INTERE$$EIRA ━ palmeiras

De ellimaac

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━━━━━ ❝Puta, vagabunda, interesseira, sem talento, forçada, sem graça.❞ 𝐈𝐒𝐀𝐁... Mais

𝐃𝐑𝐄𝐀𝐌𝐂𝐀𝐒𝐓
𝟎𝟎 | 𝐏𝐑𝐎́𝐋𝐎𝐆𝐎
𝟎𝟏 | 𝐏𝐀𝐂𝐈𝐄̂𝐍𝐂𝐈𝐀
𝟎𝟐 | 𝐂𝐇𝐀𝐂𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟑 | 𝐀𝐂𝐎𝐌𝐏𝐀𝐍𝐇𝐀𝐃𝐀
𝟎𝟒 | 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐎𝐒
𝟎𝟓 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐎𝐋𝐓𝐀 𝐍𝐎 𝐏𝐀𝐒𝐒𝐀𝐃𝐎
𝟎𝟕 | 𝐀𝐇𝐎𝐑𝐀 𝐒𝐎𝐘 𝐏𝐀𝐏𝐈
𝟎𝟖 | 𝐒𝐔𝐀 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟎𝟗 | 𝐂𝐎𝐌 𝐎 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀?
𝟏𝟎 | 𝐅𝐄𝐋𝐈𝐙? 𝐀𝐍𝐈𝐕𝐄𝐑𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟏𝟏 | 𝐔𝐌 𝐏𝐑𝐄𝐒𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟏𝟐 | 𝐔𝐌𝐀 𝐌𝐀̃𝐄
𝟏𝟑 | 𝐋𝐈́𝐑𝐈𝐎𝐒 𝐁𝐑𝐀𝐍𝐂𝐎𝐒
𝟏𝟒 | 𝐀𝐆𝐈𝐍𝐃𝐎 𝐂𝐎𝐌𝐎 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟏𝟓 | 𝐃𝐎𝐑 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀
𝟏𝟔 | 𝐓𝐈𝐍𝐈, 𝐓𝐈𝐍𝐈
𝟏𝟕 | 𝐔𝐌 𝐃𝐈𝐀 𝐂𝐎𝐌𝐈𝐆𝐎
𝟏𝟖 | 𝐆𝐈𝐍𝐄𝐂𝐎𝐋𝐎𝐆𝐈𝐒𝐓𝐀
𝟏𝟗 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐉𝐔𝐍𝐈𝐍𝐀
𝟐𝟎 | 𝐁𝐀𝐑𝐂𝐄𝐋𝐎𝐍𝐀
𝟐𝟏 | 𝐅𝐔𝐒𝐎 𝐇𝐎𝐑𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟐𝟐 | 𝐃𝐄 𝐕𝐄𝐑𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟑 | 𝐏𝐀𝐑𝐀𝐁𝐄́𝐍𝐒
𝟐𝟒 | 𝐃𝐄𝐂𝐈𝐒𝐈𝐎𝐍𝐄𝐒
𝟐𝟓 | 𝐑𝐈𝐕𝐀𝐈𝐒
𝟐𝟔 | 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐇𝐀
𝟐𝟕 | 𝐍𝐎𝐕𝐈𝐃𝐀𝐃𝐄
𝟐𝟖 | 𝐄𝐌 𝐂𝐀𝐒𝐀
𝐛𝐨̂𝐧𝐮𝐬 (𝐢𝐧𝐬𝐭𝐚 𝐞 𝐭𝐭)
𝟐𝟗 | 𝐆𝐎𝐒𝐒𝐈𝐏?
𝟑𝟎 | 𝐌𝐄 𝐒𝐈𝐍𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐀𝐈́𝐃𝐎
𝟑𝟏 | 𝐔𝐌𝐀 𝐂𝐔𝐑𝐓𝐀 𝐕𝐈𝐀𝐆𝐄𝐌
𝟑𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐌𝐎𝐑𝐎𝐍𝐀𝐍𝐃𝐎
𝟑𝟑 | 𝐑𝐄𝐂𝐎𝐌𝐏𝐄𝐍𝐒𝐀
𝟑𝟒 | 𝐄𝐑𝐑𝐎𝐒
𝟑𝟓 | 𝐅𝐀𝐂̧𝐀 𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎𝐑
𝟑𝟔 | 𝐀𝐋𝐋𝐈́ 𝐄𝐒𝐓𝐀́
𝟑𝟕 | 𝐒𝐄𝐔 𝐅𝐀𝐕𝐎𝐑𝐈𝐓𝐎
𝟑𝟖 | 𝐃𝐈𝐒𝐓𝐑𝐀𝐂̧𝐀̃𝐎
𝟑𝟗 | 𝐃𝐎𝐈𝐒 𝐅𝐈𝐋𝐇𝐎𝐒
𝟒𝟎 | 𝐃𝐎𝐌𝐈𝐍𝐆𝐎
𝟒𝟏 | 𝐓𝐈𝐌𝐄 𝐃𝐀 𝐕𝐈𝐑𝐀𝐃𝐀
𝟒𝟐 | 𝐒𝐄𝐔 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀
𝟒𝟑 | 𝐄𝐒 𝐋𝐎𝐂𝐎
𝟒𝟒 | 𝐏𝐀𝐏𝐀𝐈𝐒
𝟒𝟓 | 𝐓𝐇𝐎𝐌𝐀𝐒 𝐂𝐑𝐀𝐐𝐔𝐄 𝐕𝐄𝐈𝐆𝐀
𝟒𝟔 | 𝐔𝐌𝐀 𝐕𝐀𝐆𝐀𝐁𝐔𝐍𝐃𝐀
𝟒𝟕 | "𝐏𝐎𝐑 𝐕𝐎𝐂𝐄̂"
𝟒𝟖 | 𝐍𝐎𝐕𝐎 𝐀𝐂𝐎𝐑𝐃𝐎
𝟒𝟗 | 𝐌𝐀𝐋𝐃𝐈𝐓𝐎 𝐓𝐑𝐈𝐊𝐀𝐒
𝟓𝟎 | 𝐏𝐑𝐄𝐂𝐈𝐒𝐎 𝐃𝐀 𝐒𝐔𝐀 𝐀𝐉𝐔𝐃𝐀
𝟓𝟏 | 𝐀 𝐏𝐄𝐒𝐒𝐎𝐀 𝐈𝐃𝐄𝐀𝐋
𝟓𝟐 | 𝐄 𝐀 𝐂𝐀𝐍𝐉𝐈𝐂𝐀
𝟓𝟑 | 𝐍𝐀𝐓𝐔𝐑𝐀𝐋𝐌𝐄𝐍𝐓𝐄
𝟓𝟒 | 𝐏𝐑𝐀 𝐄𝐒𝐓𝐀𝐑 𝐂𝐎𝐌 𝐄𝐋𝐀
𝟓𝟓 | 𝐅𝐈𝐍𝐆𝐈𝐑
𝟓𝟔 | 𝐍𝐄𝐒𝐒𝐀 𝐅𝐀𝐑𝐒𝐀
𝟓𝟕 | 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑 𝐍𝐄𝐂𝐄𝐒𝐒𝐀́𝐑𝐈𝐎
𝟓𝟖 | 𝐍𝐔𝐍𝐂𝐀 𝐄𝐕𝐎𝐋𝐔𝐈𝐑
𝟓𝟗 | 𝐍𝐎 𝐏𝐔𝐄𝐃𝐎 𝐌𝐀́𝐒
𝟔𝟎 | 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐂̧𝐀 𝐍𝐎 𝐋𝐔𝐆𝐀𝐑
𝟔𝟏 | 𝐅𝐀𝐌𝐈́𝐋𝐈𝐀
𝟔𝟐 | 𝐃𝐄𝐒𝐏𝐄𝐃𝐈𝐃𝐀 𝐃𝐄 𝐒𝐎𝐋𝐓𝐄𝐈𝐑𝐀
𝟔𝟑 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟏
𝟔𝟒 | 𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐅𝐄𝐒𝐓𝐀 𝐏𝐓𝟐

𝟎𝟔 | 𝐁𝐄̂𝐁𝐀𝐃𝐀

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De ellimaac

de volta a festa
RAPHAEL

MAL COMEÇOU A FESTA e eu já quero ir embora.

Digamos que eu não sou o cara mais sociável do mundo. Eu gosto de conversar e de bater um bom papo produtivo, mas só quando estou num lugar calmo, sem muito barulho no meu ouvido, de preferência sentado e bem relaxado.

Hoje não está sendo um dia muito favorável para isso.

Primeiro que estou muito cansado.

O dia foi puxado de treino por causa do jogo contra o Grêmio, acordamos mais cedo, e forçamos nossos corpos a estarem mais fortes. O jogo foi insano e isso por si só já me faz querer uma boa cama só para que eu durma como se não houvesse amanhã.

Mas... é aniversário do Luan. Ou melhor, foi aniversário do Luan. Já passou da meia noite, então o aniversário dele e toda essa comemoração já devia ter acabado.

Só que tenta falar de não comemorar uma data festiva com esse pessoal aqui pra ver se você não leva um soco. Eu estou muito bem com isso pra simplesmente me intrometer nas decisões. Eu só venho, mesmo sem querer.

Depois do jogo a galera veio em peso pra casa do Luan pra festejar a vitória e mais um ano de vida do nosso zagueiro. Veio a meninada da base, as famílias dos caras, crianças, todos.

Ainda bem que o treino de hoje vai ser mais tarde que o normal. Mesmo assim nada justifica o fato dos meus amigos estarem bebendo demais e nem se importando com o sono quando estão bem entretidos com o karaokê.

Estou segurando um copo de suco de laranja que eu não dei um mísero gole sequer. Minha bateria social já foi pro saco faz tanto tempo que o Weverton que estava do meu lado até agora foi obrigado a caçar alguém decente que lhe dê atenção.

A culpa não é minha! Eu só quero ir embora. Não quero conversar.

E se eu for atrás do Tom? Posso dar uma desculpa e vazar antes do parabéns que é a única coisa que está me segurando nessa casa. Não posso ser tão filho da puta e ir embora antes de cantar parabéns pro meu amigo, né? Mesmo que o dia de seu aniversário já tenha acabado faz tempo.

Dou um gole na minha bebida, sentindo-a quente e fazendo uma careta por isso. Credo. Preciso jogar esse troço fora.

Decidido, começo a caminhar, não só para abandonar a bebida, como para caçar meu filho e dar um fora daqui.

Contudo, nada trabalha a meu favor, e um moleque se coloca na minha frente, me impedindo de continuar assim que acho uma lixeira e mando embora o copo com a bebida e tudo.

— E aí, Príncipe?? — Endrick está com o maior sorriso colgate que eu poderia ver no rosto dele. — 'Tá sozinho, é?

— Não — minto na maior cara de pau. — 'Tô indo atrás do meu filho agora mesmo e... talvez da Isabella, se ela tiver com ele.

— Ah, a Isabella! — Endrick não sai da minha frente, muito pelo contrário, decide dar umas batidinhas em meu peito e se acomodar ao meu lado. — Por que você tem essa mania de nunca superar ex, hein? É algum ritual? Pacto com o Diabo? Promessa com Jesus Cristo?

— Do que 'cê 'tá falando agora?

— Pô, 'cê terminou com a "Meteoro da Paixão" e voltou com ela meses depois só para terminar de novo. Aí agora você quer investir na Mami do nosso Príncipe 2.0?

— Não 'tô investindo em ninguém.

— É, né? — Ele faz uma careta e passa o braço pelo meu ombro, me trazendo pra perto e me deixando ainda mais irritado. — 'Tá na hora de caçar alguém novo. Conhecer novos ares.

— Ô Endrick! — Saio de seu abraço e dou um passo pra trás. — Criança não devia estar na cama uma hora dessas?

— Pô, Príncipe! — O garoto dá de ombros para o que digo, pois está mais interessado em arrumar  alguém pra mim. — Quer que eu te arrume uma girl?

— Sai do meu pé, Endrick. 'Tô procurando meu filho.

Volto para minha caminhada.

— Com essa cara de bunda? 'Tá precisando esfriar a cabeça — ele fica do meu lado. — E talvez seja a de baixo.

— Endrick? — Olho para ele em choque pelo que diz. Perdi o respeito, é isso mesmo?

— 'Tô só falando.

— Para de ser sem noção — peço quase implorando o impossível. Sem noção já virou o sobrenome dele. — Já falei que 'tô procurando meu filho. Aqui é uma festa de família.

— E daí? Eu vi o Tom lá na garagem com as kids. O moleque 'tá muito bem entretido, nem vai perceber que o pai sumiu por só alguns minutos.

— Alguns minutos? — Santo Deus, quem anda aconselhando esse menino? — Endrick, olha aqui — me viro na direção dele e seguro seus ombros, olhando no fundo de seus olhos pra vê se me entende. — Eu não quero investir em ninguém, muito menos pegar alguém. Eu 'tô de boa.

— Não me fala que você 'tá gostando da Isabella de novo?

— Parça, de onde você tira essas coisas, porra?

— Porque você é o Rei das Recaídas e só faz merda.

— Mano — decido dar as costas pra ele, o que é inútil pois o garoto me segue. — Me deixa em paz.

— Príncipe, me escuta uma só vez na sua vida, por favor.

Ele corre e para de frente para mim, me obrigando a parar de andar também. Reviro os olhos, impaciente e percebo que estou na cozinha enorme da casa do Luan. Merda, a garagem fica do outro lado do salão.

Fico em silêncio, porque não aguento a cara de cachorro sem dono daquele moleque e permito que ele me dê o conselho que tanto quer me dar que eu já imagino que seja uma grandíssima bomba de merda.

— Você precisa desistir dela.

— Da Isabella? — Contenho uma risada. — Parça, já disse que não quero nada com ninguém. Muito menos com ela. Nossa relação é amigável por causa do Tom. Acabou.

— Ufa — Endrick suspira realmente aliviado. — Que bom porque ela já te superou faz tempo, então 'cê deve fazer o mesmo.

— Ótimo — estou pronto para voltar a andar quando eu entendo o que o garoto quer dizer e permaneço ali parado, meio incrédulo. — Ué, mas como você sabe que ela me superou? 'Tá sabendo de alguma coisa?

— Quem? — Endrick arregala os olhos em completo choque. — Eu??

— Não — debocho. — Eu. É claro que é você, parça. Tem mais alguém aqui?

— Não. Não. — Ele sorri, balançando a cabeça, mas continua em choque. — Não, Príncipe. Sei de nada, não. É-é só que... Vo-você... Ela... — O garoto começa a gaguejar e eu já até entendo que tem caroço nesse angu. — Esquece isso. 'Tá? É isso. Falou!

— Espera.

Mas o garoto abaixa a cabeça e falta correr para se afastar de mim. Nem o sigo. Eu queria que ele fosse embora mesmo, agora ele foi por vontade própria então devo seguir meu caminho. Mesmo que minha curiosidade esteja gritando para que eu vá atrás dele e descubra o que está escondendo de mim.

Nada disso. Curiosidade que espere. Ainda quero ir embora. Prioridades.

Eu preciso achar o Tom.

Ergo a cabeça e sigo caminho, mas antes de sair da cozinha pra descer pra garagem (onde acredito fielmente que Tom esteja), a presença de uma pessoa lá perto da geladeira me chama a atenção, principalmente por essa pessoa não estar agindo que nem um ser humano normal. 

É uma loira bonita e está meio cambaleando.

Forço a visão e a identifico. É a mulher que eu estava falando a pouco com Endrick.

O que a Isabella está fazendo aqui aparentemente bêbada? Eu pensei que ela estaria com as amigas lá na sala, cantando ou até dançando. Ela podia estar com o Tom também. Mas não. Isabella está aqui na cozinha. Sozinha.

Por impulso decido me aproximar dela pra saber melhor o que está fazendo por aqui. Eu sei que Isabella é muito diferente de mim e gosta de uma boa festa barulhenta. Ela devia estar aproveitando. Muito mais do que eu. E isso é um fato.

— Por que você está sozinha? — pergunto assim que me aproximo o suficiente.

Me apoio na bancada ao lado dela e a olho com um pouco mais de atenção, mesmo que seu olhar esteja fixo a frente e mal perceba a minha presença.

Isabella fecha a porta da geladeira, pegando uma garrafa  de vodca de lá de dentro e virando o restante da bebida direto na garganta, sem nem precisar encher um copo. Depois ela percebe que não está sozinha e vira o corpo em minha direção, me olhando com certa raiva. O que é típico dela.

Vejo seus olhos vermelhos e meio marejados e sinto o hálito de bebida alcoólica assim que começa a falar:

— Porque eu sou uma puta — ela me responde, rindo.

Franzo o cenho sem entender.

— Você não é uma puta, Isabella.

Ela ri de novo e mais alto, obrigando-se a colocar a mão na boca para se conter. Ela está bêbada, mas não tanto, pois ainda tem consciência de seus atos. Bom, é o que parece. Posso estar bem enganado.

— Ah, claro que sou — ela informa outra vez com a voz mais sentida. — É o que todos dizem. Eu sou a interesseira que só engravidou por causa de pensão. Será mesmo? Foi tudo por causa do dinheiro? Que menininha tola.

— Olha, Isabella — me afasto da bancada — você está bêbada, é melhor que...

— É melhor o quê? — Ela eleva o tom de voz e começa a gargalhar, bebendo mais um pouco da vodca. — Sabe, às vezes eu acho que eu devia mesmo ser a puta que dizem. Porra, honrar o titulo que me dão. Entende? Por que não?

Fico confuso. Muito confuso. Não sei como decifrá-la e não sei o que dizer para deixar a situação mais favorável pra nós dois. Mas eu nem preciso dizer nada, Isabella está bêbada o suficiente para nem se importar com minha falta de palavras.

— Eu podia resolver isso agora — ela tem uma ideia tosca e abre um sorriso feliz, gostando do que diz. — Com você. É bonito, aparentemente gostoso. Vai ser suficiente. Vão me intitular como puta devidamente se eu fizer isso?

— Isabella, do que você está falando?

— Sobre nós — ela diz, sorrindo. Ok. Está claramente muito bêbada. — Na verdade, sobre mim, né? Sobre o querem que eu seja. Estou tão cansada de ler comentários mentirosos sobre mim. Acho que está na hora de... de começar a ser uma puta de verdade.

Balanço a cabeça, incrédulo do que escuto.

— Onde você leu esses comentários? Você sabe que não é uma puta. Só está falando assim porque está bebada. — Porra. É a primeira vez que vejo Isabella assim, falando o que vem na cabeça porque está tão alcoolizada que não tem mais controle sobre si. — Isabella, você é uma mulher incrível.

— Incrível, mas puta — ela me corrige, rindo de novo. — Ou melhor, incrível, mas corna.

Ela ri ainda mais alto e até perde o equilíbrio, por impulso estico um braço e a seguro pela cintura, a mantendo em pé. Isabella dá fim à bebida em sua mão, colocando agora a garrafa vazia em cima do balcão e, então, se concentrando em mim. Puta merda. Não foi uma boa ideia inventar de segurá-la.

— Você acha que tem alguma coisa de errado comigo? — Ela me pergunta, se apoiando em meu peito e me olhando nos olhos. Só que está próxima demais. O rosto a centímetros do meu. Sinto sua respiração quente perto demais. — Você acha que eu mereço ser tão... inferiorizada porque acabei ficando com um jogador de futebol no passado, engravidei e toda a minha vida é por causa disso e nada mais? Só que... eu não sou atriz também? Eu já não fiz novelas famosas? Então por quê? Por que a minha vida só tem mérito se eu tiver um homem? Por que, se eu for solteira e mãe, eu sou uma puta?

— Isabella... — limpo a garganta e a seguro com mais firmeza porque ela realmente não está com equilíbrio nenhum. — Isabella, você não é uma puta. Você é uma mãe incrível e uma atriz cheia de talento.

E nem estou mentindo.

Não sei muito da vida da Isabella, a não ser que está fazendo uma série pra Netflix e que atuou numa novela das seis da Globo junto daquela menina que fez Carrossel. A tal da Maria Joaquina que menosprezava o pobre do Cirilo.

Sei o óbvio também, o que é totalmente perceptível, basta olhar para essa mulher aqui que você verá. A maturidade e a maternidade fizeram bem a Isabella. Eu tenho noção do quanto ela é pressionada. Eu vejo as notícias, as fofocas. Ela não merece isso. Isabella é forte  pra lidar com tudo sem transparecer. E não posso culpá-la por estar deslizando hoje. Deve estar cansada de tudo e precisando urgentemente espairecer, mas escolheu a hora errada pra isso e a bebida não devia ser uma válvula de escape.

A gente pode até não se gostar e ter uma relação bem merda.

Só que ela está aqui agora. Vulnerável. Expondo suas dores. Eu não posso simplesmente ignorar isso e deixá-la aí sozinha.

Isabella abaixa a cabeça, meio envergonhada, não sei dizer.

— Você sabe que é incrível, não sabe? — Continuo dizendo, porque ela precisa entender de uma vez que não é uma puta. Porra. Ela é esforçada pra caralho. Não pode se deixar levar por gente sem noção. — Não sabe? Você conseguiu a sua carreira por mérito próprio.

Isabella ergue o olhar e eu reparo nela como há tempos não reparava.

Isabella, mesmo bêbada, com os olhos vermelhos e fundos, ainda é incrivelmente linda. Seu rosto é fino, seu nariz arrebitado e as maçãs marcadas que a deixam com o ar sério e bonito. Seus lábios são carnudos que eu mal me lembrava que eram tão bonitos assim.

Ô merda, agora quem está viajando sou eu.

— Do que adianta? — Ela me pergunta, me despertando do leve transe. — Ter talento, carreira, se a única coisa que vale e será lembrado é que eu engravidei de um jogador de futebol e não permaneci com ele porque sou... uma puta.

— Isabella...

— 'Tá na hora de ser — ela me interrompe, agarrando meu rosto de repente e falando as palavras diretamente a mim, com os olhos fixos nos meus meus. — 'Tá na hora de dar motivo pra falarem de mim. E eu... — ela passa a língua pelos lábios e olha para minha boca. — E eu quero fazer isso agora.

Sem mais nem menos, ela me beija.

Isabella encosta os lábios nos meus e por segundos aquilo é só um selinho. Um simples selinho que eu me deixei levar pelo choque e nem me toquei da merda que estou fazendo naquela cozinha. Mas sua respiração quente me fez delirar e quando ela decidiu intensificar o beijo, eu fiz o quê?

Errei, fui moleque. Deixei ela me beijar.

Mas foi rápido. Em minha defesa, o choque não me deixou pensar direito. Deixei que o beijo rolasse por alguns segundos, apenas. Senti a língua da Isabella se unindo com a minha, minha respiração falhou, mas eu, rapidamente, cai na real.

Me afasto dela, a empurrando pelos ombros e arregalo os olhos sem acreditar no que acabou de acontecer. Que porra se passa na minha cabeça de vento? Burro. Burro. 

— Isabella, você est-tá bêbada. — Para de gaguejar, filho da puta! — Não. Não. Não podemos fazer isso.

— Que mané bêbada — ela abre um sorrisão feliz, as bochechas vermelhas e uma animação que só existe por causa do álcool. — Eu amo essa música!!

Ela grita, ouvindo a música distante que começa a tocar. Mal consigo ouvir a melodia, mas a audição dessa mulher aqui está melhor que a de uma coruja. E, então, ela decide sair dos meus braços e cambalear pra longe enquanto se entrega a uma dança engraçada pra cacete.

Eu até riria de sua situação se eu não soubesse que ela está bêbada demais. Ela caminha se equilibrando na bancada. O problema é que o granito não durou para sempre e quando ela chegou no fim daquela pedra pela qual usou de apoio, Isabella foi direto para o chão.

— Eii — rapidamente me aproximo de novo e a ajudo a ficar em pé, fazendo questão de não soltá-la mais até ter certeza de que está segura e longe de bebidas. — Vou te levar embora.

— Embora? — Ela me olha com os olhos verdes arregalados em expectativa. Mas me toca com curiosidade e eu sei que está sendo possuída pela malícia. — A gente vai embora pra a gente possa terminar o que começamos??

— Não, Isabella. Eu vou te levar pra casa e cuidar de você.

— Com beijos? — Ela provoca, mordendo os lábios e eu uso o bom senso para evitar encará-los. — Eu aceito beijinhos de reconciliação.

Reconciliação?

— Você está bêbada — a lembro enquanto a carrego para longe daquela cozinha e em direção ao meu carro.

— Não. Não estou. Para de falar isso.

Balanço a cabeça e decido não dar muito assunto a uma bêbada, mesmo que eu queira continuar conversando e a vendo sorrir. Para de ser tapado, porra. Meu Deus. Ela vai me matar quando souber o que aconteceu aqui, principalmente quando se tocar que nos beijamos.

— Onde está o Tom? Vou buscá-lo para que possamos ir embora de vez.

— Ele está dormindo — ela me responde, meio avoada ao continuar dançando e balançando a cabeça no ritmo da música. — Com as outras crianças. Não precisa se preocupar com ele. Me leve pra sua casa e estaremos finalmente sozinhos. Entende?

— Você não vai querer estar sozinha no mesmo lugar que eu, Isabella. — A coloco no banco do passageiro do meu carro, mas ela não me solta por nada. Continua me agarrando, me obrigando a sentir seu perfume doce que está confundindo meus miolos.

— Isso é impossível.

— Não, não é — consigo tirar seu braço de meu pescoço e ajeitar a minha postura ao estar livre de seu aperto. — A gente não deve ficar junto. Você só não se lembra disso ainda.

— Credo, como você é chato.

— Você me odeia, Isabella. — Dou uma breve risada. — Na hora que estiver sóbria outra vez e se lembrar do que aconteceu, vai me agradecer por não aceitar seu carinho.

— Eu te odeio??? — Ela entra em choque. — Nunca. Não sou tão imbecil pra odiar um cara gostoso que nem você.

De repente uma dúvida surge em minha cabeça, será que ela sabe que está conversando comigo? Ela não deve ter noção de quem eu sou. Até bêbada, ela deixaria sua aversão contra minha pessoa transparecer.

O álcool deve ter a feito se esquecer de minha aparência e está pensando que sou só um homem qualquer que está sendo gentil em ajudá-la.

— Você não sabe quem eu sou, Isabella.

— Claro que eu sei — ela agarra meu pescoço de novo, se aproximando de mim e quase me fazendo cair por cima dela dentro daquele carro. Suas próximas palavras me atingem em cheio no meio do peito, principalmente por estar me olhando no fundo dos olhos e suas pupilas estarem tão dilatadas. — Você é Raphael Veiga... e... eu estou doida pra te beijar.

O choque toma conta de mim outra vez ao me dar conta que ela sabe sim quem sou, mas, mesmo assim, continua sentindo qualquer tipo de atração por mim. E isso é de se surpreender.

Isabella nunca, nem mesmo bêbada, sentiria atração por mim. Sentiria?

O que eu faço em seguida? É. Eu deixo que ela me beije. Porra. É dificil demais resistir a ela, principalmente quando demonstra tanto interesse. Isabella naturalmente só me olha com ódio e aversão. Me desejar dessa forma tão intensa me pega de surpresa, e eu estou gostando de ser surpreendido. Merda, eu não devia gostar.

Mas o beijo rola e é tão incrivelmente bom que eu fico bobo. Quando me afasto dela para respirar, me perco em seu olhar e na forma como me encara.

Isabella... porra... por quê?

Meu coração se aperta porque eu sei que, por mais que tenha sido bom e incrível, não é real. Nada disso é real. Ela está bêbada. E ela me odeia.

Eu preciso ser racional. Eu preciso ser inteligente. Não posso me deixar levar por esses olhos verdes ou por esse sorriso bobo, muito menos pela forma quente como me beijou. Eu preciso ignorar isso e cuidar dela. Está bêbada e só vai me odiar mais ainda quando perceber que me aproveitei da situação.

— Entra aí, Rapha — ela diz, fazendo meu coração se apertar mais uma vez, agora pela forma como me chama. Rapha. Acho que nunca a ouvi me chamar assim. — E vamos pra casa.

Porra. Isabella acaba de pôr um fim definitivo ao Raphael Veiga que se considerava inteligente. Fui nocauteado.

pse minha gente, Isabella foi embora da festa com o Veiga, então no capitulo anterior...

estou preparando um capitulo narrado pelo Piquerez, que ficou na responsabilidade do Tom, e eu espero que vcs gostem desse caos

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