INTERE$$EIRA โ” palmeiras

By ellimaac

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โPuta, vagabunda, interesseira, sem talento, sem graรงa, forรงada.โž ๐ˆ๐’๐€๐๐„๐‹๐‹๐€ ๐Œ๐€๐‚๐‡๐€๐ƒ๐Ž รฉ uma das m... More

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By ellimaac

ISABELLA
São Paulo - Capital
no instante do capítulo anterior

ABRAÇO MEU FILHO, o apertando sobre meu peito enquanto tento em vão controlar meu próprio desespero em vê-lo machucado. É como se eu estivesse sentindo sua dor. E pior. Não posso expor. Não posso gritar ou chorar. Preciso manter a calma, para que meu bebê não entre em pânico. Ele precisa saber que está tudo bem. E mesmo se não estiver, eu sou a mãe dele, eu resolvo essa parada.

— Vai ficar tudo bem. Tudo bem. — Continuo dizendo, como uma canção de ninar.

Sinto como se tivesse voltado ao passado, quando Thomas era apenas um recém-nascido que chorava com cólica toda madrugada. Eu o pegava no colo e o aconchegava em meu colo até que a dor passasse e ele se sentisse seguro de novo. Porque é isso que uma mãe deve fazer, deixar seu filho seguro.

— Bella? Isabella?

Olho para o lado assim que percebo que tem alguém abaixado aqui perto de mim.

— Vamos levantar ele. — É seu Rubens que está aqui. Sendo a calmaria em pessoa ao falar comigo, mesmo que a situação de calma não tenha nada. — A ambulância chegou.

Fiquei tão concentrada em ninhar meu bebê e acalmá-lo que não me atentei a hora passando.

Passo o olho ao redor brevemente e vejo que o restante da família continua ali, observando o meu cuidado com Thomas, sem se intrometer ou atrapalhar. Mesmo que Dona Márcia esteja aos prantos e Duda tente acalmá-la.

— Chegou? — Pergunto, confusa.

Volto a encarar meu Thomas e ergo o pano ensanguentado que coloquei sobre sua testa para estancar o sangue. Não estancou. Merda. O corte foi fundo.

Rapidamente, e sendo mais forte que o normal, me coloco em pé. Seu Rubens não perde tempo em usar um braço para me ajudar, já que Thomas está em meu colo e assim irá permanecer até entrarmos na ambulância.

— Eu tentei pegar ele a tempo. — Gabriel rapidamente tenta se explicar, caminhando ao meu lado. — Mas não consegui. Eu não consegui, Bella. Me perdoe.

— A culpa não foi sua — digo a ele, para tranquilizá-lo. Meu filho só estava tentando se divertir. Do jeito errado. — Foi um acidente.

— Deixe que a gente cuide dele agora, senhora — avisa um dos socorristas, pegando meu filho do meu colo que logo começa a resmungar e o prendendo numa maca enquanto o levam pra dentro do veículo e verificam o corte em sua testa. — Você é a mãe?

— Sim.

— Só podemos permitir um acompanhante na van.

— Tudo bem, senhor — seu Rubens responde por mim. — Vai, Bella. Nós vamos logo atrás de vocês.

— Nos encontramos no hospital — informa Gabriel, ainda com o olhar de pânico e culpa.

— Eu vou ligar pro Raphael agora. — Dona Márcia pega o celular e entra dentro de casa com o aparelho no ouvido.

A porta do veículo se fecha e a única coisa que eu consigo prestar atenção é em meu filho deitado naquela maca. Meu coração permanece disparado e nem sei se conseguirei ficar calma de novo.

dezembro de 2007

ENTRO CORRENDO DENTRO de casa e encontro meu pai colocando um vaso enorme com flores brancas em cima da escrivadinha de madeira da nossa sala.

— Buenos dias, papa — o cumprimento, ficando ao seu lado.

Assim que me aproximo, o cheiro forte de flor impregna minhas narinas. Um cheiro diferente, mais agradável. E não como as rosas que imediatamente nos remetem a morte, velório, enterro.

Papa olha para mim, os olhos brilhando em estar fazendo algo que gosta. Ele amplia o sorriso no rosto em me ver e rapidamente passa o braço por trás de mim para me abraçar e me dar um beijo no alto da cabeça.

— Hola, mi hija. ¿Como estás?

— Bien, papa.

O homem, que é muito mais alto do que eu, estica ainda mais o pescoço para olhar pro relógio acima das nossas cabeças, logo em seguida ele verifica alguma coisa pela janela.

— Estás demasiado cedo. — Ele se certifica. — ¿Por qué no estás con tu mejor amigo?

— Joaquin? — Ele assente como resposta. — Ah, papa, ele no és mi mejor amigo.

— ¿No? — Meu pai faz uma careta de confusão e sorri maliciosamente. — ¿Ese chico já se declarou? Mi hija, ¿no me digas que estás namorando con ese flacucho?

— Credo, papa! — Bufo, incrédula. Namorar com o Piquerez? Deus que me livre. Ele é nojento e meio burro. — Nunca namorarei con Joaquín. Dios me libre!

— Ufa. — Papa suspira aliviado, colocando uma mão sobre meu ombro. — Gracias a Dios. Eres muy joven, mi princesita. ¿Quién sabe cuando estiver mayor e ese chico já estiver jugando en River?

— ¿Piquerez en River Plate? — Solto uma risada genuína vinda do fundo da minha alma. — Nunca, papa. Ele es desengonçado. Una mula. Para jugar en un equipo grande como River, tendrá que suar sangre.

— Ele tienes talento, mi Bella. Confío nele, vás longe. Quizá tenga sucesso en un equipo brasileña, ¿já pensaste?

Solto outra risada. Time brasileiro? O Piquerez? Nunca. Uma mula como ele não vai sair nem dos timinhos fracos do Uruguai.

— Papa, estás soñando demás.

Meu pai sorri para mim, suas covinhas aparentes assim como algumas rugas de cansaço em sua testa.

— Hija, no gusta dele?

— Como amigo, solo.

— No sai de su pé, pensei que estivessem apaixonados.

— Nunca — chega um calafrio desce pela minha espinha. — Tengo pesadelos só de pensar.

— Nunca digas nunca, Bella.

Meus pais amam de paixão o intruso que não sai do meu pé. Joaco Piquerez, o filho de um dos melhores amigos do meu pai. O menino mora no país ao lado, que a gente detesta, e mesmo assim passa mais tempo na Argentina do que em qualquer outro lugar. Ele é chato, é grudento. Mas deixo que fique sempre por aqui porque todo mundo abraçou o menino e eu não tenho outra escolha. E não serei hipócrita em dizer que ele não torna as brincadeira mais divertidas.

Mesmo assim, não é motivo para ser amado. Odeio quando pensam que somos um casal. Ele só é meu amigo, um encosto que alimento e dou carinho.

Meu pai gosta de conversar com ele sobre futebol, dando conselhos e esses coisas. Minha mãe acredita fielmente que nós dois iremos casar e teremos muitos "niños rubitas".

Eu me recuso a ter esse destino.

Eu tenho só onze anos. Quero poder sair daqui quando for adulta e voltar para o Brasil onde construirei minha carreira como atriz e quem sabe me casarei com um jogador brasileiro. Aqueles bonitos e charmosos tipo o Kaká. Aí, Dios Mio, seria meu sonho de consumo.

Não quero ter um futuro medíocre, morando na fronteira e casada com Piquerez que não teve sucesso com o futebol. Eu sou melhor do que ele jogando. Ele e todos os outros homens que se recusem a ver isso.

Meu pai aposta todas as fichas, se puder leva o menino pra jogar na base do River só para que ele tenha um futuro promissor.

— Basta de hablar de Piquerez! — Dou um cheque mate nesse assunto. — Vamos a suspirar aliviados de que finalmente voltou pra casa.

— Todo bien — meu pai abafa uma risadinha e evita o conflito, optando sempre pela minha alegria e conforto.

— Ótimo — observo bem aquele vaso que está ajeitando na escrivaninha e não consigo deixar de perguntar. — ¿Para que són esas flores?

— Lírios, Bella.

— Lírios? — Reconheço essas flores de algum lugar, mas não me recordo onde. — Sus flores favoritas, papa?

— Si, estoy decorando la casa com lírios brancos, porque representa la esencia de esta família. Da nuestra família.

Franzo o cenho, completamente desentendida. Moro aqui nessa casa já faz mais de sete anos. E é muito difícil ver flores crescendo pelo campo. Principalmente lírios brancos tão bonitos quanto esses. No máximo vejo um girassol aqui ou ali no caminho até a escola.

Meu pai percebe meu desentendimento e rapidamente busca uma explicação, roubando uma flor daquele vaso e entregando a mim.

— Lírios son flores repletas de significado, mi hija. Significa paz, pureza, inocência, respeto e protección. Sobretudo protección. — Ele enfatiza essa última palavra. — Cuando me casé com tu mama, decoramos nuestro matrimonio com lírios. En el nacimiento de tu hermana também. E desde ahí vinimos tengo protección.

— Protección de Dios? — Questiono, tentando entender de onde vem essa proteção que os lírios nos trazem. Simples flores não podem ser responsáveis em nos proteger. Não somente.

— Protección familiar.

— Como assim, papa?

— ¿Há algo más fuerte que el amor de un padre por su hijo? Un padre fará cualquier cosa por su hijo. Dará la vida para protegerla. Los lirios representan esa força. Esa protección. Que viene de aquí dentro — meu pai indica meu coração —, está en nós. Uno protege o otro.

— És o símbolo de nuestra família. — Minha mãe me diz se juntando a nós na sala. — Martin me pedió em matrimonio com esas flores.

— Ahí es donde todo começou.

— Com lírios brancos?

— Si, mi Bella — minha mãe diz com determinação. — Nunca aceite rosas. Mucho menos rosas vermelhas. Hombre cuando quiere conquistarte de verdad, ele te traz flores con significado. Te traz tu flores favoritas. Assim como tu papa fez comigo.

— Exato — meu pai sorri todo apaixonado pra minha mãe e deposita um beijo na bochecha dela que a deixa vermelha e envergonhada. — Yo no podía perder una mujer como su madre. Conquisté buscando entender sus gustos, sus pasiones.

"Buscando entender suas paixões."

Meu pai se esforçou pra ter o coração da minha mãe e não porque ela era difícil de conquistar, mas porque ele queria se tornar especial para ela. E não tem como ser especial sem se fazer presente. Meu pai esteve ali, amou minha mãe em tudo que ela fazia e em tudo que ela gostava. O gesto foi recíproco. Ficou marcado. E agora posso ver que foi simbolizado numa flor.

O amor deles é uma referência para mim.

— Siempre aceite flores brancas. — Ele me lembra. — Nada de rosas vermelhas.

— Yo já recebi rosas vermelhas. — Aviso, me lembrando de um momento engraçado na escola que um garoto maluco chegou em mim com um buquê e me pediu em namoro. Ele era mais novo do que eu e eu nem o conhecia.

— El chico só quiso sorprenderte — "o garoto só quis te surpreender..." —, no buscou te conquistar de fato.

— Tiene sentido — penso sobre isso, afinal não fui conquistada mesmo, eu fui humilhada —, porque lo odié e ele saiu hablando mal de mí.

Começou a espalhar besteiras sobre mim pela escola só porque recusei seu buquê de rosas vermelhas.

— ¿Quién era o chico? — Meu pai fica sério e cruza os braços. — Irei tras dele ahora mismo e sólo voltarei con su cabeza.

— Martin!? — Minha mãe repreende, surpresa com a fala raivosa de meu pai. Eu, por outro lado, estou rindo muito.

— ¿Qué pasa, mi amor? — Meu pai olha com dúvida para minha mãe. — No puedo dejar que un chico hable mal de mi hija.

Martin é apenas meu padrasto. Ele não é meu pai biológico, cheguei aqui na Argentina com já quatros anos de vida. Mas Martin me cria, me sustenta e me trata como se eu fosse sua filha legítima. Ele diz isso as pessoas que o perguntam. Faz questão de me considerar como sua primogênita. Mesmo que eu não seja. Me ama da mesma forma que ama a Tini. Não é atoa que eu o considero como pai de verdade e o chamo de papa desde sempre.

— ¿Pero arrancarle la cabeza do niño, Martin?

— Acho és poco.

— Fiquem tranquilos — os tranquilizo ainda me recuperando das risadas. — No aceitarei mais rosas vermelhas. Lírios ahora son mi flores favoritas.

de volta ao hospital

OLHO PARA O MENINO deitado naquela cama com pontos e curativos na testa, e algo dentro de mim, dentro de meu peito, está partido. Está dolorido como se eu tivesse me machucado junto com meu filhinho.

Tom agora está anestesiado, não reclama mais de dor. Mas seus olhinhos estão vermelhos e fundos do tanto que chorou.

Fiquei ao lado dele o tempo todo, não sairia nem se me obrigassem, eu era a única coisa que trazia segurança a meu filho. A única imagem que ele podia enxergar e se sentir protegido.

Saber que ele ainda irá sofrer até esses pontos cicatrizarem já faz meu peito se apertar ainda mais. Odeio ver meu filho sofrer, odeio vê-lo sentir dor ou qualquer tipo de incômodo.

— Cadê ele?

Ouço uma voz gritar e ao olhar na direção do som encontro um homem bem vestido a procura de seu filho.

Veiga está desesperado, olhando para todos os lados em busca do Tom até encontrar nossa cortina entreaberta, nos reconhecer e vir direto e reto em nossa direção.

— Ah, meu Deus, achei você.

— Papai!! — Tom, deitado em completo repouso, ergue os braços pra receber o pai e, só em olhar para a figura paterna que lhe traz proteção também, o menino já começa a chorar.

— Não chore, filho. — Veiga o abraça, meio sem jeito para não machucá-lo. — 'Tá tudo bem. Papai chegou. 'Tô aqui contigo. O pior já passou e agora você vai ficar bem de novo.

— Fo-foi sem que-querer — Tom tenta se explicar, soluçando pelo choro e aquilo parte meu coração já partido, se é que é possível. — Eu só 'tava brincando, papai. Escorreguei. Não de-devia ter brincado naquele corrimão. E agora vou ficar com a testa enorme.

— Não vai ficar com a testa enorme, Tom. Só vai ficar uma marquinha, bem aqui — Veiga indica o curativo sem tocar. — Só uma marquinha pequena.

— Pai, mas saiu muito sangue. E doeu muito quando eles fizeram os pontos. Deve ter cortado minha cara inteira.

— Não, não — Veiga sorri, um sorriso do nível pai brincalhão que tenta deixar o clima leve a qualquer custo. — Te prometo que será só uma marquinha. Quase não vai dar pra ver. Olha, 'tá vendo essa cicatriz — Veiga ergue o queixo e mostra uma pequena marca em sua pele —, eu fiz quando estava brincando numa piscina.

— Numa piscina também, pai?

— Sim. Eu fui dar um pulo, porque eu gostava de me aventurar assim como você — Tom sorri, gostando da comparação. — Mas eu estava muito próximo da beirada, onde havia uma quina, acabei caindo de queixo ali. Levei pontos também e até perdi os dentes.

— Você tinha quantos anos?

— Uns seis ou sete, por aí.

Tom arregala os olhos, completamente chocado da história que seu pai lhe conta, chega o menino fica comovido.

— Então minha testa vai ficar com uma cicatriz assim?

— Vai, Tom. Demora um pouco, 'tá? Não vou mentir. Essa semana vai doer pra caramba também, mas depois, você vai sentir como se não tivesse nada.

Tom sorri, contente do que ouve, mas seus olhos se enchem de lágrimas outra vez.

— Não quero mais sentir dor, papai.

Chega, isso é demais para mim.

Sentindo meu peito se apertar ao ponto de me sufocar, me levanto da cadeira onde estava acomodada e me retiro. Deixo Tom com o Veiga. Sei que ele vai cuidar do meu filho e vai deixá-lo melhor. Fiquei com ele o tempo inteiro. Assisti tudo sem abrir a boca para fazer um simples questionamento.

Tem algo preso na minha garganta, quase como se fosse um grito reprimido que eu não consigo soltar por nada.

Talvez um pouco de ar ajude.

Só paro de andar quando estou do lado de fora do hospital, respirando ar puro outra vez. Puta que pariu. Que dia foi esse, porra?

Sinto meus dedos tremerem quando levo uma mão ao peito e controlo a respiração. Nem sei por quanto tempo eu fico ali, daquele jeito, tentando me conter. Tentando acalmar minha mente barulhenta.

Mas sei que o tempo passa e muito. Quando me dou conta um Veiga com as mãos nos bolsos está passando por aquelas portas e se juntando a mim do lado de fora.

— Te achei — diz, pressionando os lábios e me olhando com o olhar sentido. — 'Cê 'tá bem?

— Tom... — É a primeira coisa que me vem na cabeça. — Não podemos deixá-lo sozinho. Ele, ele...

— Ele 'tá bem. 'Tá muito bem. — Veiga rapidamente me lembra, me impedindo de entrar naquele hospital de novo e me sufocar com aquele ambiente exaustivo. — Ele dormiu. Fiquei com ele até se acalmar e finalmente pegar no sono. Minha mãe 'tá lá com ele agora. Fique tranquila. Respire um pouco.

Assinto, ficando um pouco mais aliviada. Faço como Veiga me pediu, me viro pro além e puxo o ar com força pra dentro de mim. Mas a ação faz com que meus pulmões ardam.

Como impulso, me apoio no corrimão à frente e tento respirar de novo, fechando os olhos.

— Ei — Veiga percebe que tem algo errado e sua mão em minhas costas é a próxima coisa que sinto. — Ei, 'tá tudo bem.

Balanço a cabeça pra cima e pra baixo, concordando com o que diz, mas meu coração está tão dolorido que concordar não vai mudar o que sinto. Não vai fazer com que eu me sinta menos sufocada.

— 'Tá tudo bem — ele repete.

Viro a cabeça em sua direção, para olhá-lo, mas só em fazer isso, e pela proximidade, seus braços já estão abertos para me receber. Por impulso, um impulso automatico, afundo minha cabeça em seu peito e me permito ser abraçada por ele. Por Raphael Veiga.

E pasmem, ele está me confortando de verdade.

Seu abraço é quente, reconfortante, como se me compreendesse perfeitamente. A carícia que faz em minhas costas só me deixa ainda mais à vontade. Seu perfume amadeirado me convida a ficar cada vez mais próxima. Não quero sair dali e eu tenho certeza que me amaldiçoarei muito quando eu me der conta do que estou fazendo.

— 'Tá tudo bem agora, Bella. — Ai, me chamar de Bella me quebra muito, filho da puta. — Ele vai ficar bem. Você está bem. E... e eu te entendo. É ruim sentir como se não tivesse exercendo seu papel direito. Quando as coisas saem do eixo, mesmo que brevemente, é como se tudo tivesse perdido o equilíbrio. Você se culpa e se menospreza. Eu 'tô me sentindo assim. Um péssimo pai.

— Veiga — ergo a cabeça para encará-lo, ainda sem ter coragem de me afastar de seus braços, pois seu calor está sendo necessário para aquecer meu coração. — Você é um bom pai.

— Para — ele faz uma careta, com desdém. — Eu podia ser melhor. Podia ser muito melhor. Muito mais presente. Meu filho se acidentou e eu nem estava lá para socorrê-lo.

— Foi um acidente. — Não deixo de enfatizar. — Não tinha como ser evitado. A sua ausência não diz que não é um bom pai. Você é incrível. Viu o sorriso que o Tom abriu quando você chegou? Pode apostar que ele ficou muito mais feliz com sua presença.

— Fiz o mínimo. — Estou odiando ouvi-lo se menosprezar tanto assim. — É diferente pra você. Você esteve lá o tempo todo. Não só o socorreu, mas foi o porto seguro dele.

— Não fiz o suficiente — desabafo, colocando pra fora o que estava pertubando minha mente até agora. — Não cuidei dele o suficiente. Não fui a proteção dele.

— Claro que foi, Isabella. — Sinto a mão dele subir pela minha nuca, para segurar meu rosto enquanto fala olhando em meus olhos, para que eu entenda o poder de suas palavras. — Você é uma mãe foda pra caralho. E o que você está sentindo agora só prova isso. Reprimiu todos os seus sentimentos só para não transmitir sensação negativa alguma ao Tom. Mesmo que você estivesse apavorada também. Mesmo que estivesse com medo. Você engoliu seu pânico e foi forte. Por ele. Por nosso filho.

Assinto, balançando a cabeça.

— Nosso... — sussurro, sentindo meus olhos me sabotarem ao se desviarem dos olhos de Veiga e descerem por seu rosto até se concentrarem em seus lábios.

— Nosso — ele confirma, desviando os olhos para meus lábios também.

Sinto seu aperto ficar mais forte, aproximando nossos rostos um pouco mais.

Nossos narizes encostam um no outro. Nossas respirações se unificam e meus olhos se fecham, ansiando pelo próximo passo. Ansiando pelo momento em que nossos lábios irão se tocar e nossas bocas se encontrarão num beijo. É o que eu quero, porque não estou pensando direito. Só estou sentindo o poder desse homem sobre mim. Só estou sentindo sua gentileza e preocupação e me aproveitando de seu carinho.

Contudo, graças ao Deus divino, um choque de realidade nos atinge ao mesmo tempo.

Abro os olhos com pressa e nos separamos, tomando conta das coisas malucas que queriamos fazer. Não posso confundir as coisas. Veiga me consolou, me trouxe conforto, apenas. Não é como se só porque me permiti ser abraçada por ele, vou permitir que me beije e me conforte de uma maneira diferente. A qual preciso? Sim, mas não vem ao caso.

— É... — ele se recompõe, passando a mão pelo cabelo e limpando a garganta antes de fingir normalidade e puxar um assunto qualquer. — Gabriel me disse que o Tom 'tava querendo brincar na barra daquela escada, não acho que ele fez por mal. Não acho que ele sabia que era perigoso.

— Ele sabia — respiro fundo e volto a agir como uma mulher normal. Incrível como meu peito não está mais tão apertado, e isso por causa do abraço do Veiga. — Mas não compreendeu a dimensão do perigo que se meteu.

— Você vai brigar com ele?

— Como? — Abafo uma risada. — Você viu como ele estava. 'Tá todo sentimental e triste. Eu teria que ser uma mãe muito cruel pra depois disso tudo ainda dar uma bronca no meu filho. Acredito que tudo que aconteceu já ensine uma lição.

— É — Veiga concorda. — Mãe cruel realmente não te descreve mesmo. Aliás, feliz dia das mães.

Dou uma risada.

— Não está sendo o melhor dia das mães.

— Já tive piores — suspiro, colocando as mãos na cintura. — Pelo menos, 'tá tudo bem com o Tom e isso é o que mais importa.

— Verdade. E... — Veiga me olha com mais atenção, se lembrando de algo. — Gostou do presente? — Franzo cenho sem entender a qual presente se refere até dizer: — Gostou dos lírios?

Puta que pariu. Foi ele?

— Como... — minha mente parece entrar num estado de transe com o que ouço, compreendendo as coisas bem lentamente. Ou melhor, não compreendendo nada pois estou muito confusa. — Foi você?

— Preparei a surpresa com o Tom, não podia passar em branco, né? E eu sabia que lírios era sua flor favorita.

— Como você sabia?

Eu já tinha noção que Tom não havia feito aquele presente sozinho, era óbvio. Mas pensei que minha mãe que havia ajudado. Ela é a única que sabe dos lírios, ela e Tini. Afinal é sobre nossa família e elas carregam esse símbolo.

— Eu sempre soube. Você me contou lá no começo, lembra? — Fico com cara de paisagem que significa um "não" a pergunta dele. — Você me disse que lírios brancos representavam a sua família. Principalmente ao amor de seu pai. Um símbolo, não é?

— Sim... — me surpreendo tanto com o que Veiga diz e o fato de ele se lembrar disso, que eu mal consigo processar essa informação.

— Você também me disse que no velório dele, não deixou que ninguém colocasse flores coloridas, muito menos rosas vermelhas. Ele as detestava. — Sorrio, sentindo meu coração se apertar de novo com tudo isso. — Você encheu aquele lugar de lírios. Lírios brancos. E, de alguma forma, aquilo te deixou em paz.

— Meu Deus, Veiga... — Respiro fundo, ainda mais surpreendida. — Não sabia que você ainda se lembrava disso.

— Eu não teria motivo pra esquecer. Foi uma das nossas poucas conversas profundas. Pensei que... — ele coça a nuca, meio sem jeito, mas logo ajeitando a postura e estufando o peito. — Que seria uma homenagem boa. Porque se seu pai estivesse aqui, ele estaria muito orgulhoso da mãe que você se tornou.

Golpe baixo. Baixíssimo.

Eu já havia achado a homenagem linda, pela carta do meu filho e pelas flores, porque elas tem um carga emocional muito grande pra mim. Recebê-las me faz viajar imediatamente ao passado. Eu volto para o tempo em que meu pai ainda era vivo e cuidava de mim.

De repente, tudo que aconteceu no dia de hoje e um pouco da madrugada me vem a memória com certa agressividade.

E, então, faço uma junção de tudo, de todos os acontecimentos, e percebo que eles se interligam. Primeiro com as flores que recebi do Piquerez. Rosas vermelhas. O pedido dele em querer uma filha comigo. Depois o sonho com meu pai. Onde eu corria para o hospital e o encontrava morto. Eu realmente vim para o hospital, correndo. Depois os lírios brancos que eu não fazia ideia que iriam me proteger durante todo o dia. Fazendo exatamente o que meu pai me ensinou. Trazendo proteção.

— Foi uma homenagem incrível, Veiga — digo com tanta sinceridade que lágrimas involuntárias escorrem por minhas bochechas. Rapidamente as seco. — Consigo até te odiar menos agora.

Veiga ri do que eu digo, abaixando brevemente a cabeça.

— Que bom, quem sabe eu consigo te reconquistar.

— Me o quê?

Nem consigo ter tempo para duvidar do que acaba de me dizer quando uma pessoa passa por aquela porta e se junta a nós.

— Tem uma miniatura de gente lá dentro — começa a falar Dona Márcia — doida pra ver os pais.

PRIMEIRO: muito bom a Isabella duvidando da capacidade do Piquerez de se tornar um grande jogador de futebol.

SEGUNDO: entenderam o poder dos lírios, família?

TERCEIRO: tô amando fazer essa tensão entre o Veiga e Isa. Esses momentos vão continuar.

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