridente enquanto conversa com as outras. Simpática. Clássico dela. Sempre rodeada de gente mesmo num dia de teste onde todas compartilhamos a mesma ansiedade.

De repente, sou pega de surpresa, pela mulher que se projeta a minha frente. Ela usa um terninho que prova que não é umas das que disputam a vaga. O cabelo loiro liso perfeitamente ajeitado atrás da orelha.

Ao erguer a cabeça consigo notar o crachá em seu pescoço o que prova que é alguém importante.

— Olá — me estende a mão, mas é seu sorriso meio macabro que faz meu coração acelerar. — Me chamo Camilla. E sou a diretora executiva da série.

— Ah, oi — sou pega totalmente de surpresa quando ela dirige a palavra diretamente a mim. Pego em sua mão e tento não transparecer nervosismo.

— Vamos.

Franzo o cenho.

— Vamos? — Olho para o lado, vendo que as outras meninas pararam o que estavam fazendo pra prestar atenção em mim e na diretora. — Eu serei a primeira?

— Sim.

Nem ouso questionar. Apenas me coloco de pé e a sigo até aquela porta, onde ela entre a minha frente e rapidamente caminha até um banco, se acomodando ao lado de sua equipe muito bem posicionada. Eles só estavam a aguardando para começar o trabalho.

Eu sei quem ela é. Camilla Martins. A diretora principal da série. A mulher que me julgará e determinará se sou apta para o papel. Puta que pariu. Por que ela foi falar logo comigo? De cara, eu sou a primeira? O universo está afim de brincar comigo hoje.

— Se posicione — Camilla me ordena assim que atravesso o vão e a porta se fecha atrás de mim.

Calmamente, e com os punhos cerrados para conter meu nervosismo, caminho até a marca feita por fitas vermelhas no chão. Um grande X para que a pessoa não erre o lugar onde deve se posicionar. Há luzes, muitas luzes direcionadas ao ponto onde eu agora estou, sem contar a enorme câmera prestes a filmar meu desempenho.

— Diga seu nome completo — pede um dos auxiliares de Camilla, um cara de meia idade que usa uma camisa social pink e agarra uma prancheta.

— Isabella Machado de Oliveira.

— 24 anos, não é? — Assinto em confirmação enquanto ele escreve os meus dados. — Esse é o teste um de três, querida. Como você já é da emissora, sua posição está entre as dez favoritas para o papel.

— Isso não há torna especial — Camilla não deixa de me lembrar, as pernas cruzadas sobre aquele banco alto, a postura de quem está pronta para acabar com minha vida. — Mas te favorece. Veremos como se sairá.

Engulo em seco, sem concordar ou discordar.

— O teste funcionará da seguinte maneira, senhorita Machado — Camilla diz meu sobrenome com uma entonação que faz meu cu trancar. — Foi dividido em três etapas. 20 garotas de dezoito a trinta anos foram selecionadas para o teste inicial. As cinco melhores serão classificadas para o teste 2, o qual será feito em Curitiba, num dos nossos estúdios já montado para a série. Lá vocês gravarão uma cena de teste. Curta, de dois minutos. Essa será divulgada em nosso site privado e toda a produção executiva e o elenco principal terá acesso. Haverá uma votação e as duas melhores serão classificadas para o teste 3. A fase final. Se...

Ela limpa a garganta, me lançando um sorrisinho.

— Se você se classificar, o que já é um grande feito, viajará com a minha equipe para o Rio de Janeiro e terá sua primeira cena oficial da série gravada. Ao lado de Reynaldo Gianecchini... Lá não veremos apenas o seu talento como atriz, senhorita Machado. Veremos como trabalha sob pressão. Diante das muitas câmeras e de diversos takes sendo gravados incessantemente. Além, é claro, de saber se você tem quimica com o nosso ator principal.

O auxiliar, o carinha da prancheta, olha para sua chefe e abafa uma risada como se já soubesse que não tenho capacidade para tal coisa. Como se duvidasse do meu potencial ou como se conhecesse perfeitamente a minha total frieza em ter quimica com um cara tão gigante quanto o Reynaldo.

— Mas — Camilla bate uma mão na outra — não vamos nos antecipar, não é mesmo? Vamos ao que interessa. Hoje você terá 5 chances para provar a nós que o papel pertence a você, faça o seu melhor. Nos surpreenda. Vamos começar? Ação!

Quando saio daquela sala, minha garganta está dolorida e há um borrão branco em minha visão causada pela luz forte que ficou iluminando a minha cara pelos trinta minutos que fiquei naquele lugar.

Que tortura. Me fizeram encenar uma fala curta (apenas um paragrafo) cinco vezes. Acho que eles queriam ver se eu conseguia manter a atuação. Quando acabei, me entregaram uma folha de papel que continha todos os dados do teste de hoje, incluindo o meu login e senha para saber o resultado que será publico no site daqui três dias.

Eles me levam pra um camarim separado especialmente para as meninas que fizeram o teste e uma por uma é encaminhada para lá. O lugar se enche de repente. As mulheres respirando, se recuperando do teste enquanto bebem água ou café e comem umas bolachinhas que prepararam para nós.

Eu não consigo comer nada. Estou aflita.

Era pra eu me sentir melhor depois que eu fizesse o teste. Mas me sinto pior. Agora estou ansiosa em saber o resultado. Mas tenho que ter paciência. Ele será divulgado daqui três dias ainda.

— Ah, essa personagem foi feita para mim! — Uma linda morena diz assim que chega no camarim, rapidamente pegando um copo de água. — Não tive dificuldade nenhuma.

Ignoro Suellen, sem saco pra aguentar ela se gabando. Diferente das outras que rapidamente se animam com a morena e vão pra cima dela, querendo saber tudo sobre o teste dela. Já posso imaginar, ela encantou a diretora e sua equipe assim como faz com todo mundo.

— Oii, Bella — Suellen vem até mim.

Essa mulher deve saber que eu a odeio, não é possível que ela esteja querendo logo a minha atenção quando todas aqui já estão dispostas a oferecerem atenção de sobra.

Tento guardar minha indiferença enquanto ela abraça meu ombro e puxa um assunto completamente aleatório.

— Você deve conhecer todo o elenco do Palmeiras, né?

— Conheço — digo sem muito me prolongar, pois não quero me irritar mais do que já estou.

— Então deve conhecer o Piquerez, aquele gostoso. Nossa, ontem ele 'tava sem limites!

Ah, não, Joaco. Por favor, não. Pegar outra pessoa, tudo bem. Isso eu posso e devo aceitar, agora pegar minha maior rival é de cuspir na minha cara.

— É — engulo meu ciúmes e finjo normalidade. — Até conheço.

— Ele é super diferente daquele seu ex meia boca que mal me olhou. Metido aquele Raphael, né? Mas o Pique, aí minha nossa!! — Ela começa a se abanar como se estivesse realmente excitada. — Você devia ver como ele me abraçou ontem, aquele cheiro no cangote, sabe? E depois...

Me levanto da cadeira na hora, sem mais conseguir ouvi-la. Isso é demais por hoje. Caminho pra longe, bem longe, deixando-a falando sozinha.

— Eii, pra onde você vai? Volte aqui. Eu não terminei.

Ando com a mão na boca pois ouvir toda essa conversa está me deixando enojada pra caralho.

Estou fugindo, tentando me livrar daquela vaca que fala do Piquerez como se eles tivessem ficado ou, pior, transado. Será que isso aconteceu? Aí, céus! Por que não aconteceria, né? Suellen é linda, Piquerez é solteiro. Ele faz o que quiser com quem quiser, não importa se é minha rival.

Esbarro em alguém no meio do caminho e quase sou arremessada na parede pelo impacto. Me apoio na escrivaninha mais próxima para voltar o equilíbrio enquanto minha cabeça continua girando.

— Olha por onde anda, interesseira!

Interesseira?

Forço minha visão embaçada para encarar o homem que esbarrei e a primeira coisa que ganha foco é aquela camisa social pink horrorosa. O cara da prancheta. E ele me chamou de interesseira. Porra, ele sabe. E se ele sabe do meu histórico, provavelmente toda a equipe da Camilla sabe também.

— Ai, não a chame assim, Pablo — Suellen repreende o auxiliar assim que me alcança e coloca as mãos em meus braços, pra me ajudar. — O que ela fez no passado não define quem ela é hoje.

O que eu fiz no passado? Isso só pode ser piada.

— As fofocas circulam muito rápido, senhorita Medeiros — ele abafa uma risadinha. — Conhecemos todas vocês pela índole. E Isabella nunca soube preservar a imagem pública. Não é, senhorita Machado? Como anda o pequeno Thomas!?

Puta que pariu, ele sabe demais sobre a minha vida. Isso vai me prejudicar muito na hora da decisão. Merda, merda. Eu não vou passar porque minha fama de interesseira é maior do que minha carreira.

Isso me preocupa tanto que eu só tenho tempo de virar a cabeça pro lado oposto e vomitar o pouco que eu comi no café da manhã.

ESSE CAPÍTULO EIN.

A Isa sentindo o peso das merdas que anda cometendo enquanto tem uma vida para administrar.

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