Raphael Veiga.
Curitiba, Brasil.
Abel ja havia nos liberado da sala de reuniões e disse que teríamos que ir pro estádio daqui uma hora.
Curitiba estava fria e o clima do time não estava bom, o nervosismo era perceptível e ninguém conseguia tirar a feição preocupada do rosto.
- Ta tudo bem?- Piquerez me perguntou e eu sai de meus pensamentos.- Você tá com uma cara péssima.
- To com uma sensação ruim.- Falei e passei a mão no cabelo.- Deve ser nervosismo só. Semifinal né.
- Tenta relaxar, vai dar tudo certo.- Pique disse apertando meu ombro.- E ainda temos o segundo jogo.
- É.- Falei.- Valeu cara, vou tentar dar uma relaxada.
- Se precisar conversar me avisa.- Ele disse e saiu do meu lado.
Decidi ir tomar outro banho e tentar me acalmar, não tinha razão pra tanto nervosismo. Eu ja tinha participado de outras semifinais, ja joguei contra o Athletico Paranaense, nada de novo estava acontecendo.
Quando desliguei o chuveiro me sequei rapidamente e logo fui colocar uma roupa pra terminar de ajeitar minhas coisas pra ir pro estádio.
Depois que sai do banheiro, peguei minhas coisas e fui em direção ao nosso ponto de encontro. No caminho meu celular começou a tocar e eu imaginei que fosse algum familiar mas um sorriso maior ainda se abriu em meu rosto quando vi quem na verdade era.
"- Eai, como você ta?
-Melhor agora.
-Ha ha
engraçadinho.
-É serio Mi.
Você não tem ideia do quanto é bom ouvir sua voz.
Queria que estivesse aqui.
-Dessa vez não deu, desculpa.
Mas estou usando sua camiseta sabia.
Depois te mando uma foto.
-Isso é muito importante pra mim.
Obrigado.
-Sua voz ta estranha.
Você ta bem?
-To muito nervoso.
Uma sensação ruim sabe.
-Sei, mas você vai se sair bem.
Tenho certeza que vão ganhar.
-Queria um beijo seu de boa sorte.
-Não sou seu amuleto Rapha.- Ela riu.
-As vezes eu sinto que é.
Torce por mim ta.
-Sempre!
Agora me conta, como é a cidade?
-Eu ja conheço boa parte, mas bastante coisa mudou desde 2019.
-Soube que o Jardim Botânico é lindo.
-Você iria amar conhecer.
Podemos ver um dia.
-Uma viagem de casal?
Eu gosto da ideia.
Podemos ir esquiar um dia também.
-O que você quiser princesa
Preciso ir agora, meu sogrinho ta me chamando.
-Ele te mata se escutar essa palavra.
Te ligo depois do jogo ta.
Boa sorte e faça um gol por mim.
-Pode deixar."
-Como ela ta?- Abel perguntou e eu ri sem graça.
- Triste por não ter vindo.- Falei.
- Bom, vamos. Peguem suas coisas.- Ele falou e fomos para o ônibus.
Novamente o clima tenso do time estava lá e toda a calmaria que Milena havia trazido, esse clima ja tinha matado.
Resolvi colocar meus fones e ficar escutando música, Scarpa assistia algum vídeo de skate, Piquerez estava com fone também, alguns conversavam baixinho, outros estava apenas olhando pro nada. E assim chegamos na arena, era bem grande e ja tinham alguns torcedores la nos esperando.
Agora era só esperar e tentar relaxar enquanto não entrava em campo.
Fomos levados até o vestiário e os alongamentos começaram, enquanto alguns iam aquecendo, outros iam repassando as estratégias.
Abel e Joao Martins conversavam sobre algo e parecia estar animando os dois.
Fomos guiados para dentro do campo para a apresentação e comecei a tocar bola com Gomez. Corremos um pouco, treinamos os últimos chutes e voltamos para o vestiário.
Coloquei meu uniforme e amarrei minha chuteira. Esperei pelos outros e então Abel iniciou seu discurso e logo depois Gomez e Weverton finalizaram com algumas palavras motivadoras.
O time do Athletico ja estava posicionado com as crianças e nós ficamos esperando pra entrar.
Após longos minutos cantando o hino, cumprimentando e finalmente nos posicionando, o jogo foi iniciado. Começamos com alguns passes tentando abrir o jogo.
A disputa era equilibrada e parecia impossível falar quem faria o primeiro gol ate que erramos.
Um passe certeiro pra pequena área resultou no primeiro gol da partida. 1×0 para o Furacão.
Olhei para Abel na lateral do campo e ele não possuía expressão alguma, aquilo me assustou.
Os minutos foram passando e mesmo com chutes pro gol nada entrava, o goleiro pegava todas mas a diferença de gols não aumentava, Weverton defendia todas.
Ao fim do primeiro tempo a tensão presente no vestiário era maior ainda.
- Animo galera, a gente consegue!- Gomez falou tentando ajudar.
Sentei e peguei uma garrafa de água, joguei a maioria do líquido em meu rosto e pescoço e depois troquei de camiseta. Abel falou o que tinha pensado pra tentar salvar o jogo no próximo tempo e depois voltou para seu caderno.
Ficamos la descansando os 15 minutos e então voltamos para o campo.
Os jogadores que ainda não tinham entrado desejam boa sorte e falavam palavras legais e tentavam ajudar.
O apito foi dado e a bola voltou a rolar e o time continuava tentando avançar até que eu senti uma dor terrível.
Não entendi direito o que havia acontecido, uma hora eu estava tentando salvar a bola e na outra eu estava no chão sentindo a pior dor do mundo na meu tornozelo, na hora eu ja sabia o que seria.
- Chama ajuda!- Alguém falou, eu apenas apertava a minha perna pra ver se a dor passava.
- Ta doendo muito.- Falei.
Passaram um spray no meu tornozelo e me ajudaram a levantar, mas a dor não diminuía.
- Consegue continuar?- O fisioterapeuta perguntou e eu fiz que sim.
Ele me olhou desconfiado mas saiu com as coisas, eu tentei andar mais um pouco mas estava mancando.
- Não vai dar Veiga.- Dudu disse me olhando apreensivo.
A dor era insuportável que eu mal aguentava ficar em pé, deitei no chão e esperei que Abel fizesse a troca.
Quando eu sai do campo, os jogadores me cumprimentaram e Abel veio falar comigo.
- Vai dar tudo certo rapaz.- Ele disse e eu senti algumas lágrimas em meus olhos.- Vamos cuidar disto, okay?
- Ta doendo tanto.- Eu disse e recebi o saco de gelo dos fisioterapeutas.
Assistir o restante do jogo ali sentado sem poder fazer nada foi torturante. A dor não passava, o time perdeu, todos estavam pra baixo.
Assim que eu entrei no vestiário com a ajuda dos fisioterapeutas eles me ajudaram a sentar e então eu peguei meu celular.
Tinham muitas ligações perdidas, tanto de meus familiares quanto de Milena.
"- Finalmente!
Se você não me atendesse eu ia pegar um aviao pra Curitiba serio.
Como você ta?
Que raiva daquele jogador.
-Oi Mi
Não sinta raiva dele, nem eu tô.
Meu tornozelo ta doendo muito e eu lesionei.
Soube na hora que senti essa dor.
-Eu sinto muito Rapha.
É muito grave?
-Vamos voltar pra São Paulo e eu vou fazer uma série de exames.
Mas acredito que seja bem grave.
Nunca senti tanta dor.
-Queria estar com você.
Vou estar te esperando aqui tá.
Me avisa quando chegar.
- Aviso sim princesa.
Obrigado por ligar.
-To com saudades.
Te vejo depois ta.
-To com saudades também."
-Vamos ter que cuidar muito bem disso.- Um dos fisioterapeutas disse.- Mas ja aviso, pelo tamanho que tá seu tornozelo, não vai ser fácil.
- Obrigado pela ajuda.- Falei e ele me olhou triste.
Seria assim agora, olhares tristes, com dó. Tomei um banho para relaxar o corpo e coloquei minha roupa do aeroporto.
O restante do time ja estava tomando banho e eu estava esperando eles junto de Piquerez e Scarpa.
- Como ta?- Scarpa perguntou apontando para o tornozelo.
- Ta péssimo, a dor não passou e disseram que é grave.- Falei frustrado.
- Sinto muito Rapha.- Piquerez disse.- Espero que não seja tão grave assim.
- Eu também Pique. Eu também.- Respondi cansado.
Todos estávamos quietos após o discurso de Abel, na coletiva ele falou apenas o básico. No ônibus não houve muita conversa também, no avião a maioria de nós dormiu ou pelo menos tentou.
Os fisioterapeutas me recomendaram muito gelo na região do tornozelo e disseram que no dia seguinte ja começariam os exames e o tratamento.
Quando chegamos em São Paulo ja era de madrugada então eu optei por dormir no CT, avisei Milena, suspirei frustrado e por mais que a dor estivesse forte, os analgésicos me apagaram.
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Nem só de flores se vive um leitor.
Meu trauma cinematográfico é esse jogo contra o Athletico, doi dms ver o Veiguinha lesioando naquele dia (felizmente tudo ocorreu bem depois.