ISABELLA
São Paulo - Capital
algumas semanas depois
RETIRO O CURATIVO DA TESTA do meu filho, com delicadeza para não machucá-lo. Ele retirou os pontos ontem, mas ainda estamos cuidando da ferida pra não pegar nenhuma infecção. Retiro o curativo e percebo que já está bem cicatrizado, logo logo estará novinho em folha.
— Não está nada mal — digo a ele.
— Mãe, deixa eu ver — ele se levanta e fica de frente pro espelho da parede mais próxima, olhando bem pra marca do corte em sua testa. — Ficou horrível!!
— Ah, para, Tom. Ficou só uma marquinha.
Que ainda está avermelhada. A pele dele é muito branca e sensível, então a coloração da ferida não está das melhores. Meio amarelada e esverdeada, sem contar a vermelhidão da cicatriz. Mas isso é questão de tempo até sair.
— Eu estou ridículo, mãe — Tom olha pra mim completamente inconformado de sua aparência. — Parece que eu passei batom na testa.
Dou risada do que diz, sem conseguir me controlar.
— Você é uma figura, meu filho.
— É sério, dá não — o menino vem em minha direção só para roubar um dos curativo limpos que seguro. — Vou tampar até minha pele estar normal de novo. 'Tô horrível.
— Lembra do que o médico disse? — Meu filho não me responde quando se senta de frente para mim, esperando que eu aja. Ou melhor, me obrigando a agir com pressa. Pego curativo e coloco sobre sua testa. — Ia demorar pra ficar normal. Foi um corte, né, Tom?
— Tudo bem. Mas até lá, você vai ter que dar um jeito nisso, né? Não posso ficar assim. Cadê a bandana?
— Você não vai de bandana pra escola.
— Então a touca. Qualquer coisa que tampe minha testa, mamãe. Poxa, me ajuda.
Dou risada de seu desespero, achando toda essa situação muito engraçada e divertida.
— Nesse calor, Tom!?
— Minha escola tem ar-condicionado — ele fala com uma naturalidade que eu me pergunto seriamente se ele só tem cinco anos. — E eu não estou fazendo Educação Física, esqueceu? Não vou suar. 'Tá de boa.
Suspiro, sem acreditar que ele quer mesmo ir de touca pra escola.
— Só vou ter a touca preta — informo, tentando convencê-lo de que é uma péssima ideia. — Aquela que você odeia.
— A que é reta e toda preta?
— Sim.
— Serve — ele dá de ombros, voltando a se olhar no espelho quando o curativo já está preso em sua testa.
A única coisa que preocupa o pequeno Thomas nesse momento é sua aparência.
Vou até meu quarto e procuro pela touca preta que meu filho quer tanto usar, depois volto para o quarto dele e entrego ao menino que nem precisa da minha ajuda para colocá-la e deixá-la bem baixa em sua testa para tampar o curativo branco.
— É... — Ele faz uma careta, analisando seu reflexo. — Dá pro gasto, não?
— Quanto drama, viu, Thomas.
— Oxi, mãe, você quer que seu filho ande feio agora? — Ele me encara de braços cruzados. Quase como se estivesse me dando um sermão. — Péssima mãe.
Ah, Jesus, eu estou ficando mole mesmo.
— Garoto.
— Te amo, 'tá? — Ele me pega de surpresa ao abraçar minha cintura. — Agora vamos tomar nosso café da manhã que eu ainda tenho que ir pra escola.
E, segurando minha mão, ele me conduz até a cozinha para que eu faça sua refeição.
Thomas está crescendo. E rápido.
Me lembro como se fosse ontem quando ele aprendeu a andar, a falar, a fazer as coisas por conta própria. Sempre esperto e avançado pra idade dele. Sempre mostrando ser independente.
Isso me assusta, porque ele é meu menininho. Não quero que ele vire um homem. Quero que ele continue sendo o Thomas que me pede ajuda e me pede para preparar a comida, ou o leite com chocolate.
— Sério, mãe? — Tom questiona assim que eu coloco a salada de frutas que acabei de preparar bem na frente dele. — Eu mereço um sucrilhos!
— Desde quando eu deixo você comer essas porcarias?
— Eu 'tô dodói.
— Coma a pera, Tom! — É o que digo, com a voz firme, enquanto empurro a tigela na direção dele. — Comer besteira não vai ajudar a cicatrizar sua testa.
Tom faz uma careta e joga o pedaço de pera pra dentro da boca, contra a própria vontade, afinal tudo que ele menos quer agora é comer uma fruta.
Estou sorrindo de sua careta quando a campainha toca e eu sei perfeitamente quem é, já havia recebido uma notificação do porteiro que eu teria visitas. Ou melhor, Tom teria visitas, afinal, quem acaba de chegar não está aqui por causa de mim.
— Oi — Veiga me cumprimenta com um sorriso e rapidamente vai entrando na minha casa. — Tentei chegar a tempo de levá-lo pra escola. 'Tô no horário, né?
— Por sorte, sim.
— Ótimo. — E ele continua sorrindo. Um maldito sorriso lindo. Vai se foder, vida. Não começa a me iludir logo cedo, por favor. — Onde ele 'tá?
— Na cozinha.
Veiga rapidamente segue caminho, sabendo onde fica minha cozinha. Afinal, meu apartamento não é tão grande para alguém não saber onde fica cada cômodo. Mesmo assim, a facilidade dele em andar pela minha casa, como se estivesse acostumado com o lugar, me assusta.
— Oi, filhão!!
— Papai, por favor, me salve desse monstro saudável!! — Tom aponta para mim.
— Não me fale que ela está te entupindo de frutas? — Veiga analisa a tigela que Tom cutuca com o garfo, sem vontade alguma de comer. — Poxa, Isabella. Coitado do menino. Nem pra ser um queijo quente. Ele 'tá dodói.
Estão vendo pra quem o Tom puxou com o drama? Ele é igualzinho ao pai.
— Eu aceitava até um pão com ovo — Tom dramatiza, fazendo um biquinho.
— Relaxa, campeão. — Veiga arregaça as mangas do uniforme do Palmeiras que usa e se aproxima da geladeira, pegando queijo e ovos dali de dentro. — A sua salvação chegou.
Reviro os olhos e decido não protestar. Que tipo de poder eu terei quando o pai já está tão decidido a fazer as vontades do filho? Pelo menos um pão com ovo continua sendo uma refeição saudável.
— E essa touca aí? — Veiga se aproxima do Tom mais uma vez, só para pegar a frigideira que fica no armário ali perto. Ele sabe demais sobre a minha casa, puta merda. — 'Tá parecendo um malandro.
— Malandro?? — Tom se choca, sem entender a quem seu pai se refere. — Ô mãe, 'cê não falou que 'tô cara de bandido!!!
Veiga cai na gargalhando, dando um abração no filho e o fazendo rir também. De repente, como um passe de mágica, o clima fica leve. O ambiente fica maravilhoso, como se fossemos a família perfeita. E esse fato, o fato de termos química como família, que funcionamos perfeitamente bem juntos, faz minha mente gritar e meu coração bater mais forte.
Rapidamente, minha mente me leva ao erro que cometi com Veiga.
Será que, de alguma forma, quando não estou sóbria, eu tenho esse tipo de pensamento? Em achar que tenho química com Raphael Veiga e esquecer de tudo que já passamos como casal, o que levou ao nosso término? Será que a única coisa que importou pra mim, naquele dia na casa da Clarisse, foi o fato de estar com ele e de funcionarmos tão bem juntos?
"É só fingirmos que nada aconteceu."
Queria eu poder fingir que nada aconteceu. Que não transamos e que isso não me perturba desde então.
É difícil, principalmente com momentos como esse, onde estamos juntos, agindo como família. Onde Tom está feliz, Veiga à vontade preparando um pãozinho pro nosso filho e eu sorridente fazendo um suquinho de morango pra incrementar nosso café da manhã perfeito.
Isso aqui é o sinônimo de família perfeita, se não soubéssemos a verdade.
Levo uma mão a têmpora, desligando o liquidificador com os morangos agora batidos e sentindo minha visão escurecer brevemente enquanto a dor toma conta de todo meu crânio. Pensar nisso tudo só me causa ainda mais dor de cabeça, olhem só.
Para aliviar, respiro fundo e trinco os dentes.
— Tudo bem? — Veiga pergunta, notando minha careta de dor. Ele acaba de entregar o pão a Tom que rapidamente começa a devorar.
Apenas ergo a cabeça e forço um sorriso.
— Dor de cabeça — dou a desculpa, ignorando o incômodo que continua se estendendo pelo restante da minha cabeça. — Nada demais, vou tomar um Dorflex pra ver se ajuda.
— Dor de cabeça do nada? — Veiga se preocupa e eu pensando seriamente que ele se daria como satisfeito apenas com uma simples desculpa. Pelo visto ele quer entender o que me deixa mal. — Não dormiu bem?
— É... — Coloco a jarra com o suco em cima do balcão e o restante da louça eu jogo na cuba, logo depois procuro um pano para secar minhas mãos. — Insônia, 'tô preocupada com um teste que eu vou ter mês que vem.
Não só isso. Mas Tom vem reclamando muito de dor durante o dia. Quando chega a noite, acabo ficando preocupada em excesso se ele vai estar bem e se dormirá sem problemas. Isso só faz com que meu sono vá para puta que pariu. Quando acordo, me sinto péssima pois não descansei o suficiente. Meu corpo implora por uma cama e uma mente sem deveres.
— 'Cê vai tirar de letra.
Um sorriso involuntário surge em meus lábios sem que eu nem possa pensar em evitá-lo.
— Talvez — duvido da minha própria capacidade. Sou uma boa atriz, não duvido disso. Me dedico e tenho talento. O que me falta é currículo e um pouco de boa fama também. — A concorrência é superior. Suellen disputa o mesmo papel que eu, é quase certo que ela irá passar.
— Suellen Medeiros? — Ele pergunta, sabendo bem de quem falo.
Rapidamente franzo o cenho e o encaro, afinal eu só disse um simples nome, existem muitas Suellen pelo Brasil, muitas atrizes também.
— Sim, pai, a vaca! — Tom responde por mim e eu olho para ele com os olhos arregalados pelo xingamento inesperado. — Que foi? Foi assim que você chamou ela pra vovô.
— Ai, meu Deus.
Veiga começa a rir da situação, achando muito divertido.
Contudo uma única coisa pertuba minha cabeça nesse momento. Uma coisa que eu não sei porque me pertuba tanto, mas quero muito saber. Por que Veiga conhece Suellen? Ele não é do tipo que curte novela. E ela por ser famosa pode... ah, Deus.
Engulo em seco em imaginar tal coisa. Veiga com a Suellen? Puta que pariu. Isso seria terrível. Um nojo. Sim, caralho. Visualizar os dois se beijando é demais para minha cabeça assimilar. Sinto uma pontada forte bem no meio da minha testa outra vez e minha barriga embrulha tanto que eu me encolho toda pra não vomitar.
— Minha mãe disse que a tal da Suellen fica fazendo de tudo para que ela se dê mal no serviço, papai.
— É mesmo? — Veiga se interressa pelo que o filho diz. — E por quê? Suellen não se garante?
— Ela é uma desgraçada — olha eu não medindo esforços para xingá-la. Mesmo sabendo que tem uma criança presente que repete tudo que ouve. — Essa semana, fiquei sabendo que ela roubou meu camarim porque achava melhor do que o dela, sendo que são todos iguais. Fiquei três dias usando um improvisado até minhas coisas finalmente estarem arrumadas. Sério, se eu não conseguir essa vaga, e ela passar no meu lugar, eu largo essa carreira de uma vez.
— Não fale assim, Isabella. Você vai conseguir.
— Ela tem contatos, Veiga. A mídia a adora. O que é bem diferente pra mim, você sabe.
Não preciso lembrar minha fama de interesseira para que Veiga entenda a que estou me referindo.
— E isso conta?
— Muito — digo como se fosse óbvio, e é. — Na verdade, é o que mais conta. Eles não se importam com o conteúdo apresentado, eles se importam com quem eles apresentam. É que nem assistir um filme que tenha o The Rock. O filme pode ser uma merda, mas todo mundo vai querer assistir.
— Pensando por esse lado.
— Eu fiz uma novelinha sem muita audiência e não fui a protagonista. Todos os outros papéis que participei também não foram de grande reconhecimento. A Suellen não. Ela está acostumado com o palco que a colocam. Já fez grandes personagens. E do lado de fora, nos bastidores, ela é amada. Reconhecida. Emporada. Independente. Uma mulher forte. Colocando nós duas na balança, é, tipo, Angelina Jolie e Joey King. Eu perco.
Veiga assente, enchendo um copo com suco de morango que acabo de preparar, mas rapidamente contrapõe:
— O talento conta muita mais, Isabella.
— Não com a Suellen.
— Ah, qual é? — Ele faz uma careta de indignado. — Ela é totalmente superficial, é impossível não perceber.
— Seja lá onde for que tenha encontrado a Suellen — tento não pensar muito nesse acontecimento e acabo falhando drasticamente. — Você deve ter percebido que ela tem presença. Que tem um poder de sedução.
— Pra mim, só pareceu forçada pra cacete.
— Ah, Veiga, ela é lindíssima — ele franze o cenho, quase como uma careta de nojo. — Deve ter se jogado pra cima de você como eu sei que ela faz e tentado a todo custo conseguir o que queria. E... ela conseguiu?
— Conseguiu o quê?
— Te seduzir.
Veiga ri, desacreditado.
— Não precisa mentir pra mim — digo antes que ele prepare uma mentira a dizer. Já tenho o vislumbre perfeito da cena. Veiga e Suellen numa festa, ela toda encantada por ele ser atleta e não perdendo tempo em convidá-lo para um de seus quartos. — É só dizer.
— Você está tentando me convencer de uma coisa que não aconteceu, Isabella.
— Só estou prevendo algo óbvio — minha voz fica mais amargurada enquanto nos aproximamos a cada palavra que pronunciamos.
— A única coisa óbvia é que sua rival realmente tem presença. — A voz dele também fica amargurada, meio irritada por eu duvidar do que me diz. — Mas não precisa analisar muito para saber que é uma mentirosa. Não sei porque está se questionando disso, você não acha a Suellen uma forçada? Por que está duvidando?
— Porque eu conheço ela — digo firme, olhando em seus olhos castanhos tão próximos de mim que posso ver suas pupilas. — E eu conheço você.
— Se me conhecesse — a voz dele abaixa um tom, quase como um sussurra e eu fico toda arrepiada — saberia que eu não teria olhos pra alguém como ela.
— É mesmo? E por que, não? — Provoco no mesmo tom.
— Terminei! — Tom grita animado ao finalizar seu pãozinho.
Veiga dá um passo pra trás automaticamente diante da voz do filho e percebendo que estamos muito próximos. O problema é que ele ainda segurava o copo de suco de morango. O conteúdo se choca contra o vidro e respinga em seu uniforme branco.
— Merda.
— Vixi, papai — Tom se choca, mas logo começa a rir da situação. — 'Tá todo sujo.
Veiga larga o copo de suco no balcão e esfrega a roupa, a manchando ainda mais.
— Assim você só vai piorar — aviso, vendo a cagada que está fazendo.
— 'Cê me jura? — Ele me olha com certa impaciência e sem mais nem menos retira a própria camisa. Repito, retira a camisa e ele não usa nada por baixo. Puta que pariu. — Meu moletom ainda 'tá com você? Eu tenho uma camisa reserva, mas 'tá lá no carro.
Levo longos segundos para entender o que me pergunta. É muito difícil ter concentração com um tanquinho desses gritando na minha cara o quanto é gostoso. Quando tomo consciência e volto a realidade, minha voz sai irreconhecível:
— Sim — limpo a garganta e me obrigo a desviar o olhar de seu corpo. — 'Tá no meu... — Puta que pariu. Que homem gostoso do inferno! — No meu guarda-roupa.
Veiga franze o cenho e percebe pra onde eu encaro. Vejo um sorrisinho de canto surgir em seus lábios quando se dá conta que fiquei hipnotizada por ele. Por ele, não. Pelo corpo. Eu disse corpo. Nada a mais.
— Vou buscar!
Saio da cozinha a passos largos e rapidamente procuro o moletom verde em meu guarda-roupa.
Porra. Vai se foder. Sério que eu fiquei toda boba porque Veiga estava sem camisa? Sério mesmo? Cadê a minha resistência?
Eu já fui muito mais forte do que isso.
Volto para cozinha. Veiga se veste, pra glória de Deus, e quando estamos todos prontos, nós partimos.
Decido aceitar a carona do Veiga, porque quero levar meu filho pra escola e, como hoje ele irá com o pai, eu não tenho outra escolha a não ser ir com eles também.
Me sento no banco ao lado do Veiga e eu percebo meu erro quando o carro já está em movimento. Mais uma vez o pensamento sobre sermos uma família perfeita me perturbando.
Veiga para o carro na frente de um conjunto de prédios e eu estranho, sem saber onde estamos.
— Eu dou carona pro pivete todo dia — ele informa ao notar minha surpresa. — Não vai te atrasar, né?
Olho o relógio.
— 'Tô no horário ainda, 'tá de boa.
O adolescente do time, e mais querido de todo o Palmeiras, entra e se senta no banco atrás do meu. Endrick se acomoda todo sorridente e rapidamente coloca o cinto, conhecendo bem o motorista chato ao volante que é cheio de diretrizes, principalmente com as crianças.
— Fala aí, paizão!? — Ele cumprimenta Veiga.
Mas quem chama a atenção é o mini Veiga sentado na cadeirinha.
— Endrickiii!!!
— E aí, meu irmãzinho? — O mais velho consegue dar um abraço de lado em meu filho. — Que touca é essa? 'Tá igualzinho os caras da minha antiga quebrada.
— Sério? — Tom arregala os olhos. — Ah, não. Eu vou sofrer bullying o dia inteiro!?
— Mané, bullying, príncipezinho. — Endrick rapidamente ensina uma lição valiosa do seu jeito adolescente e cheio de gíria. — Você 'tá estilo. Um gatão. Quem falar mal de você, 'tá com inveja. Acha que qualquer um pode colocar uma touca e ficar lindo assim? Puff, difícil, falou?
— 'Tô estilo — meu filho se gaba, cruzando os braços e imitando uma pose.
— Só faltou a juliet. E isso aqui — Endrick olha pra frente, mais especificamente para mim no banco a sua frente. — Reunião de família?
— 'Tô dando uma carona pra Isabella porque, como Tom ainda 'tá com o curativo, ela fica preocupada.
— Sei.
Endrick faz uma careta de quem está suspeitando e pra minha sorte, ele se mantém em silêncio. Endrick sabe demais e como eu não confio nadinha nele, vou com os dedos cruzados o caminho todo, torcendo para que o menino mantenha a boca fechada. Espero que ele não faça nenhum comentário, muito menos solte um piadinha, que é a cara dele.
Veiga sai do carro, assim que paramos na frente do colégio, solta Tom da cadeirinha e, juntos, os dois caminham em direção ao portão da escola. Não antes de se despedir da mãe. Lembro a ele os cuidados que deve ter e depois o deixo partir até a escola.
Fico os observando o tempo todo. E só, então, quando o carro está brevemente em silêncio, que o adolescente volta a falar, em protesto:
— Espero que isso não signifique nada, Isabella.
— Não sei do que 'cê 'tá falando — dou uma de desentendida ainda observando meu filho de mãos dada com o pai.
— Ah, sabe, sim! — Endrick fica nervoso, aproximando a cabeça de mim e daquele banco à frente dele em que estou acomodada. — 'Cê 'tá com o Veiga agora? Sério, Isabella? 'Tá iludindo ele? É algum tipo de vingança?
Abafo uma risada, sem acreditar que isso se passou por sua cabeça. Queria ter a criatividade necessária para ser vingativa desse jeito.
— Não fale besteiras.
— Não falar besteira? — Ele gargalha. — Mulher, você é quem está fazendo besteira. Vou ter que te lembrar o que vi?
— Eu já não disse pra esquecer isso? — Viro o rosto na direção dele. — Não foi o nosso combinado?? Bico fechado.
— Você ainda não falou com a minha mãe, então — ele dá de ombros, sem se preocupar — minha boca não está fechada a sete chaves.
— Endrick, pelo amor de Deus!
— Pelo amor de Deus digo eu, mulher, tu tava com o...
— Cala boca, não fala isso alto! — Olho para a janela, preocupada que Veiga volte correndo e nos pegue tendo essa conversa.
— Isso não vai dar bom, escuta o que eu 'tô te falando.
— É só você permanecer de bico fechado, garoto.
— Você não 'tá ajudando! — Ele estreita o olhar, meio bravo comigo. — Porra, eu sei que o príncipe foi um babaca contigo. Mas, parceira, ele 'tá mudado e 'tá com o coração muito mais sensível do que 'cê pensa. Por favor, não maltrate ele.
— Não estou maltratando ninguém, Endrick. Não viaja.
— Então não torne o meu amigo o corno do time! — A voz dele ganha intensidade. — Isso vai virar a maior piada do século!
Nesse momento, a porta do motorista se abre e Veiga se junta a nós no carro, nos olhando com a maior careta de confusão por Endrick estar colado no meu banco e estar gritando abobrinhas.
— Perdi alguma coisa? — Ele pergunta, com suspeita.
— Não — minto, usufruindo do meu talento como atriz. — Só estávamos conversando. Não é, Endrick!?
— Hum. — O garoto força um sorriso sem mostrar os dentes e se joga no banco outra vez, cruzando os braços e olhando para a janela ao lado.
Que que eu falei da tensão? Aí, aí, eu tô loconaaaa.
Próximo capítulo será ainda melhor porque será uma interação entre Veiga e Piquerez, lembrando que nosso amado Jopi já sabe do Veiga e da Isabella e ele sente ciúmes.
DAQUI UMA HORA EU VOLTA com capítulo novo. 20:00, fiquem ligadas!!