Sinto como se estivesse me afogando, sendo engolida por um mar denso demais para que eu consiga nadar, tão denso que meus olhos não se abrem, tão denso que...
- Katherine Sophie Roger. Se você não se levantar agora, eu juro que te arrasto até a praia e afogo seu rosto até você não conseguir mais respirar! - meu corpo treme assustado quando escuto a voz de minha mãe
Ela é sempre passiva e tranquila solucionando as coisas quebradas, se algo a aborreceu a ponto de fazer ela gritar, estou morta mesmo.
- Mãe o que... - minha mente está confusa por acordar, quem me cobriu?
- Sabe quão irresponsável você é? - me levanto em um pulo, quando ela começa a gritar. - Te liguei a noite inteira, não consegui dormir preocupada com você, peguei o primeiro vôo que consegui pra cá e quando chego aqui a casa está completamente destruída e você está bêbada depois de passar a noite enchendo a porra da cara! Vamos embora.
- Não podemos ir embora, os garotos precisam de mim. A Susannah iria querer que eu apoiasse eles se...
- Não ouse colocar ela dentro dessa discussão. É sua culpa. Se recomponha agora, estamos saindo em dez minutos. - estou com raiva, ela me culpa por tudo, estou com mais raiva por que sei que a culpa é minha, mas sei também que a culpa que ela põe em mim não é a que realmente é minha
- Posso falar ou você vai gritar mais? A casa foi vendida mãe! Eu vim ajudar os garotos e você põe a culpa em mim? Na verdade você tem feito isso a meses! Desculpa se eu consigo expressar meus sentimentos em relação a alguém que eu amava! Não é minha culpa se você não consegue chorar pela morte da sua melhor amiga! - minha garganta dói pela força que uso nas palavras raivosas mas o tapa que levo da minha mãe quando uma lágrima escorre de seu rosto é muito mais doloroso
Sou horrível tendo conversas sobre sentimentos fortes com ela as vezes. Isso me destrói.
A mistura de raiva que sinto é mais forte do que espero e saio do quarto em menos de um instante. Só tenho tempo para olhar em seus olhos e ver toda tristeza e raiva acumuladas.
O único lugar onde consigo fugir de todos é a praia.
Me sento perto do mar, a maresia secando as lágrimas em meu rosto.
- Posso sentar? - não chego a ficar surpresa quando Jeremiah aparece atrás de mim
Ele sempre está por perto quando eu preciso. Isso é horrível, porque sei que quando ele precisou eu não estava por perto para me sentar ao seu lado e consola-lo. Ainda bem que terminei com ele na verdade. Ele merece algo melhor, sei disso. Não posso deixar com que ele fique com alguém instável como eu, não vou.
- Pode. - ele parece mais bonito do que ontem, seu cabelo amassado realça seu verdadeiro charme
- Foi mal pela Julie. Escutei boa parte da discussão. - sinto uma certa raiva de deixar com que ele se aproxime e me acolha
Ele é bom demais para estar se submetendo a mim. Na verdade estou começando a achar que não deveria deixar. É mais difícil do que parece, principalmente porque eu quero tanto quanto ele. Me sinto tão melhor quando estou na sua companhia. Isso é terrível mas não é meu maior problema agora. Resolvo esse " estou me apaixonando por você de novo depois de quebrar seu coração e não te merecer " depois. Agora preciso dele.
- Minha mãe não entende. Tentei falar pra ela que estava apoiando vocês mas ela não me escutou. - o carinho em meu ombro relaxa meus músculos. - Acho que a única pessoa que me entende de verdade é você. - a confissão sai fácil da minha boca
- É fácil pra mim ler sua mente. - ele sorri e sinto meu coração derreter um pouco
Se ele conseguisse ler minha mente saberia que não consigo parar de pensar nele todos os dias que acordo até dormir.
- Posso te perguntar uma coisa? - as memórias da noite passada passam pela minha mente
- Qualquer coisa. - ele olha tão profundamente em meus olhos que quase acredito que consiga ler minha mente
- Você... - não consigo, não posso perguntar, melhor não perguntar. - Você não discutiu com o Conrad por causa de mim depois que eu desapareci, discutiu? - ele parece notar que mudei de dúvida mas mesmo assim me responde
- Não, sei que você ficaria brava comigo se fizesse. Mas tive muita vontade. Me disseram o que ele falou pra você. - ele admito e fico aliviada, agora que me lembrei, também preciso conversar com Conrad
Me lembro de tudo que falei pra ele e foi demais. Não precisava, talvez precisasse mesmo mas me arrependo de fazer isso tão agressivamente, ainda somos amigos e não quero ter estragado isso por uma discussão.
- Você dormiu que nem uma pedra naquele chão. - Jere muda o assunto, provavelmente notando meu rosto magoado ao lembrar das coisas ditas ontem
- Foi você quem me cobriu então? - sorrio
- Culpado. - ele admite sorrindo também. - Você tava tremendo, não era tão difícil pegar um travesseiro e um cobertor pra você.
- Você é um fofo. - dou um leve abraço nele
A forma leve com que ele traz humor para esses momentos complicados é o que mais amo nele.
- Melhor entrarmos. - sugiro
- Atrás de você. - ele me ajuda a levantar, colocando seus braços ao redor do meu pescoço enquanto voltamos
Chegamos na casa e me surpreendo vendo Belly e Laurel conversando do lado da piscina. Entro na casa e dou de cara com a minha mãe, ela parece ter chorado, mas sei que eu também.
- Podemos conversar? - ela pede, hesitando
Jere está com a mão nas minhas costas e se vira pra mim, para ter certeza que pode sair de perto.
- Vou ajudar a limpar a casa. - ele acaricia meu ombro e se afasta
Me aproximo e me sento do lado dela, não sei como me sinto em relação ao o que aconteceu. Acho que nós duas estávamos erradas e certas ao mesmo tempo.
- Me desculpa filha... Eu nunca quis fazer isso... - ela pede perdão e desvio o olhar, lembrando da discussão e do tapa
- Você nunca tinha me batido. - digo
- Eu só não aguentei escutar você falar toda verdade na minha cara. - ela diz com os olhos marejados
- Você tá certa, devia ter sido mais responsável com tudo e te ligado antes, nunca devia ter gritado com você daquela forma e nem jogar tudo na sua cara, me desculpa... - admito meu erro
- Não tinha o direito de ter batido em você, nunca devia ter achado que você deixaria os Fishers sozinhos. Você é idêntica ao seu pai, sempre por perto para ajudar os outros quando eles precisam. - mesmo com algumas lágrimas escorrendo ela sorri ao mencionar meu pai. - Me desculpa filha. - ela me abraça e deixo lágrimas escorrerem, feliz por finalmente conseguir conversar com ela
- Você sabe que podia ter chorado na frente das pessoas não sabe? Você parecia estar explodindo no funeral... Foi uma tortura ver você assim. - digo ainda abraçando ela
- Eu não queria estar tão vulnerável na frente de todo mundo, queria ser forte para todo mundo... Mas doeu... Muito.
Abraço sua dor acariciando suas costas enquanto a envolvo em meus braços.
- Vamos resolver isso. - nos afastamos e ela se levanta, Laurel aparece ao seu lado. - Quero essa casa um brilho, eu e Laurel vamos conversar com a Julia pra fazer ela mudar de idéia. - minha mãe diz quando todos se reúnem na cozinha
Jeremiah abre um sorriso junto de todos e pulo em seu abraço. Ele me gira no ar e em seguida envolve os braços ao redor da minha mãe e Laurel, agradecendo a ajuda.
- Agora vão arrumar isso, já. - Laurel diz, gesticulando para as paredes e chão sujos
- Pode deixar. - digo agarrando uma vassoura próxima
- A gente tinha que ter chamado elas antes. - Taylor murmura e rio, concordando
- Quem foi o filho da puta que pichou isso! Nunca vai sair. - escuto Jack murmurar analisando a parede
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Estou na sala ajudando Jere e catar as coisas jogadas no chão. Já temos cinco sacolas cheias de decorações ou garrafas vazias.
- Quer ajuda pra levar isso? - pergunto vendo ele carregar todo lixo sozinho, mesmo parecendo usando pouco esforço
- Fala sério KitKat, carrego duas 'Kath's em cada braço. - ele diz passando todo peso pra um só braço
- Exibido. - digo rindo enquanto ele vai em direção ao quintal jogar tudo fora
Me pego dando um sorriso bobo observando enquanto o loiro caminha e fico vermelha ao notar que tem alguém perto.
- Podemos conversar? - Jere já está longe quando Conrad se aproxima, varrendo o chão ao meu lado
- Bem... Acho que sim. - checo a janela para ter certeza de onde Jeremiah está e que não vai iniciar uma discussão
- Me desculpa por ontem... Eu não tinha direito de ter dito tudo que disse ontem, você teve seus motivos e não tinha que ter me intrometido na vida de vocês daquela forma. - ele parece arrependido de verdade e estou também, os dois estavam magoados por coisas diferentes e acabaram de culpa
- Você só disse a verdade, também falei o que não devia sobre você. Me desculpa de verdade, nunca quis dizer aquelas coisas. Imagino que você teve motivos pra fazer o que fez e não te julgo. - a essa altura já paramos de varrer e só digo tudo que sinto. - Podemos parar de brigar por essas coisas? Por favor? - peço, agora sorrindo por termos nos entendido
- Com certeza. - aceito o abraço dele e a leveza de me resolver com ele é boa
- Bem... - reconheço essa forma de interrupção de longe, me viro na direção de Jeremiah rapidamente
- Agora vocês dois precisam conversar. - digo vendo o clima entre os dois irmãos. - Por favor. - peço para Jere e dou um beijo na sua bochecha, deixando eles sozinhos
Encontro Taylor se despedindo e acabo interrompendo algo que ela diz a abraçando.
- Nem parece que existe chamada de vídeo. - ela diz retribuindo o abraço
- Iria com vocês pra fugir dessa faxina. - digo a largando
- A Belly não vai, infelizmente. - Tay diz e a morena desvia o olhar
- Eu já disse pra ela que a gente dá conta de tudo. - Jack está ao lado dela com os braços ao redor de seu pescoço
- A treinadora disse que não tem como, eu volto a jogar em outro momento. - ela se justifica
- Que cuzona. - dou um abraço rápido na morena
- Me leva na rodoviária? - Taylor pede a Steven
- Nem pensar, você vai com o meu carro. Vou pegar as chaves. - fico surpresa mas não tanto quando eles se beijam
- Bem... - seguro uma risada lembrando dela dizendo que não tinha nada entre eles
- Ele tá obcecado por mim, vamos ver quanto vai durar. - ela brinca
- Tay Tay, vou sentir falta de você. - sorrio me despedindo de novo
- Foi um prazer. - Jack dá um abraço nela
- Vamos? - Steven volta com as chaves em mãos
- Tchau gente! - ela manda um beijo para nós e retribuímos
- É surpreendente quanto demorou pra acontecer. - murmuro para Belly vendo eles saindo
- Pelo menos ninguém levou chifre. - Jack diz e seguro uma risada
- Depende do que você chama de chifre, aqueles dois só faltavam de engolir. - digo rindo
- Ótimo, agora tô imaginado isso. Que nojo. - a morena agarra a vassoura, limpando o chão para tirar a imagem da cabeça
- Belly! Não! - a imagem vem na minha cabeça e ponho as mãos nos olhos
- Será que tem desinfetante pra beber? - ela diz com uma expressão de nojo, assim como a minha
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Quando Julie e as mães entram juntas na casa, Jere está fazendo cócegas em mim e agarro seus braços nervosa. Ficamos estáticos com medo do que vai ser dito e sinto meu coração se descontrolar.
- Bem... - meus dedos tremem quando Julia inicia. - Eu... decidi desistir da venda. - ela completa e sorri quando Skye a abraça
Minhas pupilas dilatam de felicidade. Meu primeiro instinto é me virar na direção de Jeremiah e pular em seus braços e enroscar minhas pernas em seu troco. Ele me gira no ar com um sorriso no rosto e agarro seu pescoço o puxando para um abraço.
- Acho que devo um pedido de desculpas pra você. - Jack diz para a loira. - Eu não quis realmente dizer aquelas coisas, você tá inteirassa mesmo. - ele completa e seguro uma risada
Jere me coloca no chão mas mesmo assim continuo o abraçando, a diferença de altura faz com que meus braços fiquem ao redor de seu tronco e os seus em volta do meu pescoço.
- Foi mal também Julia, era um ranço temporário. - me desculpo e ela ri
- Temos que convencer o pai de vocês a comprar a casa da Julia. - Laurel diz ao garotos
- Ele não resiste ao meu charme. - minha mãe brinca, pegando seu celular e seguindo Laurel pra longe
Meu rosto fica vermelho quando sinto Jere dar um beijo na minha bochecha próximo demais da minha boca, agradeço minha rapidez para não virar o rosto e acabar numa situação esquisita em que ele me beija. Como se eu não quisesse.
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A casa finalmente está limpa e agora minha ansiedade é incontrolável. Todos estamos deitados no chão da sala a espera de Adam quando escutamos a porta da frente se abrindo.
- Ele chegou. - Jack nos alerta ao checar quem é
Nos levantamos correndo, Jere me ajuda a levantar agarrando meu braço para que fiquemos em pé e, fazendo o mínimo de barulho possível, todos se esgueiram até a porta e uma conversa se inicia na cozinha.
- Adam. - escuto minha mãe dizer e consigo imaginar ela sorrindo pra o homem
- O que é isso? - Adam pergunta
- Seu café da manhã favorito, bacon cremado. - Laurel diz
- Que bom que vocês duas vieram aqui pôr juízo neles. - o homem diz e escuto ele pondo algo na boca, provavelmente um pedaço de bacon
- Na verdade viemos apoiar eles. - minha mãe diz e dou uma leve olhada, vendo Adam se surpreender
- Eles não podem perder essa casa Adam. - Laurel intensifica
- Já perderam. Julia vendeu. - ele retruca
- Na verdade, pensei melhor e decidi recusar a proposta. - Julia entra na conversa
- Você vai dar a casa pra eles? - Adam parece indignado
- Claro que não, ela tem filho. Você vai comprar dela. - minha mãe impõe
- Quer que eu use o fundo da faculdade deles nisso? - a conversa começa a se exaltar. - Estou surpreso de vocês concordarem nisso.
Não sei quem parece mais raivoso, Conrad ou Jeremiah. Os dois tem uma expressão de dor junto da raiva da fala do pai.
- Nunca dissemos isso. Só queremos que você arrume um dinheiro e compre a casa pra eles. - minha mãe explica a idéia
- O quê?
- Valor de mercado, condições negociáveis. - Julia completa
- Eu já tô indo, porque isso não vai acontecer. - Adam diz
- Tenho uma pergunta pra você. Por que esses garotos em três dias tentaram salvar essa casa mais do que você durante meses? - Julia pergunta
- Adam, escuta... - Laurel tenta ajudar
- Cala a boca vocês duas. Nenhuma de vocês opinam aqui. - o homem interrompe. - Sei que a Suze fez parecer que essa casa é de vocês, mas não é. - agora eu estou com raiva dele, poderia agarrar seu pescoço e quebra-lo até não conseguir mais e...
O toque suave de Jeremiah em meu ombro me traz leveza na sensação raivosa.
- Onde quer chegar falando essas merdas? - Conrad desiste e vai até a cozinha
- Con, isso é pro melhor. Vocês realmente acharam que me encurralar funcionaria? - sei que minha mãe está com raiva, sua expressão diz
- Licença mas vá se ferrar. - Laurel diz
- Vai se foder Adam. - minha mãe adiciona
- Certo, vamos...
- Suze não queria que brigassemos. - Adam diz
- Você não sabe o que ela queria. - agradeço silenciosamente a Conrad
- Não consegue superar o luto e ver o que essa casa significa pra eles? - Laurel pede
- Achei que seria melhor desse jeito, mas fácil nos livrarmos desse lugar. - agora vejo a dor no rosto do homem
- Fácil pra você. - Con diz
- Sim. Estar aqui é difícil... Ela está em todo lugar aqui. - ele ressalta, agora com lágrimas nos olhos
- Ela te amava. Tentei fazer ela entender você. - Laurel diz
- Não é nenhum segredo que nunca gostei de você mas, ela gostava - minha mãe admite
- Ela não me escutou. - Lau completa
- Você deve saber que, quando Annah colocava algo já cabeça ninguém tirava. - vejo algumas lágrimas escorrendo pelo rosto da minha mãe. - Ela te pôs na cabeça, Adam.
- Fazer essa casa especial pra os nossos filhos. Faça essa última coisa para ela. - Laurel pede
- Julie...
- Pai... Por favor... - o pedido dolorido de Jere me deixa abatida
O silêncio pode cortar uma faca. Qualquer movimento errado e perdemos nossa última memória física de Susannah em um estalo.
- Não vou deixar usarem seus investimentos. - uma faísca de esperança se ascende. - Mas se eu vender a casa de Boston pode ser suficiente. - não sei bem como me sentir com toda incerteza do momento. - Os dois vão pra faculdade, não vamos ter como arcar as duas casas de qualquer forma. - ele completa. - É o que vocês realmente querem? - ele pergunta, por final
Os dois irmãos se olham, analisando o outro para ter certeza de sua resposta.
- Sim. - Connie diz
- Sim. - Jere fala em seguida
- Então tá. - Adam aceita
Demora alguns segundos para todos perceberem que não perdemos a casa mais, agora recuperamos o maior bem que Susannah tem de memórias.
Não hesito em abraçar minha mãe mas ao ver Jere de braços abertos, aceito o abraço de urso que ele me dá.
- Ainda vamos ter muitos verões aqui. - murmuro, bagunçando seus cachos
- Com toda certeza. - ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha sorrindo e as borboletas em meu estômago explodem de tanta agitação